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Caroline Pierosan

10/05/2018

Honestidade, Medo e Tempo

Não há nada que seja mais importante para um brasileiro do que um aliado  

Corremos o risco de ficarmos loucos sufocando todas as verdades que existem em nossa mente com tanta maquiagem social sob a qual temos que soterrá-las para mantermos nossos "amigos"

Quem de nós não tem medo da verdade? Lembro como se fosse hoje o conselho de uma melhor amiga. ‘Carol, não mente! Quando você mente você arregala o olho de um jeito que denuncia – está mentindo! Você não sabe fazer isso...” ria-se ela de mim. “Vai dar errado!’, alertava, afirmando que minhas mentiras nunca seriam eficazes pois minha “cara” sempre diria a verdade. Nunca mais esqueci o conselho! Toda vez que penso na possibilidade de mentir, lembro dela e imagino – o meu olho já deve estar arregalando! A realidade é que nós temos medo. Um medo gigantesco da verdade. Por quê? Porque sabemos que algumas verdades, quando ditas, podem levar à nossa rejeição, ínfima, parcial ou total. Sim, em muitos momentos, se você falar o que realmente pensa, ou o que realmente acredita, você será rejeitado. E não há nada que seja mais importante para um brasileiro do que um aliado, certo? Seja em que âmbito e para qual propósito for. Que cultura mais sociável a nossa! Gostamos de nos dar bem com todos. Isso é reconhecido e inclusive atribuído a nós como característica cultural, mundo afora. Recentemente em viagem ao Peru, quando informamos ao guia da nossa excursão que éramos brasileiros ele abriu um largo sorriso, jogou as mãos para cima e exclamou “Brasil! Chegou a festa!”. Experimente ir à Europa ou aos Estados Unidos, veja quantos amigos você fará com facilidade. Nenhum. Morei em duas oportunidades em cidades italianas – Roma e Padova. Nas duas ocasiões, estudei em Universidades, o que implicou numa convivência com pessoas da minha faixa etária – várias delas. Nos chamava atenção, a mim e a outros intercambistas brasileiros, como os alunos locais tinham pouco interesse por nós. Veja bem, quando um estrangeiro se encontra em nosso meio, aqui no Brasil, ele é praticamente uma estrela (expressamos abertamente nossa curiosidade em conhecê-lo, nosso interesse em aprender palavras de sua língua, em encontrar alguma referência da sua cultura na nossa família “meu tataravô veio da Itália, sabia?” - puxamos papo). Somos amigáveis com tudo e com todos o tempo todo. Agora se os italianos são frios, por outro lado, eles têm menos medo da verdade. ‘É , realmente essa roupa não lhe caiu bem’; ‘Não, não lhe dei carona porque a ideia nem me passou pela cabeça’; ‘Não, hoje não estou com vontade de sair para jantar com você’. Foi muito, mas muito difícil mesmo me acostumar com a verdade assim, ‘na cara’. Depois, passado o choque, essa prática tornou-se libertadora. É um alívio que alguém lhe diga face a face, o que realmente pensa. Comecei a admirar essa característica, como sendo uma marca de coragem da cultura italiana. Coragem! Esta que nos falta sempre: coragem para ser rejeitado. Um pouco de maturidade nos mostra que sim, críticas sempre devem ser colocadas de forma construtiva. É importante, é claro, analisar a motivação de quem nos critica. Muitas vezes as motivações não são as mais honestas. Há inveja, há maldade. Pois diante delas, das críticas, é necessário ter autoconfiança. É essencial saber ouvir e trazer as informações para nossa balança pessoal, evocando o máximo de honestidade, e avaliar – o que está sendo dito faz sentido? Não faz? Então, já dizia Cristo, ‘absorva o que é bom e ignore o resto’. Em contrapartida, se para dizer verdades precisamos de coragem (estar prontos para sermos, talvez, rejeitados), com a mesma justiça, nos cabe ter sabedoria para não rejeitar que nos apresentem  as verdades doloridas. Aprendamos a ouvir “não, hoje não posso ir”, “não, eu não concordo com você”, “eu creio que você está errado”, sem achar que é o fim do mundo. O amor e a razão não necessariamente andam juntos. Podemos gostar enlouquecidamente de alguém e, mesmo assim, discordar da pessoa. Temos que poder! Ou corremos o risco de ficarmos loucos sufocando todas as verdades que existem em nossa mente com tanta maquiagem social sob a qual temos que soterrá-las para mantermos nossos “amigos”. As avós sempre diziam ‘mentira tem perna curta’. E tem mesmo. Não adianta. De um lado ou de outro, hoje ou amanhã, vai aparecer (exemplo disso a situação política do Brasil, todos os dias, aparecendo, da forma mais feia e grotesca possível). Então podemos concluir, que evitar mentiras e ter coragem para as verdades (nossas e dos outros), é uma forma de ganhar tempo! Usemos bem o nosso tempo.