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Escrita Estratégica

25/06/2018

Saúde Pet Integral

Entenda o que são e como as práticas da Medicina Veterinária Integrativa podem fazer diferença, na vida do seu pet, e na sua!

"O princípio da medicina integrativa é olhar o paciente como um todo, buscando entender a causa do problema ou da patologia e observar a relação do animal com o tutor e com o ambiente em que vive" (foto: Caroline Pierosan) "Os tratamentos da medicina veterinária integrativa não são mais alternativos ou adicionais, são parte de toda a busca pela saúde e bem-estar do animal" (foto: Caroline Pierosan) "O ideal é tratar um cão como um cão; amar, dar carinho, dar atenção, oferecer mimos, mas levá-lo a lugares onde ele possa correr livremente, intergir com outros cachorros e outras pessoas, se sujar na terra (depois um banho resolve)" (foto: Caroline Pierosan) "Hoje, no Brasil, há mais cachorros de estimação do que crianças. A Pesquisa Nacional de Saúde, feita em 2013 pelo IBGE, aponta que 44,3% dos domicílios do país possuem pelo menos um cachorro" (foto: Caroline Pierosan) "O animal não é só um corpo físico, ele tem emoções, medos, traumas, e outros sintomas relacionados à saúde emocional que devem ser tratados juntamente com a queixa principal" (foto: Caroline Pierosan)

“Quando olho para os meus pacientes e percebo o olhar de gratidão deles, o abanar de rabos, e as lambidas que recebo... é como se quisessem me dizer ‘obrigado doutora por tirar minha dor e me fazer caminhar de novo’. Não tem nada mais recompensador que isto!”, descreve, com um largo sorriso, a médica veterinária Carolina Pescador, ao explicar sua convicção em relação a eficácia das Práticas Complementares da Medicina Veterinária Integrativa. Uma trajetória inovadora e experiências diferenciadas durante o período de formação deram-lhe a certeza de que este seria o caminho para suas especializações. “Fui me encaminhando para a área da reabilitação e  das terapias integrativas, fazendo estágios e acompanhando profissionais renomados da área, até me formar em Medicina Veterinária pela Universidade Luterana do Brasil em 2011. Em seguida fiz especialização em Fisioterapia Veterinária pela FisioCarePet em SP, e iniciei a Certificacão Internacional de Reabilitação Canina pela Universidade do Tennessee / USA (CCRP). Faço diversos cursos para adquirir conhecimento sobre as terapias que uso na minha rotina. Hoje, por exemplo, estou me especializando em acupuntura veterinária e aromaterapia”, relata a especialista. Entre as áreas de conhecimento que ela transitou também estão Iniciação em Homeopatia Veterinária, Ozonioterapia Veterinária e Nutrologia Animal. Carolina é a única profissional veterinária da Serra Gaúcha que trabalha tanto com acupuntura chinesa quanto com acupuntura japonesa em pequenos animais. A seguir, ela nos apresenta uma nova percepção sobre a importância da saúde animal e sobre o valor da vida dos pets. “Afinal, temos que tratá-los como um todo, corpo, mente e espírito!”, incentiva a jovem e entusiasta veterinária.

Como você define a Medicina Veterinária Integrativa?

Carolina Pescador - A medicina veterinária integrativa trata o paciente como um todo, equilibrando corpo, mente e espírito. O foco é na saúde e na cura integral e não somente na doença ou nos sintomas apresentados. No olhar da medicina integrativa, a relação entre paciente, tutor e médico veterinário, facilita o processo de cura e focaliza as necessidades individuais do animal. A veterinária integrativa sugere combinar tratamentos convencionais com terapias médicas naturais, cuja segurança e eficácia estão cientificamente provadas. Esta abordagem integrativa tem o objetivo de maximizar o sucesso do tratamento e melhorar a qualidade de vida do paciente.

Qual a diferença entre esta corrente de tratamento e um tratamento veterinário convencional?

A maioria dos médicos veterinários não enxergam o paciente como um todo (físico, emocional e mental), tratam somente os sintomas físicos ou a doença que o paciente apresenta. Porém é necessário analisar o animal, como um ser integral, observar o corpo físico por completo, observando se há sobrecarregas por exemplo, que podem vir em decorrência do problema “principal”, além do lado emocional e mental do paciente.  Ressaltando que o animal não é só um corpo físico, ele tem emoções, medos, traumas, e outros sintomas relacionados à saúde emocional que devem ser tratados juntamente com a “queixa principal”. Por isso, um médico veterinário integrador, além de aliar terapias, tem que ter sensibilidade apurada para poder perceber além daquilo que o animal fisicamente demonstra. O princípio da medicina integrativa é olhar o paciente como um todo, buscando entender a causa do problema ou da patologia, observar a relação do animal com o tutor e com o ambiente em que ele vive. A veterinária integrativa aplica diferentes terapias em prol do bem estar físico e mental do paciente. As terapias convencionais e complementares podem e devem ser usadas em conjunto para aumentar o potencial de cura e ambas podem ser utilizadas como tratamento de primeira linha. Porém há enfermidades em que não se deve alterar o tratamento alopático e, nestes casos, as terapias integrativas podem oferecer suporte para o organismo. É o exemplo de um paciente com doença renal crônica ou um paciente oncológico. Nestes casos, as terapias integrativas auxiliam na manutenção do bem estar e da qualidade de vida desse paciente. A parceria entre profissionais que aplicam as diferentes correntes de terapias é essencial para o bem estar do paciente.

Qual a origem destas práticas diferenciadas?

Com o aumento da expectativa de vida dos animais, o interesse por parte dos médicos veterinários e tutores nos tratamentos alternativos cresceu. Pois na abordagem integrativa o intuito é proporcionar ao pet o máximo de qualidade de vida e trabalhar de forma preventiva. E mesmo com todo avanço científico da indústria farmacêutica ainda não é possível sanar alguns efeitos colaterais que os medicamentos causam aos pacientes. Dessa forma, as terapias alternativas são usadas para sanar e/ou prevenir estes possíveis efeitos colaterais. Atualmente, tratamentos que outrora eram chamados de alternativos ou místicos, já possuem os seus efeitos comprovados pela medicina, como é o caso da acupuntura, por exemplo. Para os convencionais, é importante destacar que os tratamentos alternativos não substituem a medicina convencional, mas criam novas possibilidades de tratamento, tanto para os pacientes que estão sofrendo com alguma doença, quanto para a prevenção de possíveis patologias.

Quem é referência em Medicina Veterinária Integrativa no mundo?

Desde muito tempo a China se destaca com a medicina integrativa (como pode-se ler nos livros clássicos de Medicina Chinesa). Na China a medicina é composta por cinco pilares que, em conjunto, são utilizados para o tratamento e para a reabilitação do paciente. Lá a medicina é vista como uma ferramenta que promove o equilíbrio integral do indivíduo e não simplesmente como uma ferramenta para curar males específicos. Por exemplo, animais que acordam no meio da noite e ficam andando inquietos pela casa, de acordo com a visão da MVTC (Medicina Veterinária Tradicional Chinesa) deve-se cuidar melhor da saúde de seus Rins, Fígado e Coração. Já em animais com fraqueza muscular deve-se tonificar o baço/pâncreas. Animais com agressividade devem ter o fígado tratado. E não é só com acupuntura que os chineses tratam seus pacientes, eles fazem a integração de terapias. Inicialmente trabalha-se a harmonização do ambiente onde este animal vive (feng shui), posterior a isso se faz a preescrição do tratamento que inclui dietoterapia, fitoterapia e acupuntura.

Por que você se interessou por este assunto?

Desde a época de faculdade comecei a me interessar pelas terapias da medicina alternativa, como a fisioterapia e a acupuntura. Então fui buscar estágios nestas áreas e fui me encantando cada vez mais por esse mundo. Víamos os animais chegarem para atendimento cheio de dores, com dificuldades de locomoção, ou incapacitados de se movimentar e logo após as primeiras sessões terapêuticas já percebíamos aquele paciente mais confortável e sem dor. No decorrer do tratamento percebíamos o olhar de gratidão dos pacientes, o abanar de rabos acompanhados de lambidas como se quisessem nos dizer “obrigado doutora por tirar minha dor e me fazer caminhar de novo”.  E aquilo era recompensador demais! Ter a possiblidade de recuperar animais, proporcionanando qualidade de vida a pacientes que muitas vezes eram desenganados pela medicina convencional foi o motivo que me encantou por estas práticas! Desta maneira fui me encaminhando para a área da reabilitação e das terapias integrativas, fazendo estágios e acompanhando profissionais renomados na área até me formar em Medicina Veterinária. Em seguida fiz a especialização em fisioterapia veterinária, e foi a partir de então que comecei a trabalhar com fisiatria e reabilitação de cães e gatos. Depois comecei a especialização em acupuntura veterinária (que ainda estou cursando), e fiz outros cursos para me formar nas terapias que uso hoje na minha rotina.

Como um tratamento individualizado para o pet se difere dos procedimentos praxe em uma clínica convencional?

Quando tratamos um paciente de forma integral usamos em conjunto de todas as terapias de conhecimento da medicina veterinária para proporcionar uma maior capacidade de prevenir e tratar doenças, o que não seria possível usando-se apenas um único método. Todas as terapias que tratam o corpo como um todo podem ser referidas através do termo genérico "holístico", pois levam em consideração corpo, mente e espírito ao formular um plano de tratamento. As terapias holisticas são terapias complementares que visam estimular mecanismos que buscam o equilíbrio do organismo.  Numa abordagem integrativa podemos incluir terapias como Fisioterapia/Fisiatria, Acupuntura, Reiki, Ozonioterapia, Aromaterapia, Dietética Funcional, Fitoterapia, Florais, Cromoterapia, e algumas outras.

Para um animal, estar dentro de um ambiente humano (casa ou apartamento), é saudável?

Acho saudável uma pessoa ou uma família ter um animalzinho de estimação vivendo dentro de casa ou apartamento. É terapêutico e revigorante ter um pet alegrando nossas vidas, porém temos que saber que os cães, por exemplo, são animais de grupo e, embora estejam domesticados, sempre precisarão ter contato com outros cães. Faz parte da natureza deles a necessidade de cavar, correr, pular, latir, brincar e interagir com outros cães e devemos proporcionar-lhes isto. Privá-los disso é humaniza-los, o que não é saudável nem para eles e nem para nós, pois o animal poderá ter crises de ansiedade, de estresse e inclusive vir a se tornar agressivo.

Como você avalia a prática de “humanizar” o pet? Ou seja, tratá-lo como uma criança ou como um filho?

A humanização não é saudavel. É comum hoje as pessoas não terem filhos e possuírem cães, gatos e outros pets. Não vejo isso como um problema. Porém humanizar estes pets tratando-os como filhos humanos não é nada saudável para o animal, tampouco para o tutor. Para o animal, este tratamento pode gerar uma série de problemas comportamentais que, em sua maiora, tornam-se incorrigíveis. O ideal é tratar um cão como um cão; amar, dar carinho, dar atenção, oferecer mimos, mas levá-lo a lugares onde ele possar ser um cão, correr livremente, interagir com outros cachorros e outras pessoas, brincar e se sujar na terra (coisas que um banho resolve). Se você não tem esse tempo, hoje há recreações e creches para cães que oferecem servido de day care para que seu animal se divirta e gaste suas energias, voltando pra casa mais feliz e mais calmo. Ofertar essas oportunidades com certeza garante um pet mais feliz e saudável.

Há muita crítica em torno dos cuidados e investimentos que algumas pessoas destinam aos pets (pois poderiam estar destinando-os para outros fins, como, por exemplo, ajudar aos pobres) – qual é a sua opinião sobre este assunto?

Hoje, no Brasil, há mais cachorros de estimação do que crianças. A Pesquisa Nacional de Saúde, feita em 2013 pelo IBGE, aponta que 44,3% dos domicílios do país possuem pelo menos um cachorro. Incluindo outros bichos de estimação como gatos, aves, peixes e répteis, chega-se ao total de 132,4 milhões de animais, o que coloca o Brasil como o segundo maior mercado pet do mundo. O fato do excesso de investimentos nos pets, nos remete à questão da humanização do animal. Acho correto as pessoas investirem nos seus pets, mas se isso extrapolar o orçamento e for prejudicial ao animal, no sentido do excesso de acessórios e roupinhas de todos os estilos, por exemplo, torna-se negativo. Não são coisas que fazem parte da natureza do cachorro. É melhor investir numa boa alimentação, na saúde e na qualidade vida do pet.

Qual a orientação para os donos de pets que querem proporcionar uma vida saudável ao animal?

É preciso ter cuidado para não sufocarmos as necessidades do pet como animal. Sendo importante alimentá-los com nutrientes adequados para o seu organismo, e evitar atitutes relacionadas a humanização. Como quando colocamos o cão para dormir na nossa cama,e não pensamos que se um dia nós não estivermos lá (no caso de uma viagem, por exemplo), possivelmente ele se sentirá abandonado e esta pode ser a abertura para o desenvolvimento de problemas emocionais e comportamentais. Quando queremos levá-lo em um carrinho como se ele fosse um bebê, nos esquecemos que um cão precisa correr, pular, brincar e se sujar para ser feliz e ser o que é: um cão. Quando queremos levar o nosso cãozinho para passear por um parque dentro de uma bolsinha, nos esquecemos que é da natureza do cão interagir e socializar com outros cães e também com outras pessoas. Humanizar um animal de estimação poderá fazer com que ele não saiba quem manda. O pet precisa identificar seu dono como líder, para isso é preciso ensinar o cão a obedecer ordens, mas fazer também com que ele se sinta amado e parte da família. O segredo está em encontrar o equilíbrio, amar, dar carinho, dar atenção, oferecer mimos, dar limites e levá-lo a lugares onde ele possar ser um cão, correr livremente, interagir com outros cachorros e outras pessoas. Ofertar essas oportunidades com certeza garante um pet mais feliz e saudável.

Por que você quis estudar medicina veterinária?

Estava no segundo ano do ensino médio quando pensei ‘quero ser veterinária’. Minha mãe me apresentou a um amigo veterinário que estava abrindo uma clínica em Caxias e este me convidou para acompanhá-lo em alguns procedimentos. Foi este grande profissional que abriu as portas da medicina veterinária pra mim, e lhe sou muito grata, pois hoje me sinto realizada e feliz com a profissão que escolhi.

Você tem pets atualmente?

Recentemente perdi minhas duas cachorrinhas, elas eram mãe e filha. Ganhei a mãezinha na época que comecei a auxilar o veterinário que comentei acima. Elas eram meus xodós, cuidei delas até o finzinho de suas vidinhas. Ainda falo pouco das minhas cachorrinhas, pois a tristeza pela perda delas ainda é bem grande. Hoje tenho apenas a cachorra do meu irmão, que mora com meus pais.

ENTREVISTA e FOTOS l CAROLINE PIEROSAN

Trajetória
Carolina Pescador nasceu em 19 de dezembro de 1987 em Farroupilha/RS. Formou-se em Medicina Veterinária pela Ulbra/Canoas em 2011. Fez especialização em Fisioterapia Veterinária pela FisioCare (SP), e cursa a certificacão internacional de Reabilitação Canina pela Universidade do Tennessee/USA (CCRP). Realizou a iniciação à Homeopatia Veterinária pela AMVHB. Cursou Ozonioterapia Veterinária pela VetWorks (SP). Fez curso de formação em Acupuntura Japonesa e Técnicas Avançadas de Moxabustão Japonesa, sendo a única profissional veterinária na Serra Gaúcha que trabalha com acupuntura japonesa para animais. Carolina também é a primeira veterinária que começou a trabalhar com fisioterapia e reabilitação veterinária na Região. Iniciou as atividades profissionais em 2013 realizando atendimentos num pequeno consultório. Em seguida, passou a trabalhar na Serravet – Centro de Especialidades Veterinárias, pioneira na Serra Gaúcha na criação de um espaço com a integração de todas as especialidades veterinárias num único centro. No ano passado (2017) Carolina Pescador firmou parceria com o Hospital Dr. Álvaro Abreu em Canela (RS), onde atende na área reabilitação para pets. A médica veterinária participa de congressos, palestras e simpósios nas mais variadas áreas das terapias integrativas, afim de manter-se atualizada. Atualmente, cursa especialização em acupuntura veterinária pelo Instituto Equilibrum (SP) e realiza formação em Aromaterapia certificada pelo IBRA.