Menu

Posicionamento All-Line

08/03/2016

Rumo e Perspectiva

Para onde vai a economia brasileira nos próximos anos?

"Quando você tem uma estratégia para a Região a capacidade de atração de investimentos é muito maior do que se um município isoladamente tenta fazer isso" Ricardo Amorin (Foto: Ricardo Corrêa)

É uma época de medo no Brasil. O que vai acontecer com a nossa economia? Quanto e em que direção Continentes, Países, Estados, Regiões e Municípios mudarão num futuro próximo? Para falar sobre o assunto a NOI convidou Ricardo Amorin, presidente da Ricam Consultoria, prestadora de serviços na área de negócios e economia global, que tem como missão antever tendências globais e brasileiras por setores, maximizando oportunidades. O Economista e Estrategista de Investimentos formado pela USP, é pós-graduado em Administrativo e Finanças Internacionais pela ESSEC de Paris.  Amorin atua no mercado financeiro desde 1992, com passagens por Nova York, Paris e São Paulo. Ele já palestrou pelo mundo ao lado de figuras ilustres como economistas ganhadores do Nobel, ministros de estado e presidentes de bancos centrais. A seguir Ricardo Amorin fala de futuro, tecnologia e estratégias financeiras.

NOI: Qual a previsão para a economia nacional pensando nos próximos dez anos?

Ricardo Amorin - Ultimamente no Brasil não é fácil saber nem o que vai acontecer nos próximos dez dias, quanto mais nos próximos dez anos. Mas algumas ideias a gente consegue ter. A primeira é que os próximos anos serão predominantemente favoráveis à economia brasileira. Em primeiro lugar o preço das commodities nacionais, sejam elas agrícolas ou metálicas, entrou num novo ciclo de alta já faz alguns meses. Esse ciclo vem vindo com muita força. Isso chama atenção porque ele está acontecendo apesar de o dólar estar estar se valorizando desde 2011 no mundo inteiro. Normalmente essas coisas não andam na mesma direção. Quer dizer… quando o dólar se valoriza, quando a moeda norte-americana sobe e fica mais cara, os produtos cotados em dólar (como é o caso de todas as commodities internacionais) também ficam mais caros nos países que não adotam o dólar como moeda. Por exemplo no Brasil, o produto que custa um dólar, quando o dólar está três reais, custa três reais. Quando o dólar sobe a quatro reais o tal produto passa a custar quatro reais e, por consequência de estar mais caro, torna-se procurado por menos gente. Quando o mundo inteiro faz isso a queda de procura faz com que o preço deste produto, precificado em dólar, caia. Só que não é o que vem acontecendo. Então é um sinal de que esse ciclo de alta das commodities tem força, até porque, esse movimento de alta do dólar, mais cedo ou mais tarde termina. O dólar já está muito caro no mundo inteiro, diga-se de passagem, no Brasil, já faz um ano que a moeda dos EUA vem caindo. Isso ajuda o Brasil, ajuda as exportações brasileiras e ajuda o desempenho da economia brasileira.

Como municípios menores, como Flores da Cunha (RS), e os demais da Serra Gaúcha podem se “proteger” da crise econômica nacional?

Infelizmente lugar nenhum no Brasil é imune à uma crise nacional. Agora, isso significa que todo mundo sente impactos, mas não significa que os impactos sejam os mesmos em todos os lugares. Municípios e principalmente regiões que têm estratégicas mais claras, mais fortes, mais bem estabelecidas, acabam conseguindo “surfar” melhor tanto nos momentos positivos quanto nos momentos de crise. Isso não é algo que se resolve em meio a crise. É uma estratégia de longo prazo que precisa ser montada. Especificamente com relação à Serra Gaúcha, eu acho que existe já essa estratégia. A Serra se posiciona muito bem como um centro, especificamente em alguns pontos. Um deles é atração de turismo – isso já acontece há algum tempo. Existe também a importância do setor metalmecânico. O problema mais recente é que, no caso brasileiro, a indústria, e inclusive a parte metalmecânica, acabou sendo impactada de forma negativa. Isso na crise só se agravou, mas já era um problema antes. Acredito que o ideal é que agora tomemos medidas para fortalecer a competitividade brasileira. Se isso acontecer nossa indústria vai ficar mais forte e a região vai responder mais. Um Segundo ponto é que o setor de turismo é um setor que, em momentos de crises graves, como foi a brasileira, é muito impactado. Isso porque o turismo é um gasto que não é classificado como de primeira necessidade como é o caso de alimentação e moradia. Então é um setor que acaba sentindo também. É por isso que a Região da Serra sentiu, e bastante, a crise, como a gente viu.

Vemos hoje uma “debandada” de jovens brasileiros buscando melhores oportunidades de vida em outros lugares do mundo. Esta atitude é um acerto ou um erro, considerando as oportunidades que nascem em meio a uma crise?

Requer coragem, requer ousadia. No caso específico dos países emergentes nos últimos 15 anos, aconteceu um processo interessante que foi uma reversão disso. Houve em geral um movimento de pessoas saindo de países desenvolvidos e “voltando para casa”. Aliás esse movimento aconteceu no Brasil também, em particular, entre 2004 e 2008. Até 2010 a gente viu isso no Brasil. Um grande movimento de brasileiros voltando porque tinha melhores oportunidades aqui do que fora. Mais recentemente nos últimos anos aconteceu o contrário. A situação por aqui piorou e, mais uma vez, os brasileiros começaram a sair, e nos últimos anos, em massa, até porque a crise econômica dos últimos três anos no Brasil foi a maior, mais grave a mais profunda nos últimos 115 anos.

Neste caso o país estaria “perdendo” investimento ao deixar seus jovens com melhor formação mudarem-se para o exterior para atuar e gerar lucro em outros Estados do mundo?

O problema sério que países emergentes viveram historicamente é chamado de perda de cérebros. Em outras palavras, muitas vezes os que saem e vão buscar outras oportunidades em países mais desenvolvidos são os melhores. Melhores do ponto de vista de capacitação – em outras palavras, gente que estudou mais, que está melhor preparado. Pessoas que são melhores, inclusive, do ponto de vista de atitude, porque sair de seu país de origem, tentar a vida num lugar diferente, não é fácil.

Para municípios que compõe uma microrregião, como é o caso da Serra Gaúcha, é vantajoso pensar coletivamente ou o ideal é o protecionismo econômico de cada cidade?

Inegavelmente existe competição entre municípios. Mas eu acredito que muito mais importante que a competição é o potencial que há em cooperação. O que eu quero dizer é que a Região é sempre mais forte do que pequenos municípios individualmente. Quando você tem uma estratégia para a Região a capacidade de atração de investimentos é muito maior do que se um município isoladamente tenta fazer isso. Então eu acho sim que políticas coordenadas entre municípios de uma mesma região podem, devem e têm tudo para fortalecer a posição da região em relação a outras regiões do próprio Estado e do país. Eu acho sim que essa cooperação deve ser buscada e pode ser muito favorável.

Qual o direcionamento para microempresários e empresas de pequeno porte neste momento da política brasileira?

A grande revolução que estamos vendo no mundo vem da parte de tecnologia. Isso deve continuar. Há uma série de novidades que vem por ai que provavelmente vão revolucionar a forma que a gente vive, trabalha e como os negócios são feitos. Em particular eu acho que a parte de inteligência artificial e de computação cognitiva vai mudar radicalmente tudo que acontece. Acho que vem aí uma revolução do tamanho da internet, ou, talvez, maior! Acredito que em relação a evolução tecnológica da inteligência artificial, estamos, comparativamente à revolução da internet, em algum momento entre os anos 1995 e 1999. Em outras palavras, esse setor vai ter e causar impactos gigantescos mas, assim como internet, a grande maioria de iniciativas ligadas a esse setor não vão dar certo. Os que vão dar certo, vão dar absurdamente certo, que é o que aconteceu com o Facebook, Google e outras que hoje estão entre as maiores empresas mundiais sendo que, há pouco tempo, não existiam, ou eram empresas apenas começando. A gente vai ver novas empresas, seguindo um caminho parecido.

Caroline Pierosan