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Escrita Estratégica

09/09/2019

Propósito, Método e Mentoria

Ouvir Luciano Vital trouxe novas perspectivas e esperanças, além de fazer despertar muitos sonhos e planos de inovação para a minha empresa

"Ser empresário é uma profissão solitária, você está lá cuidando da sua empresa e, às vezes, não tem com quem dividir uma ideia, não tem para quem perguntar, ou consultar. Aí entra o papel de mentor" (Selfie Caroline Pierosan, Luciano Vital e Josué Ferreira) "A vida da gente, como de qualquer empresa, é um ciclo. Quando chegamos no ápice desse ciclo naturalmente ele vai para maturidade e começa o declínio. Temos que saber a hora de iniciar o novo ciclo, de transformar o negócio" (Selfie Caroline Pierosan, Ariane Heinnen e Luciano Vital) "Muitas vezes o sucesso e o excesso de confiança nos cegam e não conseguimos mudar o modelo de negócio. Por que está funcionando e aí entra aquela frase famosa &quotem time que está ganhando não se mexe". Se mexe sim!" (Foto: Ariane Heinnen) "Metade da população do mundo ainda está fora das redes sociais. Imagina o potencial de crescimento? Tem gente que pergunta "ué, mas não está saturado demais já?". Não está saturado, a verdade é que nem começou. O movimento ainda é longo" (Foto: Ariane Heinnen) "A grande sacada hoje é a gente utilizar a inteligência do consumidor para melhorar a nossa empresa. Só que é preciso estar aberto para isso" (Foto: Ariane Heinnen)

Fui convidada para a palestra do Luciano Vital por uma amiga querida. Em meio ao frenesi do dia a dia, fiz um esforço imensurável para poder participar, afinal, o tão almejado momento chamado “tempo livre” não costuma chegar para mim. Entretanto, priorizar o convite se provaria uma grata e surpreendente aventura. Eu não podia imaginar que aquele encontro seria a lifechanging experienceTotally! Saí da palestra com a mente e coração tão impactados que precisei de alguns, não, vários dias para digerir tudo o que ouvi. 

Para alguém relativamente desanimada com as “coisas como estavam” em minha empresa, cidade e “esquema de vida”, ouvir Vital foi como receber banho de ânimo. Perspicaz, enérgico, cheio de dados, exemplos e histórias, além de detentor de conceitos bem definidos, ele pode falar por uma, duas, três horas sem cansar quem o escuta. Pelo contrário! A cada frase uma nova sensação, uma pertinente reavaliação pessoal e mil planos que começam a se formar na imaginação. Foi praticamente como tirar uma venda dos olhos! Ouvir Vital me trouxe novas perspectivas e esperanças, além de muitos sonhos e planos de inovação para a minha empresa. 

Quando o palestrante voltou à cidade, cerca de dois meses depois, novamente fui escutá-lo. Dessa vez não poderia deixá-lo passar assim, sem ter certeza de poder compartilhar com nosso público toda a relevância da sua presença. Em Caxias do Sul, Luciano Vital é responsável por mentorear, hoje, cerca de 14 empresários. Ele acompanha 70 empreendedores na Região Sul do país e cerca de 500 pessoas em todo o Brasil.

Eis um apanhado breve, porém totalmente relevante, de suas principais ideias e propostas. A seguir Vital expõe um pouco dos conceitos que trata em suas mentorias, palestras e aconselhamentos.  Imprescindível e imperdível!

Caroline Pierosan: No último ano você treinou 15 mil pessoas, mentoreou 500 empresários, adquiriu 102 empresas e vendeu 80. Como administrar isso tudo e ainda ganhar alcance nas redes sociais?

Com um método consistente e com pessoas boas te assessorando. Pessoas que têm o mesmo propósito que façam as coisas acontecerem. Também é importante fazer o que se gosta. Daí a gente não cansa, mas se diverte, trabalhando. Quando você tem um propósito e gosta do que faz tudo flui. É como o jogador de futebol, joga domingo, quarta, domingo de novo, treina durante a semana. Agora o método também é importante. Eu uso o método Harvard Business Schoole do MIT. São 13 anos de estudo lá. Agora estamos trazendo para o Brasil essa metodologia para aplicar nas pequenas e médias empresas, principalmente. 

Por que estás focado em trabalhar no Brasil hoje?

Temos aproveitado esse momento em que o país vai crescer. Acreditamos no Brasil, que é maravilhoso. Somos hoje, por volta de 150 sócios operando. São muitas empresas, muitos colaboradores, fornecedores e parceiros de negócios. Temos desenvolvido os clubes de mulheres. A proposta é a da economia colaborativa, um trabalho com parceria, em que fazer as coisas juntos é o mais importante. 

Por que as pessoas ou as empresas precisam de um mentor?

Eu sou caipira do interior de São Paulo. Então uso a uma analogia para definir o papel de um mentor. Ele é alguém que já “passou pelo mato”, e que deixou “a trilha mais baixa”. Você pode até tentar buscar o seu caminho, mas, se alguém conseguir te acelerar e te alertar em relação a problemas futuros, a partir de experiências próprias, vai ajudar muito. Eu tenho os meus mentores. São cinco pessoas que cuidam de mim hoje. O programa de mentoria que estou trazendo é para ajudar os empresários, principalmente os de pequeno e médio porte, no Brasil. Ser empresário é uma profissão solitária, você está lá cuidando da sua empresa e, às vezes, não tem com quem dividir uma ideia, não tem para quem perguntar, ou consultar. Aí entra o papel de mentor.

O mentor não tem nada ver com terapeuta, psicólogo, psicanalista?

Não. Às vezes o pessoal pergunta “mas isso aqui é coach ?”. Não, não tem nada a ver. A gente fala de negócios, de problemas da empresa, problemas de operação, comerciais, administrativos, financeiros, problemas de estratégia. O objetivo é fazermos o negócio ter um resultado melhor. Nosso foco é dobrar o resultado das empresas. Nossa mentoria é focada nisso, em aumento de resultado.

Às vezes isso vai exigir que o empreendedor trabalhe um pouco da sua personalidade, da forma de gerir a sua equipe. Vai fazê-lo pensar um pouco em seu lado pessoal também?

Sim, você não consegue separar a pessoa das coisas e do negócio. Quando a gente identifica um ponto em que o empresário pode melhorar, ou alguma característica pessoal que ele precisa trabalhar, usamos programas de parceiros nossos. São técnicas e serviços de terceiros que podem ajudar a pessoa a alavancar. 

Mentoria é um conceito não tão familiar aqui na Serra Gaúcha. O que que as pessoas mais te perguntam e quais são as principais dúvidas? 

Nosso trabalho começou aqui há mais ou menos noventa dias. Temos hoje 14 empresas mentoreadas na Serra Gaúcha, 70 empreendedores sob minha supervisão na Região Sul. No Brasil são 500 empresários assistidos. O que eu sinto é que existe obviamente uma resistência no início, como existe em qualquer interior de qualquer lugar do mundo. Mas aqui no Sul há muita gente inteligente, muita empresa, muito visionário. Então a ação tem escalado numa velocidade legal. Temos sentido o crescimento da adesão dos empresários. Aqui no Sul as pessoas são sérias. Trabalham arduamente e, quando percebem o resultado, a coisa funcionando, entendem o “porquê”. Não tenho dificuldades aqui, pelo contrário acho uma das melhores regiões do país para trabalhar, muita gente séria e muita gente que cumpre o que fala. E isso é fundamental.

Quais são as métricas utilizadas para medir os resultados das mentorias?

Primeiro medimos a situação atual. Aí montamos a métrica mais estratégica para aquele mentorado. Na média temos conseguido dobrar resultado em 90 dias. Algumas empresas têm esse resultado em um mês, algumas em um ano. Mas a nossa média tem sido entre 90 e 120 dias. Temos conseguido dobrar o resultado, seja ele lucro líquido, faturamento, número que clientes... Qual é a principal métrica para aquele empresário naquele momento? Isso a gente define junto com o mentorado da empresa. 

Isso pode envolver a mudança no modelo de negócio? 

Quando olhamos para o Brasil em crise, entendemos que estamos em crise porque não aprendemos o novo modelo de negócio. O mundo está aí, crescendo 3, 3,5% em média, ao ano, e o Brasil perdeu esse passo. Isso porque perdemos o modelo de negócio. Nós tínhamos um modelo, vamos dizer assim, “pré - Lava-jato”, e agora estamos adotando um modelo “pós Lava-jato”. Estamos aprendendo a fazer negócios novamente. Se a economia mudou, o mundo mudou. Só que o Brasil está mudando um pouquinho mais lentamente, mas vai chegar lá!

Se os resultados são tão rápidos na mentoria, por que que o ciclo de assessoria dura pelo menos um ano; Por que esse período mais longo? 

A média é 90 dias, 120 dias, mas se demorar um pouco mais não tem problema. A meta tem que ir mudando. Então você vai criando outras metas, melhorando outras coisas. Fazemos esse projeto durante um ano porque queremos, principalmente, que a mudança se consolide. Que o próprio empresário tenha tempo de mudar o negócio dele e aplicar a mudança em um ou dois ciclos. Fazemos o acompanhamento. No primeiro momento criamos um novo conceito, incentivamos ele a fazer negócios na nova economia, ajudamos a entender o que está acontecendo de novo no mundo. No módulo dois, vemos como isso se aplica no seu negócio. Montamos o plano e, depois, seguimos, acompanhando a sua execução.  

A mentoria é principalmente voltada para quem? Empresas pequenas, médias ou grandes? 

Acompanhamos hoje desde startups até pessoas que estão querendo criar um projeto novo, até grandes empresas, que faturam mais de um bilhão. A metodologia se aplica, o tamanho não importa. O que importa é ter essa vontade de transformar, de ter resultado. Vemos hoje startups nascendo com valores de mercado bilionários, e, em contrapartida, vemos grandes empresas com grandes dificuldades, porque não adotaram um novo modelo de negócio, seja na parte estrutural, na parte administrativa, na área financeira ou comercial. A estratégia ficou velha, cansou. Muitas vezes você tem lá o patriarca ou a matriarca da empresa, que não conseguiu gerar um sucessor, e ainda está “com a mão no negócio”. Como você faz a transformação? A vida da gente, como de qualquer empresa, é um ciclo. Quando chegamos no ápice desse ciclo naturalmente ele vai para maturidade e começa o declínio. Temos que saber a hora de iniciar o novo ciclo, de transformar o negócio. Temos exemplos de grandes empresas que não se transformaram e desapareceram, como a Kodak, que não entendeu que era uma empresa de imagens. Achava que era uma empresa de filmes (e desapareceu). O interessante é que ninguém deixou de tirar fotos. Pelo contrário. Se pegarmos o mercado de fotos, ele se multiplicou milhares de vezes. Se a Kodak, por exemplo, tivesse se transformado no momento certo, ela seria hoje uma empresa multibilionária, como já foi, no passado.

O principal erro seria se apegar a forma e não a essência?

Muitas vezes o sucesso e o excesso de confiança cega a gente e não conseguimos mudar o modelo de negócio. Por que aquilo tá funcionando e aí entra aquela frase famosa “em time que está ganhando não se mexe”. Se mexe sim! Transforma sim! E é ali que a gente deve investir. Por exemplo, vemos os bancos brasileiros, que são bancos que têm balanços maravilhosos, e rentabilidade maravilhosa, comprando a Finthecs.Isso porque daqui a pouco pode vir uma Finteche desaparecer com um banco. Então o banco tem que estar ligado ao que é inovação ao que é modelagem nova de mercado. O mercado está mudando, o consumidor está mudando. A geração nova vai pensar diferente. Vamos usar como exemplo a indústria automobilística. Ela vai ter que se transformar. E carro vai ser não tripulado e compartilhado. Não adianta ficar fazendo carro para jovens de 18 anos. O jovem anda de Uber, não quer ter que se preocupar com seguro, IPVA, onde estacionar, se bebeu ou não na balada. Muitos não querem nem tirar a carteira de motorista, porque a vida deles está funcionando assim.

Há algum segmento que fica fora da rede (internet)?

Não. A rede é para todos. Se o seu segmento não está ali ainda, eu acho que, entrar antes que os demais, é uma grande oportunidade. Tem gente entrando na internet todos os dias. As redes sociais estão aí e só vão crescer. Metade da população do mundo ainda está fora delas. Imagina o potencial? Tem gente que pergunta “ué, mas não está saturado demais já?”. Não está saturado, a verdade é que nem começou. O movimento ainda é longo. Quando olhamos para a internet das coisas, ou para inteligência artificial, para a realidade virtual, para a realidade aumentada... tem muita coisa vindo. Nossas casas ainda não são inteligentes. Há muitas coisa na área da biotecnologia, da nanotecnologia. As redes vão ser cada vez mais importantes.

Há muitos empresários que são mais tradicionais, principalmente os fundadores das empresas aqui da Serra Gaúcha. Esses têm pavor de adentrar o mundo da internet, principalmente por causa dos haters. O temor é do que pode acontecer se expuserem a sua marca ali. Temem que não dê tempo para lidar com as reclamações, e que seja contraproducente. Por mais que muitas vezes o produto seja ótimo. O que tu tens a dizer sobre isso?

O hater faz parte. Se o hater um debatedor de ideias, se está trazendo um contraditório, ele vai ajudar a criar um segmento. Vai ajudar nossa empresa ficar mais inteligente, ajudar a gente a se desenvolver. Obviamente, em relação ao haterque vai atacar você, ou à sua família, para esses caras é processo, é polícia, é outra forma de solucionar problema. Mas o haterde ideias, que questiona conceitos, ele é fundamental para que possamos crescer, para evoluir, para melhorar. Olha que interessante, quando vem um hater atacar você, vem dez loverste defender! Ou seja, a tua base de clientes se fortalece, porque você tem espaço para fazer o contraditório, para mostrar as suas ideias e se fixar ainda mais. Não tem nada que não tenha contraditório no mundo. Os “hatersdo bem” são bons para o negócio, até para a gente evoluir

E se a marca tiver mais haters que lovers?

Aí ela tem um problema até no mundo real. A internet é só uma amostra do que é a sociedade. Só está dando voz para o que as pessoas sentem. Se elas sentem caladas ou sentem na rede, elas sentem. Eu prefiro que isso esteja na rede, para que a gente possa resolver, do que esteja calado, e você não vai conseguir saber. Daí do dia para a noite, o negócio simplesmente desaparece, e você não sabe o porquê. Todo o desenvolvimento de produto vem de ideias, de coisas que se combina. Tem muita gente que hoje é presidente de empresa, líder de negócio, que não está conseguindo ouvir tudo o que o consumidor está pensando. A internet pode ser vista como uma ouvidoria, como um SAC, por exemplo. São pontos de contato com o cliente. Muita coisa boa chega disso e muita crítica construtiva também. A velocidade dessa informação é muito grande e o importante é ter essa postura ativa de se transformar, de estar inovando, de entender que o consumidor vai ajudando você a construir o seu negócio. As empresas hoje precisam ser “Always Beta”, ou seja, estar sempre em uma versão nova. O próprio consumidor vai dizendo para você para onde você tem que ir. O Uber é um exemplo, você dá a estrelas para o motorista e ele as dá para você. Os dois lados vão melhorando. A rede social e a mídia vão nos ajudar a crescer e a melhorar os nossos pontos.

Estamos observando muita informalidade e velocidade na rede social. Para um empresário que é perfeccionista e que construiu uma empresa, ao longo de toda uma vida, com todo o cuidado, pensando na qualidade do produto, é um pouco difícil aceitar essa ideia de estar o tempo todo “postando de qualquer jeito”. Devemos continuar primando pela qualidade também nos produtos que postamos... fazer uma super arte, um super vídeo, uma super produção, com luz, por exemplo, ou temos que ser um pouco mais velozes e menos apegados a isso?

O que temos visto que funciona mais é a “superverdade”. O consumidor quer a verdade, não uma coisafake, uma coisa montada. Ele quer saber o que você usa, qual é a sua realidade, o que você como líder está fazendo, se sua vida é coerente com aquilo que você fala, então não adianta você vir com um discurso, e na prática ser outra coisa. É muito mais importante a comunicação verdadeira em boa quantidade, do que pouca quantidade de algo muito montado. Dentro das mídias sociais temos essa oportunidade. Você vê o presidente do Brasil sendo eleito nas mídias sociais. Vemos o presidente norte-americano Trump coordenando o mundo com o Twitter todos os dias. Então acho que esse momento que a gente vive é o momento da possibilidade. As pessoas querem saber como você vive na sua casa, como são seus negócios. As negociações são de gente com gente, então essa conexão é importante. Se você procurar os líderes das grandes empresas mundiais, o Instagram deles é aberto. As redes são abertas para que haja a interação. Tudo aquilo que você não diz (por que o óbvio tem que ser dito) as pessoas fantasiam. E elas fantasiam como querem. Por isso é importante você fazer a comunicação da superverdade. Claro que qualidade é bom, mas, mais importante que qualidade, é a verdade e a informação correta, em quantidade correta, no tempo certo.

E para quem é empreendedor e não gosta de se expor?

Em todo negócio tem alguém que gosta de se expor, tem alguém da área comercial, da área de marketing, você pode nomear embaixadores, pode procurar técnicas para isso. Eu penso que hoje, na liderança, como você tem que se expor dentro da sua empresa, com seus clientes, com o seu mercado, a mídia correta é só mais um lugar em que você pode estar. Por exemplo nós dois, aqui, poderíamos estar falando tudo isso tomando um café. Mas ao invés disso estamos compartilhando com quem vai assistir. Podemos colaborar e melhorar a sociedade desse jeito. Se a gente compreende esse valores, que a gente está fazendo o bem para mais gente, que a gente está multiplicando isso, perdemos a vergonha e o medo de fazer.

Então as pessoas já estão se expondo, elas só não estão entendo a importância de se mostrar para o mundo. É Isso? 

Isso! E esse é o nosso trabalho como líderes de empresas, de negócios, de mercado. Quem lidera precisa se expor.  

Tudo hoje passa pela mídia social, pela interenet, e tem-se falado muito de internacionalização dos negócios, e de nós mesmos, como pessoas. Tu focas muito também na questão da longevidade, de que vamos viver muito, que vamos ser produtivos durante muito tempo, de que aos 40 anos de idade a gente ainda está começando novos projetos. Como fica nossa reputação virtual ao longo da vida, já que aquilo que a gente posta vai ficar lá para sempre, e se a gente quiser mudar de ideia, se quiser mudar de vida? 

A verdade, de novo! Ninguém era uma coisa lá há 10, 20 anos e vira outra hoje. O que você vai mostrar é exatamente essa evolução. Você não precisa estar preso a um conceito do passado, você pode acreditar numa coisa ontem e hoje transformar suas ideias. As coisas são dinâmicas e evolutivas e acho que a gente tem que ser assim na nossa vida. Vamos estar sempre evoluindo. Tem um hashtagque eu sempre uso que é #maisemelhor. Estamos em constante transformação.

Hoje a estratégia é oferecer um produto (ou um projeto) ao mercado, verificar se ele é bem aceito, se vende, e, depois que foi vendido, produzir e entregar. Qual é o risco de oferecermos algo, vendermos um monte, expormo-nos e, depois, na hora de entregar, algo que fugiu do nosso controle (ou não dependia só da gente) prejudicar a nossa entrega, manchando nossa reputação? 

De novo, a superverdade. Se eu estou fazendo um teste eu tenho que avisar que estou fazendo um teste. Se eu estou lançando uma versão beta então eu devo avisar que vou fazer uma versão beta. Se eu vou abrir um hotel, temos que dizer que é um softopening. A gente dá um desconto para que o cliente experimente o hotel e dê sugestões no final. Ele vai opinar dizendo se a lavanderia está boa, se o serviço de copa está bom, se o quarto precisa melhorar alguma coisa. A grande sacada hoje é a gente utilizar a inteligência do consumidor para melhorar a nossa empresa. A grande questão é se você está aberto para isso. O que é importante, é você utilizar o cliente. Utilizar a sua base com a verdade mostrando seu caminho. Os erros precisam ser corrigidos rápido. Só que no Brasil a gente tem muito medo de errar porque fomos criados para não errar, éramos punidos quando errávamos. O americano tem um princípio que é o “willing to fail”, que significa, “vontade de errar”. Ele erra, erra, até acertar. O importante é você corrigir o erro. O consumidor satisfeito é aquele para quem você corrigiu o erro. Com quem você interagiu. Você tem que mensurar até onde o consumidor está querendo lesionar a empresa e até onde ele está tendo boa fé. Esse é o ponto. Aqui no Brasil a gente está sempre querendo mudar os contratos. Nos EUA, está combinado? Então está combinado! Eu acho que contratos bem feitos e claros são importantes. Se você tem isso muito claro para seu cliente acho que a coisa funciona bem. Essa tem sido a nossa experiência.

Você fala muito do ecossistema positivo, o que é isso?

O Ecossistema é quando a gente fala, por exemplo, do Vale do Silício, ou da Câmara de Comércio. São grupos de pessoas que estão colaborando para fazer mais e melhor. São empresas que vão se desenvolvendo juntas. Quando você está em um bom ecossistema você pega a ideia de um, em seguida a ideia de outro e monta uma terceira ideia. São meios colaborativos, como o corpo humano. O nosso pulmão colabora com o coração e a coisa vai funcionando bem. É muito importante que todas as empresas que se tornarem muito grandes façam parte de um bom ecossistema. Por exemplo, aqui em Caxias do Sul, vocês têm um bom ecossistema industrial que funcionou muito tempo, muito bem. Se você pegar o polo petroquímico lá no Rio de Janeiro, ou o coredo mercado financeiro de São Paulo... são polos, são ecossistemas funcionando. Outros exemplos são o Wall Street, o Vale do Silício. Estar inserido em um bom ecossistema é fundamental. Até porque hoje a gente fala em viver 70, 80 anos (ouvimos que não vai mais ter aposentadoria, não só pela questão da previdência, mas principalmente por causa do nosso cérebro - quando a gente para de trabalhar a probabilidade de termos Alzheimer ou Parkinson aumenta muito); então vamos ter que trabalhar para o resto da vida e isso significa fazer o que a gente gosta. Quando a gente faz o que gosta isso vira umlifestyle, você quer fazer mais. O trabalho deixa de ser um peso. Quando a gente olha a geração nova ela não vai trabalhar com aquilo que não gosta. As pessoas procuram, cada vez mais, fazer coisas que proporcionem prazer para viver melhor. Um livro muito legal que eu indico é “O Jeito Harvard de Ser Feliz”. Aí é que está o grande ponto. Para termos sucesso em alguma coisa precisamos estar felizes, e não pensarmos em sermos felizes “depois” do sucesso. Nós estamos aqui trabalhando no sábado juntos, porque a gente gosta do que está fazendo e é um prazer estar aqui, desde cedo, então esse é o mundo novo, o jeito novo! Essa convergência das coisas funciona muito bem. Quando a gente olha o celular, ele é uma convergência. Claro que tem pessoas que entram para o lado nocivo disso. Mas a grande maioria utiliza de uma forma boa. O nosso celular nos dá muitas funcionalidades e vivemos muito melhor hoje. Vivemos mais também, com muito mais produtividade. Agora cabe a nós sabermos dividir isso. Sabermos ter o nosso momento de família, o nosso momento de trabalho, de viagem... e equilibrar tudo isso de uma forma tranquila. 

Você já deve ter ouvido que isso é muito bacana, mas que funciona lá nos EUA. Já “aqui na Serra Gaúcha, você não sabe como é”. Para as pessoas que dizem que essa metodologia não funciona no seu contexto, na sua cultura, na sua comunidade, que a cidade é muito difícil, que a família empresária é tenebrosa...  

A gente tem esse diálogo, posso dizer, em todas as regiões do país. Em todos os lugares isso funciona. As pessoas querem ganhar seu dinheiro, sair com os amigos, ter lazer e prazer. Essa metodologia e o estilo de vida novo tem funcionado no mundo todo! Quando você pega as crianças, por exemplo, elas estão no mundo todo, assistindo as mesmas coisas, brincando das as mesmas coisas. Por exemplo, quando o jogo do Pokémon Go foi lançado, foi a coisa que escalou mais rápido na história. Mais de 50 milhões de usuários instalaram o programa em torno de 18 dias. Isso foi o que o rádio levou faz uma década para fazer. Então as pessoas estão vivendo muito mais convergentes e a globalização faz isso. Faz com que você seja convergente, porém mantendo suas particularidades. Quando você pega coisas como Uber, Instagram, Whatsapp... são coisas que facilitam a nossa vida e que atendem às necessidades das pessoas no mundo todo, na Índia, na China, no Brasil, no México, nos EUA, temos muita coisa funcionando igual. 

Você fala no termo “Give Back”, o que é isso?

Se a gente quer ter um mundo melhor para os nossos filhos e para nós mesmos, temos que assumir nosso papel de líderes. Temos que levar as nossas ideias, aquilo que a gente acredita, os nossos valores, o nosso propósito, adiante. Não adianta a gente reclamar de governo, de fulano e de ciclano. A responsabilidade é nossa, como líderes, de fazer o mundo se transformar, de levar o mundo para o lado que a gente quer. A Harvard tem muito isso de educar líderes que transformam o mundo. Esse é o nosso papel, esse é o nosso giveback para a sociedade. Por exemplo, eu não cobro as palestras. Se o anfitrião cobrir minhas despesas, eu dou a palestra gratuita. Essa é a minha forma de dar o meu tempo para levar conceitos que eu acredito que são bons e que trazem resultados. Para gerar renda para mais famílias. A gente tem projetos grandes focados em mulheres porque quando você gera renda para uma mulher você está alterando a história daquela família. Se uma mulher ganhar mil reais a mais ela vai investir esse dinheiro na alimentação, na saúde, e na educação dos filhos. Com isso a gente muda a sociedade. Nós temos que dedicar um pouco do nosso tempo, e da nossa energia, para devolver coisas para a sociedade. Precisamos separar um tempo para isso. 

Quando foi que você decidiu, “vou ser mentor”?  

Em 2016 eu estava numa conferência em Harvard, cujo tema era a situação do Brasil. Naquele momento a gente analisava a situação do Brasil e a minha pergunta (para mim mesmo) foi ‘eu atendo grandes empresas e grandes empresários, fazendo cinco, dez projetos ao ano’, mas e aí?  Então a pergunta que me fizeram foi, ‘por que não atender a mil, dez mil pessoas por ano’? Aí a gente criou a metodologia e eu propus, “vamos testar, vamos fazer um projeto para pequenas e médias empresas, que são as que alavancam a maioria das economias e das pessoas”.  Esse foi o momento em que eu achei que o meu trabalho podia contribuir mais. Que eu poderia ter um ecossistema maior. Que poderíamos envolver mais gente. Por exemplo, aqui em Caxias do Sul. Se treinarmos 100 empresários por ano, quando tivermos 500 empresários treinados vamos ter uma cidade diferente. Se tivermos mais umas 500 mulheres empoderadas, teremos uma cidade diferente. Assim criamos os polos positivos. Assim mudamos o Brasil e o mundo, na minha opinião.

Por que, sendo um homem com tanta influência, potencial e alcance, você escolheu empoderar as mulheres ao invés de influenciar homens poderosos?

As mulheres têm um amor diferente dos homens. O homem é mais competitivo e a mulher é mais colaborativa. A mulher cuida mais dos filhos. Se hoje a gente tem um mundo um pouco mais feminino, com as mulheres na liderança, ao invés de isoladas, teremos um mundo melhor, com crianças com mais acesso ao ensino, a educação. Esse é nosso ponto. Hoje, quase 80% da renda familiar é destinada pela mulher. Ela que decide o que vai ser comprado, o que vai ser gasto. Eu penso que, onde a gente tem as mulheres atuando mais ativamente, temos uma sociedade melhor, com mais amor, mais colaboração. Por isso gente montou nosso negócio voltado para mulheres. Eu acho mais fácil você empoderar mulheres do que desempoderar homens. As mulheres estão buscando isso. Hoje 60% das vagas das universidades são ocupadas por elas. Temos uma asenção muito grande das mulheres no mundo, mas, no Brasil, isso vem crescendo muito forte. Por isso a gente tem criado os clubes de mulheres, de empoderamento feminino, além dos cursos. E tem sido muito gratificante. É muito bom ver esse movimento. As mulheres contagiam muito às outras. Esse é o meu propósito. Temos um plano cujo alvo é mudar o Brasil. Queremos uma sociedade melhor, baseada na liderança feminina. A gente vê uma Angela Merkel como líder (e liderar alemão não deve ser nada fácil). É uma líder que há anos vem fazendo um trabalho grande na Europa. Vemos a Margaret Thatcher, a Michelle Obama, a Oprah. Todas inspirando mulheres. Acredito que, no futuro o mundo voltará a ser matriarcal, com mais mulheres no poder. 

E você como pessoa, o que ganha de todos esses projetos que influencia?

Muito carinho, muito amor, muita prosperidade! Faço conexões importantes, entre pessoas com os mesmos valores. Sentimos a alteração nas empresas. Isso é muito satisfatório. Assim geramos esperança para os nossos filhos. Vamos gerando uma sociedade melhor do que a que temos hoje. Vamos criar líderes melhores. Nossa visão é ter uma nova presidente mulher, que ela deixe um legado maior e melhor do que nossa última presidente deixou. Acho que esse é o ponto mais importante. Sentirmos uma energia boa nas coisas que estão acontecendo. Claro que a questão da sustentabilidade financeira é importante para qualquer projeto. Mas acho que é muito mais o legado, as pessoas, e o ecossistema que a gente vai criando, acho que essa é a minha grande satisfação pessoal de tudo isso. Essa é a energia que me move. 

 

About Haters
Se o hateré um debatedor de ideias, se está trazendo um contraditório, ele vai ajuda a criar um segmento. Vai ajudar nossa empresa ficar mais inteligente, ajudar a gente a se desenvolver. Obviamente, em relação ao haterque vai atacar você, ou à sua família, para esses caras é processo, é polícia, são outras formas de solucionar problema. Mas o haterde ideias, que questiona conceitos, ele é fundamental para que possamos crescer, para evoluir, para melhorar. Olha que interessante, quando vem um hater atacar você, vem dez lovers te defender! Ou seja, a tua base de clientes se fortalece, porque você tem espaço para fazer o contraditório, para mostras suas ideias e se fixar ainda mais. Não tem nada que não tenha contraditório no mundo. 

 

Super Verdade
“As pessoas querem saber como você vive na sua casa, como são seus negócios. As negociações são de gente com gente, então essa conexão é importante. Você pega os líderes das grandes empresas mundiais, o Instagram deles é aberto. As redes são abertas para que haja a interação. Tudo aquilo que você não diz (por que o óbvio tem que ser dito) as pessoas fantasiam. E elas fantasiam como querem. Por isso é importante você fazer a comunicação da superverdade. Claro que qualidade é bom, mas, mais que qualidade, o que mais funciona é verdade e a informação correta, em quantidade correta, no tempo certo”

 

ENTREVISTA I CAROLINE PIEROSAN I IMAGENS I JOSUÉ FERREIRA