All-Line Relations

O digital é o habitat da alma - físico agora é offline

Martha Gabriel, engenheira, pesquisadora e consultora, maior reputação atual no circuito nacional em marketing e digital business, esteve em Porto Alegre, nos dias 15 e 16 de março, para ministrar o curso “Marketing Digital Avançado: Disrupção em Business e Inovação”, evento realizado pela Associação dos Dirigentes de Marketing e Vendas do Brasil (ADVB), promovido para atualizar empresas e profissionaisparticipantes de todos os municípios gaúchos. De acordo com ela, tanta imaterialidade (ou a desmaterialização das coisas), está muito próxima de nos levar a algo parecido com a imortalidade. Conectada full time com frentes de pesquisa e aplicações de novas tecnologias digitais em todo o planeta, Martha abre janelas mentais por onde é possível observar o futuro, povoado por seres de inteligência artificial – sim, prepare-se para ser substituído por robôs em várias profissões– e incentiva o aprendizado sobre o que realmente nos faz humanos e para onde caminha a evolução da nossa espécie. “Programe ou seja programado”, alerta ela, citando Douglas Rushkoff, para ilustrar o por vir.

Inovação de Escala Digital e Crescimento Exponencial

A era da Escala Industrial em Crescimento Linear está superada. Martha anuncia a nova era da Inovação e da Escala Digital e Crescimento Exponencial. Com o aumento da complexidade e as mudanças ocorrendo em velocidade cada vez maior, a pesquisadora constata que o planejamento tornou-se impraticáveldandolugar à busca pelo condicionamento intelectual e espiritual necessário para reagir em tempo real. “Nesse ambiente complexo eu não planejo, mas me preparo para o futuro!”, destaca.Mas, afinal, o que é a disrupção em business?

Disrupção em Business

“Disrupção, independente de ser digital ou não, é quando temos algum modelo de negócio entrante, que aos pouquinhos começa a atuar com algum tipo de transformação, e, quando se percebe, mudou toda a lógica daquela cadeia ou daquela área de negócios. “Quando a gente fala de disrupção digital estamos falando de modelo de negócios digitais, que causam esse mesmo efeito em negócios tradicionais”, explica Martha. “Então temos várias áreas onde há indústrias dominantes, empresas com modelos de negócio consagrados já há muitos anos, décadas, e entra alguma lógica digital que faz com que aquele negócio não seja mais tão seguro e relevante. Isso acaba mudando toda a ordem de valor daquela cadeia”, define. “Chama-se disrupção quando o outro faz, e break quando ‘eu’ faço. Não há outra saída: ou você é agente da disrupção (break) ou a disrupção acontece em você. Lembrando aquela máxima de Peter Drucker: mude antes que seja preciso!”, alerta a especialista.

Inovação e Sobrevivência

Neste momento entra em cena uma das facetas da criatividade, imprescindível para a existência e consolidação das marcas no mundo atual: a inovação. Ela é vital neste complexo mercado atual onde tudo muda o tempo todo. Sendo assim, como podemos preparar nossas empresas para uma cultura de inovação? Algumas dicas da Martha: promova, em seu grupo, uma cultura da resiliência. O ambiente deve favorecer a proposição de ideias e sua execução sem pré-conceitos e medo de falhar. “Deu errado, faz de novo”, ensina a autora. Outra receita digital: revisite seu modelo de negócio. “Crie experiências, diferencie-se. Até 2020 os fatores decisivos para as compras serão experiência e atendimento. Inovação está ligada a valor. Qualquer inovação tem que equacionar com a cultura, ou seja, as pessoas precisam encontrar nela uma utilidade, a solução de um problema”. Outra recomendação: quebrar silos. “Quebre os silos de pessoas (grupos, feudos) dentro de uma empresa, favorecendo a troca interdisciplinar de conhecimento”, ensina Martha. Quer dizer então que toda inovação provoca uma disrupção? “Não, nem toda inovação provoca disrupção, porque o foco da inovação é agregar valor”, explica. Mas e aquele conselho: se você não é agente da disrupção, a disrupção acontece em você, lembra? Martha nos ensina então como chegar a uma inovação disruptiva, aquela que impacta o mercado e livra o caminho de concorrentes. Para atingir o topo da inovação, acrescente ainda mais características: a inovação disruptiva precisa ser barata, acessível e o modelo de negócio precisa apresentar uma estrutura que permita vantagem significativa de custo. A “uberização” no transporte, pessoal ou de cargas, segundo Martha, é um exemplo de inovação disruptiva dentro de uma economia colaborativa que se utiliza de uma frota já existente.

A Disrupção no Mercado de Trabalho

Será que disrupção digital é hoje uma preocupação só das empresas?Para Martha Gabriel não,ela está também no mercado de trabalho. Advogados, contadores, jornalistas, vendedores, professores também podem ver sua atividade sendo transformada da noite para o dia. Não se trata de mais um filme de ficção científica, a inteligência artificial já é realidade, inclusive no Brasil. Dia após dia você começará a sentir cada vez mais a presença dos robôs, softwares de computador, substituindo o ser humano em muitas profissões. “Na inteligência artificial você terá robôs com capacidade não apenas para fazer o que foram programados, mas também de aprender com as pessoas”, observa Martha. Nesse cenário futurista, o que vai diferenciar o ser humano? “A capacidade de se colocar no lugar do próximo, de sentir dor ou alegria pelo outro”, acredita. Aqui entram as três habilidades segundo ela necessárias aos profissionais do século XXI: “pensamento crítico, criatividade/inovação e conexão”. Em resumo, os trabalhadores deverão imprimir o diferencial humano em suas atividades. Quem estiver executando tarefas de modo automatizado, sem personalização, é candidato a ser substituído pela máquina. “No futuro o diferencial estará em ter efetividade (produtividade/sistemas) com afetividade (atendimento/emoção), indica Martha Gabriel.

Controle de Fluxo de Dados e Poder

“Quem domina o fluxo de dados domina o mundo”, sentencia a especialista ao introduzir a explanação sobre o Big Data”, uma das megatendências na lista da pesquisadora. A grande contribuição e fonte de riqueza representada pela tecnologia digital para o mercado está no fato de que ela permite escalar. “Sem o digital você tem o limite do ser humano”, observa Martha Gabriel. E como escalo usando o digital? Aqui começa o Data Economy, ou economia de dados. O Big Data, como é também denominado, movimenta-se a partir da sistematização de dados sobre pessoas, os tão desejados leads, perfis para prospecção e relacionamento com clientes. No mercado atual e futuro, qualquer estratégia de sobrevivência, online e offline, depende da estruturação, organização e interpretação assertiva dessas informações.Marketing e vendas buscarão ferramentas de TI para propor ofertas ajustadas para a necessidade e expectativa de cada cliente. A tecnologia passa a permitir às empresas personalizar ofertas em escala, equacionando um dilema antigo da indústria: de só conseguir produzir em grande escala produtos massificados ou em série. Neste cenário as redes sociais (outra megatendência) servem de esteio para fomentação destes bancos de dados e a implementação de ações segmentadas de comunicação e vendas.O Big Data na realidade traz dados que permitem a extração de (insights) de inteligência, que eram impossíveis antes. Então hoje eu consigo por meio do Big Data analisar, por exemplo, quantas pessoas estão gripadas em Porto Alegre. As pessoas fazem buscas, compram remédios, têm vários pontos de contribuição que formam um cenário onde podemos extrair a informação, então isso parte do comportamento do consumidor. O Big Data também está dentro da empresa, para você otimizar a atuação dos colaboradores.O fato de “automedir-se” impacta a empresa. “Quando eu me meço, eu consigo gerenciar”, explica Martha. “O Big Data oferece esse potencial gigante para aumentar a inteligência nos processos”, exemplifica.

As Profissões do Futuro

“Quando eu me formei em engenharia, há trinta anos, jamais poderia ter previsto que estaria hoje, fazendo o que faço. Então o que eu sugiro para o jovem é que ele se capacite para áreas que são emergentes, para várias profissões, por exemplo: cientista de dados pode trabalhar com muitas áreas, sabendo programar. Cuidar de pessoas, ter conhecimento em psicologia... hoje a área de neurociência aplicada a comportamento digital é importante, então todas as áreas que envolverem entendimento de tecnologia e lógica digital do mundo, serão requisitadas”, aponta. “Se um professor fizer uma pergunta que possa ser respondida pelo Google, a pergunta está errada. Precisamos investir no pensamento crítico e aprofundado. Vamos precisar, cada vez mais no mundo, de pessoas que tenham bom senso e consigam conectar a informação até para fazer as perguntas certas para o computador. Então exercitar a habilidade de perguntar e desenhar processos, isso é o que poderemos aplicar em tudo”, afirma. “Estamos falando de pensamento crítico, criatividade com inovação e conexão, mas tudo isso ligado com tecnologia. Então são essas habilidades que eu acho que um jovem hoje, independente da profissão, deve ter”, pontua Martha. “Cada vez vai ficar mais obsoleta essa história de ser engenheiro, médico, dentista, ou contador. Vamos desenvolver nossas habilidades e utilizá-las em várias áreas onde elas serão necessárias”, conclui.

Trajetória

Autora do bestseller “Marketing na Era Digital: Conceitos, Plataformas e Estratégias”, Martha Gabriel é engenheira civil, especialista em marketing, PHD em artes, com formação em inovação e neurociência.