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Oratória

05/07/2019

De Ramo e De Rumo

Conheça as recentes reviravoltas da vida dessa rara empresária, suas opiniões sobre gestão empresarial, sobre diferença de gêneros e os valores que tem aprendido com a maternidade

"O contexto atual do mercado exige dos profissionais algumas características que são mais corriqueiras entre as mulheres, como sensibilidade, percepção, afetividade, bom relacionamento interpessoal e versatilidade. E as organizações já se atentaram para isso" ( Foto: Gane Coloda )

Da moda à metalurgia, do glamour para o inesperado. Biba Conte trocou de ramo e vislumbra novos horizontes para uma empresa que, outrora, esteve praticamente falida. “A maioria das pessoas não lida bem com mudanças. Tendem a ser reativas, inseguras com a maior parte das situações diferentes de seu cotidiano e podem reagir de formas variadas, muitas vezes guiados pelo medo de errar”, observa Biba. Ela acredita que o ser humano tende a encarar a mudança como algo negativo, pois essa pode fazê-lo abandonar o princípio do menor esforço, retirando-o de uma zona de conforto. “Mas mudanças precisam ser bem-vindas sempre porque o campo profissional é vivo, latente e se transforma constantemente. Se não mudamos junto com ele, ficaremos paralisamos no tempo”, reflete. Confira mais sobre as recentes reviravoltas da vida dessa rara empresária.

Como foi o processo de mudança de ramo?

Eu amava trabalhar com moda. Não entendia nada de metalurgia e tinha medo de não suprir as expectativas demandadas. É necessário sentir-se capaz de realizar tudo o que a profissão exige e eu não me sentia preparada, a empresa que assumi estava em um momento muito complicado para receber uma administradora com experiência em moda.

Como foi assumir a Delta Laser em seu pior momento?   

Difícil. A empresa estava com um passivo enorme, credores ligando, colaboradores desanimados, ansiosos e com baixa estima. Mas eu tinha um propósito, acalentava  um sonho, que era deixar um legado, uma "marca". Os acontecimentos podem se tornar um obstáculo ou uma oportunidade, dependendo do modo como olhamos para a situação. É assim que as pessoas impactantes e empreendedoras lidam com a vida, são capazes de transformar fatos aparentemente negativos em oportunidades únicas para a realização de seus propósitos mais elevados; e era isso o que eu almejava. Com o tempo, fui ganhando lastro para lidar com os desafios e isso me fortaleceu e me tornou uma profissional habilitada a trabalhar em qualquer empresa.

Como lidar com o passado e iniciar uma nova fase na empresa?

A imagem de uma empresa no mercado, na visão do público e dos concorrentes, conta muito. Um ótimo atendimento também é um importante diferencial. Por isso, melhorar a imagem da empresa precisa ser uma preocupação constante. Clientes insatisfeitos são um problema que pode acabar com a reputação de qualquer negócio.

Tiveste medo de não conseguir reverter esta imagem? 

Antes de assumir eu tinha essa dúvida, mas não é porque não se sabe como será a linha de chegada que a jornada tem que ser assustadora. Famílias dependiam da empresa e, quando eu estava no meio do processo, vi que dava pra reverter. Eu repetia pra mim mesma "Você pode vencer, basta acreditar no seu potencial  e você vai conseguir tirar o melhor dessa experiência". 

Teria feito diferente se fosse hoje?  

Se eu pudesse voltar no tempo, eu “pegaria mais leve” com as pessoas que me cercam, tentaria canalizar menos ansiedade  com as mudanças. Hoje fico feliz por estar onde estou, mesmo com todas as falhas que cometi, pois as minhas atitudes fizeram com que a minha personalidade fosse moldada.

O estilo de administração é realmente diferente entre homens e mulheres ou isso é um mito? 

Pesquisas mostram que, tanto homens como mulheres, têm posições muito parecidas. Seguimos estereótipos e nós todos acreditamos que a diferença de gêneros existe. Por isso, associamos mulheres à falta de confiança para liderar e os homens à liderança pela força. Claro que há exceções.  As mulheres são mais detalhistas e negociadoras, os homens são mais diretos e autoritários. O importante é fugir um pouco das comparações e entender as diferenças. Homens e mulheres não são iguais e isso só tende a trazer benefícios, tanto para quem comanda como para quem é comandado.

Existe algum dado específico que evidencie essa diferença, em tua opinião?  

Quando o assunto é liderança, homens e mulheres guardam certas diferenças quanto a seus comportamentos emocionais. As mulheres, por exemplo, toleram melhor situações incertas do que os homens. Além disso, o sexo feminino se sente mais confortável com adversidades do que o sexo oposto. E também lida mais facilmente com as mudanças e prospera em situações adversas. A presença de mulheres nos cargos de liderança aumenta a cada dia, mas ainda é pequena se comparada aos homens. E isso traz características fortes na sua atuação. Ainda há machismo e prevalência dos homens.

Como te sentes enquanto mulher liderando uma empresa composta por praticamente só homens? 

O que nós queremos é igualdade de condições, direitos e deveres. Porque direitos temos de menos, já deveres de mais, haja visto os vários papéis que exercemos na sociedade e na família. Essa é uma equação desumana. Há de se convir que ainda falta muito para termos um mercado de trabalho equilibrado no que se refere a gênero. Mas, o mais importante é levar em consideração a competência do profissional, independentemente do sexo.

De que forma as mulheres líderes de organizações podem mudar o cenário em que atuam contra o machismo? 

Usando a educação como um instrumento de libertação e de reflexão sobre os problemas da sociedade. É também um caminho de desconstrução de uma mentalidade enraizada há séculos. Temos que  criar uma sociedade em que a base seja o respeito à diversidade de gênero, à tolerância e ao direito à participação efetiva de todos os grupos sociais. O respeito ao próximo, independentemente de gênero, é, ainda, um desafio, mas que precisa ser pensado como a melhor forma para se alcançar uma sociedade benéfica para todos. Não é preciso militar no feminismo. Essa é uma luta que pode ser defendida por todos e, se cada um fizer sua parte, com certeza teremos um mundo mais igualitário, com menos preconceito e violência. Basta ter vontade de mudar e a melhor forma de começar a fazer isso é mudando a si mesmo! Um trabalho de formiguinha, mas temos que lembrar que formigas, apesar do tamanho, são assustadoramente fortes.

O que tens a falar sobre maternidade?

Nessa faculdade eu fui laureada, o Enzo é minha maior conquista, meu tesouro mais precioso. A presença de um filho muda os eixos da nossa vida, deixamos de pensar somente em nós, para aprender a dividir, esperar, anular ou simplesmente deixar a vontade para depois. Entendemos que muitas vezes a gente erra, mesmo tentando acertar, aprendi também que a maternidade nos deixa em uma linha tênue entre o estresse absoluto e o amor infinito, amor este que eu desconhecia. Diferente de amor de marido, irmãos pais. Que é puro, impossível de mensurar. É um coração que pulsa fora do peito.

 

Entrevista | Marina Grandi -  Edição | Caroline Pierosan - Foto | Gane Coloda