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Consultoria Exclusiva

10/10/2017

A Reprodução Humana Assistida na Serra Gaúcha

Focados em ajudar a formar famílias e a promover a preservação da fertilidade humana, o casal de médicos construiu uma história de muita pesquisa, apoio mútuo e empreendedorismo

Eleonora e Fábio Pasqualotto, pesquisa, apoio mútuo e empreendedorismo. Foto: Josué Ferreira É muito gratificante! Ficamos muito felizes com cada casal que conseguimos ajudar a engravidar. Foto: Josué Ferreira Questões como o peso corporal, o hábito de fumar ou o abuso do álcool podem interferir na fertilidade. Foto: Josué Ferreira Oito a 10% das crianças nascidas na Dinamarca são concebidas a partir de métodos de reprodução humana assistida. Foto: Josué Ferreira Sabe-se que um corpo mantido com hábitos saudáveis vai preservar melhor os óvulos, bem como manter a sua qualidade. Foto: Josué Ferreira Um dos princípios do casal de médicos é, além de tratar casos de infertilidade, ajudar a preservar e prolongar a fertilidade a partir do incentivo da manutenção dos hábitos saudáveis. Foto: Josué Ferreira A partir do momento que eu comecei a acompanhar a técnica da inseminação artificial e da fertilização in vitro eu me apaixonei! Lembro que cheguei em casa e disse para o Fábio, é isso que nós vamos fazer! Foto: Josué Ferreira

Quando (há 15 anos) Fábio e Eleonora Pasqualotto escolheram Caxias do Sul para iniciar o projeto do Conception Centro de Reprodução Humana, sabiam o cenário que iriam encontrar. Desconfiança, receio e vergonha eram sentimentos que faziam parte da vida de quem, já naquela época, precisava de auxílio para realizar o sonho de ter filhos. No final da década de 90, a ciência avançava a passos largos nas descobertas que logo adiante mudariam, positivamente, as perspectivas de muitas pessoas com dificuldades para engravidar. Congelamento de óvulos, reversão de vasectomia, aspiração de espermatozoides do testículo e epidídimo: quem poderia imaginar, há pouco mais de 20 anos, que a tecnologia científica proporcionaria tanta esperança a partir do desenvolvimento destes métodos fantásticos? Eles acompanharam tudo isso de muito perto. Determinados, não pouparam esforços na busca pelo conhecimento que poderia mudar o futuro de tantas famílias. Oportunidades não faltaram para que tivessem partido para outras regiões como Porto Alegre, São Paulo e até Estados Unidos. Mas foi aqui, na Serra Gaúcha, que eles escolheram firmar raízes e iluminar o cenário da Reprodução Humana Assistida, até então inexistente. “As pessoas as vezes me encontram no mercado e me perguntam  - Doutor, o senhor está lembrando de mim? Está aqui, veja a foto do meu filho!”, conta Fábio Pasqualotto. Nestes 15 anos de atuação, eles contribuíram para a formação de mais de mil famílias que, de outra forma, não poderiam existir. “É muito gratificante! Ficamos muito felizes com cada casal que conseguimos ajudar a engravidar. Certamente também temos em mente sempre os casais que, por algum motivo, ainda não conseguiram. Nosso foco é sempre buscar mais conhecimento e alternativas para que também possamos auxiliá-los”, revela a médica Eleonora. Busca incansável, dedicação total. Sediar o Conception Centro de Reprodução Humana é, sem dúvida, um privilégio para Caxias do Sul, para a Serra Gaúcha e para o Rio Grande do Sul. A seguir, os médicos contam um pouco de sua trajetória, de sua percepção social em relação ao que a comunidade pensa hoje sobre Reprodução Humana Assistida e falam de suas perspectivas para o futuro.

Um assunto Delicado

De acordo com a médica Eleonora Bedin Pasqualotto, pode-se dizer que, nos últimos quinze anos, a percepção social da comunidade da Serra Gaúcha em relação aos temas da Reprodução Assistida evoluiu muito. “A diferença é da água para o vinho. Nós mesmo mudamos! Quando começamos optamos por abrir a Clínica em um local mais reservado, justamente porque nossa pesquisa de mercado nos mostrou que as pessoas não gostariam de estar em um lugar exposto, que elas teriam vergonha de entrar em um Centro de Reprodução Humana”, explica a médica. “E isso acontecia de fato, nós tínhamos pacientes que tinham receio de entrar no elevador do prédio em que estávamos sediados e descer no andar da Clínica”, lembra. “Na época em que abrimos a Clínica em Caxias do Sul (2003) foi muito complicado. Muitas pessoas iam para fora da cidade fazer tratamentos para que, em Caxias do Sul, ninguém ficasse sabendo que elas tinham dificuldades para ter filhos”, completa o Dr. Pasqualotto. “Recentemente aplicamos um questionário e nos impressionou o seguinte fato, a maioria dos entrevistados respondeu que não se importaria de ficar em sala de espera com outras pessoas. Há dez anos a maioria das pessoas respondeu que preferiria ficar em uma sala de espera sozinho. Isso reflete uma mudança de comportamento da população”, avalia a médica. Para Fábio a transformação se deve, também, ao fato de as pessoas terem começado a viajar mais para fora do país. “Quando se entra em contato com outras culturas se traz na bagagem influências. Vivemos uma transformação cultural. Hoje as pessoas procuram mais tranquilamente os tratamentos, comentam e conversam sobre o assunto também. Atualmente o Conception Centro de Reprodução Humana fica no centro da cidade, em um lugar totalmente visível, numa sala térrea. Todos sabem o que fazemos aqui”, avalia Fábio.

Tranformação Social

“Oito a 10% das crianças nascidas na Dinamarca são concebidas a partir de métodos de reprodução humana assistida”, relata o Dr. Fábio Pasqualotto. “Ou seja, lá se fala muito sobre o assunto, se faz muito tratamento”, pondera. Para o médico, quanto mais a questão for debatida, quanto mais o tema for exposto e suas causas explicadas, quanto mais explorados os porquês de cada paciente que tem dificuldade para engravidar, mais a comunidade compreenderá e apoiará quem busca auxílio. “Antes costumava-se dizer que o fato de não poderem ter filhos teria sido uma ‘decisão da natureza’. Ficava por isso mesmo. Hoje não! Todos querem saber o que está acontecendo e buscam ajuda”, considera. “Quando alguém que antes não tinha possibilidade alguma, de repente consegue engravidar, isso motiva que se fale sobre o assunto. Desperta o interesse pela questão”, avalia Eleonora. “Na hora que você trata dos problemas de fertilidade de uma maneira natural, as pessoas entendem e fica muito mais fácil falar sobre o assunto”, explica. De acordo com os médicos esse é um dos motivos para terem formado uma equipe multidisciplinar, com endocrinologista, nutricionista, psicólogos e ginecologistas. “Às vezes percebemos que podem haver motivos além dos biológicos para a dificuldade de engravidar do casal. Então orientamos para avaliações endocrinológicas, nutricionais e psicológicas, para ver como se pode ajudar de fato. Em alguns casos o problema pode estar, por exemplo, em um índice de massa corporal aumentada. Muitas vezes a simples perda de peso pode contribuir para que o casal engravide. Então quando temos uma equipe com diversos profissionais atuando, cada um contribuindo com sua expertise e com sua forma de pensar, facilita muito o tratamento”,  afirma Pasqualotto.

Campanha da Fertilidade

Um dos princípios do casal de médicos é, além de tratar casos de infertilidade, ajudar a preservar e prolongar a fertilidade a partir do incentivo da manutenção dos hábitos saudáveis. “Nossa referência é Campanha da Fertilidade Norte-Americana. Desde 2001 eles já se preocupam com isso e lançaram a campanha por lá. Os cuidados com a saúde se tornaram ainda mais importante quando surgiu a possibilidade do congelamento de óvulos para as mulheres – que hoje em dia acabamos indicando muito. Sabe-se que um corpo mantido com hábitos saudáveis vai preservar melhor os óvulos, bem como manter a sua qualidade”, explica a doutora. “Questões como o peso corporal, o hábito de fumar ou o abuso do álcool podem interferir na fertilidade. As doenças sexualmente transmissíveis também são umas das maiores causas de infertilidade em homens e mulheres”, alerta Eleonora. “A questão do peso é importante. Tem muitos estudos que mostram que pessoas que têm colesterol aumentado demoram mais tempo para conseguir engravidar”, completa Pasqualotto. “Todo mundo, na verdade, pensa no momento em que não quer ter filhos. A mulher jovem avalia muito a carreira profissional e tem muito claro para si os momentos em que não gostaria ou não poderia engravidar. Mas logo adiante pode ser que ela passe a querer. Para tanto, há várias práticas que ela deve manter agora para que, quando quiser conceber, no futuro, ela tenha maiores possibilidades”, explica Eleonora.

Pesquisa e Avanço Tecnológico

“Estamos sempre engajados em tentar entender as causas – os porquês – de os pacientes não conseguirem engravidar e temos vários parceiros para desenvolver nossas pesquisas como a Universidade de Caxias do Sul, a Fundação Fio Cruz e a própria Cleveland Foundation, onde iniciamos nossa formação em reprodução humana assistida”, destaca Pasqualotto.“Publicamos um artigo este ano em parceria com a FioCruz mostrando que pessoas que têm contato com pesticidas têm alteração no formato dos espermatozoides”, exemplifica o médico, descrevendo o trabalho que está sendo realizado na região de Farroupilha. “Avaliamos jovens agricultores, comparando com pessoas da mesma idade que não trabalham no campo. O estudo mostrou que quem trabalha com fungicidas, pesticidas e agrotóxicos têm ejaculado de qualidade inferior em comparação com pessoas da mesma faixa etária que não têm contato com essas substâncias”, explica o médico. “Nós, ainda hoje, continuamos fazendo este trabalho investigativo até para poder alertar a população pois o tema é extremamente importante! Lá na frente, talvez as gerações sejam afetadas por tudo isso que estamos fazendo hoje”, pondera o médico. “Um estudo que estamos prestes a publicar é sobre pessoas que tiveram lesões na medula e que têm dificuldade para engravidar. Esta pesquisa está acontecendo neste momento na Universidade de Caxias do Sul”, orgulha-se Pasqualotto.

Busca pelo Conhecimento
“Eu optei por ser urologista e a Eleonora seguiu para a ginecologia. Isso é muito interessante, pois nós dois trabalhamos com áreas específicas semelhantes mas, ao mesmo tempo, totalmente diferentes - um com o sexo feminino e outro com o sexo masculino. Nos anos 90 estávamos morando em Porto Alegre, terminando a residência médica e casamos no último ano da faculdade. Então eu disse para a Eleonora - quem sabe a gente faz alguma coisa diferente? Vamos pensar em alguma coisa para trabalharmos juntos? As questões de reprodução humana me interessavam muito, tanto a parte da andrologia (que é o estudo da  disfunção erétil), quanto toda a parte masculina (como ejaculação precoce, etc). Eu achava interessante estudar sobre a infertilidade masculina mas, até então, tínhamos pouco conhecimento sobre técnicas para atuar em sua aplicabilidade. Propus à minha esposa a busca desse conhecimento no exterior. Então fui para os Estados Unidos, realizar o fellowship na Cleveland Clinic (Ohio – EUA). O intuito era ter uma ideia geral sobre infertilidade masculina. Estavam começando a surgir os centros de reprodução humana assistida aqui no Brasil mas não se falava tanto neste assunto. O professor que fui acompanhar na Cleveland Clinic foi a primeira pessoa a fazer reversão de vasectomia no mundo, foi ele que descreveu a técnica! Então começaram a se abrir portas e a surgir oportunidades.  Lá nos Estados Unidos entrei neste grupo de pesquisa sobre infertilidade masculina e tive acesso ao professor da ginecologia. Ele me propôs que levasse a Eleonora para os Estados Unidos para pesquisar sobre a área feminina. Ela então se tornou a primeira pessoa a fazer a especialização na Cleveland Clinic, na parte da infertilidade feminina. Aquele período que era para ser de apenas seis meses virou dois anos. Acabamos nos aprofundando nos estudos e publicando artigos em revistas internacionais. Mergulhamos de corpo e alma no ‘mundo da infertilidade humana’. Quando terminamos nossa formação lá decidimos fazer mestrado e doutorado em São Paulo. Isso foi muito importante para nos ambientarmos no Brasil, principalmente quanto a legislação nacional em relação a reprodução humana assistida. Moramos três anos em São Paulo, ali concluímos mestrado e doutorado e pudemos ver como funcionam essas práticas no Brasil. Decidimos então voltar à Caxias do Sul porque aqui não havia Centros de Reprodução Humana Assistida. Eu sou natural daqui e queria voltar para a cidade. Fizemos uma pesquisa de mercado e verificamos que havia demanda para o nosso trabalho na Serra Gaúcha. Foi muito legal voltar para cá pois pudemos desenvolver muitas coisas interessantes e, também, nos tornamos professores da Universidade de Caxias do Sul onde continuamos promovendo pesquisa. Muitos estudos lá de Cleveland trouxemos para cá. Prosseguimos com os estudos, na UCS e no Conception.” (Fábio Firmbach Pasqualotto)
Descoberta
“A partir do momento que eu comecei a acompanhar a técnica da inseminação artificial e da fertilização in vitro eu me apaixonei! Lembro que cheguei em casa e disse para o Fábio, é isso que nós vamos fazer! Então nós planejamos assim, ele faria a parte masculina, sendo capaz de aspirar espermatozoides, captar estas células de homens que já não acreditavam que poderiam ter filhos biológicos, e eu faria a parte feminina. Começamos a sonhar com tudo o que conseguiríamos realizar juntos. A gente sempre tem essa ansiedade de trazer as melhores tecnologias para o Conception. Sempre vamos nos Congressos para nos mantermos bastante atualizados com tudo o que aparece. Os casos em que não conseguimos a gravidez para o casal nos deixam muito intrigados. Ficamos muito felizes pelo sucesso dos que conseguem mas nosso coração também fica sempre muito focado nos casais que ainda não realizaram o objetivo. A partir de agora, e cada vez mais, nosso foco também será direcionado para a promoção da preservação da fertilidade. Queremos que as pessoas possam engravidar mais, melhor e quando quiserem” (Eleonora Bedin Pasqualotto).

Reportagem: Caroline Pierosan I Fotos: Josué Ferreira