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Consultoria Exclusiva

25/04/2017

Os Sonhos Que Nos Movem

Com muito trabalho, estratégia e união eles construíram uma bela família, uma empresa admirável e uma marca de credibilidade  

"Ética e transparência. Por onde passamos construímos muitos bons relacionamentos. Isso é essencial. Ser correto não é diferencial, é obrigação de um bom profissional" Ivanês Spiller (Foto: Josué Ferreira) "Eu e a Juce temos uma história muito interessante, muito legal. A gente sempre fez tudo muito juntos. Quando começamos a namorar a Juce tinha 14 anos e eu tinha 17. Ela também começou a trabalhar muito cedo - todo o período em que eu trabalhei na metalúrgica a Juce trabalhou numa confecção de cama mesa e banho. Sempre demos nossos passos juntos" Ivanês Spiller (Foto: Josué Ferreira) "O sucesso financeiro, eu sempre digo, é consequência. Ver a nossa marca hoje ser reconhecida é o que nos dá mais satisfação. É um grande sonho sendo realizado!" Ivanês Spiller (Foto: Josué Ferreira)

Juntos desde a adolescência (ela com 14 anos e ele com 17, quando começaram a namorar), Jucelei e Ivanês Spiller construíram uma admirável trajetória de conquistas pessoais, profissionais e empresariais. Há 15 anos no mercado com sua marca própria de casacos de lã, Personalità, o casal fundou uma empresa que hoje é referência no segmento, com um parque fabril extremamente moderno, sediado no coração da Serra Gaúcha, em Caxias do Sul (RS). Conheça a história dos muitos sonhos que, passo a passo, lado a lado, os Spiller transformam em realidade.

É com olhos marejados que Ivanês Spiller relembra o início da sua trajetória, ao mencionar o nome daquele que primeiro acreditou no seu potencial empreendedor: Jodi Brito Ramos. “Tudo começou a partir do grande crédito a mim concedido por este senhor que viu em mim um jovem com potencial”, narra. O tal senhor, prestes a se aposentar, nele investiu, quando Ivanês, ainda adolescente, tinha muito pouco ou quase nada a oferecer além de determinação e vontade. É também com ‘o coração na mão’, e um ‘nó na garganta’ que Spiller fala do trabalho social que sua empresa desenvolve há quase uma década – produzir casaquinhos de lã para crianças que precisam. “Queremos ajudar esses pequenos a terem uma infância melhor, a passarem pelos nossos rigorosos invernos da Serra Gaúcha com mais conforto. Fabricar e doar-lhes nossos casaquinhos é nossa forma de contribuir para que eles também realizem seus sonhos”, explica o hoje bem sucedido empresário. Ainda emocionado, lembra de seus 80 colaboradores que, por meio da parceria com a empresa, se desenvolvem, evoluem, crescem profissionalmente e, também, realizam sonhos. Sonhos! Esta é a palavra que parece guiar toda a narrativa de uma história que começa há duas gerações, ao som das máquinas de costura…

Inspirado pelas Origens

“Aquela máquina manual, a pedal… fazia “schhhhh”, com a roda… exatamente! (risos!), me lembro bem! Hoje eu tenho uma dessas máquinas de costura, a da minha avó paterna, no meu escritório”, conta Ivanês Spiller, empresário, 45 anos, natural de Caxias do Sul, onde nasceu em 16 de setembro de 1972. De fato, quem entrar hoje na sede de sua empresa, no Bairro Bela Vista, perceberá na recepção, logo abaixo do quadro alusivo aos 15 anos da marca Personalitá, uma bela máquina de costura antiga. Quem for recebido em sua sala, no andar de cima, também verá outra relíquia dessas, símbolo do trabalho que dá vida à empresa. “Foi até engraçado na época em que minha avó faleceu. Na família do meu pai são em 14 irmãos, 7 homens e 7 mulheres. Todos queriam a máquina de costura dela. Tive que negociar bastante mas consegui, sob a promessa de cuidar bem do equipamento”, conta o empreendedor.“Sinto muito orgulho em tê-la comigo – me lembra, todos os dias, da origem do nosso trabalho. A que está na recepção foi da minha tia, irmã da minha mãe, que morava em Nova Prata. Ela costurava muito, fazia bombachas, pilchas de gaúcho, essa era sua especialidade. Ela fazia naquela máquina, aquela que está ali”, ressalta. Já na outra ala da empresa, as costureiras colaboradoras, trabalham hoje, por sua vez, nos mais modernos modelos de máquinas de costura. Diante de nós, o jovem empreendor (que, em uma década e meia, fundou, estruturou e levou a própria empresa a um crescimento exponencial) conta a sua história.

Adolescência de Trabalho

“Meu pai sempre trabalhou com construção civil (até hoje trabalha) e eu comecei minha vida profissional ajudando ele, aos 13 anos… naquele tempo a gente começava mais cedo”, explica Ivanês, quase como quem se desculpa por ter começado a trabalhar tão jovem. “Fiquei pouco tempo nesta função e depois fui trabalhar numa metalúrgica. Ali foram três anos. Na época nem passava pela minha cabeça que um dia eu faria o que faço hoje”, avalia. “Mas então, numa troca de carro, eu conheci um senhor, a quem até hoje sou muito grato. Se chama Jodi Brito Ramos”, pronuncia Ivanês, com cuidado, enchendo os olhos de lágrimas. Spiller conta que tinha um carro ruim, muito ruim. “Troquei com ele por um outro ainda pior! Não sei quem que saiu perdendo mais nessa história (risos)”, descontrai Spiller, para retomar a narrativa. “Neste encontro esse senhor disse, ‘eu te vejo um rapaz novo, tão ‘para frente’, trabalhando numa empresa, fechado, quem sabe você não gostaria de trocar de ramo…?’, propôs. O tal senhor trabalhava como representante comercial de algumas confecções. “Queria se aposentar, passar a praça adiante. Então ele me propôs que comprasse a sua representação e começasse a trabalhar no ramo de confecção. Nesta época, eu tinha 19 anos”, recapitula Spiller. 

Confiança e Coragem

“Coragem, muita coragem! Como aliás, até hoje, tem que ter para fazer o que a gente faz!”, afirma Spiller. “Não pensei duas vezes! Essa ideia dele me interessou, e fui conhecer o que ele estava nos propondo como atividade de trabalho e ele me mostrou. Achei que seria audacioso largar o emprego que eu tinha na metalúrgica (estava bem, há três anos ali). Então comecei a atuar em paralelo. Ou seja, peguei peças e comecei a vender, à noite, nos finais de semana, para conhecidos. Em dois, três meses, a atividade se tornou muito lucrativa. Eu também gostei de fazer isso! Vendi bem! Em poucos meses esse senhor parou de trabalhar e eu sai da empresa metalúrgica para fazer só isso. Comprei a praça e as representações dele, e comecei a fazer um trabalho de venda de confecção para lojistas. Usei os valores que já tinha conseguido com esse trabalho, mais o acerto da minha saída da empresa metalúrgica e vendi o carro, tudo para comprar a representação. Ainda fiquei lhe devendo bastante, por isso que eu digo – sou muito grato por isso – ele me deu um crédito muito grande sem me conhecer muito. Há 26 anos tomei esta decisão e não me arrependo”, avalia Spiller.

Casacos de Lã e Chocolate

“Logo em seguida à minha aquisição da representação, eu conheci uma empresa em Flores da Cunha que trabalhava com casacos de lã. Essa empresa vendia em feiras. Nós fizemos vendas em feiras para esta empresa por 10 anos… Festa da Uva, Fenasoja, Expointer…, fazíamos feira em todo o Estado do Rio Grande do Sul e também em Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro. O forte de vendas de casacos de lã sempre foi o período do inverno. Por isso eu não larguei as marcas que representava, continuei com esta atividade também. Eu montava, por exemplo, o estande da feira em Curitiba, e minha esposa ficava lá cuidando durante a semana (juntamente com alguém do local que contratávamos temporariamente), enquanto eu voltava a Caxias do Sul para continuar atendendo meus clientes de representação. Durante a semana eu pegava mais produtos na Fábrica em Flores da Cunha e voltava para a feira, para trabalhar junto com a Juce no final de semana. Cansativo, sim, mas tínhamos muita energia! Então, um primo meu, que trabalhava para uma empresa de Gramado vendendo chocolates, me indicou. Ele tinha uma representação e vendia muito, em Caxias do Sul, chocolates de Páscoa nas empresas. Esse meu primo teve uma oportunidade de cuidar de uma filial da empresa em Canoas. Ai ele me convidou para iniciar o trabalho com ele por lá. Isso foi em 1995. No primeiro ano superamos muito as metas, no segundo também. Eram trabalhos sazonais, então conciliávamos vendas de chocolates na Páscoa, vendas de casacos de lã no inverno e, durante o ano todo, representação de roupas em Caxias do Sul. As coisas foram andando e andando bem, com muito trabalho, muito empenho, muita dedicação. Também ética e transparência. Por onde passamos construímos muitos bons relacionamentos. Acho que isso é essencial. Ser correto não é diferencial, é obrigação de um bom profissional”, pontua.

Empreendedorismo nasce no Comércio

“Eu tive que parar de estudar muito cedo, porque comecei a trabalhar. Eu vejo que o retorno e o conhecimento que a área comercial me deram nenhum outro setor daria. Às vezes não pensamos e não observamos mas na verdade a gente tem que se vender todos os dias, certo? Vais ter que te vender para o teu par, para o teu relacionamento, na empresa onde tu trabalhas, a vida é uma constante negociação e uma constante venda. Hoje eu tenho duas filhas Laura, 7 anos, e Liciê, 4 anos, e não pense que é tudo como o pai e a mãe querem… a gente tem que negociar até com elas! Às vezes até a roupa que elas vão ir para a escolinha temos que negociar... (risos)”.

Decisões e Caminhos

“O meu trabalho em vendas foi evoluindo e eu precisei, aprimorar-me como profissional. Então fiz muitos cursos técnicos na área comercial e vendas. Fui em Congressos em São Paulo, Curitiba, cursos em Caxias, palestras… Isso me ajudou muito. Chegou um momento em que tive que deixar a minha representação e ficar só com os casacos de lã e com o chocolate. Com o passar do tempo a venda do chocolate também começou a exigir bastante. Comecei com o chocolate em 1995 e consegui trabalhar paralelo com casacos de lã até 2001. Decidimos então parar de vender casacos de lã. A demanda de chocolates cresceu e nós abrimos outras filiais a partir daquela de Canoas. Sempre decidi tudo junto com minha esposa. Quando optamos por parar a venda de casacos de lã ela me perguntou ‘E eu, vou fazer o que agora?’. Bom, vender a gente sabia! Decidimos então em 2002, iniciar a Personalità e começamos a fabricar os casacos. Veja bem, 10 anos vendendo casacos de lã, tínhamos experiência, muita energia e muita vontade de vencer e de crescer. Observamos o mercado (vendíamos praticamente todos os casacos de lã que passavam por nós), e nos questionamos, por que não termos a nossa própria marca? Dai nasceu o sonho de termos nossa empresa. Chegamos até a adiar o nosso casamento (que já estava marcado) para investir neste plano. O casamento era para ter sido em 2000 e adiamos para 2001. Essa decisão, de ter a empresa foi também porque queríamos construir uma família e meu trabalho em Canoas me deixava muito tempo afastado de casa. Foi a forma de tentarmos ter um trabalho que pudesse nos manter próximos. Então, em 2002, nasceu a Personalità”.

O Desafio da Produção

“Produzir casacos de lã é um processo totalmente diferente de vender as peças já prontas. Foi um baita desafio! A gente começou este trabalho na nossa casa, que estávamos construindo mas ainda precisava ser terminada. É costume na nossa região, não é? O gringo ergue a casa – dois andares – termina a parte de baixo, vai morar ali e depois termina a parte de cima (risos)! E foi bem assim, a parte de cima ainda estava meio bruta, colocamos umas chapas de compensado no chão, abrimos umas janelas de madeira e começamos, em casa. No primeiro ano nós estimamos um número de peças e pensamos – ‘an… se vender isso está ótimo’. Pois tudo o que fizemos foi vendido. No segundo ano de empresa, mesma coisa! Agora nós levávamos o nosso produto para todas aquelas feiras que já conhecíamos. Para nossa grata surpresa a Personalità exigiu expansão imediata. Em 2004 a empresa saiu da nossa casa. Alugamos uma sala de 300 metros quadrados para organizar a fábrica. Lembro que chegamos lá e pensamos – ‘meu Deus o que vamos fazer neste espaço tão grande!’, então tivemos que organizar, até computador tivemos que comprar (risos!). Em 2004 paramos de fazer as feiras e abrimos lojas da Personalità em shoppings de pronta entrega em Farroupilha. Já em 2005 pensamos: quem sabe abrimos mais uma loja em Caxias? Então a loja foi aberta. E produzir? Bem decidimos que daríamos um jeito! O nosso problema sempre foi produção! No início nosso plano era ter uma empresa pequena ou média. Então enquanto a Juce cuidava da nossa pequena confecção eu mantive a representação de chocolates. No inverno eu focava na Personalità. Foi assim durante quatro anos, até 2006. Agora teríamos que escolher. Ou freávamos a Personalità e até diminuíamos as vendas e produção para que eu pudesse continuar com o trabalho com o chocolate, ou eu teria que parar de vender chocolates e vir para a empresa porque a Juce não estava conseguindo mais dar conta sozinha. Ai tomamos a decisão de apostar tudo na Personalità. A partir de 2006 foquei 100% na nossa empresa”.

Crescimento Exponencial

“A sala que ocupávamos de 2004 a 2007 de 300 metro quadrados, ficou pequena. Neste ano também abrimos uma loja em Curitiba. Tínhamos então a fábrica, uma filial em Farroupilha, uma filial em Caxias do Sul e uma filial em Curitiba. Em 2008 mudamos para a sede atual, onde estamos hoje. Saíamos de 300 metros quadrados e viemos para 2.000 metros quadrados. Quando a gente veio para a nova sede em 2008 tínhamos oito funcionários. Todo mundo dizia ‘meu Deus do céu, são loucos’! Foi meio audacioso mesmo. Mas tomamos essa decisão porque sempre acreditei que, se produzíssemos mais, venderíamos mais. A confecção na nossa região, é um trabalho que começa muito artesanal. E a nossa não foi diferente. Começamos eu, a esposa e a sogra, em casa, depois mudamos para outro local… porém, partir do momento que montamos a fábrica que temos hoje, eu tive certeza absoluta de que precisávamos nos profissionalizar, o máximo possível”.

Profissionalização e Teconologia

“A partir de 2008 começamos a profissionalizar a empresa. Sempre investindo em formação para a equipe. A matéria prima mais importante que temos são as pessoas. Primeiro precisávamos de espaço, em seguida investir em pessoas e em terceiro lugar, de tecnologia. De máquinas e equipamentos. E não medimos esforços. A partir de 2008 nosso grande objetivo foi equipar a fábrica. Nós não investimos em outras coisas e sim, muito, na empresa. Nosso alvo era chegar em 2012, nos 10 anos da empresa, com uma fábrica extremamente moderna. Compramos tudo o que existe de mais avançado em tecnologia para construir um casaco de lã. Desde o setor de criação, o sistema que desenvolve o produto, a máquina de corte automática, máquinas de costura todas eletrônicas e automáticas. Nosso setor de passadoria é todo especial, específico para se passar um casaco de lã. Para termos uma ideia, um casaco de lã nosso hoje passa por 14 processos! Só na passadoria”, descreve Spiller, orgulhoso de seu avançado sistema de qualidade.

Qualidade Total

“A partir da modernização da nossa fábrica entendemos que para permanecer no mercado precisávamos de qualidade total. Então não se mediu esforços para buscar toda a tecnologia possível existente no nosso segmento. Podemos garantir isso, o que há de mais moderno para fabricar casacos de lã nós temos aqui. Nós importamos produtos específicos para produzir com excelência. Sempre buscamos melhorar, mas posso dizer que o nosso produto, hoje, tem muita, muita qualidade. Dificilmente o nosso telefone toca para alguém reclamar. Hoje temos duas filiais em Farropilha, uma em Curitiba e em 2011 abrimos uma loja para o consumidor final em Caxias do Sul. Além de divulgar a nossa marca essa loja atende o consumidor da nossa comunidade, da Serra Gaúcha, que procura o nosso produto”.

Planos para Futuro

“Queremos, muito em breve, inaugurar o nosso e-commerce. Talvez em 2018 ele já esteja ativo. As pessoas nos pedem muito por isso. Também temos o projeto de abrir mais uma loja para consumidor final. Iniciamos há três anos a exportação dos nossos produtos mas tivemos que ‘segurar’ porque a demanda é muito alta. Mas é um projeto que a qualquer momento pode acontecer. A gente não quer parar. A gente não pode se acomodar! Também pensando que hoje, diretamente, a gente gera cerca de 80 empregos, sabemos da nossa responsabilidade. O sucesso financeiro, eu sempre digo, é algo secundário. Ver a nossa marca hoje ser reconhecida, é o que nos dá mais satisfação. É um grande sonho sendo realizado! A Personalità é dividida em duas coleções, a de lã e a sintética. Temos hoje quase 50 modelos e trabalhamos com tamanho P, M, G e GG, além de muitas cores. Então, a demanda sempre aumenta!”.

Sonhos

“Os sonhos nos movem. Sem eles não vamos a lugar algum. Construímos tudo isso, tudo o que temos e fazemos, com base nos nossos sonhos. Foi com muita ética, com muita calma, sem passar por cima de ninguém. Mas a base de tudo isso, para chegarmos até aqui hoje, foram os sonhos. Como falei antes, o sonho de poder ver a nossa marca reconhecida faz parte do nosso dia a dia. É o sonho de todos os que trabalham aqui. Sem isso não se chega a lugar nenhum. É diferente de sonhar apenas em ter uma melhor situação financeira, ‘quero ganhar tanto dinheiro, quero ser rico’. Sempre digo, o dinheiro é a consequência de fazer as coisas bem feitas. Hoje temos muitos sonhos realizados e a gente tem certeza de que está ajudando muitas pessoas a realizarem os seus”.

Caroline Pierosan