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Escrita Estratégica

27/05/2021

Aprendi a Ser Mais Paciente e a Confiar em Deus

“Se a gente chora? Lógico que sim. Mas limpamos nosso rosto porque temos mais pacientes precisando dos nossos cuidados e pacientes novos chegando para serem atendidos”

"Mesmo indo para casa descansar a gente não consegue parar de pensar no que poderia ter sido feito"

Trabalho na área hospitalar desde 2019. Comecei a atuar já durante a pandemia. Estou sempre “a milhão”, sempre na correria, ainda mais que trabalho em uma UTI Covid. Em 2019, início de 2020 eu tinha muito medo. Tudo era muito novo, a paramentação, o que viria com o COVID, quais pacientes entrariam pela porta... acredito que aprendi a ser mais paciente e a confiar em Deus. Não estamos prontos para perder pacientes jovens, por mais que a gente saiba que isso vai acontecer. Nós nos apegamos ao paciente, fazemos de tudo por ele, para devolver ele bem para a família. Quando isso não acontece é tão frustrante que acabamos ficando sem chão. 

Se a gente chora? Lógico que sim. Mas limpamos nosso rosto porque temos mais pacientes precisando dos nossos cuidados e mais pacientes novos chegando para serem atendidos. Meu maior desafio é deixar a minha família, deixar a minha mãe em casa, e não poder passar mais tempo com ela. Sei que isso faz parte da nossa profissão, mas há momentos em que tudo o que a gente mais quer é estar com a nossa família. As pessoas precisam entender que não é só uma gripezinha, que o vírus não escolhe pessoas idosas ou com comorbidades, ele escolhe gente nova e saudável, e se não nos cuidarmos isso nunca vai acabar.

Pedimos: por favor, se cuidem, usem máscaras, não aglomerem! Isso é tão clichê não é mesmo? Mas mesmo assim parece que não é o suficiente. Nós, profissionais da saúde, estamos realmente cansados. Não é apenas a exaustão física mas a psicológica também. Tanta gente está morrendo... cada paciente que perde a luta é uma apunhalada no coração. Nos sentimos tão impotentes com o sentimento de que não fizemos o suficiente. Isso é tão frustrante, porque mesmo indo para casa descansar a gente não consegue parar de pensar no que poderia ter sido feito. Compreendo que devemos ser gratos pelas pequenas coisas da vida, porque cada momento é único. A vida é preciosa. Devemos agradecer por termos saúde, e, hoje em dia, por termos nossa família bem, com saúde também.

 

“As pessoas precisam entender que não é só uma gripezinha, que o vírus não escolhe pessoas idosas ou com comorbidades, ele escolhe gente nova e saudável, e se não se cuidarem isso nunca vai acabar”

 

Tanuzia Melo, técnica de enfermagem pela faculdade Nossa Senhora de Fátima, cursa graduação na FSG