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Diversificação Para Proteção

O mais importante de tudo, para quem está fazendo um processo de proteção do patrimônio, é diversificar: pulverizar em diversas classes de ativos

Felipe Guerra, economista, CFP e sócio da Messem Investimentos explica como é possível, mesmo sendo conservador, desenvolver uma carteira de investimentos variada (que pode incluir ações ou fundo de ações), buscando, na diversificação, instrumentos e estratégias de proteção.

 

Caroline Pierosan: Como um investidor conservador pode diversificar sua carteira? 

Felipe Guerra: Há um paradigma no Brasil, de que renda pode ser obtida apenas nos investimentos atrelados às taxas de juros. Quem já tem um pouco mais de conhecimento sobre investimento vai lembrar da sigla CDI, por exemplo. A poupança paga hoje 70% do CDI que, por sua vez, está atrelado à Selic, que é a taxa de juros estipulada pelo Governo Federal. De 2015 pra cá a taxa de juros saiu de 14% ao ano para 2,25%, ou seja, uma redução de quase 70%. Entretanto, no mercado financeiro, não existe somente esse tipo de renda fixa, atrelada a esse indexador. Hoje, no Brasil, pode-se ter uma renda fixa que garanta toda a inflação de um ano e mais um ganho real, ou seja, pode-se ter ativos de renda fixa extremamente conservadores, nos quais não se vai perder dinheiro e, mesmo assim, pode-se ter uma garantia de rentabilidade. Há outros ativos que garantem uma taxa, independentemente do que acontecer, que são os ativos pré-fixados. O mais importante de tudo, para quem está fazendo um processo de proteção do patrimônio, é diversificar: pulverizar em diversas classes de ativos.

 

Proteger significa diversificar, ou há outros critérios que devemos observar?

Além da diversificação há inúmeros critérios que você deve observar. Primeiro e mais importante: a tributação. Tem tributação? Não tem tributação? Qual que é o prazo de vencimento desse meu ativo? Por que, diante de alguns ativos, que vencem em um prazo mais curto, vamos pagar uma tributação de até 22,5% do ganho. Já em outros casos não há tributação. E essa é uma diferença muito importante quando se fala de investimentos.  

 

Quais são os investimentos ideias para um conservador que quer diversificar a carteira? 

Basicamente há três indexadores de aplicações de renda fixa que devem ser observados: prefixados, atrelados à inflação, e os mais comuns, atrelados à taxa de juros, CDI. O que é ser conservador? É garantir a inflação e mais um ganho real. 

 

Por que alguém optaria por um investimento com tributação se há investimentos que não exigem tributação?

Comparando a taxa final da rentabilidade, se, no final, descontando a tributação, a remuneração for maior do que a possibilidade do investimento isento, aí sim, vale a pena. Além da questão da tributação tem a questão da segurança do ativo. No mercado brasileiro, para ativos bancários, nós temos o Fundo Garantidor de Crédito, que é uma segurança para o investidor. Além disso temos as agências de risco de classificação para ativos, que avaliam ativos tanto do governo quanto os privados. Um exemplo que temos ao longo dos últimos anos são os ativos de renda fixa de empresas que conhecemos muito bem como Petrobrás e empresas de energia elétrica que, ao invés de utilizar caixa para fazer investimento (ao invés de pegar dinheiro nos bancos) vão ao público, ao mercado, emitindo títulos de renda fixa, para que as pessoas possam investir.

 

Para escolher os melhores títulos de renda fixa o que temos que observar em relação às empresas?

A primeira coisa que temos que observar em relação aos investimentos de renda fixa, quaisquer que sejam, é a composição da carteira. É olhar o cenário em que nós estamos. É muito importante que tenhamos clareza de que não temos certeza de para onde as taxas vão, e se a inflação vai subir ou vai cair. Mas temos tendências e isso facilita muito para alocar o recurso. As taxas de juros nunca estiveram tão baixas no Brasil. Então o foco provavelmente vai ser proteger o patrimônio em ativos que estão atrelados a inflação. Além disso qualquer emissão de renda fixa, seja bancária, seja não bancária, seja do governo vem com um relatório de risco, e um relatório de segurança do ativo. Geralmente a gente ouve agências de risco falando na nota de crédito do Brasil. Elas também fazem isso para ativos de renda fixa de emissão privada, então é possível se basear nesse tipo de informação para tomar uma decisão sobre quais opções escolher e quais deixar de fora da carteira.

 

O que que são instrumentos de proteção para o investidor?

O principal instrumento de proteção do investidor é aquela velha regra que a gente ouve há muitos anos, não colocar todos os ovos na mesma cesta. Até hoje nós vamos conversar com pessoas que tem todo o seu investimento de renda fixa em um único indexador, CDI, então é importante diversificar a aplicação de renda fixa como por exemplo pré-fixado (dentro do perfil da pessoa). Esse é o principal instrumento que existe. Além disso, os prazos: pode-se ter ativos que tenham um vencimento mais longo, e que remuneram mais. Da mesma maneira, podemos ter ativos com prazos mais curtos, que geram facilidade de resgate. As pessoas se interessam pouco por isso mesmo sendo conservadoras.

 

Será por que não têm informação?

Não é culpa das pessoas, é que não temos a cultura de falar sobre investimentos. Muitas vezes as pessoas confundem o “falar de investimentos” com o “falar de dinheiro”. Eu posso falar de investimento, sobre mercados, sobre títulos públicos sem revelar patrimônio. Um título público pode ser comprado por vinte, trinta reais. Temos muitos mitos, paradigmas, muitas coisas que a gente ouvia no passado, que ainda hoje não questionamos. Também não tivemos educação financeira. Não é um padrão das escolas brasileiras fomentar esse tipo de conhecimento. Agora que isso está mudando e está sendo muito bacana ver os jovens já falando sobre o assunto. Mas ainda temos um caminho bem longo para ser percorrido em nosso país. 

 

Achas que o assessor de investimentos acaba tendo um papel social?

Eu entrei nesse mercado para dar palestras e cursos com foco educacional, para falar sobre bolsa de valores, renda fixa, fundo de investimentos, previdência, mercado futuro. Aí, acabei me tornando assessor de investimentos. Essa profissão surgiu nos Estado Unidos da década de 70, e hoje é uma das profissões mais respeitadas naquele país, tanto que, mais de 90% da população norte-americana possui um Financial Adviser. É uma profissão que no Brasil surgiu há pouco tempo, mas que está crescendo rapidamente. Esse profissional tira o foco do produto e foca na pessoa do investidor, compartilhando conhecimento, informações, e agregando à vida das pessoas. Essa é nossa maior função. Esse é um tema que permeia a vida de todas as pessoas, e que vai influenciar positiva ou negativamente a experiência de vida de todos. Nossa função é fazer com que as pessoas tenham a clareza, tenham informações, e adquiram conhecimento para que investir se torne uma experiência de vida positiva.

 

Você falou que nos Estados Unidos a profissão de assessor de investimentos é uma das mais procuradas e que existem certificações. Você, inclusive, possui uma. Qual é a importância e a relevância dessa certificação?

É importante procurar pessoas responsáveis e que tenham certificações para falar sobre investimentos, porque é muito difícil ter uma certificação. É preciso estudar muito. Mas o mais complicado é manter ela. Ou seja, somos periodicamente reavaliados. Não somente por provas, mas pelos colegas, pelos pares, pelos clientes e pelo mercado. É preciso estar constantemente em evolução. Essas certificações (no mundo inteiro) são extremamente relevantes. Elas vão atestar que a pessoa passou por um processo, que ela sabe o que está fazendo, que tem conhecimento sobre aquilo. Então, para nós, dessa área, isso é muito relevante. Essa certificação que possuo é o CFP® (Certified Financial Planner). No Brasil apenas cerca de 5 mil pessoas possuem esse título. Ela é extremamente disputada por aquelas pessoas que querem trabalhar no mercado financeiro.

 
Entrevista | Caroline Pierosan