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Consultoria Exclusiva

20/09/2018

Educando Para o Futuro

Conheça as opiniões da empreendedora que, há 30 anos, criou uma escola para poder educar a comunidade da forma como gostaria de educar o próprio filho

"Geramos pesquisadores e líderes, pessoas que possuem não apenas conhecimento, mas também sabedoria" (Maristela Thomasi Chiappin - Foto: Josué Ferreira) "Como é que, no futuro, vamos solucionar um problema de uma empresa, que precisa de pessoas proativas, sem estimular a pró-atividade na escola" (Maristela Thomasi Chiappin - Foto: Josué Ferreira) "Valores como respeito, ética, honestidade, independem de crença e eles são trabalhados no dia a dia. Acreditamos que as pessoas podem ser assim, por isso não limitamos a uma disciplina e trabalhamos a Educação Socioemocional em parceria com a Escola da Inteligência de forma global na comunidade escolar iniciando os projetos no período semanal destinado para isso mas almejando transcender as fronteiras da escola"  (Maristela Thomasi Chiappin - Foto: Josué Ferreira)

Entrevista I Caroline Pierosan / Fotos I Josué Ferreira

“De verdade, eu acredito que nós podemos fazer alguma coisa para termos um mundo melhor e, para isso, devemos tornar as pessoas melhores”, afirma convicta, Maristela Tomasi Chiappin, Diretora Presidente da Caminho do Saber, a Rede de Ensino privado que mais cresce na Serra Gaúcha. “Mesmo com toda a evolução tecnológica que está vindo, o homem precisa estar ali para operar, para melhorar e para fazer os ajustes que são necessários nessas adaptações todas. Então não podemos pensar em mudança e em evolução sem pensar nas pessoas”, complementa a empreendedora que, há três décadas, tomou a decisão de criar uma escola para educar a comunidade da mesma forma como gostaria de educar o próprio filho. Hoje, 30 anos depois, Maristela coordena o processo preparatório educacional e de iniciação profissional de cerca de 1.400 pessoas, à frente da Rede de Ensino mais inovadora da região. “Todas as dificuldades econômicas que eu passei durante a minha infância, e boa parte da juventude também, todas as atribulações da minha família me fizeram acreditar, de fato, que a educação move o mundo”, explica, ao perguntarmos a origem da motivação para tanto empenho. “Lembro da minha mãe na roça, tendo que plantar e colher, para levar esse milho ao moinho, e poder ter polenta em casa...”, relembra, com emoção. “Essa foi uma dificuldade que me fez ter certeza de não querer passar por aquilo novamente. Então eu acredito em evoluir e buscar. A educação é o caminho!”, afirma. A seguir Maristela compartilha sua visão sobre o sistema educacional nacional e sua avaliação sobre este importante momento de transição para a era da tecnologia. A visionária também fala de suas convicções sobre fé e sobre a responsabilidade de ser o pilar motivador de uma importante mudança neste segmento, aqui, no Sul do Brasil.

Por que você decidiu trabalhar com diversas fases do aprendizado humano e não apenas com educação infantil, que foi como tudo começou, há 30 anos?

Bem, depois de trabalhar 15 anos somente com educação infantil, eu tive dois grandes motivos para dar esse passo. O primeiro foi o meu filho, que tinha a idade para começar o Ensino Fundamental no primeiro ano. Eu não queria oferecer para ele a mesma coisa que eu tinha recebido lá atrás – o mesmo conteúdo, da mesma forma, no mesmo sistema. Então eu pensei em proporcionar algo diferente, como eu já vinha proporcionando na educação infantil. Antes de mais nada eu busquei formação para isso, para que eu pudesse estruturar um Ensino Fundamental com uma proposta diferenciada. O outro motivo foi o meu propósito de contribuir. Para termos uma sociedade melhor, temos que partir da educação. Por isso então uma proposta diferenciada, com conteúdo diferenciado. Para que eu pudesse proporcionar isso para o meu filho e também para a sociedade.

O que é educar hoje?

 Entendo que, de forma mais ampla, existe a necessidade de outras mudanças na educação, mas o que nós mudamos, com o nosso trabalho aqui na Rede de Ensino Caminho do Saber, é que criamos a possibilidade do aluno ser um protagonista. Ele pode ser ouvido, ele pode ter opinião, ele tem a oportunidade de desenvolver consciência crítica. Nós conseguimos abordar o que a sociedade precisa, construindo uma visão macro de educação. Um estudante hoje precisa saber o que é um cenário social, o que está acontecendo na economia e o que ele pode fazer em relação a isso, como as pessoas estão e como “eu” posso agir nesse ambiente que “me cerca”. Também a nível de tecnologia, nós entendemos que temos que preparar esse jovem para ir ao mercado de trabalho, à sociedade, para a vida em si, e assim possa interferir neste contexto de uma forma produtiva e proativa. Sendo assim, todos os aspectos humanos e tecnológicos estão bem consolidados.

Você diz que uma das coisas que a incomoda é que tudo evolui e a educação não. O que significa “evoluir” em educação?

É verdade, eu constantemente faço essa pergunta “por que tudo evolui e a educação não?”. A educação também precisa acompanhar as tendências que a sociedade e que o mercado nos oferecem. Nós sabemos da evolução da tecnologia, mas como é que nós estamos preparando os nossos jovens, para que eles utilizem a tecnologia hoje de uma forma assertiva, e também daqui a pouco, em seu futuro profissional? Vou te dar exemplo de uma possibilidade de fazer diferente. Imagine uma Feira Tecnológica em que é abordada a questão de como a tecnologia pode ser usada a favor do ser humano. Mais um exemplo – se hoje nós estamos fazendo cirurgias por vídeo (isso é tecnologia dentro da medicina), onde a tecnologia entrou na educação? Por que é que o currículo da maioria das escolas continua o mesmo? É por isso eu questiono a evolução na educação. Nós temos que aprimorar os nossos currículos! Está sendo aprovada – parte já aprovada – a nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC), incluindo a questão, por exemplo, da educação socioemocional. Nós já trabalhamos isso há muito tempo! Quanto tempo vai levar para que as demais escolas possam se adequar a essa exigência e a possam aplicar? Educação é algo que se colhe a longo prazo... quer dizer que após aprovada ainda terá o tempo para as escolas se adequarem, então daqui a cinco anos eu vou começar uma formação diferente? Quando é que esse comportamento vai ser colhido? Por isso acredito que nós precisamos evoluir também na educação, e o quanto antes.

O que, principalmente, está faltando para essa evolução?

O equilíbrio entre o seguinte tripé: informação/conteúdo (que hoje está muito fácil de ser acessado), os aspectos humanos/emocionais, e toda a questão da evolução da tecnologia e sua utilização. Nós temos que, de fato, saber utilizar toda a tecnologia de que dispomos a favor do ser humano.

O que é uma educação tecnológica?

Temos duas formas de diferenciar isso no nosso currículo. Então desde a Educação Infantil, os “pequenininhos”, até o Ensino Médio nós abordamos a Educação Tecnológica e a Robótica. Educação Tecnológica são os primeiros conceitos de tecnologia lá na Educação Infantil, e é trabalhada junto com o conteúdo curricular. “Por exemplo, estamos estudando o bairro, então, observaremos: O que tem no bairro? Tem um parque de diversões, e o que tem lá? Tem um carrossel! Então vamos montar um carrossel!”. Vamos construir o carrossel com as crianças, usando peças LEGO, para que entendam conceitos que normalmente eles só iriam ver no Ensino Médio. Por exemplo, o que é uma engrenagem, o que é uma alavanca? O que são polias? A partir daí, pegando esse exemplo do bairro, do parque, e do carrossel cada grupo vai fazer o seu carrossel, utilizando esses recursos, com diferentes papeis dentro deste grupo, em que um é o organizador, que separará as peças, para o construtor colocar em prática a montagem, outro é o relator, que irá observar a superação dos desafios, a estratégia de construção e anotará tudo, para o  apresentador ao final mostrar o trabalho finalizado junto dos conceitos e aprendizados adquiridos. As funções alteram a cada aula, para que assim os alunos possam desenvolver as diferentes competências e habilidades (que agora, já bem cedo, começam a ser trabalhadas), além de aprenderem a trabalhar em equipe e pensar coletivamente. Então olha só como pode, sim, ser prático! O conteúdo pode ser prazeroso, e acima de tudo, compreensível. As crianças muitas vezes perguntam, em relação às matérias – “onde eu vou utilizar isso”? E a verdade é que utilizam o tempo todo, em seu dia a dia, mas nós precisamos ser capazes de lhes mostrar isso. Pensemos em uma equação, por exemplo (ai já estamos lá na robótica), eles fazem toda a programação de um robô, ou de um carrinho, ou uma montanha russa, e aí vão entender que quando o carrinho desce na montanha russa é um número negativo (e eles imaginam que nunca usam números negativos)... quando aquele conteúdo está aliado à tecnologia e a formação do aluno de como utilizar aquele conteúdo, as coisas passam a fazer sentido, e o aprendizado passa a ser gostoso e prazeroso. Eles se motivam a aprender mais pois têm a curiosidade estimulada. Assim geramos pesquisadores e líderes, pessoas que possuem não apenas conhecimento, mas também sabedoria, que é a possibilidade de aplicar esse conhecimento, porque automaticamente eles aprendem a buscar a informação que precisam. Ou seja, geramos pessoas com conhecimento mais amplo.

Você destaca a Educação Socioemocional como um dos pilares do trabalho da sua Escola. O que é Gestão da Emoção?

Temos a disciplina Educação Socioemocional, desde a Educação Infantil, justamente para que, em diferentes faixas etárias nós possamos trabalhar as emoções, adequando a cada idade. Por exemplo, aos 5 anos inicia a curiosidade para entender a diferença entre o menino e a menina, como lidamos com isso? Da mesma forma, o jovem que está no Ensino Médio está angustiado com a escolha da profissão – como vamos prepará-lo para que ele possa fazer a escolha adequada? Tem uma faixa etária em que o aluno fica preocupado em escolher se vai amadurecer ou se vai permanecer criança, então trabalhamos como lidar com essas dúvidas e incertezas. A Educação Socioemocional vem justamente para que nós possamos preparar a capacidade de lidar com as emoções, nas diferentes situações, em cada fase da vida. Preparamos a capacidade de superar e passar por cada fase da melhor forma, com tranquilidade.

Alunos protagonistas – como mediar o relacionamento de alunos – cada vez mais independentes – e professores, cada vez mais exigidos?

Nós trabalhamos proporcionando contato com as tecnologias. Por exemplo, com a possibilidade de termos uma sala Apple onde cada aluno vai para a sala e vai usar o seu IPad e o professor vai acompanhar o que cada um está desenvolvendo com uma proposta, com conteúdo ou um quiz, ou questões, e eles têm que responder e percebem os acertos e erros e já corrigem onde eles precisam rever. Possibilitamos a utilização de lousas eletrônicas em todas as salas de aula, então a aula vai sendo construída com a participação do aluno. Ao final, a lição pode ser já salva e enviada por e-mail para os estudantes. Então, proporcionamos o acesso à tecnologia, para que eles não tenham que passar pelo que eu passei, por exemplo – criar calo no dedo de tanto escrever. Afinal de contas, em nosso dia a dia, independentemente de qual profissão exercemos... quanto nós escrevemos e quanto nós digitamos? Então lidamos com tudo isso utilizando a tecnologia de forma positiva e mostrando que ela pode ser utilizada a favor da nossa evolução e para obtermos melhores resultados.

Ou seja, posicionar a tecnologia como inimiga da educação, como muitas escolas ainda fazem, é um erro?

Sim, é um erro. A tecnologia agiliza, proporciona a possibilidade de prática e até de verificar o que não funciona no processo de aprendizado. É fundamental.

O que você procura numa pessoa que quer ser professor na sua instituição?

Antes de mais nada, que venha ao encontro da missão da escola. Quando a gente expõe o nosso slogan “viva esse mundo e faça acontecer”, é isso que de fato nós procuramos em nossos profissionais. Então tem que ser um profissional que esteja disposto a encarar essas diferenças, tem que amar o que faz. Prezo muito pelo respeito a individualidade, então tem que ser um professor disposto a saber quem é quem dentro da sala de aula, e não alguém que trata o aluno como um número na turma. Alguém atento às particularidades de cada ser humano e que possa perceber o que precisa estimular em uns e equilibrar em outros. Enfim, alguém disposto a tudo isso.

Quem são seus exemplos, como instituição educacional, como educador, como prática educativa, no mundo?

A Rede Caminho do Saber constantemente está buscando inovação e tendências no que se faz na área da Educação no mundo. Por exemplo a viagem que fizemos ao Chile, quando visitamos oito diferentes instituições para conhecer suas propostas. O intuito foi, de fato, conhecer propostas consistentes, e adequadas a essa evolução toda! A minha crítica à necessidade de evolução se detém a algumas instituições daqui (Serra Gaúcha). A referência da Caminho do Saber acaba sendo sempre de fora. Nós estamos constantemente buscando cursos e aprimoramentos. Participamos há vários anos do Educar, um Congresso que acontece em São Paulo, com público nacional e internacional, em que se apresentam todas as tendências comprovadas do mundo da educação. Não são suposições. São estudos e pesquisas que mostram para onde nós devemos ir. Uma das tendências que percebemos é essa necessidade de preparar as pessoas e de ajudá-las a equilibrar a questão da gestão das emoções com o uso das tecnologias. Diferente do que se imagina e do que muitos assinalam como evolução na educação. Vamos para a questão do bilinguismo, por exemplo... não é realmente uma necessidade. Com a evolução da tecnologia, logo vamos estar com tradutores automáticos para todas as línguas. Então nós não vamos precisar dominar todas as diferentes línguas. É claro que o conhecimento de alguns idiomas é importante, mas a preocupação exagerada com isso é desnecessária...

Qual é a fase mais importante para um ser humano, considerando a educação?

Todas as fases são importantes, no entanto, na Educação Infantil é formado todo o alicerce, toda a estruturação de personalidade. Depois isso tudo vai sendo aprimorado e melhorado, de acordo com nossas vivências. Se os pais soubessem a importância dessa fase inicial, talvez dessem mais valor para a experiência, para a vivência, para o afetivo, e para a conciliação entre o aprendizado e a brincadeira. O contato com o conteúdo juntamente com a experimentação, consolida e fortalece o aprendizado.

Como é ser uma escola tão inovadora, relacionando-se com pais, muitas vezes, ainda tradicionais?

Eu posso afirmar que os pais que hoje estão na Rede de Ensino Caminho do Saber já sabem desta necessidade do olhar individualizado, da estimulação, e já são nossos parceiros nessa proposta. Nós trazemos a família para dentro da escola. Tanto é que, além das várias atividades que acontecem com as famílias em datas comemorativas e eventos, nós temos quatro encontros, já consolidados, da família na escola, onde eles acompanham e desenvolvem, em parceria com os seus filhos, todo o programa da Escola da Inteligência que é uma proposta do Dr. Augusto Cury.

O que é a Escola da Inteligência?

É todo o aspecto da Educação Socioemocional, que possibilita uma melhor Gestão da Emoção, adequado para cada faixa etária, em que trabalhamos a equipe, a família, os alunos, e, de fato, toda a comunidade escolar. Eu digo que é uma grande oportunidade de melhorar a sociedade. O aluno sempre vai ser porta-voz. Mas quando ele tem respaldo e tem eco na família, ele desenvolve uma capacidade muito maior, além de fortalecer os vínculos familiares (que entendemos que precisam ser fortalecidos). Sempre que se caminha em conjunto, sempre que se anda de mãos dadas, a probabilidade de atingir resultados é muito maior. Nós acreditamos nessa estrutura tão importante que é a família e nós queremos fortalecer a família. Para isso, é preciso fortalecer cada um dos membros.

A sua é a maior escola de turno integral na região, e o turno integral é bastante criticado. Por que você acredita que a criança deva ficar o dia todo na escola?

Porque na escola os alunos são estimulados de forma integral através de experiências e com a possibilidade de aprofundar o pedagógico trabalhado no turno curricular. Eu quero frisar muito a questão de que todo o ser humano utiliza somente 10% do potencial que tem. Partindo disso, o que nós temos que fazer com as nossas crianças, para que elas não sejam podadas? Temos que proporcionar experiências. Isso significa não deixá-las sem vivências em diferentes situações. Então nós temos que estimular. Temos que disponibilizar os mais diversos recursos e as mais diversas atividades para identificar o que tem a ver com eles ou não. O que preferem fazer ou não. Se eles nunca experimentarem outras atividades, não saberão se gostam disso ou daquilo. Nós acreditamos que temos que proporcionar coisas agradáveis e diversificadas,  para que estar na escola seja de fato prazeroso. Há inúmeras teorias que mostram que a gente aprende brincando e com a prática, pois assim aplicamos o conhecimento e agregamos valor a ele, percebendo o sentido e tendo prazer em aprender e estudar. O aluno aprende por meio de uma música, de uma brincadeira, de uma roda cantada, numa aula de culinária. Podemos, por exemplo, solidificar o aprendizado sobre frações enquanto o aluno corta o bolo que ele aprendeu a fazer na aula de culinária no turno contrário.

Então o turno contrário seria mais útil para a criança do que estar em casa, por exemplo, vendo TV, seria isso?

Nós temos que proporcionar atividades práticas para os nossos alunos, para os nossos jovens, para as nossas crianças, enfim. Como é que, no futuro, vamos solucionar um problema de uma empresa, que precisa de pessoas proativas, sem estimular a pró-atividade na escola?

Um dos maiores desafios dos empresários hoje é encontrar boas equipes. Você acredita que, neste sentido, o processo educativo pode impactar o desenvolvimento, inclusive econômico, de uma cidade, ou de uma região, por exemplo a Serra Gaúcha?

Eu tenho certeza disso. Nós precisamos preparar as nossas crianças e os nossos jovens para que eles estejam inseridos no que acontece na sociedade. Para que eles possam participar e saiam da zona de conforto – é tendência nossa ficar esperando que as coisas venham do próximo, ou da empresa, ou do município, ou do Estado. Temos que ter pessoas mais envolvidas, mais participativas.

São 30 anos como professora, empreendedora e visionária; quais os planos para a próxima década?

Planejamos a expansão deste modelo de trabalho. Os números estão ai para serem vistos. Somos a escola que mais cresceu e mais cresce. Nosso próximo passo é expandirmos esse modelo de turno integral, de atendimento os 12 meses do ano, de oferecer alimentação,  de um currículo diferenciado com essa questão da tecnologia e do desenvolvimento do lado humano, de uma proposta diferenciada como um todo também em termos de estrutura física. A ideia é desenvolver esse modelo de franquias e expandir para outros municípios com foco na Serra Gaúcha, no primeiro momento. Já temos uma franquia no município de Feliz, que opera há quatro anos. Chama-se Capital do Saber, e tem dado muito certo. Temos esse modelo de sucesso, e a ideia é dar continuidade.

Você é muito criticada no seu segmento por ter uma proposta tão diferente de trabalho?

Meu principal desafio eu diria que é motivar. Porque a educação é importante para todos. Eu tenho muito orgulho de ter trazido para Caxias do Sul a proposta da Educação Tecnológica enquanto outras escolas ainda estão pensando em implantar. Nós não ouvíamos falar em turno integral antes da Rede de Ensino Caminho do Saber e após nós, várias começaram a implantar, então ditar tendências me motiva. E eu também tenho vontade de motivar os demais. Eu acredito que quando se investe em educação, quem ganha é toda a sociedade. Então o xis da questão está em motivar e na possibilidade de trabalharmos em parceria. Na verdade tem espaço para todos. Os que acreditarem na mesma proposta podem vir conosco.

Quem inova sempre vai ser copiado...

Acho positivo. O nosso olhar é maior, é sistêmico. Eu não posso pensar em mudar uma sociedade somente com os 1.400 alunos da Rede de Ensino Caminho do Saber. Precisamos que as demais instituições percebam essa necessidade e também façam isso com seus alunos para que nós possamos fazer um movimento de mudança.

Por que é importante se posicionar como uma instituição não confessional?

A nossa liberdade em opções de crenças e também com relação a comportamento é uma oportunidade para que possamos conviver de forma harmônica, com as opiniões divergentes. O fato de não termos ensino religioso no currículo, por exemplo, permite que pessoas de diferentes crenças estejam juntas, convivendo de uma forma bacana. Há valores que podem e devem ser trabalhados independentemente de crença. Eu vejo como positiva essa liberdade pois já é um experimento de que podemos construir juntos. Uma postura de que não temos que dividir e sim que somar. Valores como respeito, ética, honestidade, independem de crença e eles são trabalhados no dia a dia. Acreditamos que as pessoas podem ser assim, por isso não limitamos a uma disciplina e trabalhamos a Educação Socioemocional em parceria com a Escola da Inteligência de forma global na comunidade escolar iniciando os projetos no período semanal destinado para isso mas almejando transcender as fronteiras da escola.

Adultos ou Educação Superior, você pensa em atuar neste meio?
Temos a firme decisão de fazer muito bem feito o que sabemos fazer com maestria – que é toda a Educação Básica. Não pensamos em seguir para Ensino Superior e sim em crescer na Educação Básica.

Você lembra de coisas que a marcaram na sua educação e que foram determinantes para você consolidar o seu negócio?

A questão dos valores é algo que eu aprendi e que é imprescindível para o meu negócio como um todo. A fé é algo que me move e que sempre me motivou nos momentos de dificuldade. Foi isso que me ajudou a perseverar e a superar as atribulações, seja de equipe, no econômico ou no pessoal.

Em alguns momentos você precisou assumir responsabilidade financeiras grandes para conseguir crescer. O que a fez decidir “eu vou”, quando esse momento chegou?

Todas as dificuldades econômicas que eu passei durante a minha infância, e boa parte da juventude, todas as atribulações da minha família... Hoje eu de fato acredito que a educação move o mundo. Eu acredito em evoluir e buscar. Assim, assumi riscos em busca do meu propósito de vida, proporcionar educação às pessoas para que façam a diferença no mundo. Iniciei desfazendo-me do único terreno que tinha como herança para iniciar este legado. Em seguida, com o crescimento do negócio alcei voos mais altos e fui em busca de um financiamento para a edificação dos prédios próprios. A educação é o caminho.

Por que você quis estudar Psicologia?

Ela é imprescindível para mim por inúmeros motivos. Primeiro porque, de verdade, eu acredito que nós podemos fazer alguma coisa para um mundo melhor E para termos um mundo melhor devemos tornar as pessoas melhores. Busquei a psicologia depois do magistério porque queria contribuir para as pessoas. Eu queria toda aquela maravilha que dá para fazer em sala de aula, mas com pessoas felizes. E na sequência, a questão de que posso preparar as pessoas (professores) que terão essa preciosidade “na mão”, que são as crianças, os jovens, os estudantes, enfim. Nós não somos nada sem as pessoas, mesmo com toda a evolução tecnológica que está vindo, o homem precisa estar ali para operar, para melhorar e para fazer os ajustes que são necessários nessas evoluções todas. Não podemos pensar em mudança e em evolução sem pensar nas pessoas. 

 

Trajetória | Maristela Tomasi Chiappin nasceu em 23 de Abril de 1971 no interior de Caxias do Sul, em uma família humilde de pais agricultores (mãe analfabeta e pai semialfabetizado). Completou o Magistério na Escola Estadual Cristóvão de Mendoza. Em 1988 foi emancipada e vendeu o terreno que lhe serviria de herança para que pudesse abrir a sua primeira escola, na época, com 8 alunos. É Graduada em Psicologia e Pós-graduada em Administração de Recursos Humanos pela Universidade de Caxias do Sul. É Especialista em Educação Infantil e Séries Iniciais pela Universidade da Região de Joinville de Santa Catarina. Em 2004 Maristela foi contemplada com o 1º financiamento para escola privada do país, o que lhe conferiu recursos para edificar o complexo das escolas hoje sediadas no Villagio Iguatemi, em Caxias do Sul (RS). Hoje, atua no Conselho Fiscal do Sindicato das Instituições de Educação Infantil Particulares de Caxias do Sul (SINPRÉ), e integra a Rede Educar. É Vice-Presidente de Serviços da Câmara de Indústria e Comércio de Caxias do Sul (CIC) e Diretora Presidente da Rede de Ensino Caminho do Saber à frente das marcas Companhia do Carinho (Educação Infantil), Caminho Kids (Educação Infantil), Caminho do Saber (Ensino Fundamental) e Impulso (Ensino Médio) que hoje atendem cerca de 1.400 alunos. Maristela foi agraciada com o prêmio MPE Brasil de Educação e Prêmio Mulher de Negócios. É casada há 23 anos com Jair Pedro Chiappin, Diretor Administrativo-financeiro da Rede de Ensino Caminho do Saber e mãe de Júlio César Chiappin, 21 anos, estudante de Administração de Empresas, que já atua na Rede criada pela mãe.