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Consultoria Exclusiva

02/12/2016

Passado Glorioso, Futuro Inovador

Universidade de Caxias do Sul (UCS) completa 50 anos com atuação de impacto na comunidade regional e reconhecimento no cenário da educação superior brasileira e mundial

Evaldo Antônio Kuiava está à frente da UCS, como reitor e principal voz representativa da Universidade, até 2018 ( Foto: Julio Soares)

Desde 1967 (ano da sua fundação) a UCS ajuda a construir a história da Região da Serra Gaúcha, tornando-se parte determinante da formação profissional e pessoal da vida de mais de 100 mil estudantes, suas famílias e comunidade. Esse número (de graduados, pós-graduados, mestres e doutores pela UCS) é proporcional, hoje (2016), a aproximadamente 1/5 da população de Caxias do Sul (maior cidade da Serra Gaúcha) e, a quase 10% do número de pessoas de sua área de abrangência (1,3 milhão de habitantes), considerando os diversos Campus espalhados por oito municípios - Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Canela, Farroupilha, Guaporé, Nova Prata, São Sebastião do Caí e Vacaria. Ou seja, uma multidão leva em seu currículo profissional, e em sua história de vida, a marca da Universidade de Caxias do Sul.

Com o propósito declarado de contribuir para o crescimento da Região disponibilizando conhecimento com qualidade e relevância para um desenvolvimento comunitário sustentável, a Universidade de Caxias do Sul celebra meio século de História em 2017 com um corpo docente de mais de mil professores que propiciam formação superior nos graus de Bacharel, Licenciado ou Tecnólogo para 38 mil alunos (em graduação, pós-graduação, extensão, ensino médio e técnico), atualmente matriculados. Quais são os projetos deste gigante para o futuro que se transforma a cada dia? Novas formas de conexão, uma cultura mundial baseada em frequentes mudanças e incessantes inovações, que se desenvolve entre os jovens millennials a cada momento, desafiam a UCS a continuar promovendo a cultura do conhecimento, cada dia mais relevante para a Humanidade. Cinquenta anos! É hora de celebrar um passado glorioso; um marco ideal para planejar um futuro relevante.

Evaldo Antônio Kuiava, que, coincidentemente celebra 50 anos no mesmo ano em que a instituição que lidera também completa meio século de vida, fala sobre os desafios de estar à frente da UCS, em um dos momentos históricos mais peculiares para área da Educação. Tudo muda, o tempo todo. Como a UCS acompanha esta incrível revolução? Acompanhe, a seguir, os desafios que relata o magnífico Reitor da Universidade de Caxias do Sul.

Visão que Transforma

A UCS e a Serra Gaúcha têm tudo a ver. A UCS nasceu a partir da vontade da comunidade e ajudou a desenvolvê-la, em todas as áreas. A maioria dos profissionais desta Região se formou nesta instituição e o desenvolvimento da região se deve muito à contribuição destes profissionais. Além destes, temos os profissionais que estão atuando com sucesso fora do Brasil, impactando o mundo todo. Veja o que a visão compartilhada de um prefeito, de um médico e do Bispo Diocesano produziu! O médico abriu o curso de Direito, o prefeito o curso de Belas Artes, e a Mitra Diocesana abriu o curso de Economia, por incrível que pareça. Então essa foi a visão - de abrir faculdades-porque perceberam que, desta maneira, a Região se desenvolveria melhor. E isso se perpetua, por meio do legado da UCS, até hoje: é necessário investir em educação. Mas veja que esse investimento foi muito equilibrado em termos de concepção. Começamos já com moda, artes, cultura. Quer dizer: se pensou dentro de uma visão sistêmica já no início. Precisávamos buscar o conhecimento em todos os campos. Não se ficou só em Administração, Direito, Contábeis, Engenharia... se implantou Filosofia, Letras, Artes, Pedagogia. Todos esses cursos têm 50 anos! Então essa visão que os líderes fundadores tiveram, está muito presente e muito atual.

Atuação Internacional

O ideal é que cada um possa agir localmente mas tendo uma visão internacional. Por isso que nós temos mais de 200 convênios internacionais. Interagimos com instituições nos cinco continentes. Isso mostra que a Universidade desde o seu início teve essa postura, essa visão, através dos seus líderes. E ela continua mantendo isso dentro de um contexto em que é necessário atualizar. Por isso é que estamos implantando projetos como o Parque Científico. Nossos pesquisadores são altamente produtivos, o que, também, projeta a instituição.

Aproximação com o Mundo Empresarial

Queremos desenvolver relações mais profícuas entre Universidade e Empresas. Esse é o nosso desafio atual. Se no passado bastava formar profissionais de qualidade para o mercado, hoje, além disso, temos que ter produção de conhecimento e pesquisa – trabalhando junto com os empresários para que os produtos pesquisados sejam desenvolvidos. Montar laboratórios de pesquisa é muito caro! É papel da Universidade fazer isso. O desafio é, também, fazer o empresário perceber que é muito mais em conta - até sob o ponto de vista de gestão do conhecimento- e vale muito mais a pena trabalhar em parceria com a Universidade. A UCS também precisa, por sua vez, voltar-se para o mercado. Senão, nossos pesquisadores vão produzir artigos, mas o produto não vai virar realidade... por isso um estreitamento pode ser muito promissor para ambas as partes, gerando resultados rentáveis e mais imediatos. O nosso Instituto de Materiais Cerâmicos, por exemplo, tem a melhor pesquisa da América Latina nesta área, mas tem mais relacionamento com empresas estrangeiras. Isso porque a pesquisa que estamos desenvolvendo ainda não tem demanda por aqui (estamos introduzindo partículas cerâmicas aos polímeros). Mas temos boas parcerias locais para outros projetos. Com a Fras-le estamos desenvolvendo pesquisas em relação à melhoria do material dos freios. Temos pesquisas com a Agrale, a Keko e a Tramontina que, por sua vez, montou um laboratório dentro da Universidade. Nós fazemos os testes das panelas, fundamentais para que eles possam exportar, por exemplo. As empresas não podem se autocertificar enquanto nós temos laboratórios certificados pelo INMETRO. Hoje, temos interação com mais de 1.600 empresas. É muito vantajosos para as empresas investirem, junto conosco, em laboratórios, e nós prestarmos serviço como contrapartida; todo mundo ganha.

Revolução Tecnológica, o Fim das Salas de Aula, e o Futuro da UCS

O antigo modelo pedagógico em que o professor encontrava o aluno quietinho na sala de aula esperando que ele viesse trabalhar a exposição de um conteúdo - o professor como o dono do saber e o aluno como alguém que só recebe - está totalmente ultrapassado. Sobre qualquer coisa que falemos hoje, os alunos, conectados com o celular, podem ter informações, mais que o próprio professor. A relação pedagógica muda. A tendência é que, em algumas áreas, em alguns cursos, a curto prazo, não tenhamos mais salas de aula. Vamos trabalhar com projetos. No CAMPUS 8 já é assim, para os cursos de Moda e Design. Nossas salas de aulas são pequenas, mas temos ateliers, espaços para produção e experimentação. A construção do aprendizado se dá no corredor, em ambientes diferenciados. Temos que trabalhar muito mais projetos e solução de problemas do que conteúdos. A Universidade do Futuro é uma universidade com poucas salas de aula mas muitos espaços de interação.

Empreendedores de Carreira e de Vida

Outra meta nossa é desenvolver o empreendedorismo, ou seja, que o aluno possa não só adquirir formação de qualidade, mas descobrir como ele pode, naquilo em que busca formação, também ser um empreendedor. Não apenas visando abrir um negócio para si, mas que saiba empreender na vida. O profissional que não empreende na própria carreira, se atualizando, buscando inovar, também quebra. Não são só as empresas e os governos que vão à falência. As pessoas também correm esse risco. Esse modelo de formação em que você passa dois, três, quatro anos ou mais trancado na Universidade, e depois vai para o mercado, faz com que, quando o profissional começa finalmente a atuar, o seu conhecimento já esteja totalmente defasado. Esse modelo de formação está completamente superado. Neste momento estamos preparando os professores da UCS para administrarem estas mudanças. Em termos pedagógicos estamos trabalhando com metodologias ativas de aprendizagem.

Desafio para Professores

O sucesso de um professor que está há 10, 15, 20 anos no mercado, muitas vezes não se perpetua hoje. Eles precisam se adaptar. Precisam saber utilizar tecnologia. Um aluno não fica mais quatro horas ouvindo um professor. Ninguém aguenta. Nem eu aguento (risos)! Temos que encontrar um equilíbrio entre tecnologia e tradição. Por exemplo, ler um livro clássico, é importante. Conhecer a história do pensamento humano é importante. Apesar de todas essas mudanças, o respeito à pessoa, aos princípios éticos, é algo insuperável. Esses conceitos precisam ser trabalhados porque transcendem o tempo.

Currículos Interdisciplinares

Hoje estamos reformulando currículos, deixando-os com estruturas modulares. Antes possuiam estrutura disciplinar, que era cartesiana, de gaveta, com falta de interação. Hoje a ciência se constrói interdisciplinarmente. Um médico, por exemplo, precisa entender também de Direito. Precisa ter uma visão muito mais sistêmica. Estamos também pensando sobre mudar estruturas e processos de gestão do conhecimento. Desde a parte administrativa, acadêmica, até a relação com os empresários e mercado.

Fidelização e Alvo em Pós Graduandos

 Quem não se atualiza corre sérios riscos de falir. Desde o ano passado ampliamos muito a extensão, a pós- graduação; abrimos mais mestrados, doutorados... Hoje nós formamos profissionais inclusive para as próprias instituições que concorrem conosco. Formamos mestres e doutores para todo mundo (risos) ! Mas é nosso papel fazer isso.

Resultados

 A UCS precisa investir nela mesma. Ela não concorre com os outros. Não disputamos como se faz nas empresas. Somos uma instituição que está a serviço de todos. Se temos dificuldades, logo a sociedade em torno de nós também vai ter. Uma Universidade é um patrimônio de uma comunidade. Às vezes as pessoas não se dão conta do que isso significa. Aqui, esta Região tem esse privilégio, de possuir a maior Universidade do Estado. A educação para nós não é um negócio. Tudo que arrecadamos é investido na própria UCS, então a finalidade é outra. A Região da Serra, sem a UCS? Não seria! Imagine as nossas empresas com mão de obra apenas com a formação do SENAI do SENAC, só formação técnica. Nós estaríamos, hoje, importando “os melhores cérebros”, de outros lugares e as pessoas daqui indo embora... Eu não tenho dúvidas quanto a isso. Posso afirmar abstraindo totalmente a minha função de reitor.

Verdadeiramente Inovador

O que existe hoje de novidade é a aplicação do conhecimento. Se as pessoas pensassem mais elas conseguiriam resolver melhor os seus problemas. O problema é que todo o contexto induz as pessoas a não pensarem. Precisamos aprender com o que os outros já pesquisaram, concluíram e disseram. Cada um precisa procurar encontrar o seu caminho. É preciso encontrar um espaço e construir um bom projeto de vida que não esteja só atrelado a ganhar muito ou pouco dinheiro, mas que cada um possa se sentir bem naquilo que faz. Esse é o grande desafio: encontrar o que faz sentido para si. Isso não se aprende na escola. É por isso que temos normalmente mais de 4 mil pessoas querendo fazer Medicina enquanto fechamos outros cursos, como Geografia, por exemplo. Por que é que um professor deve ganhar só R$ 1.000,00? Se ele trabalha com pessoas, assim como um médico, ou um juiz, que ganham muito, mas muito mais do que isso? Por que temos que valorizar tanto certas profissões em detrimento de outras? O que vale mesmo, no fim das contas, é o que de melhor cada um consegue construir dentro da sua carreira. A relação com as pessoas. O maior desafio do pensamento filosófico ainda é bem atual. Com Sócrates (400 a.C) podemos aprender, ainda hoje. Cito também Augusto Cury. “É necessário pensar, refletir, construir e descontruir as coisas, gerir emoções”. Caso contrário, caímos em armadilhas. Mas a filosofia também não dá conta de tudo, prova disso é a vida miserável que muitos filósofos tiveram. Assim como tem cientista frustrado, tem filósofo também. A filosofia contribui, mas o profissional da filosofia pode cair nas mesmas armadilhas que qualquer um...  Não basta só conhecer. É preciso incorporar. O maior desafio é vivenciar os processos. A vivência é fundamental. Sem vivência, o teórico é vazio. É oco... Nós precisamos começar a debater projetos de vida! E a vida não é só uma profissão... é necessário pensá-la como um todo.

Caroline Pierosan