Menu

Auber Césaro

08/03/2019

Ruas Completas

Mais Vida e Segurança na Cidade

Os espaços criados no momento da expansão dos centros urbanos podem ser projetados para compreender nossas novas prioridades como comunidade. Foto: Mariana Gil O urbanista deve atuar a serviço da comunidade, no entendimento de que as pessoas são sempre o centro do projeto. Foto: Pedro Mascaro

É sabido que muito do trabalho de urbanistas e urbanizadoras, nos últimos tempos, tem se voltado a criar espaços que comportem os diferentes usuários do meio urbano de uma maneira mais atual, nesse tempo onde carros já não têm mais a prioridade absoluta e precisam dividir os espaços da cidade com pedestres e ciclistas. Pensando em equilibrar essas prioridades e juntando diversas premissas do Novo Urbanismo, chegou-se ao conceito das Ruas Completas, já implantadas em algumas cidades do Brasil.

As Ruas Completas têm como objetivo proporcionar segurança e conforto a todos os seus usuários, independente do meio de transporte escolhido por cada um deles, além de proporcionar um grande estímulo ao comércio local, especialmente no piso térreo dos edifícios, onde acontece a transição entre o público e o privado. Essas 'fachadas ativas', com comércio e serviços diversos, são essenciais para fomentar a troca de experiências entre os diversos usuários da via. As ruas completas qualificam a relação do espaço público com o ambiente construído. Esse objetivo é alcançado por meio da distribuição do espaço de forma mais democrática, beneficiando a todos igualmente.

Visto que essa maneira de projetar a cidade visa considerar as necessidades específicas de diferentes espaços e usuários, não existe uma única solução de Rua Completa. Respeitar os usos de cada região, priorizar deslocamentos em transportes coletivos, a pé ou de bicicleta, respeitar as escalas de construções e recuos, apoiar a diversidade de usos do solo (mesclando residências, comércio e serviços) e tornar a rua um lugar de permanência (e não somente de passagem) estão entre as diretrizes de Ruas Completas.

Se a rua completa se propõe a ser um espaço dentro da cidade distribuído de forma democrática, com o objetivo de entregar conforto e segurança para todos, é uma boa alternativa para busca de maior assertividade que se desenvolva o projeto em fases, avaliando em cada etapa a demanda existente para o local onde o projeto está sendo implantado. Qualquer intervenção em via pública tende a ter um custo elevado, especialmente se tratarmos de uma rua já existente e consolidada, com grande fluxo, e que poderá ser objeto de resistência a mudanças.

Uma rua completa não precisa levar em conta inicialmente um grande investimento em infraestrutura, de modo que poderá ser proposta para ela uma intervenção temporária, com adoção de materiais de baixo custo como tinta, balizadores e sinalização. O projeto temporário servirá para avaliar o novo comportamento dos usuários, realizando pesquisas de comportamento de fluxos e coleta de dados, validando decisões de projeto. A partir daí poderá ser proposta, então, uma solução definitiva, com observações técnicas e de usuários, comerciantes e moradores.

Foi exatamente isso que aconteceu na rua Joel Carlos Borges, a primeira intervenção desse tipo na cidade de São Paulo, no âmbito do programa Rede Nacional para a Mobilidade de Baixo Carbono, uma parceria entre WRI Brasil e a Frente Nacional dos Prefeitos (FNP) com apoio do Instituto Clima e Sociedade (ICS). O projeto contemplou o redesenho da via com o objetivo de aumentar a segurança do pedestre, com o uso de balizadores para alargamento da faixa dedicada aos pedestres e, de sinalização, reduzindo a velocidade de veículos automotores. O projeto encontra-se atualmente em fase de reavaliação, após sua implantação temporária em 2014.

Além desse, existem hoje onze projetos de Rua Completas no país - alguns em fase de estudo, como é o caso da Rua João Alfredo, em Porto Alegre, e outros já implantados.

Se é verdade que podemos adaptar espaços já consolidados para que comportem de maneira mais adequada a vida que vivemos hoje, é verdade também que aqueles espaços que estão por ser criados, no momento da expansão dos centros urbanos, já podem ser projetados para compreender nossas novas prioridades como comunidade. É importante se ter em mente que projetos como esses vêm para readequar os espaços ao uso que de fato se faz deles, colocando o urbanista a serviço da comunidade, no entendimento de que as pessoas são sempre o centro do projeto.  

Co-Autora: Nina Delecolle