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Consultoria Exclusiva

09/05/2019

Reserva de Valor

A mestre em administração e gestora Andreia Morello fala sobre o mercado de capitais no Brasil, sobre a alienação das mulheres em relação ao tema, e sobre o desafio de mudar a cultura financeira no país

"A forma de atender e o conhecimento que temos para passar, a compreensão das necessidades do cliente bem como a sensibilidade em relação ao momento ideal para compor isso com as milhares de possibilidades de investimento que existem. Esse é o nosso principal diferencial". Foto: Josué Ferreira "Cada vez eu fico mais feliz por ter mulheres atuando comigo. Eu acredito que as mulheres vão fazer a diferença no mercado de capitais" (Andreia Morello). Foto: Josué Ferreira "No mundo em que estamos hoje e na realidade que vivemos, como Brasil, se as pessoas não mudarem, elas vão deixar o seu dinheiro perder valor". Foto: Josué Ferreira "Eu sou cada vez mais apaixonada pelo tema, cada vez eu gosto mais de ter escolhido isso, sou mais feliz, mais realizada por ter começado a trabalhar com o mercado financeiro" (Andreia Morello). Foto: Josué Ferreira "O brasileiro tem, em média, 3% dos seus investimentos fora de banco. Então a gente tem um espaço gigante de possibilidade de crescimento". Foto: Josué Ferreira

A vitalidade e a perspicácia transpassam o belo olhar da empresária Andreia Morello. Notavelmente apaixonada por temas do Mercado Financeiro, a jovem empresária de sorriso radiante celebra, em 2019, 10 anos de fundação da Safe Investimentos, uma das poucas empresas dedicadas a assessorar investidores na Serra Gaúcha (RS), credenciada à maior corretora do Brasil, a XP Investimentos. Em um contexto masculino por tradição, a impetuosidade e a autoconfiança de Andreia chamam atenção. Entretanto, ela destaca que não gostaria de ser uma exceção. “Hoje temos, em média, 500 clientes ativos. Nem 10% deles são mulheres. Para mim, é triste constatar isso. Aqui, na nossa região nós não temos só homens que têm recursos. Nós temos muitas mulheres que trabalham e que ganham muito bem. Então por que tão poucas entre elas investem?”, questiona.

“Muitas vezes ouço assim ‘não tenho tempo, eu já trabalho, eu já cuido da casa, cuido dos filhos, então a parte financeira quem faz é meu marido pois para mim não dá, é muita coisa’. Seria importante que as mulheres integrassem essa realidade. Independentemente de o dinheiro ser da família, elas podem e devem se posicionar em relação a ele. Eu acho fundamental que elas entendam sobre o mercado financeiro. Não podemos mais aceitar ideias como ‘ah... é um mercado mais machista, mais masculino, então eu prefiro deixar’. Não, não deixa não! O dinheiro é teu também!”, alerta a empresária defendendo que, as mulheres, quando passam a entender sobre finanças, costumam ser muito práticas e lógicas. Ao longo da conversa com a NOI, Andreia também fez observações importantes sobre aspectos culturais da relação dos brasileiros com seu dinheiro. “Somos um povo endividado, moramos num Estado endividado e somos um país que não tem reservas. O Brasil apenas vai mudar a partir do momento em que nós entendermos que precisamos evoluir no sentido educacional. Também quando conseguirmos que as pessoas tenham reserva de valor ao invés de só tomar recursos emprestados”, alerta.

Sendo bem sucedida em um contexto extremamente desafiador, Andreia acredita que o futuro da empresa (que tem sede em Caxias do Sul) é promissor e planeja a expansão para outros municípios do Rio Grande do Sul. “Nós vamos mostrar para as pessoas que dá para investir de forma diferente, que dá para manter o seu perfil, rentabilizando, porém compondo melhor a sua carteira de investimentos. Então temos, além do nosso crescimento próprio, essa missão muito maior e mais difícil, que é a de fazer com que os clientes entendam onde estão investindo e por que estão investindo em tal produto nesse atual momento”, afirma. A seguir, acompanhe as importantes opiniões da visionária.

NOI: Achas que o desafio de começar uma empresa, no segmento de mercado de capitais, foi maior, no teu caso, por seres mulher?

Andreia Morello: Com certeza! O início foi muito difícil. Hoje, se eu falar que não há preconceito em relação a mulher no mercado financeiro, é mentira. A gente ainda o percebe, bastante. Quando eu comecei, para se ter uma ideia, tinha clientes que eu atendia que, embora eu fosse a responsável pela conta, falavam comigo apenas por meio do meu sócio, que era homem. O cliente perguntava para o meu colega e eu respondia. E ele conversava comigo, através do colega! O meu colega só fazia o meio de campo, praticamente, e, mesmo assim, ele preferia falar com ele. O cliente olhava para o meu colega, e não olhava para mim. Isso, me marcou bastante. Com o tempo tal cliente percebeu que era eu quem sabia sobre o assunto, que eu é que estava conversando com ele. Hoje, depois de 10 anos atuando, percebo que o contexto evoluiu. Eu posso dizer que hoje, eu, particularmente, sofro pouco preconceito. Muito pouco mesmo. Quando eu sento pra conversar com um cliente, seja ele homem ou mulher, não tenho problema nenhum. Eu não sinto mais o que sentia lá no início. Mas eu sei que existe. Eu sei que tem, sei que acontece. Porém bem menos.

Por que achas que existe esse preconceito?

É um mercado extremamente masculino né, machista. Não sei se machista seria a palavra exata. Mas, bastante masculino, sim.

Por tradição?

Sim, por tradição. Imaginemos um homem que sempre teve a área financeira de sua vida negociada ou trabalhada em parceria com outro homem, ou, ainda, o homem que sempre soube “a eu vou fazer tal investimento” (porque se trabalhares com investimentos em bancos, o desafio será apenas escolher a taxa do CDI, do CDB e em qual fundo vais colocar o dinheiro, pois a diversificação de produtos financeiros em bancos é basicamente fundos, LCA e LCI, então não envolve muito relacionamento). Agora quando tu partes para realmente conversar sobre uma carteira de investimentos completa, é preciso entender como isso funciona. O cliente vai estar a par do que tu estás fazendo e muito mais entrosado com o mundo do mercado financeiro. Nosso foco não é apenas captar o cliente, não é só fazer o investimento e sim fazer com que ele entenda o que está praticando. Ele vai entender que existe tal investimento, e que esse tal investimento rende mais devido ao momento atual, e que a melhor hora para investir é hoje. Então, ele vai sair de um mundo em que ele estava acostumado apenas a negociar taxa, para um mundo em que uma mulher está falando para ele o que é melhor hoje, dentro do perfil do capital e das condições que ele está propondo. É uma novidade para o cliente entender que existe uma mulher que sabe sobre isso e que está lhe passando essa informação. Então é uma realidade diante da qual a geração de mais idade, por exemplo, ainda sente certo receio.

Entre os jovens é mais fácil?

Muito mais fácil. Até pessoas de meia idade, eu te diria que não é nada de complicado. É mais complicado para quem sempre lidou e trabalhou apenas com homens. Entretanto, veja que interessante, a maior parte dos nossos clientes, são homens, de mais idade. A gente rompeu esse preconceito, mostrando que nós não estávamos aqui pra brincar. Comprovamos que temos conhecimento, que sabemos o que estamos fazendo e que vamos rentabilizar melhor o capital do cliente, sem fazer nenhuma loucura que fuja ao seu perfil.

Por isso tudo que procuras ter mulheres na tua equipe?

Sim! E cada vez eu fico mais feliz por ter mulheres atuando comigo. Eu acredito que as mulheres vão fazer a diferença nesse mercado. Nós temos intuição e assumimos que a temos. Os homens também têm intuição, mas não assumem. Para teres uma ideia, o tema do meu mestrado (em Administração na UFRGS) foi focado em tomada de decisão pelo uso da intuição. Eu entrevistei vários empreendedores da cidade e da região, empreendedores de mais idade, a primeira geração, a segunda e a terceira geração, e consegui comprovar que embora o homem tenha intuição, ele sempre tenta encontrar ferramentas que a comprovem. Já para a mulher isso é mais fácil, nós entendemos a nossa intuição e a usamos, ponto. As mulheres tem sensibilidade e a usam na prática. Elas têm paciência para, por exemplo, esperar a alta e a queda, comum no Mercado de Ações. Então, eu acredito muito que as mulheres que entrarem no mercado financeiro, no mercado de capitais, têm uma grande probabilidade de sucesso. Também acredito muito que, a nova geração terá uma participação muito melhor na composição de poupança, por causa disso.

Então por que hoje, ainda, um percentual tão pequeno do teu público é feminino?

Hoje temos em média 500 clientes ativos. Nem 10% deles são mulheres. Para mim, é triste constatar isso. Aqui, na nossa região nós não temos só homens que têm recursos. Há muitas mulheres que trabalham e que ganham muito bem. Por que tão poucas mulheres investem? Muitas vezes a gente ouve assim “a parte de investimentos quem faz é meu marido; quem cuida dos investimentos lá de casa é ele”. Ou, ainda, “não tenho tempo, eu já trabalho, eu já cuido da casa, cuido dos filhos, então cuidar da parte financeira não dá, é muita coisa...”. Fico chateada porque as mulheres precisam entrar pra essa realidade, precisam cuidar do próprio dinheiro, independentemente se o recurso é da família. Elas podem e devem se posicionar em relação a ele. Podem ter a compreensão sobre onde o dinheiro da família está sendo investido. Em qual aplicação ele está sendo colocado? Há liquidez desse recurso? Ou ele está todo imobilizado? Ah, muito bem. Então se a preocupação é com os meus filhos, mas todo o recurso está imobilizado, como será quando surgir uma necessidade do filho? O que será preciso fazer? Vender carro, liquidar um imóvel pra conseguir o recurso necessário em pouco tempo? Percebes? Eu acho fundamental que as mulheres percebam que não vai fazer mal entender sobre o mercado financeiro. Não podemos mais aceitar ideias como “ah... é um mercado mais machista, mais masculino, então eu prefiro deixar”. Não, não deixa não! O dinheiro é teu também! Temos que entender sobre ele. E a mulher, quando entende sobre mercado financeiro, costuma ser muito prática e lógica. Está faltando isso, está faltando que as mulheres queiram entender sobre finanças. Não é que as mulheres da nossa região não tenham recursos. Elas precisam é querer entender sobre seus recursos.

Desses cerca de 10% de clientes que são mulheres, qual é o perfil?

Conservadoras, na faixa dos 40 anos, aproximadamente, casadas ou divorciadas, que já têm uma estrutura.

Entendes que essa questão de ignorar como o mercado financeiro funciona, não procurar entendê-lo e viver alheio à ele, no nosso país (falando de Brasil agora), é uma característica feminina ou é uma situação que ainda que acomete a maior parte da população?

Esse alienamento acomete a maior parte da população. Indiscutivelmente. O que ocorre é que a maior parte da população não tem recursos para investir, não consegue fazer sobrar dinheiro algum no fim do mês. Então a gente fala muito de educação, que o Brasil vai mudar pela educação. E sim, o país apenas vai mudar a partir do momento em que nós conseguirmos que as pessoas tenham reserva de valor e que não só tomem recursos emprestados. Por quê? Nossa economia anda muito com o consumo, então quando é que as coisas acontecem? Quando há linha de crédito. Libera-se a linha de crédito para as pessoas comprarem a casa, aí as coisas acontecem. Libera-se a linha para as pessoas mobiliarem a casa, depois para que comprem o carro... Não ocorre o inverso. As pessoas não se preocupam em primeiro ter um planejamento, ter recursos, para depois comprarem essas coisas.

O problema é a cultura do endividamento?

Eu não estou falando mal de financiamentos, não estou dizendo que as pessoas não têm que ter crédito, pelo contrário. O Mercado Norte Americano é visualizado dessa forma e as pessoas têm, inclusive, melhor reconhecimento pessoal, a partir do momento em que têm crédito, que conseguem comprovar suas possibilidades aos credores. Mas isso é muito diferente de ter crédito disponível, tomá-lo ao extremo, e não conseguir bancar todas as prestações. Então eu acredito muito mais na eficiência do Brasil, como país, quando os habitantes desse país se derem conta de que nós precisamos ter reserva de valor. Quando entendermos que vamos ter um país melhor quando tivermos poupança, isso como país e como Estado. O que é o Rio Grande do Sul hoje? Por que nós estamos nessa situação? Quantas famílias trabalham mais ou menos igual ao nosso Estado? Não conseguem pagar as contas no fim do mês? Tudo é muito parecido né? A gente fala que nós temos o governo que nós merecemos, eu não estou falando do governo atual, estou falando de figura ilustrativa. A gente fala que cada povo tem o político que merece, e é bem o reflexo disso, somos um povo endividado, nós moramos num Estado endividado e somos um país que não tem reservas.

A falta conhecimento sobre finanças é um problema cultural?

Exato. Falta conhecimento e falta vontade de começar a mudar, falta educação para mudar isso. “Eu não sei como faz investimentos”, as pessoas dizem. Há milhares de cursos, tanto no formato online quanto presencial. “Ah, eu não sou do youtube, eu não gosto de procurar cursos no youtube”, tudo bem! Há cursos presenciais, vários, inúmeros, em escolas, em universidades, em escolas técnicas. Um monte mesmo, é só querer fazer. Tem curso pago, tem curso gratuito. Então não há desculpas para dizermos “ah eu não sei fazer”, “ah eu não tenho dinheiro”, ou, ainda, “investimento é pra quem tem dinheiro”. Há títulos do Tesouro Nacional em que se pode investir com valores a partir de R$ 30,00. Então sim, a questão é muito mais cultural. É preciso querer entender, querer saber como fazer e sair daquele mundinho do qual a gente vem por gerações, pagando carnê, se endividando. Daí quando acontece algum imprevisto, algo que foge ao que tínhamos programado, temos que vender o carro, ou trocar a casa que financiamos porque não nos demos conta que tínhamos que pagar IPTU, IPVA, seguro...  etc.

Nesse sentido como vês o contexto da Serra Gaúcha?

A realidade de Caxias do Sul e região é muito diferente da realidade de Porto Alegre que é muito diferente da realidade de São Paulo. Não é porque a gente tem escritório em Caxias que a gente não sabe como funciona o investidor de São Paulo e o investidor de Porto Alegre. O investidor de Caxias do Sul é um investidor desconfiado, um investidor que tem por hábito fazer os mesmos investimentos, sempre. É um perfil que tem uma dificuldade e resistência muito grande em fazer algo diferente. Isso não quer dizer que os produtos financeiros que oferecemos serão algo diferente do que o investidor busca no sentido da segurança e da sua tranquilidade. É apenas diferente. No mundo em que estamos hoje, na realidade que vivemos, como Brasil, e também no mundo, se as pessoas não mudarem, elas vão deixar o seu dinheiro perder valor. Não será possível mais manter o valor do patrimônio deixando-o parado. Então, é preciso se adequar. Na Serra Gaúcha há bastante recurso. É uma região onde as pessoas têm dinheiro. São descendentes de imigrantes italianos e alemães. Se a gente olhar a história do italiano e a história do alemão, entenderemos porque que a nossa região é assim. Por que aqui temos um povo mais desconfiado? Por que é um povo que sofreu muito, um povo que teve que abrir estradas com as próprias mãos, um povo que não tinha o que fazer, ele tinha que criar, ele tinha que empreender, por necessidade. E essa necessidade faz o que? Faz com que as pessoas segurem tudo que têm. Isso foi se impregnando nos filhos, nos netos... e a gente vive essa situação. Não estou dizendo que ela é ruim ou que é boa, é apenas a nossa característica aqui. Nós somos um povo que tem recurso, porém somos um povo muito conservador.

Poderíamos já, a essa altura, ousarmos mais, sermos mais criativos?

Exatamente. E isso, não quer dizer que tenhamos que mudar o nosso perfil. Qual é o nosso perfil? Se o meu perfil é conservador no sentido de “eu só quero aplicar em renda fixa, eu não quero correr risco nenhum”, eu vou continuar fazendo investimento, só de renda fixa. Mas, de repente, seria positivo considerar um investimento que proporcionasse um retorno maior, com as mesmas garantias, ou quem sabe até mais. Há diversas possibilidades.

Afirmas que vivemos um momento “diferente” na economia brasileira. O que há de diferente nesse momento?

A gente vem de uma crise muito forte, de vários anos. Nós saímos, há três anos mais ou menos, de uma taxa de juros de 14%. Hoje temos títulos de 7% contratados. Então saímos de uma realidade onde as pessoas faziam um investimento e ganhavam aproximadamente 1% ao mês, até um pouco mais, para uma possibilidade agora de 0.4% ou 0.5% ao mês. Hoje é mais difícil rentabilizar 1% ao mês, dentro do perfil conservador, dentro da renda fixa. Então essa realidade com um PIB crescendo, com as empresas com ociosidade, mas com possibilidade de retomada, com o BNDES sendo reestruturado e com maior potencial de captação de recursos pelas empresas, com empresas fazendo emissão de dívida com outro tipo de taxa de juros. Temos possibilidades diferentes de investimentos, se quisermos rentabilizar mais os recursos, temos que considerar isso. Não adianta mais as pessoas colocarem o seu recurso lá na poupança, no CDB, na LCA, LCI achando que vão receber 1% ao mês, porque esse cenário não está mais acontecendo. Para ter uma rentabilidade um pouco maior, é preciso buscar alternativas.

Qual seria uma das melhores alternativas hoje pra fazer o dinheiro render?

Composição de carteira. Essa composição vai alocar em diversos tipos de investimento. Tem investimentos no CDB, tem investimentos nos fundos, as LCA’s e as LCI’s, (que as pessoas estão acostumadas), mas tem também certificado recebível do agronegócio, certificado de recebíveis do mercado imobiliário, tem debêntures, tem IPCA mais taxa... A meu ver, são todas possibilidades bem interessantes para diferentes perfis.

Como competir hoje com a febre das plataformas virtuais que oferecem rendimentos de 1,5% ao dia, 3% ao dia... 15% ao mês?

Isso é bastante controverso. Nós vivemos numa cidade, numa região aonde as pessoas são conservadoras, preocupadas e demoram pra dar credibilidade, para dar confiança. Pois bem, aí entra uma das outras coisas que, nas minha pesquisa de Mestrado também abordei, e que também faz parte da intuição, que é a ganância. Quando alguém chega pra ti e fala que vai te dar 15% ao mês, se tu não tens conhecimento de mercado e não entendes o que significa 15% ao mês, podes até acreditar. Há anos atrás 15% ao mês não era algo muito fora da realidade, quando a gente vivia no overnight de outras moedas, em que o juros eram totalmente fora, inflação de 1.000%... nesse cenário gerar rendimentos de 15% ao mês era ok. O que ocorre é que a nossa realidade hoje não é essa. Então se eu tenho conhecimento, se eu sou uma pessoa que lê, se eu sou uma pessoa informada, eu saberei que a realidade hoje é de rendimentos de 0.5% ao mês. Ai vem alguém e me oferece 15%? Eu, ao menos, tenho que considerar uma investigação, uma análise mais criteriosa do que que está acontecendo com isso. Nós temos vários clientes que ganharam 15% ao mês, até mais, 20%, 30%, mas esse percentual não é uma coisa contratada. Não há uma garantia. Eu não vou dizer pra ti, “todos os meses tu vais receber 15%”, porque aí eu provavelmente estarei fazendo algo errado. Eu vou dizer que o nosso investimento está em renda variável e, renda variável quer dizer o que? Que vai oscilar. Que vai ter meses que vai ser muito positivo e que vai ter meses que vai ser negativo. Porque isso é uma realidade normal, de renda variável. Agora eu me comprometer contigo a te entregar todos os meses 10%, 15%, 17%, na realidade que a gente está hoje, alguma coisa tem de errado. Então eu, como pessoa física, Andreia, não caio nisso. Eu, como assessora de investimentos, nem falo sobre isso. Porque isso não é uma coisa que está amparada na regulamentação brasileira que controla, fiscaliza e rege o mercado brasileiro. Não está dentro disso. Repito, eu como assessora de investimentos e gestora do escritório, nem falo sobre esse assunto.

Mas tu achas eticamente errado participar disso, sendo que as plataformas pagam?

São duas coisas diferentes. Quando eu acesso uma plataforma segura, e aí vou dar um exemplo, de uma moeda virtual. Eu acesso a plataforma e eu faço compra, em nenhum momento (isso eu posso te comprovar tá?), em nenhum momento na plataforma diz que eu vou receber “tanto por cento” ao mês, em nenhum momento. Agora quando eu faço parte de um grupo, onde eu acesso uma plataforma que é daquela empresa em específico, aí eu não estou acessando uma moeda virtual, eu estou fazendo outra coisa. Daí o nome cada um dá o que quer.

Quais são os planos da Safe para os próximos 10 anos?

Depois de 10 anos, é possível visualizar as coisas com um pouquinho mais de clareza. Eu, Andreia, como pessoa física, sou mais arrojada. Já na gestão da empresa sou bem conservadora. Então os nossos primeiros anos foram de conhecimento, de entendimento. Hoje consigo olhar e perceber que dá pra fazer um pouco mais, dá pra ir avançando. Quero dizer que vamos sair um pouco de Caxias, vamos olhar outros mercados. O brasileiro tem, em média, 3% dos seus investimentos fora de banco. Então a gente tem um espaço gigante de possibilidade de crescimento. Somos assessores diferenciados na nossa qualificação. A maioria das pessoas que trabalhavam nesse escritório não têm sua origem em famílias de muitos recursos. Trabalhamos mostrando a nossa capacidade, a nossa eficiência mesmo. Nós nos colocamos como capazes, eficientes e, por isso mesmo, diferentes. Temos potencial para desbravar, para conquistar novos mercados. Aqui na região há alguns locais que estão carentes disso, ainda. São nessas áreas que vamos entrar. Não são áreas carentes financeiramente. Carecem de pessoas que possam mostrar que há outras formas de se investir, além dos bancos, com mais eficiência.

Entendes tua atuação na Serra Gaúcha como uma missão então?

Eu lecionei durante oito anos. E sempre focava nisso. Que precisamos mudar a nossa filosofia de entendimento de mercado, de conhecimento. Nós vamos sim mostrar para as pessoas que dá para investir de forma diferente, que dá para manter o seu perfil, rentabilizando, compondo melhor a carteira. Então temos, além do nosso crescimento próprio, essa missão muito maior e mais difícil, que é fazer as pessoas entenderem onde estão investindo e por que estão investindo em tal produto, nesse atual momento. O mercado financeiro muda muito, muito rápido. Não adianta eu ter conhecimento das coisas como eram até ontem. Amanhã tudo muda novamente e, se eu não estiver atualizada e com a cabeça aberta e proposta a entender o novo funcionamento das novas coisas que vierem, eu também vou ficar defasada, eu também vou ficar desatualizada. Então temos que entender o que aconteceu, mas temos que estar preparados para as novas possibilidades que estão surgindo. Dessa forma vamos fazer com que as pessoas invistam com a gente, porém, compreendendo o que estão fazendo.

NOI: Como surgiu a ideia de trabalhar com o mercado financeiro?

Andreia Morello: Eu trabalhava como estagiária da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEE) e ela foi vendida, privatizada. Eu passei a trabalhar com gestão de plano de saúde e me identifiquei com a área comercial, atuando nela por cerca de cinco anos. Quando eu saí desse cargo, vendi meu carro e fui receber o dinheiro da venda na agência do Bradesco. Eu sabia que quem tinha comprado meu carro havia sido o diretor de uma empresa em Veranópolis. Era uma empresa na qual eu queria trabalhar. Então eu propus ao gerente do Bradesco que, se ele me indicasse para o trabalho nessa empresa, eu investiria meu dinheiro no banco. A partir dai ele, ao contrário do que eu imaginava, me propôs que, além de investir, eu trabalhasse no Bradesco, porque eu tinha perfil pra trabalhar lá. Eu nunca tinha sonhado em trabalhar em um banco. Mas o tempo passou e dois, três meses depois, eu ainda não tinha conseguido entrar na empresa que eu queria. Foi então que considerei a oportunidade que ele me ofertara. Comecei a atuar e passei a alcançar muitos objetivos, fiz bastante contatos e melhorei muito a minha carteira (sendo que o primeiro município no qual atuei foi Veranópolis). Isso tudo me fez ser convidada a vir a trabalhar aqui, em Caxias do Sul, também numa agência do Bradesco. Na região, atuei também em Flores da Cunha. Fiquei no Bradesco durante oito anos e, nesse período, concluí minha graduação e comecei a minha pós-graduação em mercado de capitais. Foi interessante pois escolhi essa área porque gostava muito do coordenador do curso, o Armando Andreazza. Comecei a pós-graduação em mercado de capitais Universidade de Caxias do Sul (UCS). No decorrer do meu MBA me empolguei com o assunto. Isso foi em 2007. Nesse ano eu decidi que queria trabalhar com isso, mas eu não sabia como. Busquei entender mais sobre o funcionamento dos investimentos, aprofundei minhas pesquisas. Então, em 2009 optei por sair do banco. Juntamente com um colega que trabalhava no Bradesco fundei o escritório, a Safe Investimentos. Nessa época eu vivenciei a crise de 2008 dos Estados Unidos, depois, com o escritório aberto, passei pela crise da Europa (que foi em 2011, mais ou menos), e aí quando pensávamos que estávamos começando a sair de uma crise, veio uma muito mais forte, a do Brasil. Entretanto, estamos aqui, com uma década de história, planejando a expansão da empresa.

 

Andréia Morello é natural de Nova Prata, onde nasceu em 24 de janeiro de 1979. A empresária mora em Caxias do Sul há 15 anos. É Mestre em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), possui MBA em Mercado de Capitais (UCS) e bacharel em Administração de empresas (UCS). É Agente Autônomo de Investimentos pela Ancord/CVM, com mais de quinze anos de experiência profissional no mercado financeiro (Bradesco e Citibank). Atuou como docente de economia e mercado de capitais em cursos de Ensino Superior.

 

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