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Oratória

05/07/2019

"Body Positivity"

Um tapa na cara da gordofobia

Natália Silvestrin ( a esquerda ), como influencer, motiva mulheres a gostarem de si independentemente do seu tamanho ( Foto: Studio Dal Monte )

Natália Silvestrin tem 21 anos, é digital influencer e tem um atelier homônimo. Após passar por um processo difícil em sua vida, ela engordou 30 quilos em quatro anos, aprendeu a se aceitar e hoje levanta bandeira do body positivity, que é amar o corpo independente do peso, das medidas e do número de roupa que usa. Atitude que é “um tapa na cara da gordofobia”. Conheça mais sobre essa mulher singular.

2019 será um marco para a tua empresa familiar, pois foram quase 11 com o nome Bettina, agora, trocado para Atelier Natália Silvestrin. Como é ter uma empresa homônima?

É maravilhoso, mas ao mesmo tempo muito sério. Pois facilmente o que faço como Natália Silvestrin reflete no Atelier N.S, logo o atelier está completamente ligado no que faço e falo. Falar de Natalia Silvestrin também é lembrar-se da Cleomara Silvestrin, minha mãe, que foi quem fundou a empresa e hoje é quem cuida de toda a produção. É uma honra ter o meu nome em meu atelier, podendo ajudar ainda mais as mulheres a se aceitarem e a encontrar roupas, independentemente do seu tamanho.

As responsabilidades são maiores? 

Sim, sem dúvidas, pois a minha relação influencer com o atelier é direta e nos últimos anos praticamente total, afinal tudo que eu defendo nas minhas mídias, refletem na loja. Sinto-me como se eu fosse o coração da empresa, porque as pessoas só querem comprar e vestir o que eu estou vestindo, então, além de tudo, eu sou uma inspiração para a maioria delas.

Qual o público-alvo maior da loja?

Mulheres que gostam de se vestir bem, com conforto, versatilidade e estilo, independente do seu tamanho. Atendemos a todos os estilos, mas o nosso foco é o plus, afinal eu senti a necessidade de ir para esse lado, por não encontrar roupas que me servissem e que vestissem bem em mim e que estão na moda, afinal ainda existe a cultura de que gordinhas não vestem o que está na moda e, sim, se obrigam a vestir peças mais tradicionais sem recorte sem detalhes, sem falar nas estampas. Foi aí que chegamos a conclusão que isso não era um problema que só eu enfrentava e, sim, a maioria das mulheres do meu tamanho se deparava com esse tipo de situação.

Como é a tua rotina? 

Minha rotina é supernormal e tranquila! Tento encaixar meus compromissos de influencer de forma que não me sobrecarreguem, afinal eu que cuido de todo o comercial da empresa, e também da criação, junto com minha mãe, além de ajudar nas vendas.

Na loja, além de vender, praticas algum outro papel em prol de pessoas que estão com baixa estima? 

Sim, geralmente as mulheres vêm até aloja por se inspirarem em mim e na hora que provam as roupas, frustram-se pelo simples fato de “eu não fiquei igual a você”, ai entra o meu trabalho e da minha equipe em mostrar que cada um tem um tipo de corpo, nem tudo que você veste vai ficar bonito em mim e visa e versa. Tentando melhorar a autoestima, mostrando as peças que ficariam melhores no seu corpo.

Qual a relação do Atelier com teu trabalho no instagram, onde falas muito sobre aceitação? 

As pessoas costumam não se aceitar, não encontrar roupas, sejam elas magras ou gordas. E mostro que elas podem e devem aceitar o seu corpo, pois no Atelier Natalia Silvestrin vendemos do PP até o G3.

Mostras que é possível ser linda e se amar mesmo não estando dentro dos padrões. Como te sentiste quando publicaste a primeira foto de biquíni?

Imensamente feliz, por estar fazendo muitas mulheres se darem conta que o nosso corpo é perfeito independente do tamanho e medidas, e que para se divertir não é necessário ter o corpo de modelo, só se aceitar.

Passaste por algum processo doloroso? 

Sim, o divisor de águas da minha vida foi em 2015 quando fiz um ano de cursinho pré-vestibular para medicina, não aguentei a pressão e isso mexeu completamente com meu psicológico, comecei a descontar tudo na comida, não foi nada fácil. Mas foi a partir disso que minha vida mudou e eu comecei a entender e enxergar as coisas de uma forma diferente, inclusive a lidar com as pessoas de igual pra igual, pois ninguém é mais que ninguém.

Que tipo de coisas costumam te dizer que te irrita? E como tu lidas com isso?

O principal é a não aceitação das famílias, “tu tá muito gorda”, ou “tu tá muito magra”, sem contar que se tu engorda é porque esta grávida e se está magra está doente. Fecho os ouvidos e dou uma risadinha como se nada fosse. Vejo também muitas mulheres não se aceitando pelo simples fato de que o “outro” falou que está com uns quilos a mais.

Em que momento decidiste que era melhor se aceitar do que tentar mudar o teu corpo?

Quando me dei de conta que estava fazendo milhões de dietas mirabolantes e não emagrecia nada, pois o principal para a gente emagrecer é mudar, se aceitar e fazer escolhas, ou seja, é estar consciente.

Como a mulher lida com a aceitação do próprio corpo em um mundo onde o padrão de beleza é ditado pelas indústrias e mídias?

Confesso que não é fácil, mas, em primeiro lugar, é preciso aceitar que o seu biotipo é um e que o imposto pelas mídias são outros. Ainda que a mídia tenha mudado um pouco, mas por muitos anos se vendeu padrões que não existem.

Ao teu ver, de que forma o fato da mulher não conseguir se adequar ao corpo dito como ideal, seja por motivos financeiros, genéticos ou pessoais, pode interferir na sua saúde mental, na sua autoestima? 

Estamos em um mundo muito tecnológico onde tudo gira em torno das mídias sociais. Muitas vezes a gente acaba se frustrando em ver tanta coisa “linda” de blogueiras ou famosos e não nos damos conta de que as pessoas só postam as “maravilhas da vida”. E com isso acabam não se aceitando porque para ser que nem fulana tem que ter dinheiro, para viajar, comprar roupas de marca... e não é por aí!

O que as pessoas podem fazer para apoiar o movimento de aceitação corporal e mudar esses estereótipos e comportamentos enraizados?

Acredito que é começando por nós mesmos, se aceitando, pois quando a gente se aceita, tudo muda.

 

Entrevista | Marina Grandi - Edição | Caroline Pierosan - Foto | Studio Dal Monte