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Consultoria Exclusiva

28/04/2017

Menos é Melhor

Fabiano Ferrari, o jovem presidente da Associação do Comércio, Indústria e Serviços de Carlos Barbosa (ACICB),  fala dos 40 anos da entidade, de empreendedorismo, inovação e de perspectivas de um futuro brilhante na Serra Gaúcha e no Brasil  

"Têm-se que começar o negócio de forma correta, pagando impostos, buscando a formalização, sendo honesto, ético, respeitando os direitos autorais. Dessa forma, há um futuro brilhante possível aqui no nosso país. Não é porque o outro é um criminoso que você também tem que ser" Fabiano Ferrari Da esquerda para a direita: Délcio Dalmas (Segundo Secretário), Marisa Kaspary Zanatta (Vice-Presidente da Indústria), Félix Cichelero ( 2º vice do comércio), Claudia Atuatti Barsé ( Primeira Tesoureira), Fabiano Paloschi Ferrari ( Presidente), Adriana Zago ( Vice Presidente do comércio), Jonas Dalcin (Primeiro Secretario), Valter Regio Misturini (Segundo Tesoureiro). Também integram a equipe Francieli Fachinelle Campana 2ª vice-presidente de Serviços, e Rafaela Haefliger vice - presidente dos serviços (Foto: Maíla Facchini)

De frentista a presidente de entidade empresarial. Parece conto de fadas mas é exatamente esta a trajetória de Fabiano Ferrari, 38 anos, empresário, hoje à frente da Associação Comercial e Industrial (ACI) de Carlos Barbosa. Ao longo de 18 anos o jovem profissional passou de funcionário em um posto de gasolina a líder de uma das associações empresariais mais representativas da Serra Gaúcha, a ACI, que completa 40 anos em 2017. Ferrari recebeu a NOI para falar da história da Associação, de sua trajetória como líder e empresário, dos planos da entidade e, ainda, para avaliar o excepcional momento que o Brasil experimenta, em meio a todas as suas crises. Mesmo com elas, e, até mesmo por conta delas, ele acredita: o futuro pode ser brilhante! Entenda por quê...

Ana Facchin: Como iniciou sua trajetória na entidade?

Fabiano Ferrari: Eu era um simples frentista de um posto de combustível. Naquela ocasião, há vários anos, a ACI, juntamente com o SEBRAE, começou a promover cursos de capacitação para os empresários de Carlos Barbosa. O gerente do posto onde eu trabalhava foi convidado mas decidiu não fazer o curso e ofereceu a oportunidade aos funcionários. Eu então me candidatei e fui. Era um curso muito interessante ligado a gestão – fiz e adorei. A ACI entrou na minha vida por meio desta atitude maravilhosa que teve de me auxiliar e acreditar que eu poderia fazer o curso, mesmo sem ser o dono ou o gerente de uma empresa. Hoje eu estou aqui presidindo esta mesma entidade. Mais tarde, quando iniciei a minha empresa, todas as lições que eu tive lá no posto, e no curso do Sebrae que a ACI me proporcionou foram muito úteis para o desenvolvimento do meu negócio, que hoje completa 16 anos (uma Incorporadora no setor imobiliário). Tudo isso graças à iniciativa de uma Associação. Esse é um dos motivos pelos quais dizemos aos que estão começando, que têm negócios pequenos, que busquem auxílio aqui. Estaremos de braços abertos juntamente com o sistema S – Sebrae, Senai, Senac, Sesi, Sesc– incentivando o desenvolvimento das pessoas. Nós acreditamos nisso, nossa filosofia é voltada ao pró-empreendedorismo. Queremos que as empresas, com sua própria força, consigam se desenvolver e crescer.

Caroline Pierosan: Embora pertença a uma comunidade de apenas 30 mil habitantes, a ACI de Carlos Barbosa é uma das entidades empresariais de maior volume de associados e de melhor resultado financeiro em nossa Região. Como você explica essa adesão e esse resultado?

F.F.: Quando me candidatei à presidência da ACI (há quatro anos, pois estou no terceiro mandato) a primeira coisa que pensei foi que eu deveria ser um gestor. Quando entramos aqui, uma das primeiras iniciativas que tivemos foi o corte de gastos. Tínhamos aproximadamente 14 funcionários. Precisávamos cortar despesas e aumentar a eficiência da Associação. Hoje temos apenas quatro funcionários com funções otimizadas. Continuamos com as Feiras e até aumentamos o número delas. Aumentamos também os serviços oferecidos para os associados. Mágica? Não existe; existe, sim, uma atitude mais prática. Reduzimos os custos com salários, aumentamos a eficiência interna, criamos novos canais de comunicação com o associado, como por exemplo o site (que agora usamos muito). Modernizamos todos os sistemas de informação internos – é mais rápido para dar respostas. Mas nosso foco foi foi mesmo cortar gastos. Nestes 40 anos também não faremos nada muito pomposo, será algo bem racional. O dinheiro que entra aqui é do associado o qual ele nos confia para ter retorno. Queremos buscar soluções junto aos órgão públicos. Tudo isso torna o nosso resultado positivo. Quando começamos nosso trabalho há quatro anos tínhamos 650 associados. Hoje temos mais de 750.

Caroline Pierosan: Você acredita que essa é uma característica da nova geração, a busca por eficiência, racionalidade nos recursos? Você observa um movimento na região e no país neste sentido?

F.F.: “Menos é melhor”, isso é muito verdadeiro. Nós acreditamos que essa é uma tendência. Primeiro o planeta não vai conseguir aguentar um consumo exagerado. Temos que racionalizá-lo. Segundo, a busca é por eficiência e qualidade. Não adianta comprar barato porém sem durabilidade. Então “moda” é um conceito que está começando a ser questionado. Temos que ser mais práticos. Às vezes acabamos trabalhando demais! Temos que trabalhar o suficiente – suficiente para dedicar um tempo para a família, aos amigos, ao lazer, à saúde. As Associações Comerciais terão cada vez mais que pensar sobre isso – diminuir despesas, tornando-se mais eficientes. Todo recurso que entra numa Associação deve ser gasto de forma racional e auxiliar o associado no seu empreendimento.

Caroline Pierosan: Você encontrou resistência a esse tipo de pensamento?

F.F.: As pessoas têm concepções diferentes. É preciso aprender a ouvir e dialogar. Na medida em que você consegue demonstrar através de números a prova das suas teorias, fica mais fácil engajar. Acabamos investindo muito no sentido de mostrar que o resultado estava nesse caminho. Vislumbramos, neste sentido, a possibilidade de comprarmos uma área de terras para termos o nosso próprio Parque de Eventos. Isso também faz com que o associado comece a entender que a nossa lógica realmente tem dado resultados.

Caroline Pierosan: Por que você achou que o Parque de Eventos seria importante para a Associação e para o Município?

F.F.: Carlos Barbosa tem uma dificuldade enorme para realizar seus eventos. Os demais municípios da Região tiveram a iniciativa, já há algum tempo, de construir seus parques de eventos, que são muito importantes até hoje. Eu acredito que os Parques deveriam ser privados. No nosso caso é privado porém coletivo, de uma Associação. E o nosso objetivo não é visar lucro e sim fomento – do empreendedorismo, do comércio local, da indústria e dos serviços. Baseados nisso começamos a fazer uma análise e percebemos que Carlos Barbosa comportava isso, que o Parque ia de encontro aos interesses da entidade. Então chegamos à conclusão de que seria necessário fazer um investimento para a realização dos eventos próprios, da comunidade, e também da região da Serra Gaúcha. Como a iniciativa pública não vai colocar dinheiro no Parque, ele tem que ser auto-sustentável. Vamos proporcionar isso com espaços para gastronomia – restaurantes, lojas, que vão estar a serviço do próprio Parque – teremos um espaço de shows também. Fizemos uma análise na Região e no RS e percebemos que existe uma carência de Parques desta envergadura – estamos falando de 10 mil metros quadrados, aproximadamente 10 mil pessoas sentadas para shows – então poderemos atrair shows também do exterior para este local, o que vai fomentar o turismo e será economicamente muito interessante para a Associação – os resultados do Parque serão aplicados no incentivo a novas atividades empreendedoras. Tudo isso incentivará o turismo na Região também – quem vier aos shows vai querer conhecer o entorno. O design do Parque foi pensado para valorizar a história de Carlos Barbosa – por isso a Maria Fumaça – imagine-se passando pela rodovia e olhando ao longe a bela construção. Isso agrega ao padrão estético e à autoestima da Região, faz com que tenhamos orgulho e venhamos a desempenhar uma atitude pró, de desenvolvimento – é o que estamos buscando por meio do Parque de Eventos Guido Pasqual Sganderlla. Tudo isso com recursos, até então, somente da ACI.

Ana Facchin: Que momentos da história de 40 anos da ACI foram mais significativos na sua visão?

F.F.:  O primeiro com certeza foi a sua fundação – uma iniciativa de 40 anos, em que empresários se uniram para criá-la. O segundo foi quando a Associação adquiriu a sua sede própria, um patrimônio hoje avaliado em quase R$ 2 milhões – dirigentes da época, com poucos recursos e muito trabalho tomaram esta decisão que levou a ACI para outra fase, conseguindo oferecer mais serviços para os associados. Outro momento que brinda a Associação, com certeza, é a construção do Parque de Eventos.

Ana Facchin: Quais os principais desafios da entidade hoje?

F.F.: Nunca terminam. Temos que continuar sendo uma Associação representativa e aumentar cada vez mais o número de associados. Temos que manter o foco nele, no empreendedor – seja quem for o gestor da ACI, ele precisa entender que está servindo. Outro desafio é a sucessão. Temos que pensar que novas lideranças devem sim buscar auxiliar e doar o seu tempo, a sua vida, em prol da comunidade. Isso nós incentivamos por meio da ACI Jovem que foi criada há aproximadamente três anos. Acreditamos que isso seja necessário aqui e também nas empresas.

Caroline Pierosan: De que forma a entidade apoia os jovens empreendedores?

F.F.: Temos um orçamento específico para a ACI Jovem. Ela utiliza para diversas ações como visitas técnicas, transporte para essas visitas. Eventos ligados a emprego, trabalho e empreendedorismo – damos todo o apoio, interno e também o aporte financeiro. Os seus dirigentes são orientados pela Diretoria e pelos funcionários da ACI.

Ana Facchin: Um dos piores efeitos da crise brasileira é a evasão de cérebros – muitos jovens partindo do Brasil. Que conselhos você daria para quem está em dúvida?

F.F.: Depende do segmento. É interessante fazer uma análise fora do país. Eu, por exemplo, sou ainda relativamente jovem e tenho dupla cidadania mas não me imagino fora daqui, de jeito nenhum! O Brasil é o país do empreendedor, onde temos condições ideais para crescer, nos desenvolver. Temos dificuldades, mas todos têm. Aqui no Brasil temos o hábito de não planejarmos muito – já saímos fazendo. O brasileiro é muito impulsivo – compra, negocia, faz tudo assim. Só que o planejamento é muito necessário. Precisamos investir mais tempo nisso porque depois que o negócio está andando, não há mais volta – ai já foi colocado dinheiro (muitos usam suas economias, seu FGTS para abrir empresas e não pensam em fluxo de caixa, em análise de concorrência). É possível também crescer fora do Brasil – há mercado para empreendedores bem intencionados e bem planejados. Mas eu também viajo muito para Itália e Alemanha e percebo que os jovens de lá também querem sair, querem ir para outro país. Mesma coisa em Portugal e Espanha. O Brasil é um país de oportunidades – está em pleno desenvolvimento – aqui temos muitas oportunidades! Se trabalhar de forma honesta e correta, acredito que o empreendedor terá sucesso por aqui. Muitas vezes dizem que aqui se têm que pagar propina, que não há como pagar impostos. Isso é errado! Têm-se que começar o negócio de forma correta, pagando impostos, buscando a formalização, sendo honesto, ético, respeitando os direitos autorais. Dessa forma há um futuro brilhante possível aqui no nosso país. Então precisamos ter moral, pensar no consumidor… no Brasil tem, sim, espaço para pessoas honestas, para empreendedores, para crescer e se desenvolver, criar uma família. Minha mensagem para quem pensa em sair, é: faça um planejamento. Talvez, pesando na balança… perceba algo diferente.

Ana Facchin: Quais são as tendências empreendedoras na nossa Região?

F.F.: Negócios Pequenos. Acabou a ideia de você montar um negócio e esperar que no futuro ele tenha 100, 200, 300 funcionários ou mais. Citando Michael Porter, você percebe que países desenvolvidos acabam se organizando por meio de arranjos produtivos locais. É o mercado dos pequenos. Hoje queremos consumir os produtos mas também suas histórias. Um exemplo disso, na Serra, são as micro-cervejarias, que estão proliferando e conquistando mercado. Quando você viaja e visita empresas na Itália, percebe que elas são pequenas. Na Alemanha, a característica das empresas é de ter em media 10 funcionários, porém, entre eles, você normalmente encontrará pelo menos dois doutores. Então a especialização e a pesquisa precisam “entrar” nos nossos negócios. O pesquisador precisa sair da academia e atuar nas empresas, fazer parte dos negócios. Se queremos no futuro ter um país mais desenvolvido, temos que pensar nestas alternativas – pesquisa, desenvolvimento, planejamento, acreditar! Temos que parar de nos queixarmos – e começar a acreditar na classe política, a sermos a classe política. O Brasil é um país maravilhoso.

Caroline Pierosan: Mesmo com toda essa crise?

F.F.: Sim, foi a pior crise dos últimos anos, porém, agora é diferente. Hoje estamos numa condição econômica diversa do passado. Temos mais poupança, mais dinheiro, mais empresas, mais educação. Então é mais fácil pensarmos em alternativas para crescermos, nos desenvolvermos e sairmos mais fortes deste problema que estamos passando. Sabe por que a ACI está completando 40 anos? Por que as pessoas que pensaram na ACI pensaram em fazer o bem. Toda a organização que nasce com esse fim, de fazer o bem para o próximo, é uma organização, pública ou privada, que com certeza vai ter muitos anos de vida, e que crescerá em credibilidade. É nisso que eu acredito! O futuro da entidade é baseado no que o associado pensa. Agora queremos construir o Parque e transformá-lo num motivo de orgulho. Queremos ter renda e desenvolver empreendedores que fiquem na nossa comunidade, na nossa Região. O município, a Região e o Estado precisam crescer. Nosso futuro é brilhante, economicamente interessante, de representatividade e atuação!

HISTÓRIA DA ACI
A ACI começou sua trajetória em 1977, mais precisamente teve sua fundação em 10 de junho de 1977. O principal motivo para a fundação da ACI, segundo o 1º Presidente, Sr. Cláudio Stein, que na época era Diretor da Cooperativa Santa Clara Ltda, foi à necessidade da existência de uma Entidade de Classe que representasse o município junto ao Governo Estadual a fim de conseguir a liberação de recursos para o asfaltamento da estrada até a Indústria de Laticínios da Cooperativa Santa Clara. Naquela época a Cooperativa construiu sua nova unidade, e para conseguir a liberação das atividades pelos órgãos de Inspeção Federal havia a necessidade, por motivo de higiene, de a estrada estar asfaltada. Aliada a esta urgente necessidade as a seguir descritas, surgiu a ACI;
- Congregar as pessoas físicas e jurídicas que exerçam atividades empresariais na cidade de Carlos Barbosa.
- Manter intercâmbios e realizar convênios com empresas afins;
- Promover o aprimoramento e desenvolvimento de técnicas e cursos voltados aos associados.
- promover os produtos e serviços de Carlos Barbosa dentro e fora do país.
A primeira reunião realizada para a fundação da Associação aconteceu em 24.01.1977, na qual participaram algumas empresas. A reunião foi conduzida pelo Sr. Prefeito Armando Gusso que expôs aos presentes a vital importância para o município a criação da entidade. Foi constituída uma comissão formada por Delfino Baldasso, Marcos Luiz Zanatta e Geraldo Merzoni para elaborar e apresentar um projeto dos estatutos.

 

Ana Facchin e Caroline Pierosan