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15/12/2020

PIX

O Caminho Para o Banco 4.0 no Brasil

Ao possibilitar operações instantâneas durante 24h, na palma da mão, de maneira simples, rápida e segura, o PIX empodera o cliente e faz com que ele tenha a real posse do seu dinheiro "O PIX dialoga de maneira muito positiva com a proposta do Open Banking. Ainda é um passo tímido nesse sentido, mas acredito que abre espaço para seguirmos evoluindo o mercado financeiro brasileiro" (Fausto Vanin, agente da transformação digital) "Brett King, autor do banco 4.0, usa a expressão &quotbanco onipresente", ou seja, banco não é mais o lugar onde você vai, banco é algo que você faz" (Rodrigoh Henriques, head de inovação na Fenasbac e coordenador do LIFT, iniciativa conjunta com o BC do Brasil para aceleração de fintechs) "O PIX coloca o poder na mão do cliente e o coloca realmente no centro da estratégia" (Thiago Candido, executivo de TI e cofundador de uma fintech que foi incorporada à Warren)

A partir de 16 de novembro, estamos experimentando o PIX, o novo sistema de operações financeiras que deve revolucionar a relação que tínhamos até então com o dinheiro. O nome PIX significa pagamento instantâneo e o x remete à exponencialidade. As fintechsstartups da área financeira que começaram a surgir no Brasil a partir de 2010, abriram caminho para a desburocratização dos serviços bancários. Hoje são mais de 800 no país, a maioria de meios de pagamentos, com crescimento de mais de 35% de novas iniciativas no último ano, conforme o Radar Fintechlab, o mais tradicional na observação do desenvolvimento desse ecossistema no Brasil. O ecossistema continua encontrando oportunidades para melhorar serviços e criar novas soluções muito fortemente influenciadas pelos avanços regulatórios como o PIX e o Open Banking.

O PIX gera grandes facilidades e muitas oportunidades. Ao possibilitar operações instantâneas durante 24h, em todos os dias da semana, inclusive finais de semana e feriados, de maneira simplificada, rápida e segura, com um toque na palma da mão, apenas com o uso de uma chave, o sistema empodera o cliente e faz com que ele tenha a real posse do seu dinheiro. “Agora o consumidor está realmente no centro da estratégia, com democratização e acesso”, pondera Thiago Candido, executivo de TI e cofundador de uma fintech que foi incorporada à Warren. Segundo ele, entre as principais missões do PIX estão atacar e diminuir ineficiências bancárias que existem nas TEDs e nos DOCs e integrar todo o sistema de maneira centralizada e segura.

O sistema vai baratear (e muito) o custo das transferências bancárias, além de eliminar a necessidade de as pessoas portarem dinheiro físico, o que representa um custo, principalmente para as empresas. Também deverá, com o tempo, ressignificar o uso de cartões de crédito e débito. Sem falar que o varejo no Brasil, principalmente o comércio eletrônico, sofre de algo chamado boleto não pago, porque muitos consumidores usam esse meio de pagamento como uma reserva. “Isso é desesperador para o comerciante. O PIX acaba com isso. Em 10 segundos ele efetivará a compra. Ou seja, veremos muitas oportunidades e novos roteiros de negócios surgirem a partir da adoção do sistema”, afirma Rodrigoh Henriques, head de inovação na Federação Nacional de Associações dos Servidores do Banco Central (Fenasbac) e coordenador do Laboratório de Inovações Financeiras e Tecnológicas (LIFT), iniciativa conjunta com o Banco Central do Brasil para aceleração de fintechs. Especialista nas áreas de inovação e sistemas complexos adaptativos, Henriques lembra que o PIX carrega consigo também muita informação da transação e não só o valor de quem para quem, o que pode gerar metadados e alimentar o sistema de gestão das empresas, facilitando processos e criando novas oportunidades.

Banco 4.0

A adoção do PIX representa, de certa forma, a ideia de desmaterialização das instituições financeiras no conceito tradicional, com estruturas físicas grandes, complexas, burocráticas e muitas vezes caras. “Brett King, autor do banco 4.0, usa a expressão ‘banco onipresente’, ou seja, banco não é mais o lugar onde você vai, banco é algo que você faz”, enfatiza Henriques. Os analistas e especialistas de mercado também acreditam que o PIX seja o passo inicial para a concretização no Brasil do Open Banking, sistema bancário aberto ou compartilhamento de dados e informações financeiras entre instituições. O banco aberto pode ser considerado uma subespécie do conceito de inovação aberta (open innovation), termo cunhado por Henrico Chesbrough e que está ligado a mudanças nas atitudes em relação à questão da propriedade de dados. “O PIX dialoga de uma maneira muito positiva com a proposta do Open Banking. Ainda é um passo tímido nesse sentido, mas acredito que abre espaço para seguirmos evoluindo”, posiciona-se Fausto Vanin, agente da transformação digital, com atuação em iniciativas que usam a tecnologia para mudar o contexto social, mestre em Informática Aplicada e certificado em Inovação e Estratégia pelo MIT Sloan School of Management

Com as mudanças nas regras do jogo proporcionadas pelo PIX, que dão mais flexibilidade e poder aos clientes, e com o avanço do Open Banking, as instituições financeiras terão que mudar estratégias e se reinventar. “Vai demandar um trabalho diferente dos bancos e instituições. A fidelização será mais difícil e será preciso melhorar as experiências do usuário”, analisa Candido. Seguindo neste caminho, essas operações devem atuar cada vez mais como varejo, com estruturas omnichannel para acesso dos clientes, e muitas delas operando, inclusive, como supermercados, em que cerca de 90% dos produtos e serviços ofertados não são marcas próprias. 

Tendências

A adoção do PIX e, futuramente, do Open Banking deve impulsionar a transformação digital no país e fomentar a bancarização por todas as facilidades e flexibilidades do sistema. Porém, para que isso aconteça, faz-se necessário transpor os desafios da educação ou cidadania financeira por meio de políticas de governo, a fim de que as pessoas possam tomar as melhores decisões e usar o sistema financeiro ao seu favor. Outro desafio para que essa revolução digital se concretize e ganhe escalabilidade é o acesso à infraestrutura de hardware e de internet, com redes de baixo custo, principalmente no interior do Brasil.

Além do avanço da digitalização dos processos, há iniciativas como o sandbox regulatório proposto pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que é um ambiente experimental em que os participantes admitidos receberão autorizações temporárias e condicionadas para desenvolver inovações em atividades regulamentadas no mercado de capitais, e terão sua trajetória monitorada e orientada pela CVM. “Essa iniciativa poderá trazer cenários interessantes no mercado de ativos e derivativos, o que pode abrir possibilidades de diversificação dos portfólios de investimento e uma mudança no próprio perfil do investidor”, antecipa Vanin. 

Outra novidade que está a caminho é a moeda digital do Banco Central, ou Central Bank Digital Currency(CBDC). “Há um grupo de trabalho estudando uma moeda digital do BC, que não exigirá mais a impressão de papel moeda. Seria o Real digital, com transferência direta para a conta digital da pessoa. Não é uma criptomoeda, porque é emitida e centralizada pelo BC. Ela terá, obviamente, o lastro do BC e não é um ativo de investimento, é dinheiro. Só que é dinheiro que nunca virou papel. A China já está testando sua moeda digital, o Reino Unido e a Europa também montaram um grupo de trabalho para criar o Euro digital. Isso permitirá políticas monetárias e públicas com precisão cirúrgica, que darão certeza absoluta da destinação dos valores. Além de acelerar a economia e acabar com as fraudes, pois o dinheiro digital é 100% rastreável”, destaca Henriques.

 

PIX: Meio de pagamento eletrônico do Brasil lançado no dia 5 de outubro e que entrou em operação em 16 de novembro de 2020. Utiliza chaves de transação (conhecidas como chaves PIX) para acesso aos dados bancários e para efetuar as transações. Essas chaves podem ser número do telefone, CPF ou e-mail do usuário, ou uma chave aleatória.
FINTECH: Termo que surgiu da união das palavras financial (financeiro) e technology (tecnologia). São majoritariamente startups que nascem com mentalidade digital e trabalham para inovar, otimizar e melhorar a eficiência de serviços do sistema financeiro. Elas têm custos operacionais muito menores comparados às instituições tradicionais do setor por utilizarem tecnologias que elevam a eficiência dos processos e barateiam os serviços ofertados.
CRIPTOMOEDA: Meio de troca, centralizado ou descentralizado, que se utiliza da tecnologia de blockchain e da criptografia para assegurar a validade das transações e a criação de novas unidades da moeda. O Bitcoin foi a primeira criptomoeda descentralizada, seguida de muitas outras. Recentemente, inúmeros tokens têm sido criados com base no protocolo do Ethereum, principalmente após a onda massiva de Ofertas Iniciais de Moedas (ICO – Initial Coin Offering).
BLOCKCHAIN: Tecnologia de registro conhecida como “protocolo de confiança”, que visa à descentralização como medida de segurança. São bases de registros e dados distribuídos e compartilhados que têm a função de criar um índice global para todas as transações que ocorrem em um determinado mercado. Funciona como um livro-razão, só que de forma pública, compartilhada e universal, que cria consenso e confiança na comunicação direta entre duas partes, ou seja, sem o intermédio de terceiros. 

 

 

Adriana Schio