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All-Line Relations

03/07/2018

Você está preparado para mudar de emprego?

Grandes transformações no mundo das profissões impulsionam profissionais e empresas a se reinventarem

"Há três competências que todos nós devemos desenvolver para podermos lidar com uma realidade de grandes transformações como a nossa: aprender a aprender, aprender a se relacionar com o outro e aprender a se conhecer" (Robledo dos Santos Luza, diretor administrativo e comercial da Metadados) "Devemos investir em autoconhecimento e comunicação, pois, apesar de toda evolução tecnológica, o futuro do trabalho é relacional" (Alexandre Pellaes, pesquisador e transformador do mundo do Trabalho, fundador da Exboss) "É preciso estar atento aos cenários e alinhar a profissão com essa necessidade" (Francisco Batista, executivo de recursos humanos, headhunter e sócio da FB Consultoria de RH) "Sabe-se que, num futuro próximo, 65% das crianças irão trabalhar em empregos que ainda não foram criados"(Adriana Silva, jornalista)

Adriana Schio, Jornalista

Que as inovações tecnológicas, como a inteligência artificial e a internet das coisas, têm provocado grandes transformações na vida cotidiana das pessoas e das organizações é indiscutível. As facilidades proporcionadas pela tecnologia têm influenciado a sociedade, a cultura e o modo como nos relacionamos com o mundo. Também é inquestionável que essas mudanças têm acontecido de forma cada vez mais acelerada e com impactos importantes no mundo do trabalho. Um estudo realizado pelo Fórum Econômico Mundial de 2016 aponta o Brasil como um dos países que mais será afetado pela automação. Estima-se que aproximadamente 50% dos atuais postos de trabalho serão extintos até 2020. Alarmante? Outro estudo publicado pela revista inglesa The Economist analisa a vulnerabilidade do trabalho frente à automação em 32 países ricos e a facilidade com que tipos diferentes de empregos poderiam ser automatizados em economias desenvolvidas. O levantamento avaliou a capacidade de automatização de cada tarefa dentro de um determinado trabalho, com base em uma pesquisa de habilidades realizada em 2015. No geral, o estudo constata que 14% dos empregos são altamente vulneráveis nesses 32 países, com pelo menos 70% de chance de automação. Outros 32% estão um pouco menos em perigo, com probabilidade entre 50% e 70%. Esse cenário coloca 210 milhões de empregos em risco nesses 32 países.

Será o fim do emprego?

“Se pensarmos no emprego como uma forma previsível de relacionamento, com segurança, valor de um pagamento fixo em troca de um volume de horas de trabalho, sim. Esse modelo tende a desaparecer”, prevê Alexandre Pellaes, pesquisador e transformador do mundo do Trabalho, fundador da Exboss, de São Paulo. O executivo de recursos humanos e headhunter Francisco Batista, sócio da FB Consultoria de RH, empresa especializada em seleção de profissionais especializados, não acredita no fim do emprego, e sim em uma migração do tipo de trabalho, que exigirá novas habilidades. “Profissionais com capacidade lógica, que consigam trabalhar com volume de dados e de forma analítica com essas informações, trazendo resultados para as organizações, serão muito procurados”, aposta. Na verdade, o que os especialistas e estudiosos do tema apontam é que, com as inovações tecnológicas e o crescimento da automação e da inteligência artificial, caminhamos para novos formatos de trabalho no presente e num futuro bem próximo, com relações de trabalho mais flexíveis, remuneração baseada no mérito e organizações menos hierarquizadas. Nesse cenário, profissões mais rotineiras e repetitivas, que não demandam interação real com construção de valor, como caixa de supermercado, frentista, cobrador de ônibus e escrevente contábil, tendem a desaparecer – pelo menos na forma como existem hoje. Já outras atividades mais técnicas e baseadas na combinação entre inteligência humana e digital, como especialista em cloud computing, chief data officer, piloto de drones, mecânico de robôs pessoais, engenheiro de exoesqueletos, engenheiro de internet das coisas, nanomédico e ciberpolicial, ganharão maior visibilidade e melhor remuneração. Sem falar nas novas profissões que ainda irão nascer. Sabe-se que, num futuro próximo, 65% das crianças irão trabalhar em empregos que ainda não foram criados. Como as empresas estão se preparando e lidando com essas transformações e desafios, em especial na região da Serra Gaúcha? “Na Metadados, diria que a principal iniciativa neste sentido tem sido estudar as novas concepções de como se pensar as organizações para os próximos anos e promover um diálogo progressivo sobre isso, envolvendo conceitos como propósito, plenitude e auto-organização”, conta Robledo dos Santos Luza, diretor administrativo e comercial da empresa caxiense que acumula premiações na área de gestão de pessoas. Ele reconhece que esse é um caminho longo, pois envolve o amadurecimento contínuo como pessoa e como profissional, por parte de todos. Na avaliação da psicóloga organizacional e diretora da Prospera Capital Humano e Organizacional, Aline Cechinato, grande parte das empresas está atenta a todas essas mudanças e elas são percebidas pelos empresários e profissionais de RH, porém os movimentos ainda são lentos e colocam em xeque a competitividade. “Na nossa região os movimentos de capacitação e treinamento de profissionais ainda são discretos e mostram a nossa fragilidade para a inovação. Sabe-se pouco sobre esse futuro tão próximo e enfrenta-se ainda a dificuldade de encontrar profissionais capacitados, especialmente em algumas áreas”, pondera. Alerta semelhante é apontado pela sócia e consultora da e-saberes Consultoria e Desenvolvimento de Pessoas, Maria Zeli Stelmack Rodrigues. “Creio que ainda estamos mais no discurso do que na prática. A educação corporativa segue mais na linha de treinamento do que desenvolvimento. O treinamento é importante, mas fica difícil quando só olhamos isso e não buscamos desenvolver outras habilidades e construir um pensar organizacional”, avalia.

Como manter a empregabilidade?

A mudança que está acontecendo no mundo do trabalho é profunda e complexa, passando pelos três níveis das organizações – valores, regras e práticas; a liderança e o modelo de gestão; e a compreensão do papel do trabalho pelos profissionais. Diante de tantas transformações e incertezas, e da exigência de pessoas cada vez menos operacionais, mais estratégicas e com visão sistêmica, o que fazer e como se preparar para manter a empregabilidade no presente e num futuro próximo? Os especialistas têm uma resposta comum: educação e comportamento, ou seja, conhecimento técnico aliado à inteligência emocional, atitude e empatia. O Fórum Econômico Mundial de 2018 inseriu o termo reskilling para inferir a reciclagem e requalificação dos trabalhadores como uma prioridade mundial. A coluna traz dicas de três profissionais, que podem ser aplicadas a trabalhadores e empresários.

“Tenho por hábito afirmar que há três competências que todos nós devemos desenvolver para podermos lidar com uma realidade de grandes transformações como a nossa: aprender a aprender, aprender a se relacionar com o outro e aprender a se conhecer. Precisamos identificar os caminhos que queremos seguir nas nossas vidas, porque o trabalho ocupa um lugar privilegiado na nossa jornada neste mundo” (Robledo dos Santos Luza, diretor administrativo e comercial da Metadados)
“Só existe uma forma inteligente de manutenção da empregabilidade: estudo e especialização na área de atuação, gostar do que faz porque isso faz com que o profissional sempre busque novas fronteiras de conhecimento, estar atento aos cenários e alinhar a profissão com essa necessidade” (Francisco Batista, executivo de recursos humanos, headhunter e sócio da FB Consultoria de RH)
“As empresas estão buscando profissionais com energia para impactar pessoas e processos por meio do trabalho. Profissionais maduros, que tenham compromisso em realizar trabalho com excelência e intenção genuína, colocada em ação. O mundo do trabalho é dos ‘makers’, pessoas que identificam o que tem que ser feito e tomam iniciativa para gerar as condições necessárias para realizar suas visões de mundo e de trabalho. Para isso, devemos investir em autoconhecimento e comunicação, pois, apesar de toda evolução tecnológica, o futuro do trabalho é relacional” (Alexandre Pellaes, pesquisador e transformador do mundo do Trabalho, fundador da Exboss)

 

Foresight: predizendo o futuroA Serra Gaúcha está ganhando uma iniciativa para a análise do futuro. A Universidade de Caxias do Sul (UCS), através do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, está criando o Núcleo de Estudos de Foresight. Baseado na metodologia “Houston Way”, da Universidade de Houston, nos Estados Unidos, o método busca influenciar o futuro desejado. A abordagem trabalha com pelo menos três cenários: o baseline, que é a situação de hoje desdobrada nos próximos 10 a 15 anos sem nenhuma mudança, um segundo cenário alternativo com alguma mudança de variável, e um terceiro cenário disruptivo modificado por uma tecnologia. A metodologia envolve três etapas: entender o futuro, mapear o futuro e influenciar o futuro. A implementação do projeto está sendo organizada pelo professor doutor Paulo Fernando Pinto Barcellos.