Menu

For All Executive

16/07/2015

A Geração Quase Sem Filhos

Cinco homens com um pensamento inovador sobre paternidade falam sobre como isso pode ser feito hoje pelos casais modernos

"Me preocupo com tudo, se o bebê está bem, se respira. Sinto um instinto super protetor. Eu descobri o amor de verdade. É sem medida, infinito" Angelo Coffy "Ter um foi ótimo, ter dois foi melhor ainda, ter três foi natural, já que só melhorou! Se pudesse, eu teria muitos, muitos outros filhos e filhas. Cada um é presente de Deus, uma melhoria na minha vida, me leva a me conhecer melhor, a ser mais brando, mais amável, mas flexível, mais vivo!" Eden Federolf "Muitos homens traem ou se separam porque dizem que depois que o bebê nasceu eles não receberam mais atenção. Isso é um pensamento super machista e infantil. A atenção dele deveria ser para o bebê também, que precisa da atenção dos dois (pai e mãe). A mãe não substitui a relação da criança com o pai" Ricardo Dini "Depois que descobri que teríamos ela, é como se uma pedra tivesse caído sobre tudo isso. Como se uma voz me dissesse - foco! Organiza tua vida (risos)" Maurício Antunes  "O pai é fundamental na vida da criança. É aquele que intervém e apresenta parâmetros do que pode ou não pode, transmite valores éticos e morais. Porém, o mais importante é demonstrar amor e proteção, oferecer confiança e segurança. Ser um bom pai significa conhecer bem os filhos" Guilherme Pasin

Se você perguntar para qualquer pessoa (homem ou mulher) na faixa etária que vai dos 18 aos 35 anos “o que você quer fazer da vida?”, poucos, se muito algum, responderá “quero ter filhos”. Não. Há algum tempo que jovens adultos querem outras coisas - estudar, viajar, ter uma empresa, ganhar muito dinheiro, etc. Antes dos 30 todos querem graduações, pós-graduações e “MBAs”. Desejam falar diversas línguas, ler muitos livros e assistir ainda mais filmes. Buscam desenvolver ao máximo todos os seus potenciais e ter amigos e contatos em diversos lugares do mundo. Poucos, muitos poucos pensam – “quero ter um filho”.

Ao lado da falta de planejamento a maioria parece cultivar uma certa aversão à ideia. O temor paira no ar - o que uma criança representará? Ou para ser mais preciso - a presença de uma criança em minha vida me impedirá de fazer o quê? Falta tempo! A rotina do brasileiro (principalmente os nascidos depois dos anos 80) é trabalhar, estudar e nada muito além disso. Tempo para se divertir, pouco. Lazer ou esporte? Um luxo! Até manter relacionamentos amorosos é complicado, (falta tempo para a relação). O que dizer então sobre filhos? Diante do panorama caótico que transforma a vida dos jovens em máquinas pré-programadas, a sensação é de esgotamento. Como fazer para, além de tudo isso ter a energia necessária para doar a um pequenino ser, totalmente dependente? O questionamento muito comum no meio feminino costuma ter uma resposta bem clara – uma criança significa principalmente abnegação. A pauta já pode ser considerada, de certa forma, exaurida entre as mulheres jovens que, além de uma enorme frustração por não encontrarem lugar em suas vidas para a terem a criança, ainda sentem sobre os ombros a culpa e a cobrança em relação ao casamento e à prole - “você está ficando velha”, gostam de repetir tios, pais, avós e quem mais sente-se a vontade... complicado. Como não quisemos calcar mais essa ferida resolvemos convidar os homens ao debate.

A seguir você conhecerá Ângelo, Eden, Guilherme, Maurício e Ricardo. Todos têm menos de 35 anos. Três deles recém experimentaram a sensação da paternidade. Um deles aguarda ansioso a chegada da primeira herdeira enquanto outro, excepcionalmente, já recebeu o terceiro rebento. Eles falam sobre amor, expectativa, angústias e principalmente, sobre o papel do homem neste passo tão importante do ser humano – conceber, criar e deixar um legado de si para o mundo.

Medo de Perder  

O medo de “ter que parar a vida” para cuidar de uma criança preocupa os jovens. O tempo passa e ficam os casais sem bebês. “Somos a geração sem filhos. A maioria não tem. Nossos amigos em geral ou tem apenas um ou não tem. Para se ter uma ideia temos um grupo formado por oito casais. Dentre estes surgiram apenas três crianças”, conta Maurício Antunes, 32 anos, recém papai. “Eu posso te afirmar com segurança que a nossa geração não está pronta para ser pai e mãe”, afirma Ricardo Dini, 28 anos, também recém pai de primeira viagem. “Somos individualistas. Egocentrismo total. Por isso muitas pessoas decidem abrir mão das crianças. Meus amigos tem entre 30 e 36 anos e a maioria não tem filhos. Alguns casais não estão prontos para investir tempo e dinheiro em algo além de si”, relata. “É a geração que colocou o trabalho, o sucesso profissional na frente das relações familiares. Eu mesmo consegui alcançar meu maior sonho muito jovem. Hoje, com 32 anos sou prefeito de Bento Gonçalves. Minha esposa também buscou e alcançou a realização profissional. Estamos vivendo a emoção de esperar a primeira filha só agora”, afirma Guilherme Pasin. “Queremos ter tudo, mas sem muito desgaste pessoal. A maioria acredita que filhos são um fardo, uma corrente pesada”, reflete Eden Federolf, 34 anos, 3 filhos, exceção absoluta para sua faixa etária.

Como será o futuro desta geração sem filhos? Qual será o impacto disso na vida destes jovens adultos quando alcançarem a idade madura, depois dos quarenta, cinquenta anos? Caminhamos na mesma direção dos povos europeus que pouco a pouco definham? Como será o amanhã da nação onde existem mais cachorros do que crianças nos lares? Sim, essa é a realidade do Brasil hoje, de acordo com o IBGE, são 52,2 milhões de cães contra 44,9 milhões de crianças de até 14 anos no país. “As relações entre as pessoas não tem base, não duram. Os jovens não querem compromisso e isso influencia totalmente na questão. Hoje 90% das pessoas da nossa geração abrem mão de ter filhos para curtir, morar fora, ficar soltos. Mas acredito que muita gente vai se arrepender futuramente. Acho que os filhos que não estamos tendo nos farão muita falta”, prevê Ângelo Coffy, 32 anos, recém-pai.

Falta Envolvimento Masculino

www.meuqueridofilho.wordpress.com - o endereço nasceu da frustração de Ângelo na sua busca por conhecimento, quando soube que seria pai. “Fui pesquisar, ler sobre o assunto, comprei livros etc. 99,9% de tudo que eu encontrava era escrito por mulheres. Eu senti falta de algo de “homem para homem”, queria saber a opinião masculina, mas parece que eles não compartilham sentimentos sobre isso”, constata. Por isso Coffy resolveu dar o exemplo e começou a escrever um blog sobre sua experiência com o filho Rafael. Entretanto o eco no mundo “deles” ainda é fraco. “Nunca tive feedback de um homem. As mães marcam os pais nos posts e os eles comentam que o vídeo vai ajudá-los, mas a verdade é que são muito retraídos. Não querem falar sobre detalhes da criação. Eu estou tentando quebrar esse paradigma”, projeta. O homem grande, todo tatuado, chama atenção quando passeia na rua com o bebê no sling. “As pessoas olham encantadas. Somos atração de Criciúma. As senhoras nos param para ver o sling. É bem legal!”, assume o orgulhoso pai. Ângelo espera que sua postura estimule outros homens. “Fico triste quando ouço dos outros coisas do tipo – eu nunca troquei a fralda do meu filho...”

O Pai pode “Salvar a Pátria”

Comentários do gênero também entristecem Dini. “Para o pai é muito fácil. Mesmo eu sendo responsável, participativo, ainda assim, é muito mais tranquilo para mim do que para a mãe. Imagina se eu fosse ausente, como constato entre a maioria dos homens. Daí a vida dela ficaria muito comprometida!”, relata, impressionado com o que acontece com uma mulher quando ela tem filhos. “Nos primeiros quatro meses depois do nascimento, tudo depende quase que totalmente dela. O homem não tem como amamentar, e isso é tudo. Eu ajudava com o que eu podia, arrumava a casa, ia ao mercado, fazia janta, colocava e tirava a mesa. Eu me esforçava mais para que ela se esforçasse menos. Se a mãe não tem os avós do bebê por perto para ajudar, tem que abrir mão de praticamente tudo em sua vida e em sua carreira quando o pai não participa. Mas como posso ser feliz se quem eu amo estiver se sentindo miserável, deprimida?”, pergunta Dini. “Observo que a dedicação da mãe é absoluta. Eu como pai tento dar o máximo de ajuda mas fato é que para nós (homens) é bem mais tranquilo”, concorda Maurício Antunes.

“Exatamente. Não basta só trabalhar e ter dinheiro e a esposa que se vire! É muito trabalhoso. Você não tem ideia o quanto elas sofrem!”, assegura Coffy. “Emocionalmente, hormônios, mudanças no corpo, o parto. A mãe fica fragilizada e não pode deixar de cuidar do bebê. Se eu não participasse seria muito difícil”, explica. Coffy faz questão de se envolver o máximo possível. “Sou eu quem dá o banho no Rafael. Sei que tem amigos meus que nunca fizeram isso. Essa ideia de que cuidar de criança é coisa só de mulher é da época das cavernas!”, ironiza. “Eu fico espantado! Ainda hoje consideramos a mulher como única responsável pela reprodução? Não dá para ficarmos parados no tempo, mas infelizmente são raros os casais que não pensam dessa forma”, lamenta. Federolf afirma que mais do que participar, as atividades de cuidado com os três filhos estão totalmente integradas em sua rotina. “Troco fralda, dou banho, dou comida, levo para passear, brinco, disciplino, oriento, consolo, levo ao médico, acordo a cada duas horas para medir a febre quando precisa. É envolvimento total. A mãe é 100% necessária; o pai é 100% necessário. Qualquer alteração, duplicidade ou ausência das partes causa dificuldades para os filhos. Pai é exemplo, é fortaleza, é conselheiro, líder espiritual. Tudo isso é privilégio de pai, e muito, muito mais”, afirma otimista.  

Traição Pós-Parto

Reza a lenda que os primeiros anos após o nascimento do bebê configuram uma fase extremamente crítica para o casal e muito propensa a “puladas de cerca” masculinas. Os homens reclamam do abandono e de “perderem” a atenção da mulher. Coffy não acredita nesta teoria. “Isso é desculpa. A relação homem e mulher deixa de ser o foco por um período. A gente sente falta de algumas coisas, gostávamos de jantar, viajar, mas estávamos preparados. Que não se prepara leva um choque”, alerta. “O projeto precisa ser dos dois. Escolhemos o parto normal por exemplo. Eu participei. A médica me disse – não vai desmaiar! Achei aquilo interessante – quem está sofrendo é a mulher e não o homem. Como ele pode se dar ao luxo de desmaiar? É muita falta de noção”, ironiza Dini. “O problema é que muitos são homens só quando lhes convém. Quando precisa pegar junto se omitem. Eu vejo vários homens participando pouco. Eles não querem abrir mão da sua carreira. É aceito no consciente coletivo de que a mulher abra mão, mas o cara não. O que eu tenho feito é me esforçar para abrir mão das minhas coisas para que minha esposa não precise abrir totalmente mão das dela”, explica Dini. “Dizer que traiu ou resolver separar porque que depois que o bebê nasceu não recebeu mais atenção? Isso é um pensamento super machista e infantil. A atenção do homem deveria ser para o bebê também, que precisa dos dois (pai e mãe). A mãe não substitui a relação da criança com o pai”, afirma Dini.

“Eu acho que, se quando o filho nasce, o homem inventa de buscar fora de casa o que diz não ter mais no lar, está dando uma baita desculpa para fazer o que sabe que não deve”, afirma Coffy. “Quando a relação envolve uma terceira pessoa, o respeito aumenta e a responsabilidade também. A parceria tem que ser recíproca mas muitos homens não têm paciência. Depois que minha esposa se tornou mãe, e a mãe do meu filho, eu fiquei ainda mais apaixonado por ela. Minha admiração só aumentou”, celebra Coffy. “Temos que ser racionais em relação ao que está acontecendo. Eu e minha esposa cuidamos para ter momentos só nossos. Deixamos o Yohan com os avós e saímos. Mesmo que seja rápido a gente sabe que tem que cuidar da nossa relação. Se tu deixa o tempo passar... um ano, dois e o que sobra do relacionamento? O perigo é que não sobre nada entre nós”, explica Ricardo Dini. “A questão é que se cobra muito das mulheres e se cobra muito pouco dos homens. É do senso comum da sociedade contemporânea que, se ele trouxer dinheiro para casa, está praticamente autorizado a fazer qualquer coisa, inclusive ser um otário, inclusive trair. Isso é um absurdo! Se quisermos construir alguma coisa diferente disso, a iniciativa tem que partir dos homens, de eles assumirem mesmo”, afirma Dini, convicto de sua missão.

Tudo Muda, Para Melhor

“O que é mais importante na vida? Nosso núcleo familiar”, afirma Dini, sem dúvidas. “Eu morreria pelo meu filho. Quando ele me olha e dá uma risada é incrível a sensação de felicidade”, explica. “É uma reinvenção total”, concorda Antunes. “Não consigo me imaginar estando longe da minha bebê. Fico pensando nela o tempo todo. É como se tivesse despertado em mim um instinto super protetor”, explica garantindo que tudo melhorou depois da chegada da pequena Alicia. “Antes, levando o negócio estava bom. Se surgisse a oportunidade de uma aventura, eu até poderia considerar. Depois que descobri que teríamos ela, é como se uma pedra tivesse caído sobre tudo isso. Como se uma voz me dissesse – foco! Organiza tua vida (risos)”. Ele não tem dúvidas – o trabalho está rendendo mais, ele está mais organizado e comprometido com horários, demandas, clientes e, principalmente com a esposa. “Saia às 7h de casa e voltava às 22h. Hoje eu saio às 9h e chego às 18h no máximo. Chego no escritório e faço tudo o que tenho que fazer, da forma mais ágil e organizada possível porque quero chegar logo em casa. Foi uma revolução, estou impressionado comigo”, admite ele, que, antes, era cético em relação a ideia de que poderia experimentar sentimentos assim tão fortes. “Os amigos que tiveram filhos sempre diziam – é maravilhoso! Eu ficava meio incrédulo. Eu sou um cara muito racional, achava estranho ver as pessoas todas “babonas”, mas a vida muda mesmo. Eu estou apaixonado. Não consigo pensar minha vida sem ser dedicado a ela. Ter um filho ajuda a programar todo o teu futuro”, conclui.

“Ser pai foi muito além do que eu sonhei. Eu me sinto realizado. Eu nunca deixei de fazer as coisas que eu amo. O que mudou é que, a cada dia que eu vivo junto com o Rafa eu aprendo que não sei nada da vida e a vida me ensina muito. É maravilhoso. Estou vivendo um sonho e me sinto muito feliz”, afirma Coffy. O sentimento é parecido para Pasin, que aguarda ansioso a chegada da primeira herdeira. Nossos corações transbordam de uma emoção indescritível com o crescimento da bebê. Estou presente desde o primeiro momento, apoiando e descobrindo junto com minha esposa, a cada dia, as novidades da gestação. O crescimento da Ana Beatriz, os enjoos, as mudanças na casa, a escolha do berço, a decoração do quarto, a vida passa ser a três”, descreve. “Todos me falam que o nascimento de um filho é uma mudança na vida dos pais. Eu já estou sentindo. Me sinto mais amoroso, mais preocupado, mais sensível”, avalia.

Só Um

Embora os relatos de quem teve a coragem de ter um filho assegurem que a experiência é maravilhosa, também se observa que poucos querem repetir a dose. “Antes queríamos ter dois, três. Agora se pudermos, ficaremos só com o Rafa. Quando tu tem um filho tu consegue proporcionar melhor qualidade de vida. Um dos primeiros itens necessários para se ter um filho é ter tempo para curtir”, afirma Coffy. Antunes também já decidiu, Alicia será filha única. “Não queremos ter outros. Eu tenho três irmãos, meus tios tinham nove, dez. Tá louco! Isso é maluquice. A gente não tem tempo. Não consigo nem dormir direito tendo só uma. Queremos dar bastante atenção, educar bem, planejar. Eles exigem muita atenção. Já temos um afilhado, a Alicia e três gatos. Está bacana!” brinca.

“Nossa ideia era ter três filhos. Agora, depois do primeiro, decidimos que com certeza três nós não teremos”, assegura Dini. “É uma fase que tu fica muito envolvido! E se fossem três, ficaríamos nessa fase por muito tempo. Pensa, seriam 10 anos da nossa vida! Então a gente decidiu que, se forem, serão dois. E o segundo está totalmente  a critério da minha esposa”, explica Dini. “A mãe não tem tempo para nada. É difícil largar o bebê por cinco minutos. É atenção o tempo inteiro! Por isso eu dei toda a autonomia da decisão para ela”, completa. Pasin, embora ainda esteja no início da paternidade, também não sabe estaria disposto a ter outro filho. “Queremos primeiro viver a experiência na sua totalidade, e depois sim, mais adiante pensar se teremos outros”, projeta.

O Problemas do Depois

O problema de viver como se não houvesse amanhã e deixar os filhos sempre para “depois”, é que essa pode ser uma escolha sem volta. Eden Federolf, que já tem três, sempre teve isso em mente. “Minha geração é a geração da realização pessoal, da ostentação das conquistas pessoais, da desistência dos relacionamentos. Primeiro, vem a carreria. Se der tudo certo, depois tenta-se os filhos. Mas aí, a idade tá avançada, a paciência e energia para criar os pequenos furacões é pequena”, argumenta, explicando porque decidiu por “tê-los de uma vez”. A lógica faz sentido. Enquanto hoje nos parece que temos muito mais tempo para fazer todo o tipo de coisas ao longo da nosso vida bem cuidada e bem desenvolvida, o tempo biológico dos corpos para a reprodução saudável continua o mesmo. “O pico reprodutivo na mulher é dos 25 aos 29 anos, fase em que ela tem as maiores chances de engravidar. Após esta idade a fertilidade começa a cair e tem uma queda brusca a partir dos 35 anos, dificultando a gestação a cada ano que passa. Há também aumento gradual no risco de problemas genéticos no feto. A chance de gravidez em cada ciclo menstrual é de 20% aos 30 anos, e essa taxa cai para cerca de 5% quando a mulher tem 40 anos”, alerta a Dra. Eleonora Bedin Pasqualotto, ginecologista, especialista em reprodução humana assistida. “Para se ter idéia, numa gestação onde o pai e a mãe tem mais de 40 anos, há 30% a mais de chances do bebê nascer com Síndrome de Down. Em homens com mais de 50 anos, crescem ainda mais as probabilidades dos bebês terem autismo e esquizofrenia. A partir dos 30 anos o sêmen já sofre as primeiras ações do envelhecimento”, completa Dr Fábio Firmbach Pasqualotto, urologista, especialista em Reprodução Humana, Andrologia e Microcirurgia.

Também é verdade que, com a evolução da medicina, o que no passado parecia irremediável tem sido possível. “Para os homens, além das cirurgias de varicocele e reversão de vasectomia específicas, há tratamento medicamentoso e recursos para pacientes com poucos espermatozóides ou com obstrução em sua saída. É o caso da punção testicular e a utilização de uma técnica de fertilização in vitro chamada ICSI - que permite a formação de um embrião mesmo com a presença de alguns espermatozóides. Para os azoospérmicos (que não produzem espermatozóides) é possível recorrer a um banco de sêmen”, afirma o Dr Pasqualotto. Para quem pretende ter filhos “mais adiante” o médico aconselha a manutenção de hábitos saudáveis. “É a melhor forma de preservar a fertilidade masculina. Não fumar, manter uma alimentação balanceada e praticar exercícios físicos regularmente. É importante, também, evitar as doenças sexualmente transmissíveis e o uso de anabolizantes. Ao programar uma paternidade tardia, há opção de congelar o sêmen e preservar a fertilidade”.

Para homens que têm dúvidas sobre seu potencial reprodutivo, Pasqualotto afirma que é possível verificar desde cedo quais são as condições e probabilidades. “Um dos exames laboratoriais básicos para iniciar a investigação da dificuldade do homem em ter filhos é o espermograma. É um teste que avalia o sêmen, fornecendo informações sobre a formação dos espermatozóides, função de glândulas acessórias (próstata e vesículas seminais) e a permeabilidade do trato reprodutivo (fechamento ou não dos canais que conduzem os espermatozóides até a uretra)”, explica. Esse exame demonstra os parâmetros do ejaculado, com ênfase na concentração (quantidade), motilidade (movimentação) e morfologia (forma) dos espermatozóides. “Apesar de ser o principal teste na avaliação da capacidade fértil do homem, 80% dos homens com infertilidade possuem número de espermatozóides normais, necessitando de maior investigação diagnóstica”, alerta Pasqualotto que teve o primeiro filho aos 35 anos. “Ser pai da Isabelle e do Lucas permitiu realizar-me por completo, conhecendo a diferença entre ser pai de um menino e de uma menina. É um aprendizado maravilhoso das diferentes formas de se ver o mundo”, afirma.

Planejamento Estratégico

A imagem intriga e encanta. O homem enorme, peludo, cheio de tatuagens, com um nenezinho no colo. Não apenas isso, o que também chama a atenção é a forma como ele o segura - a firmeza do seu pulso, a certeza do olhar. Felizmente é fácil constatar que muito mais forte que a imagem, são as ideias do Ângelo Coffy em relação ao Rafael. Coffy, 32 anos, é natural de Cruz Alta. Filho de bancário, girou o Rio Grande do Sul quando criança mas morou principalmente na Serra Gaúcha, passando por Gramado, Vacaria e parando por mais tempo em Caxias do Sul, onde conheceu a Lariane Cagnini. Ali o casal morou até cerca de dois anos atrás, quando resolveu dar uma virada radical no destino. “Nosso maior projeto como casal era ter o Rafa. Foi isso que nos levou a sair de Caxias em busca de mais qualidade de vida, porque ali vivíamos em constante stress. Trabalhávamos quase 12 horas por dia. Muitos dias eu nem sabia se chovia ou se fazia sol. Nos víamos muito pouco. Esse ritmo estava nos adoecendo mentalmente e fisicamente Procuramos uma cidade menor, mais tranquila, porque decidimos ter o bebê”, relata Coffy. Rafael Cagnini Coffy nasceu dia 27 de abril deste ano às 3h35min no hospital em Criciúma. Muito antes disso ele já existia nos sonhos e nos planos de Ângelo. “Não dá para você simplesmente ter um filho. Precisa ser bem pensado, prós e contras colocados na ponta do lápis. É preciso planejamento financeiro, de logística, onde morar, se vai ter escolas boas, se é tranquilo se não tem criminalidade”, complementa.

Esse também foi o motivo da demora de Maurício Antunes, 32 anos, em ter o primeiro filho. Natural de Canguçu, o empresário e designer gráfico veio para Caxias do Sul em 2005. Casado desde os 23 anos com a psicóloga Lia Barbosa Quevedo, Antunes recém recebeu a pequena Alicia Quevedo Antunes (nascida no dia 25 de maio de 2015). “Acreditávamos que a Lia não poderia ter filhos por conta de seu histórico familiar e nunca usávamos métodos contraceptivos. Pensávamos em adotar mas aguardávamos o momento certo. Durante muito tempo eu mantive as despesas da casa e minha esposa só estudava. Aos 34 anos ela passou em um concurso público e ficamos muito felizes e tranquilos. Talvez tenha sido isso, não sei. Fato é que três meses depois, a Alicia veio para nós”, comemora.

Ricardo Dini, 28 anos, não quis esperar tanto. Casado há quatro com Cassiana Borilli Dini, 27 anos, acreditou que precisava agilizar as coisas por um motivo muito especial – a convivência entre gerações. “Escolhemos esse momento porque meu pai vai fazer 65 anos. Eu quero que meus filhos convivam e cresçam próximo dos avós”, explica. Yohan Borilli Dini, nasceu no dia 10 de setembro de 2014. “Quando o guri tiver 15 anos meu pai terá 80. Eu não gostaria de perder isso. Foi importante para mim, acredito que vai ser importante na formação dele”, completa. Outro motivo da opção do casal por ter Yohan logo antes dos 30 anos foi poder curtir a juventude pós-filhos. “Pensei que se tivéssemos filhos agora, enquanto somos jovens, quando tivermos 40 anos eles já estarão independentes. Queremos aproveitar enquanto temos muita energia e vitalidade. Se esperássemos até os 35, por exemplo, poderíamos voltar a ter nossa independência só com 50 anos, e não é a mesma coisa. Esse foi nosso critério”, explica.

O Maior Amparo é o Amor

Em meio a tanta felicidade, uma série de temores assombra os pensamentos dos recém-papais. Para Antunes o maior medo é não conseguir dar suporte necessário. “Temos não poder dar tudo que ela precisa. Tenho que ir bem para manter uma vida bacana para ela. Tenho que organizar o tempo para poder estar em casa com ela. Meu maior medo é que algo venha a lhe faltar”. Federolf, o mais experiente dos nossos entrevistados, já que tem três filhos com idades entre cinco meses e quatro anos, afirma, por experiência, que não há o que temer quando se tem amor para dar. “Descobri que o mais importante não é ter dinheiro para comprar brinquedo, mas tempo para brincar; não é ter dinheiro para viajar para o exterior mas tempo para sentar e tomar um café com a esposa. O mesmo dinheiro que compra o brinquedo e a passagem, pode ter custado o filho e a esposa; se eu tiver que escolher, fico só com as pessoas, mesmo”, afirma Federolf convicto.

Pasin concorda com tais convicções. “Quero estar sempre presente. Minha carreira é corrida, mas quero conciliar minha agenda com o desenvolvimento da minha filha, e dar o carinho que ela e minha esposa precisam. Quero poder dar para Ana Beatriz a educação, a base familiar que eu tive quando era criança. Meus pais sempre me educaram impondo limites, não tinha tudo o que eu queria, na hora que queria. Na época, eu achava isso errado, mas foi essa educação que me auxiliou a ser a pessoa que sou e são estes valores que quero passar para Ana Beatriz, que deve nascer em outubro”, compartilha .

Dini acredita que os filhos são um legado para o mundo. “Um bebe é uma coisa que transcende. É uma algo que tu não experimenta em nenhuma outra instância da tua vida. É muito mágico. Ver ele na barriga, o coração batendo, o nascimento, o crescimento. Queremos entregar para o mundo alguém que vai levar nossos valores adiante”, afirma convicto. “Não conheço nenhuma imagem mais honrosa para um homem, do que estar cercado de seus filhos adultos, curtindo cada um, sorrindo, sendo amigo, pai e exemplo. Cada filho e filha é uma medalha no peito de um pai, uma flecha lançada no mundo para fazer a diferença, levar esperança lutar contra a injustiça”, afirma  Federolf, orgulhoso de sua prole.

Pessoas em Primeiro Lugar 

Quem vê a figura do jovem de 34 anos cercado por três pequenas crianças fica admirado. Eden é incomum. Diferente da maioria dos da sua geração, tem três filhos – Zack (quatro anos), Tito (dois) e a recém-chegada Nina (de cinco meses). Casado com Isabelita Federolf desde 2006, ele sempre quis ter filhos. “Tenho seis irmãos. Aprendi cedo que pessoas são a coisa mais preciosa. Dinheiro, bens e carreira, são o objetivo da maioria das pessoas, o combustível que faz muita gente levantar cedo de manhã, trabalhar muito, e, muitas vezes, comprometer sua alma. Mas tudo isso é como tentar segurar o vento, é correr atrás do arco-íris que sempre parece estar logo ali, é só correr mais rápido”, ilustra Federolf que não se considera jovem demais para ter tantos filhos.

Ele afirma que é importante observar a idade na hora de planejar a família. “Conta muito. Pai tem que ser pai: nem irmão, nem avô. Tem que ser novo a ponto de jogar bola junto, soltar pipa e correr por aí, mas velho a ponto de poder orientar sobre a vida, dar um norte”, explica. Sobre a opção de ter vários filhos ele diz não se arrepender. “Ter um foi ótimo, ter dois foi melhor ainda, ter três foi natural, já que só melhorou! Se pudesse, eu teria muitos, muitos outros filhos e filhas. Cada um é presente de Deus, uma melhoria na minha vida, me leva a me conhecer melhor, a ser mais brando, mais amável, mas flexível, mais vivo!” afirma. “Acho que trocar relacionamentos por qualquer outra coisa leva a arrependimento futuro. No máximo no leito de morte, ou em experiências de quase-morte, nos damos conta disso. Mas, aí, muitas vezes não teremos mais uma segunda chance... Acredito, sim, que filhos trazem um relacionamemto único, insubstituível. Mas é prá quem quer”, conclui.

Caroline Pierosan