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Video Estratégico

24/04/2016

Pedal no Paraíso

Aclives desafiadores (os famosos Peraus), cachoeira, parreiras, pomares e Rio das Antas... no Horizonte da Serra Gaúcha, a charmosa Nova Pádua, vista sobre duas rodas  

Como de costume o Pedala Serra mantém três percursos, o "Pouca Voia" (12 km), "Senza Paura" (22km), e "Tobata" (43km), além do "Caramelo", planejado especialmente para as crianças (1,5 km) "Percorrendo as ruas do centro da cidade, fica fácil entender o porquê de tal título - Pequeno Paraíso Italiano. Podíamos sentir a cultura aflorada, tanto nas casas quanto nas pessoas que saíram às ruas naquele domingo pela manhã  para contemplar a pequena multidão" Tainã Dossiatti "Durante o trajeto eu me deparei com a placa "Cachoeirinha" à direita. Sem pensar muito desci pela mata onde se descortinava a linda queda d" água. Não resisti em ficar apenas nas fotos, entrei na água gelada" Tainã Dossiatti

“Mah vão aonde...?”, perguntava a senhora sentada na varanda de casa. Ali, familiares e vizinhos logo reuniram-se para observar - os aventureiros iriam passar! E lá vínhamos nós! Naquele dia, 450 pessoas sobre rodas, lutavam contra suas próprias limitações para concluir os percursos da aventura. Passávamos em grupos ou solitários, dispersos. Provavelmente ali, naquela casa, localizada próximo ao trajeto escolhido para a prova, nunca se vira tanta gente andando de bicicleta! Dali, além das perguntas curiosas, também vinham as frases de incentivo... “Força que falta pouco!”. Em mente, antevia a hora de jogar-me na piscina da Pousada da Capela. Lá era nossa última parada antes de finalizar o trajeto. Eu não tinha mais água, mas parar seria um risco, pois as pernas estavam esgotadas. Antes de perder o pessoal da casa de vista, ouvi um último grito: “Podem pegar pêra! Tem um monte no pé!”. Com um sorriso discreto no rosto e uma gargalhada no coração senti - sim, é Pedala Serra! Desta vez estamos no chamado Pequeno Paraíso Italiano do Sul do Brasil: Nova Pádua.

Intercâmbio Cultural

Percorrendo as ruas do centro da cidade, fica fácil entender o porquê de tal título – Pequeno Paraíso Italiano. Podíamos sentir a cultura aflorada, tanto nas casas quanto nas pessoas que saíram às ruas naquele domingo pela manhã (03 de abril) para contemplar a pequena multidão. Pode-se dizer que um grupo de quase 500 ciclistas é uma pequena multidão para o município de apenas 2.551 habitantes. Ali, em frente à igreja, onde todos se reuniram para iniciar a segunda edição do Pedala Serra, olhares curiosos e bênção do padre. Ciclistas e locais viveram um breve momento de intercâmbio – os de fora na expectativa da beleza do trajeto, do desafio e da superação física. Os locais observando atentamente todas aquelas bicicletas, muitas cores, homens, mulheres e crianças - todos sobre duas rodas.

Desafio

Como de costume o Pedala Serra mantém três percursos: o “Pouca Voia” (curto 12 km), “Senza Paura” (médio 22km), e “Tobata” (longo 43km), além do “Caramelo”, planejado especialmente para os pequenos (1,5 km). Querendo desbravar cada canto da região, optei pelo Tobata. Saíndo do centro da cidade, nos deparamos instantaneamente com a beleza natural do local. A névoa subia do vale contrastando com a copa dos pinheiros (araucárias), atestando a altitude em que nos encontrávamos (a 638 metros acima do nível do mar). (foto araucária e neblina)

Apesar de o entorno ser muito bonito, pedalar em Nova Pádua não foi nada fácil. Logo no primeiro morro senti que o pedal seria muito desafiador. Na segunda subida o efeito foi cascata... quando o primeiro rendeu o pé ao chão, foi a deixa para que todos nós passássemos a empurrar as bikes. Era impossível pedalar. Já no topo, voltamos sobre as rodas.

Ao longe era possível ver as colônias com parreirais laranja, colorindo a paisagem com os tons acobreados, sinalizando a chegada do outono. Também conseguíamos ver as plantações diversas, além dos vários morros que ainda nos esperavam. As famílias da região permitiram que passássemos por suas terras, proporcionando trilhas extraordinárias, que ora cruzavam sangas, ora eram ladeadas por árvores frutíferas e lindas roseiras. Cada topo conquistado, uma vista sem igual. 

Durante o trajeto eu me deparei com a placa “Cachoeirinha” à direita. Sem pensar muito desci pela mata onde se descortinava a linda queda d’ água. Não resisti em ficar apenas nas fotos, entrei na água gelada. Retomei a estrada, voltando a subir, quando escutei “está quase...! É a penúltima subida”. Estranhei pois sabia que o percurso longo seria mais puxado. Preocupado, segui rumo ao topo do monte e perguntei ao apoio se este era mesmo o trajeto longo... “Não, este é o médio”. Pronto, erro de percurso! Colocamos a bike sobre o carro de apoio e no primeiro ponto que encontramos o pessoal do trajeto longo retomei a pedalada, agora na trilha correta.  Já havia feito 18km (desviando-me cerca de 3km do trajeto pretendido), mas foi ótimo. Pegar a rota equivocada me proporcionou contemplar uma cachoeirinha sensacional!”

Renovação

Pausa para comer uma maçã e recarregar a água. Encontrei o Samuel Stumpf (que tem apenas 10% da visão), realizando mais uma prova. Impressionado ao conferir suas habilidades em um trajeto irregular daqueles, pedalei mais alguns quilômetros junto com seu grupo de guias. Pouco depois me distanciei, iniciando uma forte descida, apreciando o enorme paredão de pedra à esquerda. No final do vale, podia ver o Rio das Antas no horizonte, com toda sua magnitude. 

Finalizando a descida, me juntei a um grupo formado por participantes que conheci de passagem do Pedala Serra Forqueta. Não demorou muito para o vento na cara da descida, transformar-se em suor de subida! Quanto morro! Logo adiante conseguimos visualizar novamente o Rio das Antas dividindo Nova Pádua e Nova Roma. Lembranças do rafting por ali vieram à mente. Continuando o pedal, cortando a mata fechada na costa do vale, cruzamos um riacho e lá descansamos um pouco com direito a chocolate que um dos participantes tinha na mochila e optou por compartilhar. Neste trecho com terreno irregular, na mata mais cerrada, contávamos com o apoio de motos quando necessário. As palavras do apoio eram sempre motivadoras, “essa subida é tranquila, já estamos quase finalizando...” Mas percebíamos o que tínhamos pela frente ao escutar o quanto o apoio acelerava a moto para seguir em frente... Dava para imaginar a altimetria que ainda tínhamos até o mirante com vista para o Vale das Antas. “Tranquilo!”...  Realmente, só se for de moto! Mas não conhecer o trajeto e acreditar que o percurso está quase no fim serve de motivação para não desistir.

Ao passarmos por uma casa típica italiana da região, vimos um menino com olhos atentos acompanhando o passar de cada bicicleta naquela estrada de chão. Paramos e conversamos com ele, percebendo o quanto ele estava realmente impressionado com o movimento, quebrando totalmente a rotina tranquila de um domingo à tarde em Nova Pádua. Empolgado, o garoto nos ajudou emprestando óleo para passar nas correntes das bicicletas que já estavam secas de tanto barro.

Ao chegarmos no mirante do Belvedere Sonda conseguimos ver a usina Castro Alves e logo abaixo a balsa que liga os dois municípios. Não tem como não tirar algumas fotos, o lugar é impressionante! Muito verde, a paisagem deslumbrante. Alguns quilômetros adiante chegamos na Pousada da Capela um dos últimos pontos de parada, e pode acreditar, subimos mais um pouco, para depois nos atiramos na piscina que lá esperava por nós. Mais 5km e chegávamos de volta à praça da cidade. Pernas acabadas, porém missão cumprida, coração cheio e, principalmente, mente renovada.

Tainã Dossiatti