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For All Exclusive

06/07/2020

Reflexos da Pandemia na Pele

Estresse e ansiedade causados pelo isolamento social são gatilhos para o surgimento ou piora de doenças psicodermatológicas 

"A pele, como maior órgão do corpo humano, conta muito sobre nosso estado emocional"

Normalmente, durante esta época do ano, atendemos principalmente pacientes em busca de tratamentos estéticos que são mais propícios durante o inverno, além de exames preventivos para câncer de pele, como o exame das pintas por exemplo. A pandemia pelo novo coronavírus e a necessidade de isolamento domiciliar trouxe muitos questionamentos, medos, ansiedade e estresse. O reflexo disso no consultório foi o aumento importante no número de pacientes procurando atendimento por doenças que apresentam fundo emocional.  Já é conhecido o ditado de que “o corpo fala”. A pele, como maior órgão do corpo humano, conta muito sobre nosso estado emocional também. As doenças cutâneas relacionadas ao estresse são conhecidas como psicodermatoses e são divididas em dois grupos principais, podendo:

1-) ser causadas por problemas psiquiátricos;

2-) causar distúrbios psiquiátricos ou psicológicos.

No primeiro grupo estão, por exemplo, pacientes que tem histórico de transtorno obsessivo compulsivo e tem piora significativa nas dermatites de mãos por excesso de higienização, assim como pacientes com fobia social prévia, que se intensifica com o isolamento e medo de adoecer.

No segundo grupo há um círculo vicioso entre a mente e a doença cutânea. O estresse pode facilitar seu aparecimento e sua presença gera sentimentos de vergonha, desconforto, irritabilidade e desalento.  São exemplos comuns desse grupo: a psoríase, dermatite atópica, queda de cabelos do tipo eflúvio telógeno, dermatite seborréica, vitiligo entre outras.  Em ambos os casos o tratamento interdisciplinar é fundamental e é importante vivenciar um estilo de vida saudável com boa alimentação, mantendo o peso adequado, exercícios físicos regulares e sono reparador.

Em geral o sucesso disso depende de suporte psicológico aliado a terapias cognitivo-comportamentais, entre outras. O mundo digital pode facilitar o alívio do estresse através de ferramentas como aplicativos de meditação, músicas relaxantes, yoga... Enfim, são doenças mais desafiadoras, que, por vezes, não têm tratamentos rápidos e que garantam uma cura definitiva porém podem ser controladas e até desaparecer completamente permitindo uma vida completamente normal se tratadas adequadamente.

Além das doenças de pele exacerbadas pelo estresse, o próprio Coronavírus tem assustado os dermatologistas com muitas manifestações cutâneas atípicas. Foram relatadas manchas avermelhadas, urticárias desde leves a extensas, lesões que simulam reações medicamentosas, que simulam catapora. Uma das apresentações mais comuns é a má circulação nas extremidades, lembrando as “frieiras” vistas no inverno. Com essa nova perspectiva, o dermatologista precisa juntar mais peças no quebra cabeças do diagnóstico, perguntando sempre se há febre, falta de ar ou outros sintomas sistêmicos.

Nos casos de dúvidas, exames de sangue e até biópsias de pele darão a resposta definitiva. Enfim, nunca antes a resiliência foi tão importante para que possamos ter a sabedoria necessária para aprender as lições que as dificuldades nos trouxeram, bem como para cultivar a esperança de que logo tudo vai passar.

 

Themis Hepp | Dermatologista