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Adriana Schio

07/03/2019

A Internet das Coisas já é parte do Nosso Cotidiano

Cada vez mais as “coisas” conversam entre si e transformam a nossa vida e o mundo dos negócios

"A IoT permitirá a criação de modelos de negócios inéditos, que irão se sobrepor à forma como muitas coisas são feitas hoje" (José Rizzo Hahn Filho, presidente da Associação Brasileira de Internet Industrial e CEO da Pollux). Foto: divulgação A inflexão nos custos dos sensores de IoT. Arte: www.theatlas.com Entenda o crescimento da Internet das Coisas. Arte: CiscoGraph Exemplo do funcionamento da IoT no Agronegócio. Arte: Manp Tecnologia Diogo Manfroi, Giordano Moro e Rafael Piccoli, da Manp Tecnologia. Foto: Eliane Daniela - Itec Ademar Scariot, Sandro Wegner, Thiarlei Macedo, Geraldine Fonseca e João Paulo Colleoni, equipe responsável pelo projeto das antenas IoT. Foto: Rodrigo Onzi "Segundo Michael Porter, IoT é a mudança mais importante na produção desde a Segunda Revolução Industrial" (Fabiano Nunes, professor na Universidade Feevale e consultor. Foto: Divulgação

Apesar de ter seu desenvolvimento iniciado há cerca de 50 anos, a Internet, na forma como a conhecemos, desembarcou no mundo em meados da década de 90. Na sua primeira fase, ela acabou conectando as pessoas entre si e com os sistemas que simplificaram a nossa vida: e-commerce, internet banking, comunicações, redes sociais, etc. Então nada mais natural essa tecnologia, já completamente comprovada, ser aplicada para conectar diretamente produtos, equipamentos, veículos e sistemas entre si. Isso é revolucionário e já está impactando e transformando o mundo. “Essa tecnologia é tão vistosa que Michael Porter, um dos maiores pesquisadores de estratégia e competição do mundo (Harvard), declarou que a IoT é a mudança mais importante na produção desde a Segunda Revolução Industrial”, destaca Fabiano Nunes, professor na Universidade Feevale, consultor de empresas, mestre, doutorando em Engenharia de Produção e Sistemas na Unisinos e pesquisador sobre o tema da Indústria 4.0 desde 2014.

Estamos falando da Internet das Coisas, ou Internet of Things em inglês (IoT). Cunhado pelo pesquisador britânico Kevin Ashton, o termo remete a interligar as “coisas” com conectividade e o uso da Internet. Ou seja, é a comunicação autônoma máquina a máquina (M2M) via Internet, que permite que diferentes objetos, de carros a máquinas industriais ou bens de consumo como calçados, roupas e eletrodomésticos, compartilhem dados e informações entre si para realizar tarefas de forma autônoma. Um exemplo simples é a automação residencial, que possibilita que luzes se acendam, que a temperatura seja ajustada ou que o forno seja ligado a partir do comando de um dispositivo como o aparelho celular. A base para o funcionamento da IoT são sensores e dispositivos, que tornam a comunicação entre as “coisas” possível. É preciso também um sistema de computação para analisar os dados e gerenciar as ações de cada objeto conectado a essa rede.

Apesar de ser um movimento relativamente novo no Brasil e até mesmo no mundo, a IoT vem crescendo exponencialmente e transformando a maneira como nos relacionamos com as “coisas” e o ambiente corporativo. Suas inúmeras possibilidades de aplicação – da agroindústria à saúde, manufatura, transportes, etc. – colocam essa tecnologia no topo da Transformação Digital (TD) nos negócios. Cidades inteligentes também começam a ser uma realidade, possibilitando monitoramento de ruas, pontes, controle de iluminação, equipamentos que geram energia quando utilizados e otimização de mobilidade por meio de sensores. Estima-se que os gastos globais com IoT crescerão a uma taxa anual de 13,6% até 2022, chegando a US$ 1,2 trilhão daqui a quatro anos, e que o número de dispositivos conectados irá exceder 50 bilhões em 2020.

Inflexão nos Custos

Pesquisas e especialistas atribuem o avanço global da IoT à redução gradativa de custo das tecnologias de sensores aplicados a ela: US$ 1,30 em 2004 para US$ 0,38 em 2020. Da mesma forma que o hardware, os custos de hospedagem e de transações para aplicações em servidores (nuvem), tais como AWS, Azure, Google, IBM cloud, têm caído significativamente, reduzindo o custo operacional da conexão e de manutenção dos dados – sem falar no baixo consumo energético pela duração maior de baterias. “Estamos passando por um momento de inflexão dos custos. Será como as Smart TVs. Acredito numa curva de amadurecimento de dois anos para a tecnologia IoT, pois cada vez mais as pessoas irão querer coisas conectáveis e produtos com funcionalidades adicionais por preços menores”, projeta Daniel Corteletti, analista de serviços técnicos e tecnológicos do Instituto de Tecnologia do Senai Mecatrônica, de Caxias do Sul, instituição que vem atuando no desenvolvimento de projetos, produtos e soluções conectáveis para indústrias locais via Web e LoRa (hardware aberto).

Inúmeras são as vantagens oriundas dessa tecnologia. Na indústria ela sinaliza para um forte aumento de competitividade, resultante da redução de custo de processos produtivos e da automação de tarefas. “Não há uma fórmula única. Cada tipo de negócio irá se beneficiar de forma diferente ao conectar seus ativos. Além disso, a IoT permitirá a criação de modelos de negócios inéditos, que irão se sobrepor à forma como muitas coisas são feitas hoje. Nesse caso, a ruptura de uma indústria pode ser ainda mais significativa”, pontua José Rizzo Hahn Filho, presidente da Associação Brasileira de Internet Industrial (ABII) e CEO da Pollux, de Joinville (SC). Segurança das pessoas e do patrimônio, interação entre os atores de um processo, redução de erros e de falhas, autonomia dos equipamentos e assertividade na tomada de decisões quando utilizada em conjunto com Inteligência Artificial estão entre os demais benefícios proporcionados pelo uso inteligente e correto da IoT.

Desafios e Oportunidades

O avanço da IoT, no entanto, coloca algumas preocupações e obstáculos a serem vencidos nos próximos anos, sejam de caráter técnico ou econômico. O principal refere-se à segurança de dados e sistemas. Mas há também outros desafios pela frente, como a falta de interoperabilidade entre sistemas e equipamentos diferentes, a necessidade de regulação para as transações comerciais feitas a partir desses dispositivos e a dificuldade de calcular o retorno de investimento da forma tradicional. Sem falar no problema gerado com o descarte dos inúmeros dispositivos, como celulares, tablets, wearables, etc. Mas nenhum deles deve frear o avanço exponencial da tecnologia. Tanto que Brasil e Argentina, por meio da Associação Brasileira de Internet das Coisas (ABINC) e da Câmara Argentina de Internet (CABASE), assinaram recentemente um acordo de cooperação que visa a estimular a troca de informações e de experiências e integrar o ecossistema de IoT entre os dois países, buscando abrir mercado para acordos bilaterais.

O avanço é tão exponencial que já se prenuncia um passo além da IoT rumo à Internet de Tudo, ou Internet of Everythings (IoE), que trata da integração e conectividade entre pessoas, processos, dados e coisas. Aos poucos, ela vai se tornando realidade e tomando proporções avassaladoras. “Existem previsões que indicam que, em um futuro não tão distante, até os nossos cérebros estarão conectados diretamente ao que chamamos hoje de Internet, sem a necessidade de um smartphone, por exemplo. Nesta nova era deixaremos de falar da Internet, pois ela será onipresente no mundo, assim como o ar, conectando tudo e todos. Será uma vida completamente diferente da que experimentamos hoje e os especialistas acreditam que ela se materializará em até 30 anos. Quem viver, verá!”, projeta Rizzo Hahn Filho.

 

Manp Tecnologia
Foi de insights em reuniões semanais na biblioteca da UCS e de uma lacuna no mercado percebida por dois colegas da faculdade de Engenharia Elétrica que nasceu, há dois anos, a Manp Tecnologia, incubada na Incubadora Tecnológica da UCS, em Caxias do Sul. Os empreendedores Diogo Manfroi e Rafael Piccoli detectaram um gap no mercado local de eletrônica com alto grau tecnológico e conectado e começaram a pesquisar produtos e soluções para atender essa demanda. Com foco em desenvolver e entregar soluções de eletrônica embarcada com conectividade, a Manp surgiu com um olhar atento sobre a IoT. Atualmente, a empresa atua no segmento B2B, atendendo grandes fabricantes de equipamentos (60% no Mercosul) em três nichos: a linha branca, ainda em desenvolvimento e com previsão de certificação pelo Inmetro e pela Anatel em 2019; a linha de equipamentos eletromédicos focados em clínicas estéticas e de fisioterapia; e a agroindústria. Nesta área, a Manp tem avançado a passos largos, com soluções desenvolvidas com a tecnologia LoRa (tecnologia de radiofrequência para comunicação a longas distâncias com consumo mínimo de energia), que possibilitam automatizar a fazenda na tela do computador ou na palma da mão com o celular. “É possível monitorar os pontos de alimentação dos animais, os próprios animais, evitando, assim, o crime de abigeato que é bastante comum, e até fazer toda a telemetria (dados à distância) da fazenda”, explica Piccoli. Segundo ele, as vantagens do uso da tecnologia IoT na agroindústria – e também em outros segmentos – são inúmeras. “Diminui a intervenção humana, tem mais acuracidade nas informações, além da questão econômica com a racionalização de custos”, exemplifica.

 

Caxias do Sul na rota da IoT
Caxias do Sul recebeu, no final de 2018, três antenas de tecnologia IoT. Viabilizadas pelo Trino Polo – Polo de TI da Serra Gaúcha, elas cobrirão a maior parte da área urbana, permitindo que até 30 mil equipamentos possam se comunicar de forma simultânea. A iniciativa coloca a cidade no mapa mundial de IoT, monitorado pela organização The Things Network (entre as cidades brasileiras, Caxias do Sul é a primeira a possuir três equipamentos) e representa um grande avanço para o município, pois possibilita que mesmo equipamentos que estejam em áreas sem acesso à Internet tradicional (celular, cabo ou wifi) possam continuar se comunicando em rede. Além disso, é uma plataforma livre, pública e gratuita para uso da comunidade. “A ação envolveu várias empresas associadas ao Trino Polo e está democratizando a tecnologia e o acesso à comunicação de dados para milhares de pequenos empreendimentos, que, sozinhos, não teriam condições de prover uma infraestrutura tão sofisticada de comunicação. É um marco de transformação para Caxias se tornar uma cidade inteligente”, pontua Thiarlei Macedo, que esteve à frente do projeto como presidente do Trino Polo. Para as empresas locais, as antenas de IoT possibilitam usos como o acompanhamento de transporte de mercadorias, melhoria na logística interna, controles de acesso de funcionários, acompanhamento de projetos e maior eficácia na gestão de produtividade, inclusive envolvendo a relação com o cliente, aspectos já explorados pela indústria 4.0. Além de propiciar economia de energia, segurança, saúde, educação e outros aspectos do cotidiano.