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Consultoria Exclusiva

02/12/2016

50 Anos "Ao Compasso dos Relógios"

O visionário Ivo Pioner construiu, com determinação e seriedade, a bela história de uma empresa familiar que, em duas gerações, cresceu 600%, alcançando estabilidade e inquestionável credibilidade para a marca

 "Eu tinha que escolher: ou largava meu emprego, ou largava do meu sonho. Então eu deixei o emprego" Ivo Pioner "Coloque-se no meu lugar: saimos de um caminho obscuro, criamos uma família, educamos e demos o mínimo necessário para terem uma vida digna - ética, moral, cristã e financeiramente. Isso me realiza, sim! Posso dizer, assim como São Paulo, que terminei a corrida, combati o bom combate, e guardei a fé! Olhando para a caminhada, eu me sinto como alguém que tem o dever cumprido sim" Ivo Pioner "Cada um de nós tem uma característica, mas a soma delas é que gera sucesso", explica Ivonei Miguel Pioner, administrador de empresa, ótico e relojoeiro A Pioner Joalheria e Ótica foi fundada em 1966 pelo Sr. Ivo e Sra. Claire Pioner, em Caxias do Sul-RS, Serra Gaúcha (RS). A empresa iniciou realizando consertos de relógios e fornecendo joias por encomenda. Atualmente, com seis lojas na cidade, o grupo Pioner tem se destacado pela expansão rápida e sólida que a empresa alcança em apenas duas gerações. "Credibilidade na arte de enxergar econcretizar sonhos", este é o nosso negócio afirma Ivo Pioner

Não se sabe ao certo se é o “tic-tac” dos relógios o que guia Ivo Pioner ou se são as batidas de seu grande coração que regulam os muitos “ponteiros da vida” que o circundam. Sensibilidade afiada, olhar clínico e mãos de cirurgião… “Sou perfeccionista”, confessa o relojoeiro. Sua intimidade com os mecanismos dos marcadores do tempo o mantêm ativo, aos 74 anos, trabalhando, (hoje como funcionário e conselheiro) na empresa que, ao lado da esposa e filhos, ele mesmo construiu. Foi naqueles determinantes quatro anos de jornada dupla, quando Pioner dividia-se entre o trabalho em uma madeireira e o estudo do ofício com o qual ele sonhava um dia poder sustentar melhor sua família, que a determinação do empreendendor se mostrou fundamental para que sua história como dono do próprio negócio pudesse começar a ser escrita.

“Eu sabia que se continuasse na madeireira seria sempre um funcionário. Então eu procurei algo para fazer no meu tempo livre que incrementasse a renda da minha família”, conta o carismático senhor Ivo. Acompanhado pelos olhos cuidadosos dos filhos Ivandro e Ivonei Pioner, Ivo contou-nos sua emocionante trajetória pessoal que mistura-se à história da empresa de sua família, a bem conhecida e muito respeitada Pioner Joalheria e Ótica.

Visão e Coragem

Ivo Pioner é bisneto de imigrantes italianos que partiram do Vêneto e, segundo ele mesmo conta, chegaram ao Brasil em 1876. Era o início da onda migratória européia do século XIX. “Dizem que meu avô nasceu na viagem, pense! O risco era tanto que eu poderia nem estar aqui!”, reflete. Natural de Maquiné, Osório, onde nasceu em 1942, Ivo é o 5º filho de uma família de 12 irmãos. “Sou quase o do meio, imagine o meu sofrimento! (risos)”, brinca. Ivo estudou até a 4º série do Ensino Fundamental e sempre auxiliou os pais no trabalho da colônia. Em 1948 sua grande família mudou-se para Caxias do Sul pois fora contratada para trabalhar em uma propriedade, lidando com lenha. Ficaram no município caxiense por cinco anos, desenvolvendo esta atividade, até 1953, quando voltaram para Osório. Posteriormente Ivo serviu ao exército e, em março de 1963, aos 22 anos, recém-casado, resolveu voltar a Caxias do Sul em busca de melhores oportunidades de trabalho. “Na época eu tinha um cunhado que já estava em Caxias e decidi morar com ele, pagando pensão. Cheguei à cidade e no dia seguinte encontrei emprego. Dois dias depois já estava trabalhando na Madezorzi”, lembra Ivo destacando a pujança de Caxias do Sul naquela época. Durante este período de trabalho na fábrica, com o nascimento dos filhos (Ivonei, Ivandro e Elisabete, em 1967, 1968 e 1970), Ivo refletia sobre o que poderia fazer para aumentar a renda da casa. “Você imagine eu, numa cidade grande, um homem adulto, recém-casado, sem formação, com filhos pequenos. Eu pensava… que futuro eu vou dar para esses filhos? Vai sair da onde o dinheiro para lhes dar estudo? Isso me levava a trabalhar. Foi também por isso que decidi aprender a consertar relógios”, conta. Com o dinheiro emprestado que conseguiu junto a um tio da esposa, Ivo pagou alguém para lhe ensinar. Eu remunerei um profissional para me instruir no começo e depois fui aprendendo com a prática”, relata o empreendedor, que começou a estudar a arte de ajustar relógios em julho de 1966. “Era uma época difícil. Para se conseguir as peças, só em Porto Alegre, ou São Paulo. No período em que eu trabalhei na Madezorzi e também em casa, eu tinha que sair sábado, por volta das 4h da manhã, aqui do Sagrada Família, ir a pé até a Rodoviária de Caxias do Sul, em São Pelegrino, pegar um ônibus para Porto Alegre, buscar peças e voltar para consertar os relógios”, descreve.

A Decisão

Foi nas madrugadas que seu Ivo Pioner começou a realizar o sonho de ganhar algo mais do que o salário da fábrica. “Trabalhava quase nove horas por dia na madeireira e, quando chegava em casa, mais oito horas consertando relógios. Eu ia dormir por volta das quatro horas da manhã e acordava às 7h50min”. Foram quatro anos de jornada dupla. Num ritmo desses, o corpo deu sinais de protesto. Observando que sua saúde decaia e que não seria possível manter tal carga por muito tempo, Ivo precisava tomar uma decisão. “Foi um momento muito delicado e determinante para a história da nossa família. Eu precisava escolher deixaria o meu trabalho seguro (na madeireira) para apostar no meu novo ofício (relojoeiro). Eu não tinha garantia de que aquilo daria certo. Em contrapartida, sabia que, se continuasse na madeireira, apenas, dificilmente haveria algo novo no meu futuro”, explica. “Eu tinha que fazer uma escolha, ou eu largava meu emprego, ou largava do meu sonho. Então eu larguei o emprego”. A coragem, a autoconfiança e a intuição de que o novo negócio poderia funcionar sabiamente guiaram Ivo à escolha que mudaria por completo a vida de sua família. Ele deixou o trabalho na madeireira em 1970 passando a dedicar-se exclusivamente ao seu próprio negócio com o auxílio da esposa Claire. Novamente Ivo realizou um empréstimo com o tio dela para comprar sua primeira encomenda de relógios. Além de consertá-los, ele agora vendia o produto, bem como algumas joias. A empresa começou em casa mesmo. Morador do Bairro Sagrada Família ao longo de toda a sua vida caxiense, foi ali que Ivo escolheu para construir a primeira loja Pioner, em1977.

“Responsabilidade a Conta-gotas”

O mesmo endereço da primeira loja Pioner, inaugurada em agosto de 1977, ainda abriga a sede da empresa. “Minha loja fica aqui, na beira da BR 116. A localização pode parecer um pouco complicada e quase não temos calçada na frente. Mesmo assim, até hoje, é a loja que mais nos dá retorno, que mais vende. Acho que é por causa do bom atendimento, não é?”, brinca seu Ivo, que atualmente ainda atende no balcão da loja e realiza trabalhos técnicos de manutenção em relógios.

Há quase uma década, embora possa ser considerado jovem para tanto, Ivo realizou a sucessão da liderança da empresa passando-a gradativamente ao controle dos filhos, tornando-se funcionário do próprio negócio. Mas ele diz-se tranquilo por saber que passou a gestão às pessoas que educou para a vida e cujo caráter para o trabalho também foi forjado bem perto dele. “Eu tinha que fazer isso se quiséssemos crescer. Desde pequenos meus três filhos acompanhavam o trabalho. Morávamos encima da loja e, ainda adolescentes, eles começaram a ajudar a atender os clientes. A primeira coisa que fiz, então, foi comprar um livro-ponto que eles assinavam todos os dias”, lembra sorrindo Pioner. Aos filhos ele primeiro ensinou a consertar relógios despertardores e “de tudo um pouco”, como ele mesmo conta. “Quando cresceram, pude lhes proporcionar que estudassem e lhes disse: neste trabalho não ficaremos ricos, mas também não passaremos fome. Vocês podem escolher. Eles optaram por continuar na empresa”, afirma. “A sucessão foi feita gradativamente, muito aos poucos. Fui delegando responsabilidade a conta-gotas, como costumo dizer”, afirma Ivo, com um largo sorriso. Hoje, com a segunda geração da família à frente dos negócios, a marca Pioner assina a fachada de seis lojas em Caxias do Sul.

Espaço para Inovação

A Gestão da empresa hoje é compartilhada entre os herdeiros, Ivandro, Ivonei e Elisete. “Cada um de nós tem uma característica, mas a soma delas é que gera sucesso”, explica Ivonei Miguel Pioner, administrador de empresa, ótico e relojoeiro. “Não nos imaginamos trabalhando longe um do outro. Nós vivemos sempre muito próximo ao negócio. Com onze, doze anos aprendemos a consertar relógios despertadores. Aos 13 já consertávamos relógios de pulso. Quando começamos a atender os clientes éramos um pouco maiores do que a altura do balcão”, relata Ivonei. “Tivemos contato com o comércio desde muito cedo. Eu sempre digo que nossa empresa foi uma escola de vida. Muito mais do que o negócio, fomos aprendendo ética, economia, respeito e como tratar bem as pessoas, na prática”, relembra emocionado. “A partir do momento em que cada um de nós foi crescendo em idade e em conhecimento, acrescentamos coisas novas à empresa. Tivemos alguns momentos muito marcantes enquanto grupo empreendedor. Primeiro quando o pai fundou a Pioner, com os relógios, na sequência a joalheira, o ouro, que foi muito forte durante a nossa formação como profissionais, e, já solidificados estes dois ramos, por volta de 1998, optamos por abrir uma nova frente que era a ótica. Tudo com o suporte do seu Ivo. Foi ele quem viabilizou tudo isso. Nos deu espaço para desenvolvermo-nos”, reconhece o herdeiro. “Ele fez essa transição familiar (que hoje se estuda tanto a respeito) de uma forma simples, mas muito eficaz. A transição levou oito anos e, com certeza, foi baseada em muita sabedoria. Ninguém faz algo de uma forma tão serena sem ser sábio”, reflete.

Rejuvenescendo

“Nos anos 80 eu vendia quatro vezes mais relógios do que vendo hoje”, conta Ivo. “Não tinha concorrência. O que derrubou as relojoarias foram os camelôs e os produtos chineses. Mas eu acredito que a seriedade no trabalho, nossa boa oficina (uma das melhores do Estado em assistência técnica), conhecer bem o ramo e atender bem ao cliente, foi o que nos manteve”, afirma convicto o fundador da Pioner. “Nosso maior desafio hoje é a forma de nos comunicarmos com o cliente”, salienta Ivonei. “Isso está mudando rapidamente. Temos grupos de clientes que consomem as mídias tradicionais, outra parte só se conecta a partir das novas plataformas, e nós precisamos, depois de 50 anos, rejuvenescer!”, afirma. “Precisamos ter colaboradores que entendam os clientes entrantes e que, ao mesmo tempo, entendam a Pioner e sua história. Convergir tudo isso em entendimento, é um grande desafio de gestão. Por isso já estamos considerando uma sucessão profissional. Em algum momento também vamos ter que sair um pouco de cena, e dar espaço para quem vem”, prevê o empresário. “Nossos filhos podem participar do negócio, mas a próxima sucessão será exclusivamente baseada em critérios profissionais. Nossa empresa tem uma história de prestação de serviços à comunidade e, este vínculo, nós queremos preservar”, conclui.

Futuro

Ivo Pioner hoje tem seis netos (quatro meninas e dois meninos) com idades entre dois e 13 anos. Entretanto ele e os filhos projetam que a próxima sucessão que a empresa familiar enfrentará será essencialmente profissional. “Nós optamos por continuar na empresa mas decidimos que, a partir de agora, a sucessão na liderança do nosso negócio precisa ser técnica”, explica Ivonei. Admirado, ele destaca a sabedoria que o pai teve ao desenvolver a transição na liderança dos negócios de forma gradual e metódica, mesmo sem, aparentemente, ter conhecimento técnico sobre processos sucessórios, numa época em que pouco se ouvia falar do assunto. “Pouco a pouco ele foi nos passando o conhecimento sobre cada área da empresa, sem grandes conflitos, sem traumas. De repente, estávamos liderando os negócios por completo”, relata. “Meu pai é um grande homem. À medida em que ia formando a empresa e nos ensinando a trabalhar, ele também nos ensinou valores que praticamos em nossa vida até hoje. Nosso maior reconhecimento é expresso em gratidão ao mostrar na nossa prática diária, nos negócios e na vida, o que aprendemos! Isso é importante, ele ver que realmente guardamos suas lições”, conclui Ivonei, emocionado pelo legado de vida recebido.

Caroline Pierosan