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Sommelier

06/07/2018

A Receita Californiana para Desenvolvimento do Enoturismo

A Master of Wine Liz Thach participou da sétima edição do Congresso Latino-Americano de Enoturismo de Bento Gonçalves (RS) e falou sobre o case de Sonoma e Napa Valley

A Master of Wine Liz Thach mostra dados de um dos mais conhecidos roteiros de enoturismo das Américas. Foto: Sonoma State University A Master of Wine Liz Thach apresenta o case dos vales de Napa e Sonoma explicando como eles se transformaram em um dos principais e mais populares roteiros de enoturismo das Américas. Foto: Roberto Furtado/Ibravin A californiana, jurada em diversos concursos e premiações vinícolas internacionais, é residente em Sonoma, onde cultiva um pequeno parreiral e elabora seu próprio Pinot Noir. Foto: Roberto Furtado/Ibravin

Um dos pontos altos da programação da sétima edição do Congresso Latino-Americano de Enoturismo, realizado entre os dias 27 e 30 de junho, no Vale dos Vinhedos, na Serra Gaúcha, foi a palestra da Master of Wine americana Liz Thach. Ela abriu o segundo dia do Congresso discorrendo sobre como o Napa e o Sonoma Valleys se transformaram em um dos principais e mais populares roteiros de enoturismo das Américas. Liz mostrou de que forma o setor vinícola soube aproveitar a atividade para potencializar negócios.

Liz Thach é uma das 370 profissionais no mundo com o título de Master of Wine. A expert leciona as disciplinas de Administração e Vinhos da Sonoma State Universtity tanto para cursos de graduação como de MBA. Tem publicados mais de 130 artigos acadêmicos, além de oito livros sobre o tema, entre eles Best Practices in Global Wine Tourism (Melhores Práticas em Enoturismo Global). A californiana, jurada em diversos concursos e premiações vinícolas internacionais, é residente em Sonoma, onde cultiva um pequeno parreiral e elabora seu próprio Pinot Noir. A seguir, algumas questões que a Master of Wine abordou em sua palestra proferida durante o Congresso.

Quais foram as estratégias aplicadas em Napa Valley para consolidar a região como um destino turístico?

Napa Valley é considerada uma das regiões de enoturismo mais bem sucedidas do mundo. Eles conseguiram isso principalmente através da alta qualidade do vinho, belas paisagens e esforços colaborativos entre vinícolas, empresas e outras partes interessadas. O Napa Valley Vintners (NVV) é uma organização que ajudou a liderar grande parte desse arranjo, e eles continuam a fazê-lo hoje trabalhando de perto com os vinicultores e principais interessados, desenvolvendo programas regionais de promoção e realizando atividades de captação de recursos, como o leilão de vinhos do Napa Valley.

Qual a importância do enoturismo para o setor vitivinícola?

O enoturismo é um motor econômico na maioria dos principais países produtores de vinho. Por exemplo, nos Estados Unidos, as receitas oriundas do turismo da atividade foram de US$ 17,6 bilhões, com 43 milhões de turistas visitando as vinícolas americanas em 2017, de acordo com estudo encomendado pela Wine America e conduzido pela John Dunham & Associates de Nova York. Na Califórnia, a indústria do vinho emprega 325 mil californianos e fatura US$ 57,6 bilhões anualmente. A melhor maneira de avaliar os resultados do enoturismo é realizar estudos para determinar o número de turistas que visitam a cada ano, a quantidade média de gastos feitos por eles e o impacto econômico na região.

O vinho (por si) é suficientemente atrativo para levar turistas para uma região?

A maioria das pesquisas sobre enoturismo indica que é importante que uma região tenha outras atrações turísticas próximas, em vez de apenas o vinho. Por exemplo, Napa e Sonoma são muito próximas de São Francisco, que é uma grande cidade turística. A região da Borgonha, na França, fica a três horas de carro ao Sul de Paris, mas ainda tem muitos edifícios arquitetônicos e museus da Unesco que atraem turistas, além de trilhas para caminhada e restaurantes com estrelas Michelin.

De que forma o enoturismo pode aliar-se a outras modalidades turísticas?

O enoturismo está intimamente relacionado ao turismo culinário, ecoturismo, agroturismo e, em alguns lugares, como Central Otago, na Nova Zelândia, está ligado ao turismo de aventura. Para locais com SPAs e campos de golfe, o turismo do vinho pode ser vinculado à saúde e ao turismo esportivo, por exemplo.

Existe algum efeito negativo dessa atividade? 

Se muitos turistas chegam a uma região de enoturismo e a infraestrutura (hotéis, restaurantes, estacionamento, polícia, médicos, etc.) ainda não está preparada de forma eficaz, então pode ser muito frustrante para as pessoas que vivem lá. Além disso, muito tráfego pode criar poluição ambiental e sonora. Napa Valley e Sonoma tem sofrido com alguns desses problemas.

Entrevista  Martha Caus, jornalista IBRAVIN