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Auber Césaro

18/11/2018

Mobilidade Urbana

“É fascinante a forma como as cidades se transformam com iniciativas inteligentes e convenientes”

Lisboa tem surfado a onda da pujança e da transformação, materializada em alguns dos focos que falamos no texto - mobilidade, revitalização, conectividade É a revolução das trotinetes elétricas, como as chamam por aqui, e é incrível o quanto elas são convenientes! A Lime foi desenvolvida na Califórnia em 2017, e vem crescendo de forma vertiginosa nos EUA e na Europa

Na matéria anterior, falamos sobre smart cities e sobre uma série de iniciativas que tornam as cidades mais inteligentes. Trouxemos o dado de que até o ano 2050, 66% da população mundial viverá em centros urbanos – em uma área que corresponde a apenas 2% do território do planeta. Neste cenário, a palavra-chave para que tenhamos qualidade nas nossas cidades é eficiência. Foco na mobilidade, na revitalização de núcleos urbanos, na conectividade. Recentemente me mudei para Portugal - e fixei-me em Lisboa. É verdade que a capital portuguesa está na moda, vide o número de turistas, que somou mais de 20 milhões em 2017, com uma marca incrível de 8,9% de crescimento, em relação a 2016. Apenas a título de comparação, no mesmo período, o Brasil registrou pouco mais de 6,5 milhões de visitas. Agora apenas faça essa relação com o número de habitantes de cada país: Portugal tem 10,3 milhões de habitantes, enquanto o Brasil chega na marca de 207,7 milhões de pessoas. Impactante, não?

A transformação das cidades tem como ponto de partida a revolução que acontece nas ruas. Lisboa tem surfado a onda da pujança e da transformação, materializada em alguns dos focos que falamos acima – mobilidade, revitalização, conectividade. Uma cidade que acaba por ser palco de uma série de espetáculos, acontecimentos e testagem de novos produtos, que muitas vezem começam aqui em versão beta, para depois se tornarem um serviço fixo e replicável. Visitei Lisboa pela última vez, antes da minha mudança efetiva, em novembro de 2017, e, nesse intervalo de um ano, salta aos olhos a transformação pela qual a cidade passou. Uma dessas mudanças tem a ver com a mobilidade e a conectividade, tema foco do nosso artigo. São as Lime-S, ou os patinetes elétricos. É a revolução das trotinetes elétricas, como as chamam por aqui, e é incrível o quanto elas são convenientes! O sistema começou a operar no inicio de outubro, há pouco mais de quinze dias, e tem se mostrado uma verdadeira febre. Elas já estão por tudo!

A Lime foi desenvolvida na Califórnia em 2017, e vem crescendo de forma vertiginosa nos EUA e na Europa. A empresa desenvolve aparelhos para mobilidade urbana, como motos, bikes e patinetes, todos elétricos, mas a mais utilizada por aqui nas bandas lusas é mesmo o patinete (trotinete). A operação começou em Lisboa com um número próximo a 400 unidades, mas já há projeto de expansão para outras cidades portuguesas, como Porto, Braga, Coimbra e Aveiro. A empresa, que teve financiamento da Uber e da Google, já é uma candidata a startup unicórnio – as chamadas startups tecnológicas que têm valor de mercado superior a um bilhão de dólares. Estas empresas são avaliadas com base nas suas oportunidades de mercado e no seu potencial de crescimento a longo prazo. Alguns exemplos deste tipo de empresa são a Dropbox ou a SpaceX. A Lime-S é um serviço de compartilhamento, e a sua utilização é muito simples e conveniente. Basta baixar o aplicativo, realizar o cadastro, inserir o meio de pagamento e pronto. O aplicativo rastreia os equipamentos próximos, você lê o QR-code através do aplicativo em seu smartphone e começa seu passeio. Por enquanto, o custo do serviço é de 1 euro para o desbloqueio, e 15 centavos por minuto de uso. Fiquei curioso e saí a fazer meu primeiro passeio. Tudo funcionou perfeitamente, e é realmente muito legal usar o equipamento pela cidade. Alguns cuidados são necessários, especialmente a atenção às regras de trânsito, as mesmas das bicicletas na cidade. Também é necessário, ao encerrar o passeio, fazer uma foto de onde foi ‘estacionado’ o patinete. É assim que a empresa espera cumprir um dos requisitos do executivo lisboeta de não obstruir a circulação, de não deixar o patinete caído, em frente a portas de entrada e saída, garagens, enfim, para não perturbar a mobilidade urbana de transeuntes.

Eu me perguntei, e talvez você também esteja se perguntando: mas deixa assim, em qualquer lugar? Não há um local específico para retirada/devolução do equipamento, como um dock, por exemplo, assim como o sistema de compartilhamento de bikes em Porto Alegre? E a resposta é não. As Lime’s ficam soltas pela cidade! Segui curioso, e me perguntei, então: como são recarregadas, já que funcionam com bateria? E eis a resposta: a empresa disponibiliza, no próprio site, uma possibilidade de cadastro para quem tiver interesse em prestar esse serviço de recarga. São os chamados Juicers! Eles voluntariamente recolhem os equipamentos, os levam para sua própria casa, recarregam, e devolvem de manhã cedo, por volta das 7h, num dos hotspots espalhados pela cidade. A empresa credita na conta do Juicer uma remuneração pelo serviço prestado.

Voltando ao tema de smart cities, cabe uma reflexão sobre a quantidade de dados possíveis de gerar a partir do comportamento de uso de utilizadores de meio de transporte compartilhados como o Lime, e a quantidade de soluções possíveis de endereçar para as cidades a partir desses dados. A tecnologia muitas vezes assusta, mas, com bom uso é possível alcançar resultados incríveis. A inovação é a grande aliada para as cidades inteligentes e sustentáveis. Realmente é fascinante a forma como as cidades se transformam com iniciativas inteligentes e convenientes. A pensar em Lisboa, com sua topografia marcante, as Lime-S caíram como luva. É muito legal ver como se desenvolvem bem pelas colinas. Então já sabe, quando vieres a Lisboa, vá testar uma banda de Lime!