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For All Exclusive

29/10/2019

O Sorriso Revela

O que os seus dentes dizem sobre a sua vida?

"Me preocupa muito o volume de restaurações, sejam elas em resina composta ou cerâmica odontológica, sendo realizadas em pacientes que não estão aptos à recebê-las" ( Marcos Alexandre Fadanelli )

Cada vez mais nos deparamos com pacientes jovens (15 a 30 anos) com problemas como gengiva retraída, dentes desgastados e fortes dores musculares e de cabeça (sinais e sintomas que não são compatíveis com suas idades). As queixas são referentes à hipersensibilidade dentinária cervical, dores na face, e algum tipo de desconforto na articulação temporomandibular (perto do ouvido). São resultados da vida moderna. Nós, cirurgiões-dentistas, estamos aptos a tratar desses pacientes?

Um dentista não pode olhar apenas para os dentes. Ele precisa entender que eles falam sobre a vida da pessoa. Por trás de problemas dentários, podemos encontrar questões neuromusculares, sintomas de estresse, e uma infinidade de indícios que nos falam sobre o estilo de vida do paciente. Os dentes nos dão sinais do que está errado com o organismo da pessoa. Da mesma forma, é possível ao paciente, diante dessa ciência, estar atento ao que lhe é recomendado como procedimento.

Um paciente tem que ser tratado de forma global em termos de análise inicial e diagnóstico. Um dentista que só olha para os dentes, sem saber o que está causando determinado problema, gerará um ciclo restaurador ineficaz e infindável. Ou seja, restaurações que precisam sempre ser refeitas, quando, na verdade, o paciente precisa de uma reabilitação integral. É comum ouvirmos deles que passaram por vários profissionais, e que ninguém nunca lhes falou sobre isso.

Desafios da Vida Moderna

Horas de conexão aos smartphones e computadores, recebendo informações de diversas fontes e cunhos. Eis a nossa rotina, que gera um quadro de distração, provocado por essa avalanche, onde é dificil concentrar-se realmente. Nosso cansaço mental é crônico e pode nos levar ao estresse. A ansiedade pode tomar conta quando planejamos diariamente o futuro, objetivando a perfeição e temendo o fracasso, sem sequer aproveitarmos o presente. Essa ansiedade gera angústias que, por sua vez, podem desencadear distúrbios relativos ao sono e à alimentação. Vivemos a cultura da perfeição, onde errar não é aceitável. Isso pode nos levar a grandes frustrações. Relacionamos o trabalho em excesso (e uma agenda lotada de compromissos) com produtividade, quando isso pode ser apenas um gatilho para o desencadeamento do estresse.

Os dentes nos mostram alguns sinais e sintomas de envelhecimento precoce relativo ao estilo de vida moderno. Dores nas regiões cervicais dos dentes, mesmo sem visualizarmos retrações gengivais ou lesões não cariosas de perda da estrutura dental, já são sinais de fadiga mecânica devido à sobrecarga oclusal. Quando as lesões cervicais não cariosas já estão nítidas nos dentes dos pacientes, é porque o desequilíbrio oclusal já está instalado, seja por fatores biomecânicos, biocorrosivos ou por uma associação dos dois, o que irá acelerar a perda do tecido dental, pois o estresse mecânico aliado à biocorrosão é o pior cenário para o desenvolvimento dessas lesões.

Para tratar os pacientes que apresentam os sinais derivados do apertamento dental, bruxismo e corrosão, precisamos deixar de olhar somente para os dentes. Precisamos começar a visualizar e compreender o paciente e seu sistema estomatognático como um todo e de forma individual. É importante sabermos como funciona o dia a dia dos pacientes que apresentam tais sinais e sintomas. Seus hábitos, suas profissões e o tipo de dieta que vêm tendo. Por exemplo: uma pessoa que frequenta a academia, toma isotônicos, tem vida noturna ativa, com ingestão de bebidas alcoólicas e energéticos, sofre um bombardeio de agentes biocorrosivos associados com fatores biomecânicos de apertamento dental durante os exercícios que realiza. Isso é apenas um exemplo de um estilo de vida que move uma grande parte da população jovem.

 Paralelo a isso, uma análise oclusal adequada é necessária, pois com a alta freqência dos casos de envelhecimento precoce dos dentes, vemos cada vez mais os pacientes com deficiência nas guias de desoclusão lateral e anterior. As pontas dos dentes caninos degastadas ou o seu mal posicionamento no arco dental, leva a uma situação de desoclusão lateral em um grupo de dentes cujas raízes não foram desenhadas para tal função, gerando forças oblíquas capazes de provocar profundas lesões nos pré-molares, assim como desgastes nos dentes incisivos.

O simples procedimento restaurador sem realmente tratar da etiologia das lesões, é vão. Me preocupa muito o volume de restaurações, sejam elas em resina composta ou cerâmica odontológica, sendo realizadas em pacientes que não estão aptos à recebê-las. A odontologia restauradora estética, sem um equilíbrio oclusal estabelecido, está fadada ao insucesso. E, mesmo com esse equilíbrio alcançado, não nos esqueçamos dos fatores biomecânicos e de biocorrosão, pois não estão a nosso favor e temos que saber como controlá-los. A utilização de placas noturnas bem ajustadas e balanceadas, controle da dieta ácida e diminuição da ansiedade e estresse são fatores que irão contribuir para o bem estar dos nossos pacientes, assim como para a longevidade dos seus dentes e dos procedimentos restauradores realizados. Precisamos abrir os olhos para um cuidar diferente, dos nossos pacientes e das nossas vidas.

Vamos caminhar mais, nadar, respirar, pedalar e conversar mais? Só assim nos estressaremos menos. E você? Já parou para pensar nos seus hábitos? Cuidemo-nos, para que possamos cuidar melhor das pessoas que confiam em nossa expertise profissional, nossos pacientes, clientes e amigos.

 

Texto | Marcos Alexandre Fadanelli - Edição | Caroline Pierosan