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Viva Bem

13/07/2020

Odontologia Pós Covid-19

“Não foco em uma odontologia extremamente rápida e de produção, mas sim em uma prática em que cada etapa do tratamento deve ser respeitada, por meio da qual os resultados funcionais, biológicos e estéticos tenham o tempo necessário para serem atingidos da melhor forma possível”

"Por trás de problemas dentários, podem estar ocultas questões funcionais, neuromusculares, sintomas de estresse, e uma infinidade de indícios que nos falam sobre o estilo de vida do paciente" (Marcos Fadanelli) "O paciente precisa estar atento ao que lhe é recomendado como procedimento" (Marcos Fadanelli) "Um paciente tem que ser tratado de forma global ao passar por análise inicial e diagnóstico. Um dentista que só olha para os dentes, sem saber o que está causando determinado problema, gerará um ciclo restaurador ineficaz e infindável" (Marcos Fadanelli)

“Um dentista não pode olhar apenas para os dentes. Ele precisa entender o que esses dentes falam sobre a vida da pessoa”, alerta Marcos A. Fadanelli, especialista e mestre em odontologia restauradora/estética, doutorando em materiais dentários, professor universitário e palestrante internacional. “Por trás de problemas dentários, podem estar ocultas questões funcionais, neuromusculares, sintomas de estresse, e uma infinidade de indícios que nos falam sobre o estilo de vida do paciente”, complementa. “Um paciente tem que ser tratado de forma global ao passar por análise inicial e diagnóstico. Um dentista que só olha para os dentes, sem saber o que está causando determinado problema, gerará um ciclo restaurador ineficaz e infindável. Ou seja, restaurações que precisam sempre ser refeitas, quando, na verdade, o que o paciente precisa, é de uma reabilitação integral”, alerta. A seguir, Fadanelli fala sobre a nova rotina do paciente e do dentista em meio (e como será após) à pandemia mundial da COVID-19, bem como a respeito do impacto do estresse causado pela pandemia (além do estilo de vida moderno) sobre os dentes. Ele explica como é possível aperfeiçoar o aspecto do sorriso mantendo a função dos dentes e, principalmente, a integridade da saúde do paciente.

 

Caroline Pierosan: O estresse gerado na pandemia pode ser causador de um desgaste mais profundo dos dentes?

Marcos A. Fadanelli: Sim, o estresse gerado nessa pandemia trouxe muitos problemas de dores na musculatura facial e fraturas de dentes e restaurações. Tais problemas devem ser diagnosticados e tratados de forma adequada.

Em caso de cárie ou dor, devemos evitar ir ao dentista e esperar a pandemia passar (por risco de contaminação) ou devemos ir mesmo assim?

Essas situações devem ser tratadas. Não se pode viver com dor, a mesma deve ser solucionada. Grandes cavidades de cárie podem levar a problemas maiores, tais como fraturas dentais, dor e infecção.

Como será a “nova rotina” de cuidados com os dentes durante e após a pandemia de COVID-19?

Nossos pacientes devem seguir cuidados. Durante a pandemia, o grupo de risco deve ficar afastado de qualquer atividade, salvo alguma situação de urgência. No atual momento, com os protocolos de biossegurança já estabelecidos, os demais pacientes que não apresentam sinais e sintomas da COVID-19 podem retornar ao consultório. Sempre seguimos um protocolo sério de biossegurança, agora, adaptado à situação. Dos tantos lugares que as pessoas possam frequentar, não será no consultório odontológico que elas se contaminarão. Tais protocolos são implementados por respeito à proteção dos pacientes, colaboradores e à nossa própria vida.

Agora é a hora para prosseguir com tratamentos estéticos ou devemos fazer apenas o essencial?

Se o paciente não apresenta sinais, sintomas e não está no grupo de risco, pode sim ser atendido no consultório que cumpre com os procedimentos adaptados de biossegurança.

Há algum tipo de dano que a COVID-19 causa nos dentes, gengivas e boca, especificamente?

Existem várias manifestações bucais relacionadas à contaminação pelo COVID-19. Lesões ulcerativas, infecciosas em bochechas, gengivas e palato. A saúde bucal das pessoas deve estar em condição adequada, uma vez que a porta de entrada da infecção é o trato respiratório superior, onde nariz e boca são os protagonistas.

Que cuidados o profissional deve ter ao atender?

A nova rotina foi acrescida de alguns novos cuidados de biossegurança pessoal. A mudança do tipo de máscara, jalecos descartáveis e protetores faciais, são alguns deles. Os protocolos de colocação e remoção de tais itens devem ser seguidos de forma rigorosa para que se evite qualquer possibilidade de contaminação. O tempo entre consultas deve ser espaçado, para que se possa realizar a adequada desinfecção do ambiente. No que diz respeito aos materiais e instrumentais, seguem os protocolos já utilizados.

Que cuidados o paciente deve ter ao escolher um profissional para se consultar?

Quando se trata de saúde e resultado, a informação com pessoas que já experienciaram certo profissional (e você pode ser uma delas) pode ser o ponto chave na tomada de decisão. Anúncios e propagandas aceitam qualquer informação. Recomendo que esse não seja o ponto principal de escolha.

O que ocorre com os dentes de uma pessoa que fica entubada por muito tempo?

Pacientes internados em UTI e entubados requerem atenção especial com a condição bucal. Existem protocolos para tal. A falta de cuidados específicos, além de poder causar lesões dentárias, pode elevar as taxas de PAVM (pneumonia aspirativa associada à ventilação mecânica) nesses pacientes. A interação entre os cirurgiões-dentistas, médicos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e a enfermagem faz-se importante neste processo. É importante realizar higiene bucal com swab embebido em clorexidina 0,12% nas superfícies dentárias, mucosa bucal, palato, dorso da língua e sonda de entubação; aspirar constantemente a cavidade bucal durante a higiene; e aplicar lubrificante bucal nos lábios a cada 6 horas, para minimizar o ressecamento labial.

O que a pandemia nos deixa de “bom”?

Dentro dos nossos consultórios, que já seguem as normas adequadas de biossegurança, a pandemia contribuiu em trazer dificuldades. Assim como as pessoas reclamam de usar máscara na rua, pois não faz parte das suas rotinas, nós estamos nos adaptando e sofrendo bastante com as novas paramentações. Dores de cabeça, pele do rosto machucada, fazem parte da nossa nova rotina. Confesso que desejo o retorno da normalidade. Por outro lado, acho que no dia a dia, a pandemia veio a colaborar na melhora dos hábitos gerais de higiene das pessoas. Sempre fui rigoroso em relação à higiene pessoal, mas meus próprios hábitos foram modificados. Tudo o que estamos fazendo em época de pandemia, seguiremos fazendo? Acho que não. Mas, certamente, muitos novos hábitos ficarão, o que apenas beneficia nossa saúde de forma geral.

Por que você está inaugurando sua nova marca?  O que ela significa?

Quero poder dar o meu melhor para os meus pacientes. Todo o conhecimento acumulado, tecnologia e a experiência desses 23 anos de profissão, estarão disponíveis em um ambiente aconchegante e personalizado. Me preocupo com meus pacientes, em diagnosticá-los e tratá-los da maneira mais adequada. Vejo que a odontologia humanizada deve ser aplicada. Cada pessoa é única e é esse conceito que minha nova marca carrega.

No que consiste a odontologia humanizada?

Um dentista não pode olhar apenas para os dentes. Ele precisa entender o que esses dentes falam sobre a vida da pessoa. Por trás de problemas dentários, podem estar ocultas questões funcionais, neuromusculares, sintomas de estresse, e uma infinidade de indícios que nos falam sobre o estilo de vida do paciente.

O que poderia estar causando o estresse nas pessoas?

Horas de conexão aos smartphones e computadores, recebendo informações de diversas fontes e cunhos. Eis a nossa rotina, que gera um quadro de distração, provocado por essa avalanche, onde é difícil concentrar-se realmente. Nosso cansaço mental é crônico e pode nos levar ao estresse. A ansiedade pode tomar conta quando planejamos diariamente o futuro, objetivando a perfeição e temendo o fracasso, sem sequer aproveitarmos o presente. Essa ansiedade gera angústias que, por sua vez, podem desencadear distúrbios relativos ao sono e à alimentação. Vivemos a cultura da perfeição, onde errar não é aceitável. Isso pode nos levar a grandes frustrações. Relacionamos o trabalho em excesso (e uma agenda lotada de compromissos) com produtividade, quando isso pode ser apenas um gatilho para o desencadeamento do estresse. Em época de pandemia, isso tudo foi agravado.

O que fazer com os dentes de pacientes jovens, que sofrem com essa situação de ansiedade?

Para tratar os pacientes que apresentam os sinais derivados do apertamento dental, bruxismo e corrosão, precisamos deixar de olhar somente para os dentes. Precisamos começar a visualizar e compreender o paciente e seu sistema estomatognático como um todo e de forma individual. É importante sabermos como funciona o dia a dia dos pacientes que apresentam tais sinais e sintomas. Seus hábitos, suas profissões e o tipo de dieta que vêm tendo. Por exemplo: uma pessoa que frequenta a academia, toma isotônicos, tem vida noturna ativa, com ingestão de bebidas alcoólicas e energéticos, sofre um bombardeio de agentes biocorrosivos associados com fatores biomecânicos de apertamento dental durante os exercícios que realiza. Isso é apenas um exemplo de um estilo de vida que move uma grande parte da população jovem. Paralelo a isso, uma análise oclusal adequada é necessária, pois com a alta frequência dos casos de envelhecimento precoce dos dentes, vemos cada vez mais os pacientes com deficiência nas guias de desoclusão lateral e anterior. As pontas dos dentes caninos degastadas ou o seu mal posicionamento no arco dental, levam a uma situação de desoclusão lateral em um grupo de dentes cujas raízes não foram desenhadas para tal função, gerando forças oblíquas capazes de provocar profundas lesões nos pré-molares, assim como desgastes nos dentes incisivos.

Isso quer dizer que é preciso considerar, primeiro, a questão funcional dos dentes?

O simples procedimento restaurador, sem realmente tratar da etiologia das lesões, é vão. Me preocupa muito o volume de restaurações, sejam elas em resina composta ou cerâmica odontológica, sendo realizadas em pacientes que não estão aptos à recebê-las. A odontologia restauradora estética, sem um equilíbrio oclusal estabelecido, está fadada ao insucesso. E, mesmo com esse equilíbrio alcançado, não nos esqueçamos dos fatores biomecânicos e de biocorrosão, pois não estão a nosso favor e temos que saber como controlá-los. A utilização de placas noturnas bem ajustadas e balanceadas, controle da dieta ácida e diminuição da ansiedade e estresse são fatores que irão contribuir para o bem-estar dos nossos pacientes, assim como para a longevidade dos seus dentes e dos procedimentos restauradores realizados. Precisamos abrir os olhos para um cuidar diferente, dos nossos pacientes e das nossas vidas.

Nesse sentido, que cuidados os jovens precisam ter no que tange a hábitos alimentares e rotina de vida?

A ingestão de alimentos ácidos deve ter baixa frequência. Troque o refrigerante pela água, não tenha como hábito a ingestão de isotônicos e energéticos. Não leve seu smartphone para a cama na hora de dormir. Pratique exercícios que lhe promovam um bom gasto energético, leia mais sobre assuntos que não têm a ver com sua profissão, converse mais e tecle menos. Só assim nos estressaremos menos.

Existe hoje uma corrida pelo sorriso perfeito e uma busca massiva por tratamentos estéticos como clareamento e aplicação de lentes de contato dentais. O que é importante ter em mente na hora de optar?

Sou extremamente a favor de promover um sorriso equilibrado aos meus pacientes. Coloco laminados cerâmicos (lentes de contato estão entre os laminados) há 23 anos. Acredito e recomendo tal tratamento. Porém, só indico quando realmente vejo a necessidade. A colocação de laminados cerâmicos ou de resina composta em um paciente que não está em equilíbrio funcional é um erro crasso, podendo causar danos ainda maiores ou que não existiam anteriormente.

Você recebe pacientes no seu consultório que, já passaram por procedimentos estéticos com outros profissionais, e tiveram a funcionalidade dos dentes comprometida?

Sim. Os retratamentos são, infelizmente, uma realidade. O que mais vejo nos tratamentos inadequados são problemas relacionados à inflamação da gengiva e fraturas e desgastes relacionados à ausência de função adequada.

Quando as lentes de contato dentais podem ser nocivas aos dentes?

O termo Lentes de contato foi descrito na literatura Norte Americana em 1995 por Friedmann. São facetas laminadas ou laminados cerâmicos extremamente finos. Nada de novo, apenas mais divulgado na mídia. Por serem extremamente finas, não podem ser colocadas em dentes com alteração de cor ou muito restaurados. É uma técnica muito sensível. Requer experiência. Muito cuidado com profissionais que prometem tal procedimento sem nenhum preparo (desgaste) dental. Pequenos preparos são necessários e devem ser realizados pelo dentista, preferencialmente, com lupas de aumento, para que se possa intervir minimamente no tecido dental, sem causar nenhum dano ao dente e promovendo maior longevidade à técnica restauradora. Lentes de contato coladas de forma inadequada, em dentes não preparados, irão gerar graves problemas de inflamação periodontal (gengiva e osso) e o paciente certamente terá que passar por nova intervenção.

Como o paciente pode decidir com propriedade sobre algum tratamento estético que está sendo recomendado pelo dentista?

O paciente precisa estar atento. Sugiro questionar sobre os resultados que o profissional obteve a longo prazo, sobre as questões biológicas e funcionais. Converse com pacientes já tratados, veja casos realizados pelo profissional, enfim, informe-se! As orientações devem ser passadas ao paciente previamente ao tratamento e a manutenção deve ser realizada pelo mesmo. Iatrogenias (tratamentos mal realizados, causando danos) são de responsabilidade do profissional. Deve estar claro que tratamentos de reabilitação estético-funcionais trazem muitos benefícios às pessoas. Aspectos de saúde geral, sociais, ausência de dores nos membros superiores, correção postural e melhora da autoestima, são alguns dos ganhos. É um investimento que trás muitos benefícios, quando bem conduzido.

Como será a sua nova metodologia de trabalho?

Meus pacientes terão o que precisam: minha total atenção, tempo e o adequado diagnóstico e resolução de seus problemas. Não foco em uma odontologia extremamente rápida e de produção, mas sim em uma odontologia onde cada etapa do tratamento deve ser respeitada, em que o tempo não é o que manda, por meio da qual os resultados funcionais, biológicos e estéticos tenham o tempo necessário para serem atingidos da melhor forma possível. Para que isso ocorra, precisamos sim de equipe, parceiros e tecnologias, mas a essência principal está no conhecimento, experiência e na humanização do tratamento de forma integral.

Onde você passará a atender e por que escolheu esse local?

Meu novo espaço está em um local moderno, com toda a infraestrutura necessária, tanto para procedimentos clínicos como para meus projetos de ensino. Um local de fácil acesso, calmo, agradável e seguro. Escolhi esse local por me sentir muito bem nele. Assim, posso doar o meu melhor para as pessoas que precisam. Meu novo Studio fica na Rua Plácido de Castro, 1063 – sala 1104, Bairro Exposição, Caxias do Sul. Fone: 54 9 9900.96.89.

 

Entrevista | Caroline Pierosan