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Caroline Pierosan

08/04/2020

"Menos Menores"

“O que cada um de nós faz, faria, ou deixaria de fazer, por dinheiro?”

 É importante decidir que tipo de pensamentos e lógicas precisamos alinhar para que nossa passagem pelo mundo seja a de agentes que realmente geram valor: construindo pessoas, motivando pessoas, investindo em pessoas, sendo leal a pessoas, valorizando pessoas

“Você precisa continuar gerando valor!”, pregam os inovadores, como um mantra. E qual é a ambição de todos eles? Ter uma grande ideia para resolver um dos muitos problemas da humanidade, iniciar uma startup, transformá-la em um “unicórnio” (e se você não sabe o que isso significa, tudo bem, o google pode responder) e ficar milionário da noite para o dia. Ah o dinheiro! Nosso “doce”, nossa busca, nossa solução. Ele resolve quase tudo! Certo? Nos proporciona prazeres, liberdade, possibilidade de viajar pelo mundo, de ter as melhores coisas e de estar perto das “melhores pessoas”... Nos diferencia dos demais em aspectos inimagináveis já que nos proporciona poder de decisão e influência.

Porém, todos nós precisamos dormir (e poucos conseguem dormir bem), todos nós precisamos de amigos de verdade (e eles não estão à venda), todos nós precisamos de amor (outra coisa que não tem etiqueta de preço – ao menos não o genuíno), todos nós queremos lealdade (essa, se for real, também não se poderá vender ou comprar). Essas vivências, que “preenchem” de verdade, que nos geram sorrisos genuínos (daqueles que aquecem o peito) não se conquistam com dinheiro. Hoje a pandemia do corona vírus tem nos mostrado o quanto nós, seres humanos, somos iguais! O quanto um monte de dinheiro, nem sempre, resolve tudo. O quanto essa “diferenciação” talvez seja uma grande fantasia construída por nós, para tentarmos nos sentir “menos menores”, em comparação (e veja só a ironia) com outros humanos, tão pequenos quanto nós. E aí estamos, pregando a tal “geração de valor”, quando, muitas vezes, com nossas atitudes, escolhas, condutas, com as liberdades que nos damos, destruímos sonhos, sentimentos e valores das pessoas mais próximas a nós, por puro capricho.

Nós geramos valor, quando construímos os outros, por meio de relacionamentos justos, bondosos, transparentes e leais. Nisso há valor!

Há muito tempo entendi essa lição da vida, que o sentido não está no dinheiro, está nas pessoas. As pessoas têm um potencial infinito para gerar ou “sumir” com o dinheiro. E ali está o valor, nas pessoas. Precisamos ser capazes de ver, em cada pessoa, um outro ser tão digno de ser valorizado quanto nós mesmos, pois somos pares da existência. Não é a quantidade de dinheiro que nos definirá entre superiores e inferiores, entre válidos e inválidos, entre relevantes e usáveis / descartáveis. É o que cada um de nós faz / faria, ou não faz / faria, por dinheiro e pelos outros. Afinal, se detonarmos tudo e todos no nosso caminho de busca por dinheiro, no final da linha, encontraremos apenas outros seres humanos, com os mesmos dilemas, com a mesma necessidade de comer ao menos três vezes ao dia, com as mesmas debilidades, suscetíveis às mesmas pandemias que todos os demais. Fome, frio, solidão – coisas que todos nós sentimos, na rua ou no último andar de um arranha céu.

Essa quarentena é um momento propício para ajustarmos o foco. Para limparmos lentes embaçadas que, talvez, por algum tempo, tenham turvado nosso olhar. É importante decidir que tipo de pensamentos e lógicas precisamos alinhar para que nossa passagem pelo mundo seja a de agentes que realmente geram valor: construindo pessoas, motivando pessoas, investindo em pessoas, sendo leal a pessoas, valorizando pessoas. Nessa edição da NOI, publicada em um dos momentos mais difíceis da nossa trajetória, falamos de imunidade, de saúde (integral, sendo a mental a grande prioridade), de liderança, e de beleza. Que a entrega desse conteúdo, nesse momento, possa contribuir gerando ânimo, insights e energia criadora, para administrarmos, da melhor forma possível, o novo mundo que se descortina diante de nós, bem como o processo de renascimento que precisaremos atravessar para vivermos nele.