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Escrita Estratégica

03/01/2019

Superar o Câncer, O Novo Desafio da Vida Moderna

Enquanto luta contra a doença, Sandra Elisa Barbosa da Luz, de apenas 52 anos, busca aprender com a situação difícil e afirma que enfrentá-la a transformou em uma pessoa mais sensível

Dou mais valor a diversas
coisas que antes passavam
despercebidas. Estou mais
paciente, enfrento com mais
coragem os acontecimentos.
Valorizo mais as pessoas que
convivem comigo e percebo que
o amor, a humildade e a simplicidade
são o caminho para sermos
felizes.  Notei o quanto a vida é
frágil e curta e que devemos
aproveitar todos os momentos Por meio da minha experiência
quero reafirmar aqui o que os
médicos sempre alertam: a
importância de estar informado.
A informação nos leva a cuidar do
corpo. Nós precisamos prestar
mais atenção em nós mesmos. Não
devemos ignorar qualquer sinal.
Devemos sempre procurar recursos
médicos sem medo, fazer exames
preventivos anualmente e o auto
exame sempre. Esses hábitos são
fundamentais para a previnir a
fatalidade da doença

* Depois de atuar 28 anos como professora de Ciências e Matemática em escolas particulares e municipais, Sandra tinha planos de dedicar-se a música, fotografia e viagens. Por ser uma mulher responsável com a própria saúde, a aposentada nunca imaginou que seria acometida pela doença. “Praticava atividades físicas, cuidava da alimentação e sempre fiz exames de rotina. Nunca fumei e consumia bebida álcoolica apenas em datas comemorativas”, conta. Casada há 30 anos com Júlio e mãe de Felipe, 26 anos, e Juliana, 23, foi na família que Sandra encontrou forças para lutar. A seguir ela conta como enfrenta o tratamento:

NOI: Como você descobriu que estava doente?

Sandra Elisa Barbosa da Luz: Comecei a perceber algo diferente no meu seio esquerdo. Observei que dele saia uma secreção e o bico estava com o formato diferente, um pouco mais para dentro, Além disso eu sentia muita dor na região, mas como sempre tive cistos, achei que os sintomas poderiam estar relacionados a isso. Decidi ir ao ginecologistas e tirar a dúvida. Meus exames de rotina sempre foram feitos no mês de  agosto, mas devido a minha suspeita me consultei em março. Meu médico solicitou uma ecografia e foi aí que apareceu o nódulo bem escondidinho. Fiz punção para biópsia e recebi o diagnóstico de câncer.

Como você reagiu a notícia?

Quando soube do câncer fiquei muito abalada, inconsolável. Chorei muito. Tinha medo de morrer. Sou uma pessoa informada e sei que se diagnosticado no início o câncer de mama tem cura, que a medicina avançou muito neste campo e principalmente que novos tratamentos vêm apresentando êxito, mas quando se recebe uma notícia dessas, a dúvida e o medo tomam conta. Nunca, em momento algum, me revoltei. Não fiquei procurando culpados e explicações e isto me ajudou muito a enfrentar tudo que veio pela frente. Eu aceitei o fato e tratei de seguir adiante mesmo me sentido insegura. Nestes casos não há saída: ou lamentamos e entregamos os pontos, ou enfrentamos com muita fé e força. Foi o que eu decidi fazer por mim.

Quem te apoiou?

Gosto de citar Elton Benício. “Quando encontramos anjos que nos ajudam ali estão as mãos de Deus nos devolvendo o que plantamos e nos mostrando que nada é por acaso”. Passei por momentos difíceis e encarei muitas coisas num curto espaço de tempo. Primeiro a bateria de exames, depois a cirurgia para a retirada do nódulo e, em seguida, a colocação do catéter para realizar a infusão dos medicamentos da quimioterapia. Apesar de todo meu medo e sofrimento, confio muito em Deus. Conto com os médicos competentes que me assistem e faço terapia com uma psicóloga, que muito tem me ajudado. Por ter todo esse suporte, além é claro do amor da minha família, creio que sairei vitoriosa nesta batalha.

Quais são os principais desafios do tratamento?

A quimioterapia foi um período muito delicado. Os efeitos colaterais são difíceis: enjôos, boca e olhos ressecados, meus cabelos caíram e tive algumas alergias. Agora estou careca, mas em momento algum isso foi um problema para mim, afinal os cabelos se vão mas fica a vida, que é o que importa. O único choque que senti ao me olhar careca e sem roupa no espelho foi me deparar frente a frente com a doença. Estava magrinha, debilitada, com meus seios diferentes e sem cabelos. Foi muito doloroso. Apesar do choque ao me olhar no espelho eu nunca perdi a vaidade. Uso diversos lenços e procuro combiná-los com minhas roupas, faço uma maquiagem suave, escolho algumas bijuterias e pronto, meu look do dia esta montado. Meu último ciclo da quimioterapia foi no dia 11 de agosto, agora estou me preparando para as sessões de radioterapia e após para hormonioterapia.

O que te motiva hoje?

O amor, a família e a fé. Minha filha Juliana que é meu anjo número 1 e a pessoa que me consolou e me ajudou incondicionalmente com muito amor e carinho desde o primeiro instante em que lemos juntas o resultado da biópsia. Meu esposo Júlio está sempre ao meu lado me apoiando em tudo com seu amor e principalmente com seu bom humor que me faz sorrir até mesmo nos momentos mais difíceis. Meu filho Felipe conforta meu coração com carinho em todas as ocasiões. Minha família está sempre pertinho de mim, procurando formas de me fazer sentir um pouco melhor e citando aquela clássica frase “qualquer coisa que precisar estamos aqui, pode nos chamar”. Sou muito privilegiada por não estar sozinha.

O que você diria para alguém que também está passando por essa experiência?

Neste período encontrei várias pessoas em situações semelhantes a minha, principalmente quando fazia quimioterapia na clínica. Pessoas idosas, jovens, mulheres de meia idade até crianças. Vi bem de pertinho como esta doença vem aumentando a cada dia. Não tinha noção de quantas pessoas sofrem deste mal. Conheci gente que, assim como eu, está lutando pela vida. Conheci também pessoas que já passaram por tudo isto e hoje estão bem, vivendo normalmente. O mais incrível foi que, essas pessoas que superaram a doença procuravam de alguma forma me incentivar e falar algo positivo para o meu tratamento.

Quais são as perspectivas para o futuro?

Me pergunto: qual é o ensinamento que Deus quer que eu aprenda com este fato na minha vida? Afinal nada acontece por acaso. Depois de muito refletir concluí que o Senhor me deu um tempo para repensar a história da minha vida e ver que posso me tornar uma pessoa melhor. Muitas coisas mudam na gente quando passamos por momentos como os que eu passei. Ninguém enfrenta um câncer e continua sendo a mesma pessoa. Hoje procuro viver um dia de cada vez, agradecendo tudo o que me acontece.

 

* Entrevista de Caroline Pierosan publicada na edição impressa (setembro 2014) da revista NOI