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Como Eles Trabalham a Seu Favor?

Especialista explica tudo o que você precisa saber sobre juros compostos

“Juros compostos” é um tema desafiador para muitas pessoas. “Muitos consideram relativamente difícil entender esse assunto, porque não estão acostumados com o conceito” avalia Felipe Guerra, CFP®, assessor de investimento e sócio da Messem Investimentos. A seguir Guerra explica como usar esse fator a favor do investidor de uma forma bem didática.

Caroline Pierosan: O que são juros compostos? E como eles podem trabalhar a nosso favor?

Felipe Guerra: Muitas vezes as pessoas se confundem sobre o quanto os juros afetam uma dívida ou um investimento. Se tratando de investimento, vou explicar com um exemplo bem didático. Se você colocar um milhão de reais em uma aplicação financeira de 10% de rendimento ao ano, durante 10 anos, com juros simples, você terá 2 milhões de reais (em 10 anos), ou seja, cem mil reais de ganho por ano. Já com juros compostos, estamos falando em um patrimônio final de quase dois milhões e seiscentos mil reais aproximadamente (em 10 anos). Ou seja, os juros compostos, (neste período de 10 anos), podem gerar um retorno quase 60% superior àquele que seria gerado a partir de juros simples. Quanto antes o investidor começar, mais eles irão lhe beneficiar, melhor será o resultado. Por isso é tão importante começar logo!

É importante prestar atenção antes de contrair dívidas com juros compostos cujo valor, no final, é muito maior do que aquilo que a pessoa achava que iria pagar no começo...

Temos visto, ao longo dos últimos anos, as pessoas muito mais se endividando do que fazendo investimentos. Como? Vou usar a compra de um carro como exemplo. Posso pagar o valor total do automóvel? Não, não posso. Ao invés dessa pessoa guardar o dinheiro todo mês para que ao longo do tempo possa comprá-lo, o que que ela faz? Olha o valor da parcela que vai pagar durante cinco ou seis anos e inclui essa parcela dentro do seu orçamento. No final das contas depois desse tempo não se está pagando mais apenas um automóvel, se está pagando dois, ou três, dependendo dos juros embutidos. Quando vai se vender o automóvel, ele vai valer menos do que se pagou e, na realidade, se pagou duas, três vezes mais o valor inicial. Esse é o grande malefício dos juros compostos contra nós, só que a gente não faz a conta normalmente. Só olhamos para ver se cabe na parcela do mês e aí pagamos os juros que estão embutidos.

Em contrapartida, na hora de investir, juros compostos podem ser grandes aliados, correto? 

É preciso olhar qual que é a média de mercado. Aquela coisa de se ter um ganho de renda fixa de 1, ou 2% ao mês, como já foi no passado, não existe mais. Temos que saber hoje qual é a inflação do país, quanto perdemos de dinheiro por ano, qual é a remuneração de uma renda fixa tradicional e buscar ganhar um pouco mais que isso com investimentos. Ter dedicação para ter lá 15, 20, 25% a mais. Se todo mês conseguirmos ganhar 15% a mais, 20% a mais, ao longo de 10 anos isso fazer uma diferença absurda.

É possível multiplicar os recursos?

Exatamente, da mesma maneira que faz com um investimento específico, pode-se fazer isso com patrimônio, só que, ao invés de fazer em um aporte único, de uma vez só, por um prazo mais longo, pode-se fazer periodicamente. Ter a disciplina de investir antes de gastar é uma das coisas mais simples, mas é isso que vai gerar o maior resultado. 

Complexo para nós brasileiros por que a gente não tem essa cultura?

Não fomos ensinados a investir antes de gastar. Fomos ensinados que, para fazer um investimento, precisávamos ter muito dinheiro, ou uma assessoria para quem tivéssemos que pagar grandes volumes. Mas essa não é a nossa realidade. Cada vez mais o mercado de investimentos brasileiro é democratizado, com mais produtos, e mais acesso. 

Então investimos, o investimento rende juros, o valor do rendimento reaplicamos, e então não estaremos sempre aplicando só valor inicial, mas sim o valor inicial mais o rendimento, que rende mais no outro mês e assim subsequentemente... ?

Perfeito, essa é a ideia fundamental. Estamos falando aqui de renda fixa, de um investimento que sabemos a remuneração, que já contratamos. Quando tratamos de renda variável, e realidade é um pouco diferente. 

Como funciona?

Muitas vezes a pessoa compra uma ação por cem mil reais na bolsa de valores. Se essas ações caírem 10% o investidor terá noventa mil reais. Para voltar a ter os cem mil reais a bolsa de valores tem que subir 10%? Não, ela precisa subir mais do que 10%. Ao longo do tempo vamos construindo a carteira de ações, da mesma maneira, pode ocorrer que compramos cem mil reais em ações e elas subam 100%, ou seja, ganhamos, e temos duzentos mil reais. Se refizermos o investimento e ela subir mais 50%, teremos trezentos, porque será sobre os duzentos que colocamos. Então tem que cuidar muito com isso, se estamos tratando do mercado de renda fixa ou de renda variável. 

Como podemos nos tornar aptos a calcular juros compostos? 

Primeira coisa que devemos fazer é buscar educação financeira. A melhor forma de fazer isso é acompanhar a própria carteira de investimentos, e comparar com o restante do mercado. Por exemplo, nos últimos 12 meses, se sou investidor conservador, tive uma rentabilidade de 8%. A renda fixa tradicional, nos últimos 12 meses, entregou mais ou menos 5% de ganho. Ótimo! Ganhei acima da média de mercado. Havia aquele conceito de ganhar 1% ao mês, 2% ao mês, mas isso é uma coisa que já não acontece no Brasil. Temos que nos adequar à atual realidade.  

Você pode citar exemplos de rendimentos que funcionam a partir desse princípio dos juros compostos? 

Renda fixa (é possível ter uma tranquilidade maior sabendo qual é o retorno). Os dois principais investimentos financeiros do brasileiro (Renda Fixa e Previdência Privada) seguem esses padrões. Cada aporte feito para previdência privada, por exemplo, vai incluir a questão do juro composto incidindo nele ativos de renda fixa tais quais CDB, LCA, LCI, debêntures, e certificados de recebíveis imobiliários. Os certificados de recebíveis agrícolas são produtos que investidor brasileiro pode ter acesso e que tem essa característica. Renda variável também, a grande questão é que no caso da renda variável não se tem uma garantia de rentabilidade. O resultado pode ser positivo ou negativo. O importante é o seguinte, não é porque uma ação caiu que se perdeu. Com ações nos tornamos sócios de uma empresa, ou seja, muitas vezes a turbulência de mercado pode gerar quedas, mas é por isso que ter informação e conhecimento é tão importante para ter tranquilidade.

Ter um bom assessor de investimentos, também ajuda!

Verdade! É importante conhecer o perfil, os objetivos e entender claramente como aquela carteira de investimentos vai levar ao objetivo final.

Não precisamos temer juros compostos, precisamos compreendê-los e aprender a usá-los a nosso favor!

É melhor pagar uma dívida ou fazer um investimento? Sempre que tiver como antecipar o valor de uma dívida, é importante fazê-lo. Programação financeira é algo importantíssimo porque juros compostos são terríveis para quem está devendo e muito bons para quem investe! 

 

Entrevista I Caroline Pierosan
Imagens I Josué Ferreira
Edição I Fernanda Carvalho