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27/11/2016

Gotto

Suavidade da arte no Basalto duro, sobre a segunda maior ocorrência de lava basáltica em região continental do mundo, o artista plástico Mauri Menegotto - Gotto, “esculpe a vida” em cores surpreendentes e incomuns no basalto do planeta. Retratar a leveza e o movimento numa das pedras mais resistentes e de difícil manuseio é seu ofício, que, conquista reconhecimento internacional  

"As cores violentas das pedras daqui revelam a natureza da matéria que, quando transformada em escultura, ganha enredo, conta histórias e revela a presença, em Bento Gonçalves, de uma das maiores erupções fissurais do planeta" Gotto O escultor Mauri Valdir Menegotto- Gotto, reside em Bento Gonçalves, RS, e seu atelier fica sediado na rua Renato Menegotto, 121, Bairro Vila Nova "Minha missão como artista é interpretar, por meio da escultura em basalto, um determinado momento do ser; é oferecer ao mundo uma nova leitura da existência" Gotto

Hoje aos 50, tendo trabalhado a pedra desde os 13 anos de idade, Gotto traz a confiança de uma vida inteira usando ponteiras e martelos. “Esculpo só no basalto e, apesar de ser uma pedra dura e difícil, é a mais bonita e colorida para a arte. Aqui em Bento Gonçalves é possível encontrar uma variedade de cores muito singular dessa pedra. Minha missão como artista é interpretar, por meio da escultura em basalto, um determinado momento do ser; é oferecer ao mundo uma nova leitura da existência”, propõe o artista. O planalto presente nos Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, na região denominada Serra Geral, contém lavas de composição basáltica, originadas de erupções vulcânicas efusivas de grande escala ocorridas no início do Cretáceo, há cerca de 125 a 135 milhões de anos, o que corresponde ao auge da era dos dinossauros. A área de distribuição de lavas de basalto é  de aproximadamente 1.200.000 km2 e a espessura média em torno de 700m. Esta é a segunda maior ocorrência de grandes derrames de lava basáltica na região continental do mundo, denominado vulcanologicamente “CFB” (continental flood basalto) e vulcanomorfologicamente “pedionite”. Na Serra Gaúcha, as lavas basálticas são cobertas pelas camadas de riolito. O Basalto daqui (cientificamente riolito) é chamado de “Unidade Palmas”. O vulcanismo que deixou o tufo soldado riolítico da Unidade Palmas ocorreu na mesma época de erupção das lavas basálticas da Serra Geral. Neste momento, o Oceano Atlântico não existia e a América do Sul era ligada diretamente com a África. As erupções vulcânicas explosivas que ocorreram na Namíbia, região ocidental da África, deixaram um imenso volume de depósito de fluxo piroclástico no atual território brasileiro. O volume total da Unidade Palmas é estimado em 8.600 km3 incluindo a parte presente na Namíbia. Este corresponde a maiores fluxos piroclásticos do mundo no volume dos depósitos e na área de distribuição. A paisagem característica deste fluxo piroclástico riolítico, ou seja o Basalto da Serra Gaúcha, é conhecida amplamente pelo público em geral do Brasil por meio das fotografias turísticas de Canela, RS e Itaimbezinho, próximo à cidade de Cambará do Sul, RS. Entretanto, a origem do Basalto não é bem conhecida pelos locais. oO Basalto também ainda é pouco conhecido no restante do país. Segundo a museóloga Maria Stefanni Dalcin, o emprego do basalto remonta à pré-história, quando eram criados instrumentos para a agricultura e a caça. “Os egípcios usaram-no com maestria na criação de estatuetas e grandes esculturas”, explica Maria. Na Serra Gaúcha, a presença do basalto propiciou a continuidade de seu uso pelos imigrantes italianos que o incluíram na edificação de suas casas, dando origem a todo um estilo de vida. Desse núcleo basáltico nasceram escultores como Mauri Menegotto - Gotto. “As cores violentas das pedras daqui revelam a natureza da matéria que, quando transformada em escultura, ganha enredo, conta histórias e revela a presença, em Bento Gonçalves, de uma das maiores erupções fissurais do planeta”, relata o artista. É arte com sabor de pertencimento. Cada pedra esculpida carrega em si, além de beleza, um testemunho das transformações milenares ocorridas na Terra. O trabalho de Gotto, além da extraordinária beleza plástica, propõe uma reflexão sobre a existência.

Caroline Pierosan