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14/11/2017

Crescendo Bilíngue

Caxias do Sul sedia primeira escola de educação infantil por imersão bilíngue do interior do Rio Grande do Sul

A nova escola (localizada na Rua Vinte de Setembro, 2721, São Pelegrino, Caxias do Sul), tem como norte duas importantes linhas pedagógicas: a pedagogia montessoriana, que busca desenvolver a autonomia das crianças, e referenciais das pré-escolas italianas de Reggio Emilia O multilinguismo nos torna mais competentes, afirma Manuela O principal diferencial da escola está no ensino de todos os conteúdos curriculares na língua inglesa, de tal forma que a língua seja instrumento para a aprendizagem A descoberta, a experimentação, a arte e o contato com a natureza estarão presentes no cotidiano e em todas as atividades da escola A exclusividade da comunicação em inglês na escola (inaugurada em outubro de 2017 com início das atividades programado para janeiro de 2018) é fundamentada em estudos científicos que comprovam que bebês são capazes de aprender duas línguas Por dez anos vivi imersa no ambiente bilíngue destas escolas e vi os resultados, que são encantadores. Queria essa educação para minhas filhas, e foi daí que nasceu o projeto da Global Village, conta Manuela Gimenes Zanettini

Inspirada na abordagem das escolas de educação infantil de Reggio Emilia, um dos melhores modelos de educação infantil do mundo (reconhecido por promover o potencial, as capacidades e as competências das crianças), a Global Village chega à Serra Gaúcha para oferecer aos pequenos um ambiente de imersão em língua inglesa, de maneira lúdica e natural, com estímulo à criatividade.  A exclusividade da comunicação em inglês na escola (inaugurada em outubro de 2017 com início das atividades programado para janeiro de 2018) é fundamentada em estudos científicos que comprovam que bebês são capazes de aprender duas línguas. “O bilinguismo molda o desenvolvimento cognitivo em geral, porque gera mudanças na parte do cérebro responsável pela função executiva, que rege tarefas como a resolução de problemas ou a alternância do foco de atenção entre mais de uma atividade”, detalha a educadora Manuela Gimenes Zanettini, formada pela Universidade de São Paulo (USP) em biologia, mestre em educação e especialista em ensino por imersão bilíngue pela University of Minnesota, também com doutorado em ciência pela USP. A seguir ela fala sobre o modelo de ensino de vanguarda que visa o desenvolvimento integral da criança.

NOI: No que consiste a Educação Infantil por imersão bilíngue?

Manuela Gimenes Zanettini: A expressão “educação bilíngue por imersão” ganhou notoriedade pela primeira vez nos anos 60, no Canadá, quando passou a ser utilizada para descrever programas inovadores, nos quais o francês era utilizado como língua de instrução de crianças falantes do inglês. Tais programas foram os primeiros a ser alvo de estudos e pesquisas de longo prazo. Quando o programa de imersão é aplicado nos anos da Educação Infantil, ele é considerado um “early immersion program”, o qual, segundo estudos, é o modelo que apresenta os melhores resultados no que diz respeito à aquisição da segunda língua, no qual as crianças têm a maior chance de adquirir proficiência equivalente à de um nativo. Os programas de imersão bilíngue são caracterizados por apresentarem três características básicas – os “bilingual immersion A, B, Cs”: Academic Performance – foco na performance acadêmica, sendo o currículo da segunda língua integrado ao da primeira língua; Bilingualism and Biliteracy – bilinguismo e biletramento; Cultural Competence – valorização da cultura local e da diversidade cultural promovida pelas diferentes línguas e povos.

Qual país é referência para a educação infantil bilíngue?

Difícil eleger somente um país como referência. Diversos países fazem trabalhos belíssimos de imersão bilíngue com diferentes focos, em função de sua realidade política, cultural e histórica. No estado americano do Havaí, por exemplo, os programas de imersão foram responsáveis pela revitalização da língua havaiana que, no início da década de 80, era falada por somente 35 crianças, e corria sério risco de ser extinta. O fortalecimento de línguas indígenas ameaçadas de extinção também é mérito de programas de imersão de diversos estados americanos e algumas províncias canadenses. Ainda sobre o Canadá, estudos realizados em programas de imersão da província de Quebec, oferecem dados valiosos sobre esse modelo educacional. A Irlanda é outro país que investe em programas de imersão para a manutenção do irlandês, com o objetivo de manter a cultura original do país viva. A Flórida é outro estado americano que tem exemplos importantes de imersão, tendo como objetivo a acolhida à população imigrante e a manutenção da cultura deste povo.

A criança não pode ficar confusa em relação a sua língua mãe?

Para que a aquisição da segunda língua seja benéfica à criança, o bilinguismo tem que ser aditivo (additive bilingualism), ou seja, que ele não aconteça em detrimento à aquisição da língua mãe. O que os estudos mostram é que, no caso do bilinguismo aditivo, o desenvolvimento das habilidades envolvidas não trazem consequências negativas ao desenvolvimento acadêmico, linguístico, nem intelectual da criança; pelo contrário, trazem inúmeras vantagens. Acredito que o que pode, por vezes, levantar a dúvida sobre uma possível confusão na criança é o fato de, durante a aquisição da segunda língua, as crianças, frequentemente utilizarem os dois idiomas na mesma frase, ou na construção de uma mesma ideia. Entretanto, este fenômeno é completamente normal no contexto de uma criança bilíngue, uma vez que ela passa a possuir recursos linguísticos em mais de uma língua e seu conhecimento é partilhado por essas línguas. Essa troca entre os idiomas é descrita na literatura como “translanguaging” e não deve ser vista como um problema ou como uma confusão mental ou linguística.

Como funciona a relação da criança que é ensinada desta forma, com os pais que não são fluentes em língua inglesa?

A relação da criança com a família permanece a mesma, na qual o vínculo é e continua a ser estabelecido através da língua mãe, e este é essencial à formação da criança. O fato de a família não ser proficiente no inglês não implica em nenhuma dificuldade maior à aquisição da segunda língua pela criança, muito menos deve ser tida como um fator impeditivo para que as crianças frequentem programas de imersão. Neste caso, a responsabilidade do ensino da segunda língua recai sobre a escola, e não sobre a família.

Quais as premissas da pedagogia montessoriana?

Maria Montessori enxergava as crianças como seres potentes e competentes, capazes de conduzir seu próprio aprendizado, e que se desenvolvem e pensam de maneira diferente dos adultos. Ela acreditava que crianças a partir do nascimento até os seis anos, possuem motivação ilimitada para aprender, e que cabe ao educador observar a interação da criança com o ambiente e se utilizar disso para orientar sua prática e desenvolver o currículo. Desta forma, os ambientes de aprendizado devem ser intencionalmente organizados para despertar na criança o desejo pelo saber, a possibilidade de exercitar escolhas e fazer descobertas, além de permitir o desenvolvimento de sua autonomia.

Que referenciais das pré-escolas italianas de Reggio Emilia você vai aplicar aqui em Caxias do Sul?

O educador Loris Malaguzzi – pai da filosofia educacional de Reggio Emilia, descreveu em um belo poema chamado Invece il cento c’è o cerne dos referenciais Reggianos. Assim, os referencias que serão aplicados em Caxias do Sul são os do respeito e valorização das cem linguagens da criança, e os da pedagogia da escuta, onde o educador atua como facilitador do aprendizado que é protagonizado pela própria criança.

A Global Village traz uma proposta sócio-construtivista que tem como pilares a descoberta e a experimentação (STEM – Science, Technology, Engineering and Math), a arte e o contato com a natureza. Como a aplicação destes princípios vai funcionar na prática nas rotinas das crianças que participarem da Global Village?

A descoberta, a experimentação, a arte e o contato com a natureza estarão presentes no cotidiano e em todas as atividades da escola. Quando as crianças fazem um pão na cozinha experimental da escola, por exemplo, elas separam os ingredientes e materiais necessários, quebram os ovos, misturam a farinha, veem os ingredientes formando uma massa homogênea, amassam a massa, esperam crescer, colocam no forno, esperam assar, e por fim degustam sua produção. Em um processo aparentemente simples, como o de fazer um pão, as crianças se encantam, experimentam, descobrem e entendem processos. Da mesma forma, quando elas observam diferentes folhas de árvores que trouxeram de casa ou coletaram no pátio da escola, sobre a mesa iluminada, elas descobrem linhas que não estavam ali visíveis normalmente, e se arriscam a replicar essas linhas em novos formatos de folhas que passam a ser sua criação. E da folha individual criada por cada aluno, constroem uma mandala de folhas, por exemplo, do grupo. E, a partir de um olhar mais cuidadoso sobre esta mandala, passam a entender o papel essencial de cada parte sobre o todo. E por aí vai... Com o uso de materiais simples e não estruturados, possibilitaremos às crianças criar, descobrir, experimentar e se expressar nas mais diversas linguagens artísticas, de forma a cada uma conseguir identificar e desenvolver suas habilidades e competências, tornando-se seres capazes, autônomos, confiantes, curiosos e, sobretudo, felizes.

Formada pela Universidade de São Paulo (USP) em biologia, mestre em educação. O que fez você despertar o interesse pela educação primária bilíngue?

Há três anos me mudei para o Rio Grande do Sul. Vinda de São Paulo, capital, onde trabalhava em grandes escolas bilíngues, procurei uma escola neste modelo que acredito tanto, para minhas filhas. Por dez anos vivi imersa no ambiente bilíngue destas escolas e vi os resultados, que são encantadores. Queria essa educação para minhas filhas, e foi daí que nasceu o projeto da Global Village.

Por que você escolheu Caxias do Sul para implantar um projeto tão inovador?

A família do meu marido é de Caxias e me mudei para cá em função do meu casamento.

Quais os benefícios que uma educação bilíngue pode agregar à vida de uma pessoa a longo prazo?

A educação bilíngue contribui não somente para a carreira profissional e para a prontidão para cursar uma faculdade, mas, também, para o desenvolvimento do indivíduo, uma vez que estudantes bilíngues passam a ter uma nova visão de mundo, mais entusiástica. Jovens bilíngues passam a entender o mundo melhor e a serem mais respeitosos com as diferenças, uma vez que passam a conhecer pessoas de outras culturas, que falam outras línguas, mas que compartilham dos mesmos sonhos. Acredito somente ser possível compreender de fato como outras pessoas e culturas enxergam o mundo, se soubermos nos comunicar de maneira proficiente com elas. Mas, as vantagens de uma educação bilíngue vão muito além do posicionamento social e econômico da língua inglesa no mundo. Diversos estudos mostram que o cérebro bilíngue é mais flexível, mais ágil e mais versátil. Há evidências de que crianças bilíngues se tornam adultos mais tolerantes e acolhedores, e que pessoas bilíngues experienciam o tempo de forma diferente, dependendo do contexto linguístico em que se encontram. Isso porque, o domínio da segunda língua provoca modificações na região cerebral, que é considerada como a base de processos cognitivos complexos, como o raciocínio, a planificação ou a flexibilidade mental - o córtex pré-frontal - o qual também desempenha papel importante no controle emocional e na construção da personalidade. 

Hoje sabemos que já estão sendo desenvolvidos e lançados softwares de tradução simultânea. Saber outras línguas será realmente necessário no futuro se teremos máquinas que farão isso por nós?

A tecnologia e os aplicativos de tradução nos prestam um serviço de grande valia, tornando possíveis comunicações que anos atrás eram impensáveis, em função da barreira linguística. Entretanto, esses instrumentos têm limites, e jamais substituirão o saber de outras línguas. O multilinguismo nos torna mais competentes.

Trajetória: Manuela Gimenes Zanettini é Formada pela Universidade de São Paulo (USP) em biologia, mestre em educação e especialista em ensino por imersão bilíngue pela University of Minnesota, também com doutorado em ciência pela USP. Após período de trabalho em laboratório da University of British Columbia (Canadá), atuou em reconhecidas escolas de imersão bilíngue de São Paulo (Escola Pueri Domus e Escola Cidade Jardim - Play Pen, pioneira no segmento na capital paulista). Em 2010 foi responsável pela implantação e coordenação do International Baccalaureate Diploma Programme na Pueri Domus - selo que chancela a alta qualidade do programa bilíngue oferecido pela escola acreditada pela International Baccalaureate Organization (IBO), organização internacional sediada em Genebra (Suíça), reconhecida por sua excelência. A IBO confere selos de qualidade em Educação para Instituições em todo o mundo. Para mais Informações sobre Bilinguismo contate: (54) 3537-1101escolaglobalvillage.com

Entrevista: Caroline Pierosan l  Fotos: Fabio Grison l Fotos Mesa Iluminada: Acervo Global Village