Escrita Estratégica

O assunto é controverso e, muitas vezes, pode até ser incômodo (embora eu prefira o termo ‘desafiador’). A aparência é um tópico delicado pois envolve questões profundas da nossa formação como pessoas, influências culturais, opiniões da nossa família, da mídia, campanhas da indústria da moda, nossas referências enquanto jovens e hábitos consolidados que, talvez, não harmonizem com nosso propósito de vida e trabalho hoje.

A seguir, a designer de moda, pós-graduada em Negócios de Moda, especialista em coloração pessoal pela Studio Immagine, e estudiosa dos estilos universais, Gabriela Lodi De Prá, nos ajudará a desmistificar algumas ideias no intuito de posicionar a produção visual (que também podemos chamar de ‘aparência pessoal’) como uma importante ferramenta de trabalho. Acompanhe!

Caroline Pierosan: O que é comunicação não – verbal?

Gabriela Lodi De Prá: Não é somente por meio da fala que nós, seres humanos, comunicamos, mas também por meio da nossa imagem, da nossa postura, do nosso gestual, das nossas expressões, do que escolhemos vestir, do modo que arrumamos o cabelo, etc. Tudo isso comunica e transmite mensagens sobre quem somos – ou sobre quem parecemos ser em cada momento – sem usar a fala ou a escrita. Por isso, chamamos essas formas de comunicação de não-verbal.  

Por que isso é importante?

Porque somos seres visuais e criamos pré-conceitos a partir do que enxergamos. Por meio da nossa comunicação verbal (fala) ou escrita, conseguimos expressar o que pensamos e o que realmente queremos transmitir. Já, a comunicação não-verbal fala tudo sobre nós a partir do que vestimos, da maneira que gesticulamos e das nossas expressões. A famosa história de “causar uma boa primeira impressão” é justamente por isso. Segundo estudos, quando conhecemos alguém pela primeira vez, ou vamos assistir a uma palestra, por exemplo, nos primeiros segundos nosso cérebro já está fazendo uma leitura de quem a pessoa é ou parece ser naquele momento, e aí já fazemos seu julgamento de forma até mesmo inconsciente. Criamos um conceito a partir da nossa percepção e do que visualizamos.

Quem deve pensar nisso?

Todo mundo que se importa com a imagem que deseja transmitir. Falando mais sobre aparência e imagem pessoal, que é a minha área de especialidade, o que escolhemos vestir de manhã quando acordamos, a maneira que arrumamos o nosso cabelo, o tipo de maquiagem que aplicamos, tudo isso faz parte do que escolhemos comunicar naquele dia. Por isso, é muito importante entender o que cada cor, forma, tecido, textura e detalhes comunicam, e utilizar esses elementos ao nosso favor aliados aos nossos objetivos de imagem pessoal.

Quando alguém resolve assumir a liderança da sua comunicação não-verbal, qual é o passo a passo para “acertar”?

Não existe muito isso de certo e errado, mas sim o que eu preciso comunicar no meu ambiente pessoal ou profissional. É importante pensar que tipo de imagem eu quero ou preciso transmitir. É de credibilidade? É de acessibilidade? É de naturalidade? E a partir dessa intenção utilizar os elementos que comuniquem essas mensagens ao seu favor, aliados à sua personalidade e à sua essência. Cada pessoa vai carregar a roupa de uma forma, mas, no conjunto da obra, a mensagem transmitida deve ser a que essa pessoa desejou.   

O que é acertar – se temos objetivos voltados ao sucesso profissional?

Acredito que o acertar é definir nossos objetivos de imagem e o que queremos transmitir. É oportunizar que as pessoas façam a mesma leitura que esperamos, que nos percebam da forma ideal para nosso propósito. Por exemplo, se o seu sucesso profissional pede uma imagem de credibilidade e respeito, é importante que todos os elementos visuais comuniquem isso – as cores e formas utilizadas na sua vestimenta, acessórios, maquiagem, corte de cabelo, etc.

Como usar as ferramentas não verbais estrategicamente pode gerar benefícios para nossa carreira?

Elas podem nos ajudar a conquistar nossos sonhos e objetivos, sejam eles pessoais ou profissionais. Acredito que criamos oportunidades por meio da imagem que transmitimos. A roupa que escolhemos usar, por exemplo, provoca reações não só dos outros, mas também em nós mesmos. A sensação de estar vestindo algo que nos empodera (por exemplo), nos ajuda a ter mais segurança e consistência na nossa comunicação verbal e nos torna mais assertivos como um todo.

Quais são os principais mitos ou barreiras que as pessoas têm quando o assunto é comunicação não – verbal?

Muitas vezes as pessoas bloqueiam emoções reais ou ficam dentro de uma caixinha por achar que isto (ou aquilo) é o correto para uma imagem profissional, por exemplo. O importante é elegeremos elementos que comuniquem a imagem que desejamos e nos fortalecermos a partir deles, mas jamais podemos esquecer da nossa autenticidade e essência. A construção de uma imagem seja para fins profissionais ou pessoais, é feita da harmonia entre quem você é com o que você deseja transmitir para o mundo.

Há teóricos de referência que defendam essa “ciência”?

Há diversos estudos que falam sobre a importância da nossa comunicação não-verbal e linguagem corporal perante o mundo e sociedade. Alguns dizem que no primeiro segundo já fazemos o julgamento de alguém e já criamos um pré-conceito a partir do que a pessoa veste e da maneira que ela gesticula e se porta. Outros estudos (Dr. Albert Mehrabian) falam que quando conhecemos alguém pela primeira vez, nos primeiros 10 segundos a nossa atenção está 55% na aparência, 38% no tom da voz e apenas 7% no que a pessoa realmente diz. Por isso, reforço, causar uma boa primeira impressão é tão importante.

Você lembra de cases marcantes de transformação?

Tudo parte do autoconhecimento e do empoderamento de quem eu sou aliado ao que eu quero transmitir para as pessoas. Então, acredito que toda a transformação vem de dentro para fora. Lembro de casos de clientes que descobriram uma força interna que não sabiam que tinham, mas que já estava ali, outras que se redescobriram como as mulheres e profissionais maravilhosas que são. A inteligência, o conhecimento, a profissão, tudo isso já existe nelas. O meu trabalho é fazer com que a imagem que elas transmitem comunique toda essa inteligência, e conhecimento, mostrando de fato as grandes profissionais que são.  

O que é mais gratificante na realização do seu trabalho?

Gosto de olhar das minhas clientes se admirando no espelho e vendo a imagem que refletem, percebendo-se belas, poderosas, confiantes e seguras com o que estão vestindo. Percebo sua expressão leve e solta e os sorrisos verdadeiros. Mesmo que o processo de autoconhecimento seja sempre no gerúndio, perceber elas se “descobrindo” é o que faz com que eu me sinta realizada com o meu trabalho.