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Auber Césaro

25/09/2018

Smart Cities

“O objetivo dessas inovações que tornam as cidades inteligentes é permitir a construção de uma cidade com as pessoas, e não apenas para as pessoas”

"São muitos os desafios e as etapas a serem vencidos, especialmente de infraestrutura e de conscientização da população, para que tenhamos cidades verdadeiramente inteligentes, conectadas e sustentáveis"

A população mundial se encontra cada vez mais urbanizada. Mais da metade das pessoas que habitam o planeta já vive em cidades, e essa é uma tendência consolidada para os próximos anos. Segundo relatório da ONU, estima-se que, até 2050, 66% da população viverá em centros urbanos, em uma área que representará apenas 2% do território do planeta. Como organizar o espaço e atender às demandas de bilhões de pessoas em tão pouco espaço? Para o pesquisador norte-americano Boyd Cohen, Ph.D, as chamadas cidades inteligentes, ou smart cities, são aquelas que conseguem aliar desenvolvimento econômico com melhoria da qualidade de vida de seus habitantes por meio do aumento da eficiência das operações urbanas. As cidades geram demandas de diversas naturezas, infraestrutura social, educacional, logística, de lazer, de consumo. Mas o que deve ser feito para melhorar a vida das pessoas nas cidades?

As cidades inteligentes têm como base de funcionamento a conectividade e o acesso à informação, que permite maior conexão entre as pessoas. Elas também são um reflexo das demandas da nova geração e dos avanços tecnológicos. Os millenials, tema do nosso artigo anterior, adotam estilos de vida diferentes daqueles das gerações anteriores, o que demanda adaptações das cidades. Os jovens são usuários de aplicativos para transporte individual e coletivo, são adeptos ao compartilhamento de espaços para lazer e trabalho e apreciam o compartilhamento de experiências. E esse novo padrão de comportamento, pela sua escala, é capaz de alterar o funcionamento da cidade.

Alguns aspectos importantes para tornar as cidades inteligentes são a otimização da mobilidade urbana, a criação de novas centralidades e os investimentos em participação social e tecnologia da informação. Sobre mobilidade urbana, um dos principais gargalos de infraestrutura urbana, já existem diversas iniciativas para aperfeiçoar as redes de transporte e ampliar a participação de alternativas menos poluentes. Em Copenhague (Dinamarca), cidade considerada modelo para o conceito de cidades inteligentes, políticas públicas têm sido implementadas para melhorar a qualidade do ar por meio do estímulo ao uso de bicicletas equipadas com GPS. Foram também criados mecanismos para medir a qualidade do ar e para fornecer aos usuários informações em tempo real sobre congestionamentos.

A criação de novas centralidades e a revitalização núcleos urbanos deteriorados também são relevantes para reordenar os espaços urbanos a partir da necessidade de seus habitantes. O fácil acesso a equipamentos públicos e opções de comércio e entretenimento em núcleos dentro das cidades evitam deslocamentos longos, cansativos e poluentes e harmonizam o fluxo de pessoas. Revitalizações de regiões antigamente menos valorizadas, como é o caso do Baixa Augusta, em São Paulo, e do Centro do Rio de Janeiro, incentivado pelos Jogos Olímpicos de 2016, são exemplos relevantes. Esses núcleos urbanos planejados também podem gerar impactos positivos no pequeno comércio local e estimular a interação social dos moradores.

A participação social para o desenvolvimento de cidades inteligentes é fundamental e necessita de conectividade para ser implementada. A estrutura de banda larga facilita o acesso de informações em tempo real, e permite, por exemplo, que o usuário de transporte público saiba exatamente quando seu ônibus chegará à parada, ou se a região em que ele circula está protegida por câmeras de vigilância. O morador da cidade pode, também, dar sua contribuição para o funcionamento da cidade, como é o caso da plataforma colaborativa Waze, em que os próprios usuários alimentam informações sobre o trânsito. O aplicativo criou recentemente uma função que permite a um usuário oferecer carona a outro, melhorando assim o trânsito e criando novas conexões entre pessoas.

A tecnologia também facilita o exercício da cidadania nas cidades. Em Nova York, a administração municipal desenvolveu um aplicativo para a avaliação dos serviços públicos, de modo que o cidadão pode solicitar o serviço desejado e depois indicar se o trabalho foi bem realizado. No entanto, há desafios relacionados à privacidade dos cidadãos. O acesso a informações personalizadas de localização, preferências e decisões individuais deve ser responsavelmente regulado pelos órgãos públicos, para que a tecnologia traga benefícios a todos, sem prejuízos à individualidade das pessoas. O objetivo dessas inovações que tornam as cidades inteligentes é permitir a construção de uma cidade com as pessoas, e não apenas para as pessoas. São muitos os desafios e as etapas a serem vencidos, especialmente de infraestrutura e de conscientização da população, para que tenhamos cidades verdadeiramente inteligentes, conectadas e sustentáveis.