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Viva Bem

05/07/2015

Eu Outro / Eu Isto

O medo de lidar com as emoções pode acabar com sua equipe

Raquelle Gregoletto foi a palestrante convidada do Café com Informação realizado pelo Conselho da Empresária da CIC, no dia 25 de junho de 2015

“Recebo muitos profissionais encaminhados pelos diretores das empresas com o objetivo de lidar com sua dificuldade de ver nos colegas alguém que precisa ser tratado como pessoa e não como um instrumento”, relata Raquelle Gregoletto, mestre em Psicologia Organizacional e professora da Universidade de Caxias do Sul. “Acredito que o fator cultural italiano de sentir as emoções de uma forma tão intensa ajuda a compreender tal comportamento na região da Serra Gaúcha. Nos convenceram de que emoção é uma coisa perigosa e que é melhor não termos contato com ela. Isso é um erro”, afirma categoricamente a especialista. Ela alerta que por não saber lidar com sentimentos, muitas vezes o gestor, até mesmo o de recursos humanos, acaba por desconsiderá-los, o que pode prejudicar sua eficiência e a do grupo que lidera. Para Raquelle a habilidade de perceber no outro um ser que tem necessidades e que busca suprí-las, também, por meio do trabalho, pode contribuir muito para uma condução mais assertiva das equipes.

O Que Nos Liga?

O que faz com que nos relacionemos com pessoas e com a empresa? O que faz com que tenhamos escolhido nossa profissão e nossos ambientes? “Somos movidos pela busca da satisfação de nossas necessidades”, responde Raquelle. Por isso as pessoas ficam, ou vão. “Quando nos relacionamos com a empresa (organização), e com nosso trabalho (função) os vínculos que construímos são fortalecidos quando percebemos que nossas necessidade estão sendo ou serão satisfeitas”, explica. “Quando isso acontece maior será nossa entrega na relação, porque estamos realizados. Se estamos frustrados e nossas necessidades não estão sendo supridas, perdemos a motivação. “Vivemos de trocas. Quanto maior a consciência sobre nossas próprias buscas e sobre as buscas dos outros, maior será nosso potencial de inteligência e competência emocional”, afirma a psicóloga.

Necessidades dos Outros

Quando realizarmos trocas produtivas e saudáveis, as relações se mantém. “Já quando a única coisa alcançada são os desejos de apenas uma das pessoas envolvidas, dizemos que ela considera o outro um ‘eu isto’. Ou seja, essa pessoa considera que os outros são “coisas” a seu dispor”, explica Raquelle. Há indivíduos que conseguem perceber as necessidades do outro e assumem responsabilidade por satisfazê-las, e há os que não conseguem. Para a Psicologia Científica a Inteligência Emocional é a capacidade de perceber os próprios sentimentos e emoções, assim como as dos outros, e conseguir lidar com elas. “Não necessariamente quem tem inteligência emocional é competente emocionalmente, mas ambas as habilidades podem ser desenvolvidas por qualquer pessoa, em seu próprio ritmo”, afirma a psicóloga. Assim como as pessoas, as organizações também têm desejos, expectativas e objetivos traçados em relação a seus profissionais. Se a relação entre profissional e empresa não for de satisfação mútua, a postura de alguma das partes muda e surge o desinteresse. “Com certeza são as emoções que nos movem no ambiente de trabalho”, afirma.

Equipe Robotizada

Não há empresa sem pessoas e jamais será possível mecanizar tudo, portanto não há como eliminar o fator emocional. “Vivemos a maior parte do tempo envolvidos com o mundo do trabalho. Nossas emoções estão diretamente ligadas a isso”, afirma Raquelle. As empresas precisam desenvolver o comprometimento afetivo com os colaboradores. “Não apenas identificar os valores, mas informá-los de forma organizada e intencional, fará com que as pessoas possam escolher. As que se identificam ficam, e as que não, podem procurar outro lugar onde poderão se encontrar”, propõe. Os comprometimentos mais comuns entre funcionários e empresa são os desvinculados. O Comprometimento Normativo (onde a pessoa sente ter uma dívida moral) e o Calculativo (relação é baseada em troca financeira). O comprometimento ideal é, sem dúvida o Afetivo, onde há sintonia de propósitos. “Inteligência emocional não tem a ver com grau de conhecimento e escolaridade. Não adianta ter currículo se não há harmonia de valores”, alerta Raquelle.

Todos Precisam de Competência Emocional

Durante muitas décadas se acreditou que o profissional competente era o que conseguia neutralizar emoções, e que os melhores de fato eram os que não as demonstravam. “Isso não é saudável, portanto, é importante saber usar as emoções em favor do que estamos buscando”, incentiva Raquelle. “As vezes alguém está na tua frente com uma clara expressão de aborrecimento e você pergunta – você está brabo? O que só demonstra o quanto somos despreparados para ler e lidar com as emoções dos outros”, afirma. De acordo com ela a habilidade de fazer leituras do corpo, expressões e gestos é uma poderosa ferramenta que pode ser muito útil na comunicação interpessoal e no trabalho. “Não há pessoa que não precise lidar com isso. Mesmo profissionais das áreas técnicas podem e devem desenvolver suas competências emocionais”, afirma.

Autoconhecimento é Fundamental

Inteligência emocional consiste na habilidade de assimilar o que acontece consigo e ao seu redor. Ou seja fundamenta-se na capacidade de percepção. Já a habilidade de usar esta percepção de forma assertiva, chama-se de competência emocional. O coeficiente emocional é a medida que nos ajuda a traçar planos de desenvolvimento. Quando se fala em inteligência e competência emocional não se pode fugir do autoconhecimento que exige tempo e investimento. Conhecer o que nos move, e à nossa organização é fundamental para entendermos nosso comportamento. A emoção é uma energia que sempre será extravasada de alguma forma, o que pode levar à somatização, ou seja, acúmulo de emoção que não conseguiu seguir seu fluxo. Raquelle alerta que é importante liberar a energia. “Pensar represando raiva é danoso. Conseguir entender – o que me aciona, o que me deixa triste, com raiva, possesso ou tão feliz que me impede de raciocinar, nos faz perceber padrões que nos ajudarão a lidar com todas as situações”, explica. O controle emocional gera automotivação e promove o desenvolvimento de habilidades interpessoais. “Precisamos identificar nossas emoções e as dos outros, perceber quais delas nos atrapalham em relação ao que estamos construindo, e sermos capazes de fazer algo em relação a isso”, conclui Raquelle.

O Ser Integral

Pessoas com autoconhecimento desenvolvido têm mais confiança, são capazes de realizar avaliações realistas, sabem ao que podem e ao que não podem se submeter; conseguem rir de si; têm autocontrole (redirecionam impulsos e estados de espíritos perturbadores); têm propensão de pensar antes de agir; são íntegras (conseguem manter o bem estar na ambiguidade); e são abertas a mudanças); são auto-motivadas (têm paixão pelo trabalho por motivos além do dinheiro e o status); são propensas a perseguir objetivos com energia e persistência. As pessoas competentes emocionalmente também têm mais empatia (capacidade de compreender a constituição emocional dos outros e de criar redes); são habilidosas para formar e reter talentos; eficazes para liderar mudanças porque têm poder de persuasão, e constroem equipes com facilidade.

Emoção X Razão: Não!

Somos racionais e emocionais sempre. Quanto mais conseguirmos trazer o pensamento, o entendimento e a compreensão para o nível emocional,  melhoraremos nossa condição de lidar com tal emoção. “Precisamos decidir - qual o nível de esforço que queremos fazer para evoluirmos e qual a importância disso? Se percebêssemos que a competência emocional realmente poderia mudar tanto nossa vida, com certeza buscaríamos desenvolver mais nossas habilidades”, conclui a psicóloga.

Caroline Pierosan