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All-Line Executive

28/08/2019

Comprar Ou Adotar?

O que deve ser levado em consideração é a responsabilidade que teremos por aquele ser durante a sua vida  

Independentemente do ato de comprar ou adotar a responsabilidade que teremos sobre o pet é por toda a vida dele. Eles vivem, em média, cerca de 12 anos (ou até mais). Nesse tempo devemos ter consciência de que a nossa vida poderá até mudar, mas que o "amigo peludo" não poderá ser descartado "A relação entre pet e humano deve ser como a amizade, você e o amigo se escolhem, sem um viés lucrativo. O pet é uma vida, não um produto de prateleira" (Carina Longo, protetora e presidente da ONG Amor Vira-Lata) "Estou com um filhote de Golden Retriever com temperamento agressivo. Antes de vendê-lo faço o teste comportamental e vejo se o filhote e a família vão se adaptar, pois nessas situações quem sofre é o filhote. Procuro entender o perfil de cada cão e se o mesmo se adapta ao estilo de vida de quem quer comprá-lo", (Rodrigo Lunardi, proprietário da Dog Ville) "A adoção é um bem que fazemos não só aos animais, mas também, em prol da cidade, ajudando a diminuir a população abandonada, que sofre tanto nas ruas, e que aumenta cada dia" (Francis Arent David) "Comprar sem saber de onde veio é o que fomenta a exploração e os maus tratos" (Tiago Dutra, proprietário do criadouro Goldens do Gaulês) "Quando você adota um animal em situação de rua, você vai estar transformando completamente o destino daquele ser, e terá ao seu lado, até o último suspiro dessa alma, um animal leal, com o sentimento de admiração e gratidão que não consigo nem descrever" (Nathália Gobbato Mota, presidente da ONG SOS Peludos)

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 44% das casas dos brasileiros vive pelo menos um cachorro. A população de cães domésticos no Brasil chega a 52,2 milhões, enquanto, nas ruas, vivem aproximadamente 20 milhões de peludos acometidos por doenças e maus tratos, reproduzindo-se sem controle. Para a legislação brasileira os pets são tratados como propriedade, sobre a qual se pode ter posse, comprar ou vender. É a dinâmica aplicada aos nossos bens, como casa e automóvel. Recentemente foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), o projeto de Lei para a proibição da venda de animais em pet shops, com o objetivo de controlar e fiscalizar os canis profissionais afim de que se preserve as raças e controle-se a população de cães abandonados. O projeto incentiva a adoção responsável. A venda seria limitada a criadouros devidamente registrados junto aos órgãos ambientais.

REFERÊNCIA

Exemplo desse movimento, a Grã-Bretanha irá proibir a venda de cães e gatos de menos de seis meses em pet shops do país, para conter a exploração e os maus-tratos contra esses animais. Pesquisas feitas no país mostram que 95% da população é favorável a lei, que será implementada ainda nesse ano, segundo o Departamento de Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais (Defra) do país. Ela se chamará Lucy’s Law, em homenagem à cadela da raça Cavalier King Charles Spaniel resgatada de uma “fazenda de filhotes” no País de Gales em 2013. Um país que também foi notícia recentemente, referente a esse assunto, é a Holanda, considerada o primeiro do mundo a não ter animais abandonados. E o melhor, o fez, sem ter recorrido ao sacrifício animal ou a apreensão dos bichinhos em canis. A invejável conquista do país europeu se deve a um arrojado planejamento do governo, baseado em quatro pilares; legislação dura e pouco conivente para quem abandonar quaisquer animais de estimação, altas cobranças de impostos para cidadãos que quiserem adquirir cães de raça, multas caras para desestimular práticas ilegais como abuso e maus tratos, além de campanhas de castração e conscientização.

Outro bom exemplo são algumas cidades da Itália, como Mascalúcia, Solário, Ligúria e Sardenha, onde a Câmara de Vereadores, aprovou um projeto que garante desconto de 50% na taxa de coleta de lixo para pessoas que oferecem casa, alimentação e cuidados a animais que estão em abrigos da prefeitura. O benefício é válido por até três anos depois da data da adoção. Apesar de reduzir a arrecadação de impostos, a medida é considerada atraente ao município, que deixa de gastar cerca de R$ 500 mil com a manutenção de canis e abrigos de animais de rua. Além das cidades citadas outras cidades da Itália, também oferecem incentivos fiscais aos adotantes.

PRODUTO OU AMIGO?

Eu, por exemplo, comprei a minha “filha” pois eu queria uma companheira exatamente como ela, grande, peluda, loira, calma, amigável, que gostasse de brincar, que se adaptasse em apartamento, que adorasse água! Uma amiga, que tinha adquirido duas fêmeas, me indicou o canil. Pesquisei a respeito, entrei em contato para saber mais e adquiri a minha Golden Retriever. Na época, leiga, não sabia as diferenças entre criadores profissionais e achei o máximo toda a documentação que veio junto com a filhote. Se pudesse compraria novamente, pois a criação séria prioriza as características da raça. “A maior parte dos cães abandonados e rejeitados são vira-latas, por ficarem fora do padrão desejado pelas pessoas. Por isso a importância da castração e de criadores profissionais que dedicam suas vidas a preservar e cuidar da saúde da raça que criam. O maior problema é quando alguém pensa em comprar um cão buscando o menor preço sem se preocupar com a procedência da criação”, avalia Anelise Brenner de Oliveira, proprietária do Canil Olivers King Kennel, de onde veio a minha cachorra.

Mesmo em cruzas selecionadas podem ocorrer disfunções que levam o filhote se desviar do “padrão da raça”, conforme conta Rodrigo Lunardi, proprietário da Dog Ville. “Estou com um filhote de Golden Retriever com temperamento agressivo. Antes de vendê-lo faço o teste comportamental e vejo se o filhote e a família vão se adaptar, pois nessas situações quem sofre é o filhote. Procuro entender o perfil de cada cão e se o mesmo se adapta ao estilo de vida de quem quer comprá-lo”, explica Lunardi. Muitos tutores compram seu primeiro pet e, anos depois, por divulgação das mídias, resolvem adotar, como é o caso de Francis Arent David. Ela sempre teve cães comprados na família, mas, após a perda da sua Poodle resolveu adotar.  “A adoção é um bem que fazemos não só aos animais, mas também, em prol da cidade, ajudando a diminuir a população abandonada, que sofre tanto nas ruas, e que aumenta cada dia”, considera. “Comprar sem saber de onde veio é o que fomenta a exploração e os maus tratos”, ressalta Tiago Dutra, proprietário do criadouro Goldens do Gaulês. Para ele, comprar ou adotar tanto faz, o amor é o mesmo, porém, o importante é não abandonar.

Já Carina Longo, protetora e presidente da ONG Amor Vira-Lata, tem um posicionamento mais pontual. “Comprar é um meio de explorar vidas. A relação entre pet e humano deve ser como a amizade, você e o amigo se escolhem, sem um viés lucrativo. O pet é uma vida, não um produto de prateleira”, contrapõe.

CHEGA DE ABANDONO

Importante considerar que, no Brasil, o Superior Tribunal de Justiça do Brasil reformulou as penas para quem infringe os direitos animais. De acordo com a nova regra, abandonar, em qualquer espaço público ou privado, animal doméstico, domesticado, silvestre, exótico, ou em rota migratória, do qual a pessoa detém a propriedade, posse ou guarda, ou que está sob guarda, vigilância ou sua autoridade, deixa de ser contravenção e passa a ser considerado crime. A pena é de um a quatro anos e multa.

“Tem tanto cachorro na rua e você quer comprar?”, pergunta que Gabriel Copetti escuta desde que resolveu comprar um cão da raça Terrier Brasileiro. “Alguns até dizem que ter um pet é como ter um filho, só que na verdade é muito diferente. A criança com sete ou 10 anos já sabe o que é certo ou errado, fala o que quer e o que não quer. A partir dos 18 responde por si. O animal não. Então, enquanto ele viver, será responsabilidade do tutor. Se ele fugir, se adoecer, se morder ou machucar alguém ou outro animal, por exemplo, o tutor terá que responder por isso”, avalia.

PLANEJAMENTO

Independentemente do ato de comprar ou adotar a responsabilidade que teremos sobre o pet é por toda a vida dele. Eles vivem, em média, cerca de 12 anos (ou até mais). Nesse tempo devemos ter consciência de que a nossa vida poderá até mudar, mas que o “amigo peludo” não poderá ser descartado. Nesse período poderemos mudar de endereço, de trabalho, ter crises financeiras, talvez aumento da família, e precisamos pensar muito bem antes de adquirir ou adotar um pet, verificando se temos estrutura para mantermos o peludo conosco. Ele precisa de cuidados, passeios, alimentação de qualidade, vacinas para se manter saudável, assim como nós.

Comprar ou adotar, é indiferente. O que deve ser levado em consideração é a responsabilidade que teremos por aquele ser durante a sua vida. O animalzinho tem que ser bem alimentado, cuidado, vacinado, tem que passear, tem que continuar sendo atendido quando você for viajar. Precisa-se pensar muito a respeito. E quando crescer? Vou ter condições de cuidá-lo? Os filhotes são as coisas mais lindas do mundo, todo mundo quer pegar um filhote no colo, são fofos, engraçados, saudáveis, porém crescem e envelhecem como nós e os cuidados exigidos passam a ser redobrados.

Acredito que se houvesse incentivos por parte do governo, como existe na Itália, leis que funcionassem em relação ao abandono e a castração, a população de abandonados iria diminuir bastante. Isso, claro, a longo prazo e com um bom planejamento. “Quando você adota um animal em situação de rua, você vai estar transformando completamente o destino daquele ser, e terá ao seu lado, até o último suspiro dessa alma, um animal leal, com o sentimento de admiração e gratidão que não consigo nem descrever”, emociona-se Nathália Gobbato Mota, presidente da ONG SOS Peludos.

FONTES:

 

Texto e Entrevistas I Caroline Recuche - Edição I Caroline Pierosan