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Escrita Estratégica

23/01/2020

Para o Mundo Ver de Perto

A 22ª Movelsul sinaliza: o móvel brasileiro é cada vez mais desejado internacionalmente  

À frente da Movelsul 2020 o presidente do Sindmóveis Vinicius Benini, juntamente com a comissão da feira, prepara uma vitrine do design de mobiliário do Brasil para o mundo ver de perto (Foto: Josué Ferreira) Vinicius Benini é o mais jovem presidente do Sindimóveis, entidade na qual já tinha desempenhado os cargos de vice-presidente e de diretor comercial (Foto: Josué Ferreira) "Na nossa região a indústria moveleira representa cerca de 50% da economia. A nível nacional, nosso polo também é muito expressivo: somos o maior do país. Exportamos uma boa fatia do que se produz aqui e atendemos grandes mercados internacionais" Vinicius Benini (Foto: Josué Ferreira)

“Será o grande evento da temporada apresentando os investimentos da indústria em inovação e a abertura para novos mercados”, prevê Vinicius Benini, anfitrião da 22ª Movelsul, como presidente do Sindmóveis, entidade realizadora da feira. “Design é da nossa natureza”, exalta o mote da ocasião, destacando o “terroir moveleiro” do polo, que agrega, além de Bento Gonçalves, outros três municípios gaúchos (Santa Tereza, Monte Belo do Sul e Pinto Bandeira). Juntos, eles somam 300 empresas do setor e conferem à região o título de principal núcleo moveleiro do Brasil.

A Movelsul é a maior feira de móveis da América Latina e o Prêmio Salão Design é uma perfeita amostra do DNA moveleiro nacional, que será apresentado na ocasião. O prêmio é o principal reconhecimento do design de mobiliário no país. De 16 a 19 de março de 2020, cerca de 30 mil visitantes deverão passar pelo Parque de Eventos de Bento Gonçalves para ver e tocar (desejo comum de quem compra móveis) os lançamentos de 200 expositores nacionais de alta escala, decoração, planejados e mobiliário corporativo. O público será qualificado, profissional e com intenção de realizar negócios. Entre os visitantes esperados, estão 300 lojistas nacionais e 100 internacionais, trazidos pela feira para descobrir, além do talento brasileiro para o design de móveis, a capacidade de inovar e de absorver as tendências de consumo mundial.

Até 2009, Vinicius Benini era estagiário. Hoje, aos 32 anos, graduado em Comércio Exterior, com MBA em Marketing (ênfase em vendas), é diretor da Pozza S/A, indústria de móveis de Bento Gonçalves, possui fluência em inglês, se comunica bem em espanhol e, se a negociação exigir, desenvolve a conversa em mandarim. Benini também é o mais jovem presidente do Sindmóveis, entidade na qual já havia desempenhado os cargos de vice-presidente e diretor comercial. Tranquilo, ele conta com a experiência e o conselho de antigos presidentes e com um jeito jovem de perceber a relação entre as empresas que sustentam o polo, como pares, mais do que concorrentes. 

O avanço pessoal de Benini nos últimos 10 anos espelha o setor que ele representa. A seguir, você acompanha a conversa dele com a NOI sobre o que os investidores verão na próxima Movelsul. De acordo com ele, as indústrias brasileiras aprendem cada vez mais com o mercado internacional. Ele destaca, com ênfase, que o mundo precisa conhecer a região mais próspera do setor moveleiro no Brasil.

Caroline Pierosan: Como o polo moveleiro de Bento Gonçalves se posiciona no mercado mundial do setor?

Vinicius Benini: Na nossa região a indústria moveleira representa cerca de 50% da economia. A nível nacional, nosso polo também é muito expressivo, somos o maior do país. Exportamos uma boa fatia do que se produz aqui. Atendemos grandes mercados internacionais. Reflexo disso é o que estamos proporcionando agora, na Movelsul 2020: a presença de mais importadores na feira.

Quais são os principais mercados consumidores do nosso produto?

V.B.: Estamos muito próximos do Mercosul. Isso acaba favorecendo, para muitas empresas, a exportação para países vizinhos. No entanto, nos últimos anos percebemos um crescimento importante da exportação para os mercados europeu e americano. Há, nesses países, o desejo de consumo de móveis brasileiros. O legal é que muitas das nossas empresas estão fomentando e fortalecendo o design brasileiro em nível mundial.

O que os 100 compradores internacionais que vêm para a feira encontrarão de diferente no móvel brasileiro produzido pelo polo nesse ano?

Primeiramente, qualidade de design. Além disso, tudo o que envolve o produto, além do móvel, em si, o serviço, a ausência de necessidade de assistência técnica, a montagem da embalagem, as condições de entrega. O mercado americano se preocupa muito com essas questões. Os importadores que nos acompanharão aqui na Movelsul 2020 vão encontrar essa segurança em todas as empresas expositoras.

Quais são as características do design do móvel brasileiro que mais chamam a atenção do mundo?

Os detalhes. Podem estar em um puxador ou em um pé diferente, talvez em uma cor exclusiva, em um revestimento. São tendências, como o minimalismo, que absorvemos participando de feiras e entendendo o mercado global. “Menos é mais” é um argumento forte e pode ser um grande diferencial. Nossas empresas tiveram que se adequar para atender às tendências de consumo do exterior. O design brasileiro é muito criativo e isso tem a ver com a demanda por móveis híbridos. Precisamos criar móveis que possam adequar-se ao maior número possível de espaços. Por exemplo, uma cadeira que sirva para diversos tipos de ambientes; um rack ou uma estante que possa ser utilizada em vários lugares, que funcione como coringa. A versatilidade chama muita atenção. Esse é um dos nossos pontos fortes.

A feira proporciona rodadas de negócios; o que diferencia essa oportunidade de uma reunião isolada entre comprador e vendedor?

Aqui o comprador poderá ter contato com pelo menos 250 empresas em um único lugar. O vendedor, por sua vez, conta com a presença de compradores atentos às novidades. Esse ambiente onde se pode ver (e tocar!) os produtos em uma grande variedade de estandes, de diversas empresas, favorece a compra. Para o vendedor, poder mostrar o móvel para clientes em potencial, com real intenção de compra, em um local preparado para fomentar essa relação, gera ainda mais argumentos de venda.

Qual é a importância do item móvel no mercado?

A relevância do móvel é muito grande para o consumidor. Costumamos falar que é “a cereja do bolo”, já que dá a característica da própria pessoa aos ambientes. Você compra seu eletroeletrônico, sua linha branca, sua geladeira. Mas também quer ter o móvel. Muitas vezes, não tem a televisão (e não se precisa, necessariamente, ter uma televisão), mas é preciso ter o sofá! (risos).

Qual é o perfil do principal comprador de móveis hoje no país?

Estatisticamente, o principal consumidor de móveis tem entre 30 e 45 anos. Temos expressividade de compradores da classe C e uma relevância maior da mulher entre os consumidores. A mulher tem um papel importante na decisão de compra de móveis.

Há uma nova geração de consumidores que valoriza mais a experiência do que a aquisição de produtos. Como lidar com os desafios e oportunidades geradas a partir do comportamento desse novo cliente?

A gente enxerga hoje, no e-commerce, por exemplo, uma grande valorização da experiência, que não se refere só à aquisição do móvel, mas a tudo que envolve o processo de compra. Costumamos dizer hoje que não basta produzir o móvel, é preciso prestar o serviço, ter uma entrega rápida, e um produto sem necessidade de assistência técnica (ou, se tiver, a correção precisa ocorrer de forma muito rápida). O consumidor compra um móvel na expectativa de receber todo esse serviço.

Como a indústria e o mercado estão conduzindo a jornada de compra desse consumidor?

Nós temos estatísticas. Mas entender quem, de fato, é o nosso cliente é uma pergunta que a maioria das empresas leva para a reunião de toda segunda-feira. Preço, design, agendamento de entrega. O que ele busca? Ainda que tenhamos informações, é sempre um desafio entender perfeitamente quem é esse consumidor para podermos abraçá-lo.

Qual a importância dos espaços físicos de varejo em relação aos ambientes virtuais no segmento moveleiro? Como é a dinâmica entre loja física e e-commerce no setor?

Ambos os espaços, físico e virtual, são importantes. O e-commerce vem assumindo um papel significativo no nosso polo, no mercado moveleiro e em outros segmentos. Mas é importante trabalhar no equilíbrio entre online e offline. Já não vemos grandes lojas, mas sim, espaços menores, com mix reduzido de produtos, mas que têm “a mãozinha” do online para poder mostrar ao consumidor toda a variedade de produtos. Hoje não compensa ter uma loja de 300 m2, até porque a gente sabe que em uma loja assim, apenas 30% do que está exposto realmente será vendido. O que está no ambiente é mostruário, são peças para preencher a parede. É vantagem de ter uma loja menor e usar o online para mostrar a diversidade de produtos. Um espaço complementa o outro.

Por que a loja física ainda é necessária?

Muitos consumidores ainda querem tocar, ver de perto, abrir as gavetas. Mesmo nós, que somos do ramo, temos dificuldades de visualizar certos móveis no meio virtual, então imagine quem não é familiarizado. Sofá, por exemplo, é um dos itens mais vendidos na internet. Mas, mesmo com esse produto, há a necessidade de ver ao vivo, tocar o tecido, sentar! Por mais que o online venha crescendo – e tenho certeza de que vai continuar – a loja física é necessária. A tendência é que essas duas frentes se integrem e se complementam cada vez mais.

Processo, produto ou comunicação? Qual é o principal movimento na indústria moveleira em inovação?

Da mesma forma que não é suficiente produzir o móvel (é preciso entender toda a experiência) a produção também precisa atender a esse consumidor. Dentro das empresas, a gente tem que se atualizar. O parque fabril precisa buscar melhores acabamentos melhores matérias-primas. O mesmo ocorre no desenvolvimento de produto, precisamos, constantemente, buscar novas alternativas. O design representa bem esse movimento pela inovação. Estamos indo para o 23º Prêmio Salão Design. A gente enxerga esse apelo. As pessoas buscam o que está além do móvel, o conforto, a estética, a funcionalidade, a versatilidade. Design é uma palavra que está entre as prioridades do novo consumidor.

Nessa 23º edição do prêmio Salão Design, as cinco categorias foram chamadas de “desafios”  (Desafio dos Espaços em Transformação; Desafio da Identidade Brasileira 2020; Desafio do Uso do Painel; Desafio da Tecnologia Embutida e Desafio das Experiências Positivistas). Qual o peso desse termo para o prêmio e para o mercado?

De todas as edições do prêmio, essa é a mais alinhada com o cenário atual. Hoje não adianta termos um produto maravilhoso, mas que na ponta não seja vendável, ou que inviabilize a produção. Por isso, usamos a palavra desafio. Design não é simplesmente desenhar um produto. Além de projeto, ele precisa beneficiar a produtividade. E isso não significa, necessariamente, ser um produto fácil de produzir, mas, sim, ser viável. E, principalmente, vendável. Um produto pode ser lindo, mas, se não há quem queira comprá-lo, ele não possui o requisito básico para ser produzido.

Aqui na Serra são cerca de 300 empresas, entre Bento Gonçalves e arredores, que formam o polo moveleiro. Como esses grupos, que concorrem, podem trabalhar de forma colaborativa?

Estamos buscando, cada vez mais, unificar essas empresas – de Bento Gonçalves, Santa Tereza, Monte Belo do Sul e Pinto Bandeira – no Sindmóveis. A proposta é juntar interesses. Nem sempre é fácil. A minha geração enxerga de forma diferente a questão da colaboração. Se eu ficar receoso de chamar um concorrente para uma reunião, eu não estou fazendo meu trabalho direito. Primeiramente, porque no mercado há espaço para todos que têm um trabalho coerente e sério. Talvez a geração mais antiga tivesse esse receio. Hoje a gente tem que entender que o que as empresas querem é aproximar as pessoas. Unidos, somos mais fortes do que trabalhando por interesses individuais. E eu não digo isso somente em relação ao Sindimóveis, mas também como empresa. Outras empresas podem me ajudar a buscar novos mercados e a desenvolver produtos. Parcerias colaborativas são muito importantes.

A Serra (tanto no setor moveleiro quanto nos demais) pode ser mais conhecida e se relacionar melhor com os mercados mundiais? O que é preciso fazer para isso?

O mercado mundial pede essa abertura. Temos que estar presentes no mercado internacional. Não existem mais barreiras. Vemos isso no Sindimóveis. Recentemente, tivemos algumas empresas expondo na China. O Brasil é gigantesco, mas temos muitas oportunidades “lá fora”. Precisamos sair do nosso mundinho, visitando eventos, entendendo quem é o nosso público no exterior, aprendendo uma nova língua, conhecendo uma nova cultura. Tudo isso é importante para que estejamos no mercado internacional. Às vezes, a empresa quer exportar, mas não entende a cultura de quem importa e o que precisa para o seu produto entrar naquele mercado. Isso só se aprende de uma forma, estando lá.

Como você, sendo tão jovem, se sente como presidente dessa entidade séria e consolidada, situada numa região tão tradicional?

Tem um certo peso. Isso pelo Sindmóveis ter uma representatividade muito grande aqui no nosso município e por terem passado tantos outros empresários por este cargo. Mas eu me sinto muito confortável porque temos uma equipe boa. Os próprios diretores são meus conselheiros, então eu me sinto muito tranquilo porque eu tenho todo o respaldo e a experiência de ex-presidentes e diretores na equipe. Meu desafio é deixar uma marca positiva da minha gestão.

 

Assista ao vídeo dessa entrevista:

 

ENTREVISTA | CAROLINE PIEROSAN
FOTOS | JOSUÉ FERREIRA