Estresse e ansiedade causados pelo isolamento social são gatilhos para o surgimento ou piora de doenças psicodermatológicas
Normalmente, durante esta época do ano, atendemos principalmente pacientes em busca de tratamentos estéticos que são mais propícios durante o inverno, além de exames preventivos para câncer de pele, como o exame das pintas por exemplo. A pandemia pelo novo coronavírus e a necessidade de isolamento domiciliar trouxe muitos questionamentos, medos, ansiedade e estresse. O reflexo disso no consultório foi o aumento importante no número de pacientes procurando atendimento por doenças que apresentam fundo emocional. Já é conhecido o ditado de que “o corpo fala”. A pele, como maior órgão do corpo humano, conta muito sobre nosso estado emocional também. As doenças cutâneas relacionadas ao estresse são conhecidas como psicodermatoses e são divididas em dois grupos principais, podendo:
1-) ser causadas por problemas psiquiátricos;
2-) causar distúrbios psiquiátricos ou psicológicos.
No primeiro grupo estão, por exemplo, pacientes que tem histórico de transtorno obsessivo compulsivo e tem piora significativa nas dermatites de mãos por excesso de higienização, assim como pacientes com fobia social prévia, que se intensifica com o isolamento e medo de adoecer.
No segundo grupo há um círculo vicioso entre a mente e a doença cutânea. O estresse pode facilitar seu aparecimento e sua presença gera sentimentos de vergonha, desconforto, irritabilidade e desalento. São exemplos comuns desse grupo: a psoríase, dermatite atópica, queda de cabelos do tipo eflúvio telógeno, dermatite seborréica, vitiligo entre outras. Em ambos os casos o tratamento interdisciplinar é fundamental e é importante vivenciar um estilo de vida saudável com boa alimentação, mantendo o peso adequado, exercícios físicos regulares e sono reparador.
Em geral o sucesso disso depende de suporte psicológico aliado a terapias cognitivo-comportamentais, entre outras. O mundo digital pode facilitar o alívio do estresse através de ferramentas como aplicativos de meditação, músicas relaxantes, yoga... Enfim, são doenças mais desafiadoras, que, por vezes, não têm tratamentos rápidos e que garantam uma cura definitiva porém podem ser controladas e até desaparecer completamente permitindo uma vida completamente normal se tratadas adequadamente.
Além das doenças de pele exacerbadas pelo estresse, o próprio Coronavírus tem assustado os dermatologistas com muitas manifestações cutâneas atípicas. Foram relatadas manchas avermelhadas, urticárias desde leves a extensas, lesões que simulam reações medicamentosas, que simulam catapora. Uma das apresentações mais comuns é a má circulação nas extremidades, lembrando as “frieiras” vistas no inverno. Com essa nova perspectiva, o dermatologista precisa juntar mais peças no quebra cabeças do diagnóstico, perguntando sempre se há febre, falta de ar ou outros sintomas sistêmicos.
Nos casos de dúvidas, exames de sangue e até biópsias de pele darão a resposta definitiva. Enfim, nunca antes a resiliência foi tão importante para que possamos ter a sabedoria necessária para aprender as lições que as dificuldades nos trouxeram, bem como para cultivar a esperança de que logo tudo vai passar.