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Oratória

05/07/2019

Mudar Pode ser Surpreendente

A psicóloga Tisiane de Souza Pinto fala sobre as duas doenças que têm causado mais sofrimento, principalmente quando associadas

"As mudanças fazem parte da vida, algumas são boas outras não, mas estamos sempre tendo que nos adaptar aos ciclos da vida e é justamente esse adaptar que pode fazer com que temamos e adiemos o processo de mudança" ( Foto: Diego Frigo )

Tisiane de Souza Pinto entende que mudar causa retração, pois algo novo está por vir e o que vem é inesperado. Auxiliar seus pacientes a saírem da zona de conforto e experimentar a mudança de forma segura faz parte da sua proposta como psicóloga.

Se tu tivesses que escolher uma psicóloga, quais critérios avaliarias?

Primeiramente é preciso sentir-se acolhido e identificar-se com o perfil do profissional. A experiência clínica e a boa formação acadêmica também são indiscutivelmente importantes. É preciso ter critério e cuidado na escolha, pois será para este profissional que estaremos falando das nossas angústias e confusões, ele precisa ser cuidadoso e empático com o que trazemos em nossa mente e em nosso coração.

Por que é tão difícil mudar, mesmo sabendo que determinados hábitos ou atitudes nos são prejudiciais?

Zona de conforto. As mudanças fazem parte da vida, algumas são boas outras não, mas estamos sempre tendo que nos adaptar aos ciclos da vida e é justamente esse adaptar que pode fazer com que temamos e adiemos o processo de mudança. Todos nós, por instinto, encaramos como perigoso tudo que é desconhecido, nosso cérebro logo nos prepara para uma fuga no momento em que interpreta a mudança como algo ameaçador. Por isso, é tão difícil lidarmos com a mudança, porque como muitas vezes não sabemos o que está por vir, não sabemos como nos preparar e nos proteger adequadamente do inesperado. Toda mudança requer um grande esforço para que nos adaptemos à nova situação. As mudanças que acontecem na nossa vida vão exigir que nos reorganizemos não só exteriormente como também internamente. Mudar é difícil, apesar disso acredito que o que torna a vida tão significativa é justamente a oportunidade que ela nos dá de estar sempre em movimento e em constante transformação, de poder sentir aquela sensação de que tudo sempre pode melhorar, apesar do medo de arriscar.

Como a psicoterapia é encarada em Farroupilha e Caxias, cidades onde tu tens maior atuação?

Apesar de termos apenas 20 quilômetros de distância entre uma cidade e outra, é impressionante a diferença de olhar para a saúde mental que uma cidade tem, em relação à percepção da outra. Atualmente minha agenda é 70% Farroupilha, 30% Caxias. Essa diferença me faz avaliar o público farroupilhense como mais cuidadoso com suas necessidades pessoais de saúde e bem estar. Em Caxias ainda vivemos a cultura do trabalho e, apesar de, aos poucos a saúde mental receber mais cuidado, ainda seria possível melhorar bastante. São necessidades diferentes de um público para o outro, tratam-se de questões culturais.

Em termos de Serra Gaúcha, o que tu observas que tem causado mais sofrimento nas pessoas?

Pela demanda que recebo, as grandes causas de sofrimento atualmente são: ansiedade e depressão e, em muitos casos, ambas aparecem associadas e acabam por desencadear outros transtornos que trazem prejuízo para a vida do paciente.

Tu podes comentar sobre algum caso de transformação que marcou a tua carreira como psicóloga?

Há cinco anos recebi em meu consultório de Caxias uma mãe desesperada porque a escola havia diagnosticado seu filho como autista (cabe salientar aqui, que a escola, por mais que conheça seus alunos, não está habilitada para diagnosticar os alunos, para isso, existem profissionais capacitados). Foram dois anos de atendimento semanal, criança e família. Ao final deste período, o menino “autista” desenvolveu a fala, a escrita, aprendeu a ler, se relacionou com os colegas e está a um ano de concluir o ensino fundamental. Juntos entendemos que a criança precisava de mais estímulos, ter seu tempo respeitado e de ter uma família que entendesse o limite como uma forma de amor. Resumindo: o menino está mais para “artista” do que para “autista” e logicamente este diagnóstico dado pela escola não foi confirmado por nenhuma especialidade médica que o atendeu. Até hoje me emociono lembrando das lágrimas daquela mãe que hoje é só orgulho e sorrisos do filho que tem.

Quais as tuas sugestões para as mulheres de negócios se destacarem anda mais no ambiente profissional?

  1. Acredite em si e no seu potencial;
  2. Prepare-se e tenha humildade para sempre estar aprendendo;
  3. Ame profundamente o que faz;
  4. Tenha um olhar e posicionamento crítico sem perder a humanidade;
  5. Respeite todos que estão a sua volta e, principalmente, respeite você;
  6. Trabalhe muito;
  7. Agradeça e comemore todas as conquistas com quem você ama.


Como mãe e psicóloga, acreditas que a criança deve passar por frustrações? Por quê?

Sim, mesmo meu coração de mãe tentando evitar as frustrações da minha filha, entende que apesar de parecer um sentimento decorrente de situações de fracasso, a frustração é de extrema importância para a constituição psicológica dos indivíduos e fundamentalmente necessária ao desenvolvimento infantil. Uma criança muito protegida ou cujos desejos foram sempre imediatamente satisfeitos pode ter dificuldades em compreender a realidade da existência adulta, em que o desejo e a satisfação estão cada vez mais distantes e exigem cada vez mais trabalho e dedicação. Uma criança despreparada para suportar frustrações pode se transformar em um adulto que desenvolve crises emocionais por razões mínimas ou que se sente constantemente insatisfeito.

O que tens a falar sobre maternidade?

A maternidade é única para cada mulher. Não existe manual de instruções que nos oriente nesta deliciosa e desafiante experiência. Gerar, parir, criar, maternar. Ser mãe é lindo, mas também dói. É intenso, é difícil e é para sempre. Maternidade requer jogo de cintura entre amar incondicionalmente e ao mesmo tempo lidar com a culpa de não se sentir suficiente. É ser mãe, mulher, profissional... é acordar todos os dias questionando-se se está fazendo o certo, mas tendo a certeza que está fazendo o melhor que pode.

Consideras-te uma mãe presente ou gostarias de ser mais?

Com certeza gostaria de ser mais presente e por muitas vezes a culpa materna me machucou. Mas entendi que o tempo é relativo, o que realmente importa é a qualidade e a intensidade do tempo que Helena e eu estamos juntas. Dia desses cheguei a casa e ela me esperava para dormir, quando deitei com ela na cama, ela me olhou, falou mamãe, sorriu, fechou os olhos e dormiu. Emocionei-me por sentir que naquele pequeno momento, fomos somente uma da outra.

Um momento feliz?

O dia em que pude levar a Helena pra casa após 10 dias de UTI.

Qual o seu conceito de felicidade?

Não tenho um conceito, mas traduzo uma cena que pra mim representa felicidade. Chegar a casa após mais um dia de trabalho e ficar com minha família de pijama, sentados no sofá, assistindo desenho e comendo pipoca.

 

Entrevista | Marina Grandi -  Edição | Caroline Pierosan - Foto | Diego Frigo