O Caminho da História, projeto Pioneiro no Rio Grande do Sul valoriza o patrimônio cultural de Galópolis
O Museu de Território: O Caminho da História, Foi inaugurado no dia 17 de agosto, na localidade de Galópolis, em Caxias do Sul (RS). Com apoio da Lei de Incentivo à Cultura da Prefeitura do município, patrocínio da FSG – Centro Universitário da Serra Gaúcha e iniciativa do Instituto Hércules Galló, o projeto é o primeiro no Rio Grande do Sul com essa concepção.
Fruto de um extenso trabalho de pesquisa e resgate de fotos e informações históricas (com curadoria da pesquisadora e museóloga Tânia Maria Zardo Tonet) o Museu de Território é a céu aberto, sendo composto de 15 pontos do patrimônio cultural material e imaterial de Galópolis. “O objetivo do projeto é valorizar os bens culturais tangíveis e intangíveis da região, promovendo a sua preservação e o envolvimento e apropriação por parte da comunidade”, afirma Charles Tonet, da 3 Tempos – Memória Corporativa, filho da museóloga e parceiro do projeto. “Trabalhamos o patrimônio histórico e sua memória, e isso pode ser aproveitado economicamente do ponto de vista turístico”, complementa.
“Essa comunidade é o que é porque recebeu empreendedores, pessoas com valores, trabalho e valorização da família que a diferenciaram. E hoje essa região é absolutamente diferenciada no Rio Grande do Sul”, destaca José Galló, presidente do Instituto Hércules Galló. “Minha grande preocupação é sempre a preservação desses valores, e a sua perpetuação para as novas gerações. Acredito que os museus, assim como a educação, têm um papel importante nisso”, afirma, reforçando que um dos objetivos do empreendimento criado em Galópolis é trazer desenvolvimento econômico para a comunidade.
Nova Museologia
Alicerçado na trajetória e no legado do italiano Hércules Galló, pioneiro da indústria têxtil na Serra Gaúcha, o projeto iniciou com a musealização das duas casas onde o empreendedor e sua família viveram, inaugurados em 2015 e que compõem o marco inicial. No sábado, foram entregues à comunidade os outros 14 pontos que integram o núcleo do museu a céu aberto. Os locais foram demarcados com totens explicativos que mapeiam o território, oportunizando a manutenção da história viva para ser contata por e para todos que ali moram e visitam. A intenção da museóloga Tânia Tonet ao conceber o projeto foi trazer uma forma diferente e envolvente de transmitir esse resgate histórico, onde o foco não são objetos históricos e sim o território em si e toda a sua riqueza cultural. O conceito de museu de território, ainda pouco explorado na museologia no Brasil, tem como essência musealizar o território e territorializar o museu. A proposta é adepta à Nova Museologia que, diferentemente do conceito tradicional centrado num edifício, nas coleções e num público-alvo, amplia seu olhar para todo o patrimônio material e imaterial regional, passível de preservação e, acima de tudo, propõe um diálogo com a comunidade em que está inserido, numa lógica de inclusão e partilha. Seguindo o conceito do museólogo francês Hugues de Varine Bohan, o acervo abrange o patrimônio cultural e não a coleção, como tradicionalmente ocorre.
A céu aberto
Galópolis constitui-se num cenário autêntico, um caso raro de uma comunidade inteira passível de preservação. Além disso, possui características curiosas, como o fato da implantação de um núcleo nitidamente urbano em um ambiente rural. Isto se deve ao processo de industrialização iniciado em 1894, quando jovens tecelões vindos da Itália fundaram o primeiro lanifício, nos moldes de uma cooperativa, após perceberem que a área não era propícia para a agricultura e que os dois rios do lugar possibilitariam a movimentação de máquinas e a geração de energia elétrica, além dos serviços de lavagem e tinturaria.
Em 1903, Hércules Galló juntou-se ao grupo de empreendedores, assumindo o comando do lanifício e liderando ações que garantiriam à vila um significativo progresso, cujo ícone é a construção de uma vila operária, com casas, construídas lado a lado, que eram alugadas por valores simbólicos, garantindo a manutenção e atração de mão-de obra. A partir daí e, mesmo após a morte de Galló, a vida da comunidade gravitou em torno do Lanifício, a exemplo da Rheingantz, da cidade de Rio Grande, com modelo fabril trazido pelos fundadores Carlos Guilherme Rheingantz, Miguel Tito de Sá e Hermann Vater, que foi inspirado na Alemanha e em viagens efetuadas à Inglaterra da Revolução Industrial. Em homenagem a Galló, o povoado passou a denominar-se Galópolis, em 1914, com a criação do 5º Distrito de Caxias, pelo intendente José Penna de Moraes. Todo esse caminhar, expresso em testemunhos arquitetônicos, peças, fotografias, documentos e na memória de seus habitantes, está registrado no Museu de Território.Os locais elencados são capazes de contextualizar a história da vila, em seus aspectos econômico, social, político e cultural.