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Caroline Pierosan

10/05/2018

A Vida dos Outros

Porque vida de verdade é isso, é a que a gente vive não para realizar as fantasias dos outros, mas para ser feliz com a gente mesmo!

Costumava ser um sonho. Desde pequeninas - vamos brincar de casamento?

Costumava ser um sonho. Desde pequeninas – vamos brincar de casamento? Eu sou a noiva! Ai enrolávamos naquele lençol branco e saíamos pela casa arrastando tudo junto. Dai que o senso de missão incutido nas mulheres em relação ao casamento é tão forte, que elas sequer, jamais cogitam, a remota possibilidade de não casar. É preciso! O casamento seria, a partir deste prisma, a única fonte de realização pessoal ou de bem estar emocional, o caminho para o respeito social, a única forma de conseguir ter filhos, etc, etc, etc. Então tivemos que contemplar e ouvir histórias das nossas avós – de como era duro cuidar da casa sozinha, aguentar saber que o seu marido estava livre, leve e solto em suas viagens, bodegas e bordeis da vida, e não poder fazer nada afinal para elas era bonito ser anjo e para eles demônio, além, é claro, do fato de ele ser a única fonte financeira do lar (normalmente cheio de filhos com toda a sua fome e demais necessidades de roupas, estudo e sapatos). Além das histórias das avós e nonas, o testemunho (de olhos bem arregalados e assustados que viram tudo) do cotidiano das mães –  nascidas ali entre 60 e 70 – que começaram a trabalhar fora, nos trouxe à tona, um novo debate: como suportar a rotina dupla / tripla / sem dormir – para ser uma mulher que estuda, que trabalha, uma boa dona de casa, uma excelente mãe e uma fêmea atraente? Dá tempo para fazer tudo isso direito? Não, obviamente não. Nasce então, a “Era da Culpa”. Estou ausente aqui, estou ausente ali, ausente acolá... ausente de tudo que é lado! Mas a gente continua, insiste e persiste! Tem que casar, tem que ser mãe, te que ser super mulher, tem que ser jovem para sempre... Finalmente, chegamos na minha época e geração. O que mais um ser humano pode sentir diante desse histórico? Medo! Homes e mulheres têm: medo de casar, preguiça de sair de casa, apego a nossa liberdade e individualidade. Em plena reinvenção da coisa toda, estamos aqui, nós, os de 30 e poucos, que ainda (veja bem, ainda!) não casaram. E pior (dirão alguns mais tradicionais) – são “os” e “as” de 30 que ainda nem querem sequer pensar em casar! Mas a verdade é que nos cobram a realidade enquanto ainda alimentam nossas emoções com as fantasias de princesas da Disney, que precisam ser lindas e indefesas mocinhas. Surge aquela sensação de que a vida dos outros é sempre ideal. Os outros que casaram, os que fizeram festa. Os que tiveram filhos, os que não tiveram. A pressão é grande! Afinal o que uma mulher que não casa vai fazer da vida?... (sic). Estaremos passo a passo colocando os pés numa era um pouco mais desafiadora e menos padronizada? Quem sabe seja a hora da gente falar bastante a verdade consigo – homens e mulheres. Queremos mesmo casar? Queremos mesmo ter filhos? Ou será que queremos mesmo trabalhar fora, investir na carreira e não os ter, afinal? Queremos tentar fazer tudo junto e ver até onde aguentamos? O que queremos? Queremos a vida dos outros ou queremos encontrar a nossa própria forma de viver? Viver do seu próprio jeito, fazer a sua própria festa, à sua própria maneira, e até mesmo... o seu próprio vestido, requer coragem! Coragem para aguentar a avalanche de opiniões que emergem sempre diante de uma quebra de paradigma. Mas a verdade é que, ter a coragem para viver a própria vida traz paz. Este setembro mês de noivas (no Brasil e na Serra Gaúcha – pois nesta época vêm também nossas flores e nosso raro calor) nos motivou a produzir um editorial espetacular – que mostra isso: noivas incríveis, porque são independentes. Livres para fazer tudo diferente e, mesmo assim, serem felizes. Também estamos trazendo uma série de artigos que falam sobre o início de uma vida a dois, como mantê-la interessante, matéria sobre o que a medicina e a tecnologia têm nos proporcionado para que possamos ter filhos sob as mais adversas circunstâncias. Também temos uma entrevista especial (da qual muito nos orgulhamos) com o mito Raul Randon, que nos mostra, com sua trajetória, a ousadia de quem teve coragem para viver uma vida bem sua, bem original, colhendo grandes frutos de suas escolhas. Que fique claro, não somos contra o casamento. Aliás, eu mesma vou me casar! De vestido e tudo! Mas isso é porque tive sorte. Tive a felicidade de encontrar alguém assim como eu, corajoso, que tem vontade de descobrir como é que vai ser a vida da gente, que não vai ser como a vida de ninguém mais. Essa é uma vida que vamos compondo juntos, priorizando essência à aparência. Porque vida de verdade é isso, é a que a gente vive não para realizar as fantasias dos outros, mas para ser feliz com a gente mesmo!