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29/10/2019

"Antes e Depois" na Medicina

Nova lei que altera a interferência do Conselho Federal de Medicina na publicidade ainda gera debates éticos  

"O uso de imagems "antes e depois" se mantém um impasse ético, além do legal"

Imagens comparativas de antes e depois, um clássico da publicidade, talvez sejam a maneira mais direta e impactante de mostrar resultados. O recurso é, inclusive, um pedido frequente dos pacientes a nós, dermatologistas: por que não mostramos os antes e depois dos nossos pacientes nas redes sociais? Uma lei sancionada em setembro suscita mais dúvidas sobre o assunto, contraria a postura médica e intensifica um debate que já era polêmico.

Médicos não publicam comparativos dos seus resultados em cumprimento a uma determinação do Conselho Federal de Medicina (CFM). Baseada na ética médica, a resolução CMF 1.974/2011 é taxativa: “É vedado ao médico e aos estabelecimentos de assistência médica a publicação de imagens do “antes e depois” de procedimentos”. A justificativa é que essas fotos podem induzir o paciente na escolha por determinados tratamentos ou profissionais, sem que esses sejam realmente os mais indicados para o seu caso.

A lei federal sancionada no último dia 20 de setembro não aborda especificamente o uso desse tipo de imagem, mas interfere diretamente na questão. Conhecida como Lei da Liberdade Econômica, a Lei 13874/19 trata de diversos aspectos da atividade das empresas. E um dos itens do texto, parece invalidar a decisão do CFM quando considera indevido “restringir o uso e o exercício da publicidade e propaganda sobre um setor econômico”, exceto em proibições contidas em lei federal. Para quem guardava seus antes e depois em uma pasta favorita, ansioso por mostrá-los, a lei caiu como um presente.

Na área da estética, as fotos comparativas se multiplicaram em perfis de profissionais não médicos, além de materiais de clínicas estrangeiras. O fenômeno pode ser considerado o meio mais impactante na decisão do paciente em submeter-se ou não a determinado tratamento. É verdade que o veto aos médicos torna a concorrência desleal, mas nem a aparente derrubada da proibição torna o assunto simples de ser tratado.

O antes e depois se mantém em um impasse ético, além do legal. Ocorre que esse comparativo sempre mostra o melhor desfecho. E isso, infelizmente, pode ludibriar as pessoas a acreditarem que o tratamento sempre dá certo, que pessoas diferentes podem atingir exatamente os mesmos resultados e que o “depois” é sempre bom, além de que não há chances de complicações no procedimento.

 

Themis Hepp - Dermatologista A&T Dermatologia