Comunicação Visual

A humanidade, historicamente, sempre se comunicou por meio de sinais gráficos. As imagens sempre tiveram destaque nos diferentes modos de ler e escrever o mundo.  É por isso que o desenho das crianças tem extrema relevância nos processos da Educação Infantil: ele é a forma que a criança tem de se comunicar. E muitas vezes, na pressa do dia a dia, professores e pais não prestam atenção no que a criança está transmitindo em seus desenhos. Há muitas representações metafóricas ali. Em cada desenho, há uma intenção legítima da criança em comunicar algo para si ou para o outro. E há muita complexidade nas linhas e traços que dão sentido ao desenhado.

Manuel de Barros, poeta brasileiro, nos inspira a refinar o olhar sobre a infância. Refinar, nesse caso, significa olhar inúmeras vezes para uma mesma coisa, para que novas descobertas sejam feitas. Nesse jogo, exploramos o visível e invisível em cada desenho, buscando também por meio da escuta, capturar o que contam as crianças a partir das suas narrativas. Com isso, vamos conhecendo e valorizando suas histórias, invenções e compreensão do mundo e dando valor ao que elas expressam quando utilizam imagens e palavras.

Nesse sentido, a escola Esconderijo Sapeca amplia os repertórios das crianças apresentando-lhes diferentes perspectivas e leituras, desenvolvendo o olhar delas sobre a natureza das coisas e dos seres que estão ao seu redor, rompendo com os estereótipos, incentivando-as a desenhar e narrar para além daquilo que está visível. Assim, acolhemos seus pensamentos, emoções, sentimentos, vivências individuais e coletivas. Entendemos que o aprendizado ocorre pela relação construída com o mundo e não pela repetição dele. Ao ver seu desenho e sua fala sendo utilizados para explicar processos vividos no cotidiano da escola, a criança desenvolve a confiança em si mesma.  

Quando ela está disposta a comunicar o que pensa, surgem novas possibilidades para interagir, conviver e relacionar-se consigo, com o outro e com o mundo. A criança pequena tem a capacidade de olhar para as miudezas do cotidiano e torná-las coisas grandes, ela enxerga detalhes das coisas que fazem parte da condição humana e que os adultos muitas vezes não percebem. Na escola de Educação Infantil, compreendemos que as crianças vivem um tempo de intensidade diferente, essencial para o desenvolvimento da sua compreensão de mundo.

Em 2019, considerando as temáticas envolvidas nas linguagens expressivas da infância, a Esconderijo Sapeca vem produzindo contextos investigativos, a partir da pergunta-problema: Quais linguagens estão (in) visíveis no cotidiano da criança pequena nesta cultura de educação formal? As educadoras, em diálogo com as crianças, definiram o foco de interesse e de curiosidade de cada grupo etário. As pesquisas serão comunicadas às famílias no 1º Esconderijo em Arte, em novembro, quando partilharemos o que as crianças contam sobre a linguagem do grito, o silêncio do afeto, além da linguagem das relações e do corpo.

Algumas vezes, no contexto da educação formal, surge uma tendência à antecipação de processos, uma ânsia de que a criança decodifique a palavra escrita (como se a identificação do código fosse suficiente para expressar ou medir o que a criança sabe). Acreditamos que acolher e valorizar o que as crianças contam em suas narrativas infantis e atribuir significados a cada marca gráfica produzidas por elas é um ato respeitoso e necessário ao processo de alfabetização. Com isso, a criança se sente confiante para transitar entre o desenho, a fala e a escrita não convencional. E nós seguimos escutando e apoiando a criança em suas múltiplas linguagens, sempre acreditando na força e na potência das suas narrativas.