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All-Line Relations

20/09/2018

O 'Gap' Entre a Educação e as Novas Tecnologias

O aprendizado das novas gerações acompanha o mundo V.U.C.A. onde a tecnologia cresce exponencialmente?

"Parece que nos deparamos com um &quotgap", pois enquanto tecnologia e empresas avançam por caminhos exponenciais, a educação continua linear na maior parte das escolas e universidades" (Rafael Martins, CEO da Share, em palestra na Gramado Summit 2018) "Nas chamadas metodologias ativas o estudante precisa aprender fazendo, pois a experiência e a prática consolidam as informações" (Maristela Tomasi Chiappin, diretora-presidente da escola Caminho do Saber) "As instituições de ensino têm um grande desafio pela frente, pois estão recebendo os nascidos na era digital e precisam produzir mais sentido ao que essas crianças aprendem" (Cristiane Vieira, doutora em Educação, professora universitária e fundadora da Code Escola de Inteligências Livres) "O Grupo Uniftec promoveu mudança nas suas matrizes curriculares para dar conta do mundo, como a inclusão, há dois anos, da disciplina de Design Thinking em todos os cursos superiores" (Débora Frizzo, pró-reitora acadêmica do Centro Universitário Uniftec) "Em Caxias do Sul, a rede de ensino municipal está implantando o Geekie Teste e o Geekie Lab" (Taísa Mano, diretora da Escola Municipal de Ensino Fundamental Prefeito Luciano Corsetti)

Adriana Schio, Jornalista

 

Vivemos em um mundo V.U.C.A. (volatility, uncertainty, complexity and ambiguity, em português: volátil, incerto, complexo e ambíguo), onde as transformações são constantes, aceleradas e a tecnologia cresce de forma exponencial. Esse novo mundo está exigindo habilidades interdisciplinares das pessoas. Surge o questionamento: como as instituições de ensino estão preparando as crianças e os jovens para enfrentar essa nova era? Neste ponto parece que nos deparamos com um ‘gap’, pois enquanto tecnologia e empresas avançam por caminhos exponenciais, a educação continua linear na maior parte das escolas e universidades, conforme pontua Rafael Martins, CEO da Share, palestrante da Gramado Summit 2018. “Nossas escolas e universidades continuam reproduzindo o modelo industrial com etapas de produção, que visam vencer o conteúdo – é a tal escola conteudista, baseada na decoreba, que mata a curiosidade e a iniciativa do aluno, torna-o passivo, não permitindo liberdade de construção e estímulo à aprendizagem constante”, pondera Martins. “O modelo é o mesmo do século XIX, com mesas e cadeiras perfiladas e um sistema de avaliação métrico. As aulas são controladas por tempo e o modelo é o disciplinar, em todos os sentidos”, observa Cristiane Vieira, doutora em Educação, professora universitária e fundadora da Code Escola de Inteligências Livres.

Como mudar o modelo?

Especialistas em educação apontam as metodologias ativas de ensino, que colocam o aluno como protagonista e “construtor” do próprio conhecimento, como mecanismo para inverter essa lógica e preparar pessoas com capacidade para solucionar problemas, criar novas soluções para a vida moderna e pensar de forma disruptiva o mundo e os processos – habilidades exigidas por empresas e tecnologias exponenciais. “Acredito em uma lógica de aprendizagem significativa, em projetos mais holísticos e sistêmicos, não em caixinhas separadas onde o aluno não vê conexão entre nada. Quando as coisas fazem sentido para o aluno e tem significação, ele busca informações e aprende de forma mais natural. As pessoas têm que aprender a aprender! Precisam ser protagonistas da sua aprendizagem, ter autonomia e pensamento criativo”, defende Felipe Menezes, professor universitário, palestrante e cofundador da WTF! School, escola livre com foco em experiências transformadoras.

Na mesma vertente segue Cristiane Vieira, que acredita na importância do processo de autonomia para a construção do conhecimento. “Nunca se precisou tanto repensar até mesmo aquilo que conhecemos e dominamos para dar lugar a novos conhecimentos. As instituições de ensino têm um grande desafio pela frente, pois estão recebendo os nascidos na era digital e precisam produzir mais sentido ao que essas crianças aprendem. O processo de autonomia precisa ser construído e isso leva tempo. Significa oferecer um portfólio amplo e variado de conhecimentos, que auxilie o sujeito a construir um repertório que traga sentido à sua vida pessoal e profissional”, afirma.

Movimentos Inovadores

Algumas escolas começam a olhar com atenção para esse novo mundo e a adotar práticas e metodologias de ensino buscando preparar seus alunos para a era V.U.C.A. Na Serra Gaúcha, temos como exemplo a Rede de Ensino Caminho do Saber, de Caxias do Sul. A escola adota o modelo sociointerativista, que associa conteúdo e prática, por meio de um processo de aprendizagem dinâmico, de interação com a mediação do professor, onde os alunos saem da postura passiva e desenvolvem sua autonomia, tornando-se protagonistas. “Com esse método o aluno é constantemente desafiado a buscar conhecimento. Nas chamadas metodologias ativas o estudante precisa aprender fazendo, pois a experiência e a prática consolidam as informações. A proposta sociointerativista é focada em trazer ao aluno desafios para a construção do conhecimento e também preparo emocional por meio do desenvolvimento das competências socioemocionais, necessidade do mercado de trabalho atual. De nada vale toda a inovação se não preparamos emocionalmente as pessoas para utilizar de forma adequada a tecnologia”, destaca Maristela Tomasi Chiappin, diretora-presidente da escola.

As iniciativas germinam mais na área privada, mas a rede pública de educação também começa a ensaiar os primeiros passos na adoção de práticas e tecnologias mais alinhadas com os novos tempos. Em Caxias do Sul, a rede de ensino municipal está implantando o Geekie Teste e o Geekie Lab. “Enquanto o Geekie Teste é uma ferramenta de avaliação externa, que auxilia na tomada de decisões pedagógicas e na eficiência do ensino, gerando informações sobre o desenvolvimento cognitivo de cada estudante, o Geekie Lab é uma plataforma que facilita a jornada de inovação na escola, apoiando práticas docentes inovadoras para trazer ganho de aprendizado aos alunos. Ela pode ser utilizada tanto dentro quanto fora da sala de aula. Fora da escola é possível pedir a realização de tarefas de casa e solicitar que os alunos assistam a vídeos antes da aula, por exemplo. Já dentro da sala de aula, o educador pode utilizar plataformas como recurso didático, acolhendo a tecnologia em suas aulas e fazendo uso de metodologias ativas”, explica Taísa Mano, diretora da Escola Municipal de Ensino Fundamental Prefeito Luciano Corsetti, escola-piloto na aplicação da plataforma.

No ensino superior também se percebem movimentos – ainda que bastante lentos e tímidos frente às necessidades e exigências do mercado – para a construção de novos modelos, mais interativos e dinâmicos. “As instituições de ensino precisam se tornar aquilo que chamamos, a partir da obra de Peter Senge, de organizações que aprendem, ou seja, precisam revisar seus modelos mentais organizacionais em termos de administração e de práticas pedagógicas. Essas mudanças precisam desenvolver a competência de aprendizado constante, de autonomia e prazer pelo estudo permanente. O ensino superior deve ser visto como um degrau da carreira, e não como uma meta final. Essa meta final não existe mais!”, alerta Débora Frizzo, pró-reitora acadêmica do Centro Universitário Uniftec. Segundo ela, o Grupo Uniftec já promoveu mudança nas suas matrizes curriculares para dar conta do novo mundo (que já chegou), como a inclusão, há dois anos, da disciplina de Design Thinking em todos os cursos superiores – iniciativa que visa preparar os alunos para as novas formas de trabalhar no mundo contemporâneo. A instituição tem como proposta pedadógica a “Metodologia do Fazer”, amparada no tripé teoria, prática e inserção no mundo do trabalho. “O objetivo é o desenvolvimento de competências técnicas de cada área associadas a competências comportamentais vitais para um profissional do futuro: resiliência, inteligência emocional, gestão de conflitos, trabalho em equipe e resolução rápida de problemas”, explica a pró-reitora acadêmica.

 

Quais habilidades escolas e universidades precisam desenvolver, de acordo com especialistas em educação?
Aprendizagem adaptativa – o aluno acessa conteúdos didáticos de acordo com o seu grau de conhecimento. À medida que ele evolui no aprendizado, os conteúdos tornam-se mais difíceis.
Ensino híbrido – são mesclados momentos em sala de aula com momentos em frente ao computador para estudo com conteúdos multimídia, como áudios, vídeos e sites.
Gamificação – conteúdos são apresentados ao aluno em plataformas digitais com características que remetem ao universo dos games, como pontuação e desafios.
Sala de aula invertida – o aluno tem acesso aos conteúdos didáticos sobre o assunto a ser estudado antes da aula, o que possibilita a construção do seu saber próprio.
Técnica e comportamento – uso de metodologias ativas para estimular a criatividade e o desenvolvimento de competências, como lidar com a ambiguidade, tolerar a diversidade, pensar “fora da caixa” e aprender continuamente, habilidades comportamentais tão importantes quanto as técnicas.