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Comunicação Visual

07/04/2020

Por Uma Escola da Infância Sem Adjetivos

Uma experiência educativa transformadora é aquela que considera a criança como uma pessoa em condição peculiar de desenvolvimento e não mede esforços para articular o “brincar e cuidar” como situações indissociáveis no processo de aprendizagem e crescimento humano

"É um processo contínuo e de manutenção do desejo de aproximar a teoria da prática, de modo que a escola seja, na ação diária, o seu próprio discurso" "Todos os esforços educativos terão baixo impacto se não vierem acompanhados de uma experiência sensível de infância" "Uma escola com sabor de infância, da pesquisa que atiça ainda mais a curiosidade das crianças, do atelier como espaço de expressão e imaginação em contextos de experimentação, da linguagem em suas múltiplas manifestações e das crianças vistas como produtoras de cultura"

A escola de educação infantil contemporânea é influenciada pelos novos saberes, novos tempos e espaços, novas legislações e novas pedagogias. Neste contexto, emergem diferentes experiências educacionais, quer sejam elas de características superficiais ou transformadoras. A primeira é facilmente percebida pelos discursos senso comum, expressos em frases prontas, as quais nem sempre se comprovam no âmbito de uma educação de qualidade. A segunda caracteriza-se em processos mais lentos, gradativos e respeitosos com as crianças, professoras e famílias, pois envolvem outra cultura educativa. Trata-se de um processo contínuo e de manutenção do desejo de aproximar a teoria da prática, de modo que a escola seja, na ação diária, o seu próprio discurso.  

Uma experiência educativa transformadora é aquela que considera a criança como uma pessoa em condição peculiar de desenvolvimento e não mede esforços para articular o “brincar e cuidar” como situações indissociáveis no processo de aprendizagem e crescimento humano. Todos os esforços educativos terão baixo impacto se não vierem acompanhados de uma experiência sensível de infância. Tal sensibilidade inicia-se com a predisposição do adulto para acolhê-la como alguém que é, no agora, um sujeito pensante, sociável, participativo e atuante naquilo que envolve a sua vida e a relação com o entorno. As vivências da criança na escola, durante o tempo de vida na infância, envolvem uma rigorosidade sobre aquilo que lhe é oportunizado para não infantilizá-la ou adultizá-la.

Dizemos que a nossa pátria é a infância que tivemos, pois nela ficam guardados os registros dos acontecimentos que se transformam em memórias afetivas, simbólicas e históricas. E em tempos de infância na escola e de escola da infância, surgem experiências educativas transformadoras como essa que a Esconderijo Sapeca vem realizando por intermédio do brincar e do cuidar com bebês e crianças pequenas.

No futuro, esses acontecimentos educativos de hoje serão ainda mais visíveis porque fortaleceram as relações afetivas e intelectuais, as quais influenciarão a etapa da alfabetização, a escolha e formação profissional, bem como a realização pessoal que irá ser percebida com maior ênfase na idade adulta, refletindo nos relacionamentos e na convivência familiar e comunitária.

Portanto, as iniciativas da escola Esconderijo Sapeca, para a geração de conteúdo, estão sustentadas pelo ideal de uma escola com sabor de infância, da pesquisa que atiça ainda mais a curiosidade das crianças, do atelier como espaço de expressão e imaginação em contextos de experimentação, da linguagem em suas múltiplas manifestações e das crianças vistas como produtoras de cultura. Sem adjetivos, a escola da infância é essencialmente um espaço e um tempo singular para descobertas socioculturais, que ocorrem como se fôssemos ao quintal levantar uma pipa, colorida e amarrada a um barbante longo, preso ao dedo indicador, para que ela dance acima dos olhos de uma criança num céu sem fim.

 

Prof. Dr. Delcio Antônio Agliardi
Professor na UCS. Autor de obras de literatura infantil
Foi patrono da 35ª Feira do Livro de Caxias do Sul
Assessorou a Escola de Educação Infantil Esconderijo Sapeca, em 2017, no reposicionamento da visão educativa