Menu

Podcasts

23/10/2019

Dos Vinhedos de Bento Gonçalves Para as Prateleiras do Mundo

A Cooperativa Vinícola Aurora tem ganhado o paladar dos consumidores de outros países investindo na exportação de suco integral de uva  

Aurora colocou a internacionalização da marca como foco em 2019. Em maio desse ano, deu um grande passo nesse sentido, com a construção da Aurora Unidade Vinhedos, a vinícola mais moderna, automatizada e sustentável do Brasil (Foto: James Rodrigues - Revelare) A produção da Aurora deve dobrar de 45 milhões para 90 milhões de litros de suco, ampliando em até 10 vezes a quantidade de produtos exportados em cinco anos "A Aurora é uma cooperativa com 1.100 pequenos produtores, e para eles, sem dúvidas, é um orgulho fazer um produto artesanal que chega aos quatro cantos do mundo. Atrás de um grande produto sempre tem uma grande história e nós temos uma história riquíssima para levar ao consumidor" (Hermínio Ficagna CEO da Cooperativa Vinícola Aurora) " Internacionalizar-se é estar realmente presente: se eu estou vendendo para a China, eu preciso ter uma pessoa que nos representa na China, que vai ver nosso produto na gôndola, que vai acompanhar o consumidor... Internacionalizar-se é estar ali" Rosana Pasini, gerente de importação e exportação da Vinícola Aurora "Hoje em dia, tem muito consumidor cansado daquele vinho pesado argentino, chileno ou de outras partes do mundo. As pessoas têm buscado um vinho mais delicado, com aroma mais elegante, acidez equilibrada e tenacidade, e o vinho brasileiro oferece isso", afirma Waleska Schumacher, diretora e sócia da Grapes&Pepper "Ele (suco de uva integral) é muito diferente, começando pelo gosto, que é bem melhor se comparado com similares, e é mais saudável. Por ser natural, é muito valorizado pelos consumidores chineses" conta o chinês Andy Kong, que veio ao Brasil participar da Wines of America

A Cooperativa Vinícola Aurora está olhando para fora do Brasil e pensando grande. E tem feito isso sem perder a essência que a transformou na maior referência em produtos derivados da uva no Brasil: reconhecer que tem qualidade porque é daqui. Com sede em Bento Gonçalves, a Aurora colocou a internacionalização da marca como foco em 2019. Em maio desse ano, deu um grande passo nesse sentido, com a construção da Aurora Unidade Vinhedos, a vinícola mais moderna, automatizada e sustentável do Brasil. Na nova planta, de olho na tendência do mercado internacional, será produzido apenas suco de uva. Com isso, a produção da Aurora deve dobrar de 45 milhões para 90 milhões de litros de suco, ampliando em até 10 vezes a quantidade de produtos exportados em 5 anos. Hoje, a empresa exporta para mais de 20 países, e o objetivo é fazer com que o suco de uva brasileiro — que se diferencia em gosto, qualidade e consistência, por ser absolutamente natural (sem adição de açúcar ou conservantes) — ganhe cada vez mais espaço em novos mercados.

A decisão por investir na produção de suco de uva vai além de promover a saúde do consumidor. Com a produção de suco, a Aurora consegue dar um respiro na complicada situação que se projeta para o vinho brasileiro no mercado nacional e no Exterior, após a conclusão do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia, que estava em discussão há mais de 20 anos. O acordo ainda precisa passar pela aprovação de todos os países dos dois blocos, o que deve demorar alguns anos. Mas com o vinho internacional mais barato após a redução de impostos (a queda de preço prevista é de até 30%), o cenário para o mercado brasileiro de vinho se complicará ainda mais.    

De acordo com o diretor superintendente da Aurora, Hermínio Ficagna, a consolidação do acordo entre os dois blocos gera preocupação, e traz grandes desafios. “Nós estamos em desigualdade de contexto entre o que se produz hoje na União Europeia com o que se produz no Mercosul. As condições de trabalho e de produtividade são totalmente diferentes, e temos uma diferença tributária extremamente elevada se compararmos com a UE”, explica. “Mas não podemos ficar lamentando. A Aurora já tem se preparado para isso. Teremos que reinventar o processo de produção, focar ainda mais no suco de uva e também no espumante, além do keep cooler. Vamos direcionar nossa produção a esses itens e fazer parcerias com empresas que sejam da UE e do Mercosul para que possamos manter a qualidade da nossa marca, porém, com um custo de produção bem mais em conta do que o atual”, planeja.

Para a Aurora, cooperativa fundada no começo dos anos 30, a mudança é apenas mais um desafio dos (muitos) que surgiram pelo caminho. Ela exige da marca ainda mais posicionamento no mercado, planejamento, e confiança no produto. 

Portas Abertas Para o Suco de Uva

Ousadia e confiança fazem parte da projeção dos números da Aurora: a expectativa é que o aumento seja de 400% no volume de garrafas de suco vendidas ao mercado externo até o final de 2019. A cada mês, o suco de uva chega a um novo país. Já está nos mercados da Argentina, África do Sul, Portugal, Reino Unido, Canadá, Curaçao, Estados Unidos, Paraguai, entre outros locais, além de crescer em presença na China (para onde, até a metade do ano, já haviam sido enviadas mais de 50 mil garrafas). “Sabíamos do potencial de nosso suco integral no mercado externo, produto de alta qualidade, natural e saudável, sem similares em outros países, e agora com nossa nova unidade poderemos investir em novos mercados”, destaca Rosana Pasini, gerente de exportação e importação da Aurora.

Um dos traders chineses Andy Kong, que veio ao Brasil participar da Wines of America, maior feira das Américas do setor vitivinícola, destacou as qualidades do suco integral de uva brasileiro, que já teve a chance de experimentar em Shangai. “Ele é muito diferente, começando pelo gosto, que é bem melhor se comparado com similares, e é mais saudável. Por ser natural, é muito valorizado pelos consumidores chineses”, conta. “Vejo grandes possibilidades para o suco integral de uva brasileiro na China”, afirmou, diante dos vinhedos da propriedade da Aurora em Pinto Bandeira, local que ele definiu como “lindo, com pessoas muito simpáticas”.

Para o superintendente Ficagna, a quantidade de países que produzem vinho no mundo e o custo de produção do produto no Brasil fazem com que a competição seja muito acirrada. Por isso, o investimento na produção de suco integral, que tem ganhado o paladar até dos chineses como Kong, parece ser o caminho mais promissor. “Nós temos esse produto que muitos países ainda não conhecem, não têm acesso. Hoje, preocupa-se muito com alimentação saudável, e é aí que o suco integral de uva se destaca.” Rosana concorda: “O suco integral de uva brasileiro é um produto único no mundo. Eu já provei sucos de uva produzidos em diversos países e o nosso é muito diferenciado. Apresentar um produto que é feito apenas nesse país e que tenha a cara e o estilo brasileiro é muito prazeroso”, diz a gerente de exportação.

O Paraguai (país onde as pessoas têm o paladar parecido com o dos brasileiros), hoje, é o principal importador do suco de uva da Aurora. Eles rapidamente aprovaram o sabor, afirma Rosana. A Bolívia e Equador, são dois novos destinos que estarão embarcando ainda este ano. “Umas das atividades que mais promovemos é a degustação, já que no Exterior, as pessoas não conhecem o suco de uva, e, se conhecem, é o suco de concentrado ou em refresco em pó, que tem um gosto completamente diferente. O mundo busca produtos naturais e saudáveis, e, por meio da degustação, conseguimos mostrar isso ao consumidor”, explica.

“Ao experimentar o suco integral, o cliente internacional entende o diferencial em comparação aos outros produtos”, afirma a compradora de Curaçao, Waleska Schumacher, que é diretora e sócia da Grapes&Pepper, importadora da Aurora no país. “Só existe no Brasil,” diz. “Hoje, as pessoas que querem saúde, buscam produtos dentro do grupo das superfoods, e o suco integral de uva entra nesse conjunto, por não ter adição de açúcar e conservantes. As pessoas provam e adoram!”, elogia.

“Internacionalizar-se é estar ali”

Waleska vê em Curaçao — ilha do Caribe que recebe um milhão de turistas de todas as partes do mundo, principalmente da Holanda — grandes oportunidades para apresentar o Brasil, tanto com suco de uva, quanto com vinhos e espumantes. “O Brasil é um país que todo mundo ama, não tem ninguém fora que não respeite o que significa o Brasil”, conta. “Hoje em dia, tem muito consumidor cansado daquele vinho pesado argentino, chileno ou de outras partes do mundo. As pessoas têm buscado um vinho mais delicado, com aroma mais elegante, acidez equilibrada e tenacidade, e o vinho brasileiro oferece isso”, afirma.

O Brasil, segundo ela, precisa entender quem é e saber se valorizar mais. “Este é o primeiro passo. Entender que o que nós temos é bom e que não precisamos olhar para fora. O Brasil é o futuro”, vislumbra. Este é o pensamento da Aurora. “Temos que olhar o mercado externo como uma grande oportunidade. Só temos que saber aproveitar, ter inteligência para colocar nosso produto lá. Este é um caminho muito promissor”, ressalta Ficagna. “A Aurora é uma cooperativa com 1.100 pequenos produtores, e para eles, sem dúvidas, é um orgulho fazer um produto artesanal que chega aos quatro cantos do mundo. Atrás de um grande produto sempre tem uma grande história e nós temos uma história riquíssima para levar ao consumidor”, assegura.

Além de contar com a história e a experiência, para Rosana, o caminho do sucesso também exige muito estudo de mercado. “Não entre em um mercado sem tê-lo visitado anteriormente, não invista dinheiro em qualquer mercado, veja se ele tem potencial para o produto”, aconselha. “Não dá para achar que enviando / exportando apenas um contêiner, ele irá se vender sozinho. Durante muito tempo, muitas vinícolas acreditaram que exportar o produto seria garantia de sucesso. Mas não é. A primeira exportação é facílima de fazer, a questão é como convencer centenas de pessoas a comprar o seu produto, isso dá muito trabalho, é um projeto a longo prazo, que requer persistência e seriedade. Internacionalizar-se é estar realmente presente: se eu estou vendendo para a China, eu preciso ter uma pessoa que nos representa na China, que vai ver nosso produto na gôndola, que vai acompanhar o consumidor… Internacionalizar-se é estar ali”, conclui.

Seguindo este caminho de esforço e presença constante, para o próximo ano, a gerente de exportação tem expectativas ainda mais positivas: “Acreditamos que ainda vamos crescer muito na exportação. Nós vamos conseguir atingir as metas e ainda superar as expectativas. Teremos mais razões para brindar em 2020”, prevê.

 

Enrevistas e Edição | Caroline Pierosan - Texto | Valquíria Vita - Imagens | Fernanda Carvalho