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Auber Césaro

03/07/2018

A Geração Y e as Cidades

Os millennials querem ter acesso a atividades culturais, querem poder conhecer outras pessoas; Querem viver a cidade ativamente, não somente dentro de seu imóvel

Os millennials caracterizam-se pela maior integração com a tecnologia, posicionamentos mais liberais em economia e política e interesse em equilibrar atividades profissionais com projetos pessoais

As cidades são organismos em constante transformação. Se fizermos uma comparação das cidades com o corpo humano, podemos perceber que existe uma lógica basilar no seu desenvolvimento: a da sobrevivência. Diante de uma ameaça, o corpo humano tende a dedicar sua energia para resolver o problema. No caso das cidades, a busca de soluções é feita por seus habitantes. Quando há um problema, os moradores de uma cidade buscam solucioná-lo, seja com ações pontuais, seja organizando-se em associações de moradores, seja buscando auxílio de profissionais qualificados, seja buscando soluções junto ao setor público. A velocidade com que o mundo está mudando afeta também esse relacionamento entre as pessoas e as cidades. E é especificamente sobre o papel das novas gerações nessas transformações que eu tenho pensado. Os chamados millennials, ou geração Y, grupo de jovens nascidos entre o início dos anos 1980 e início dos anos 2000, vem demonstrando uma forma nova de se relacionar com as cidades e com os espaços públicos.

Sem cair em generalizações, mas observando dados e tendências, esse público caracteriza-se pela maior integração com a tecnologia, posicionamentos mais liberais em economia e política e interesse em equilibrar atividades profissionais com projetos pessoais. Além disso, tendem a se dedicar a atividades que beneficiem a coletividade. Esse novo perfil pode ser observado nas mudanças que percebemos nas cidades. Os millennials se preocupam não apenas com o imóvel que vão adquirir, mas também com a infraestrutura do entorno e da cidade que escolheram para viver. Eles querem saber se haverá uma praça equipada para levarem seus filhos brincar, se haverá transporte público ou ciclovia para poderem se deslocar para o trabalho e para suas atividades de lazer. Querem poder separar o lixo da sua casa e saber qual a sua destinação final. Os millennials querem ter acesso a atividades culturais, querem poder conhecer outras pessoas. Querem viver a cidade ativamente, não somente dentro de seu imóvel.

A tecnologia nos oferece inúmeras possibilidades de acesso à vida nas cidades. Por meio da internet, temos acesso a todo o tipo de informações e de ideias para melhorar a nossa cidade. Há diversos aplicativos desenvolvidos para facilitar o deslocamento, para divulgar o que há de melhor na cidade em termos de entretenimento. A geração Y usa ativamente estes instrumentos, levando a mudanças estruturais na forma como cidade e morador se relacionam. A tecnologia permite que estes jovens compartilhem experiências de forma inovadora. As redes sociais, por exemplo, promovem maior interconexão entre grupos específicos. Essa maior facilidade de comunicação permite que os millennials se organizem para inovar na utilização dos espaços públicos com eventos temáticos de rua, como, por exemplo, eventos para consumo de produtos artesanais ou corridas de rua. Estas ações valorizam os espaços públicos e expõem a necessidade de melhorias na infraestrutura.

Outro papel interessante desse público é enfrentar os desafios da segurança pública e da mobilidade. No aspecto da segurança pública, os millennials têm buscado dialogar com a cidade, demandando propostas para promover uma segurança social à população como um todo, não apenas uma segurança individual. No aspecto da locomoção, a preferência crescente pelo uso da bicicleta como meio de transmporte oferece uma nova experiência com a cidade. Não é razoável que apenas os motoristas de automóvel sintam-se seguros para transitar pelas ruas, é importante que tanto ciclistas quanto pedestres tenham liberdade, para que possam usufruir dos espaços públicos disponíveis. Por fim, a geração Y tem exercido ativamente sua cidadania na busca por melhorias na mobilidade. A crescente preferência por espaços abertos de entretenimento, por meios alternativos de transporte e por viver os espaços públicos  sinalizam uma possível mudança de perspectiva para as cidades, que beneficiará a sociedade como um todo.