Caroline Pierosan

Às vezes eu solto umas frases aleatórias em inglês. Por motivo nenhum, hábito de adolescência, de quando eu estava aprendendo o idioma, e a mania ficou. Normalmente isso acontece quando estou muito cansada ou muito alegre. Num desses dias me passou (cansada e alegre ao mesmo tempo), soltei uma exclamação na língua estrangeira – “oh, my God, I`m so tired”. Algo correspondente a “nossa senhora, como estou exausta hoje!”. Não foi que alguém que estava no recinto se ofendeu? Foi como ter apertado algum botão errado, fazendo com que um alarme intenso passasse a soar. A pessoa ficou tão furiosa que interrompeu a reunião, reclamou do fato de alguém estar “falando algo para os demais não entenderem”,  e foi-se embora. Eu ainda tentei explicar que não tinha dito nada de mais, mas não houve abertura. “Não precisa se explicar”, protestou o ferido ser. Essa foi apenas uma das situações desafiadoras (e, neste caso, peculiarmente infeliz) que enfrentei neste longo início de ano. Em contrapartida, passei por tantas outras em que algum mal-entendido (e desentendimentos eternos) foram evitados, porque alguém quis se explicar e alguém ouviu uma explicação. Ou seja, talvez fosse bom que mais vezes quiséssemos nos explicar ou ouvíssemos alguém que se explica.

Quem sabe pode ser uma perda de tempo, quem sabe pode valer muito a pena – ouvir as tais explicações ou dá-las – fato é que é preciso saber, e para saber, com certeza, é preciso tentar. Não sei como começou o seu ano, mas o meu começou “a mil por hora”. Já me sinto um pouco estressada – no bom sentido, porque acho ótimo quando temos demanda de um trabalho que gostamos de realizar – mas isso (o estresse constante) tem me feito refletir. Percebo que estamos todos muito estressados. Outra amiga, recém chegada da Europa e ainda se readaptando ao Brasil me ouvia reclamar da nossa dificuldade de manter prazos. “Pois é claro!”, afirmou indignada, “Todos aqui estão fazendo o trabalho de pelo menos outras quatro pessoas...”. Outra frase que me fez pensar muito. De fato, estamos sempre com muito trabalho, muitas funções, muitas coisas por fazer... Comecei a notar quantos botões errados pessoas sobrecarregadas e estressadas apertam. Muitos!

Só que quando a gente aperta um botão errado numa máquina ou no teclado, basta dar um “CNTRL-Z”, ou desligar e ligar de novo, reiniciar. Quantas vezes fazemos isso no dia a dia? Eu, inúmeras! Agora, por que é tão difícil dar o “CNTRL-Z”, com as pessoas? Deveríamos nos dar mais oportunidades, pois às vezes, reiniciar o processador interrompe uma série de processos ociosos, ou equivocados, que estavam travando o comando mais recente. Quando tentam te reiniciar você funciona? Quando você aperta o botão errado de alguém, você tenta se explicar? Que tal tentarmos dessobrecarregarmo-nos um pouco, desestressarmo-nos um pouco, dando mais chances para reiniciarmos conversas, projetos, relacionamentos, que as vezes ficaram travados por um botão errado qualquer apertado na hora da pressa? Publicamos esta primeira edição na expectativa de que tenhamos um ano leve, com menos estresse e com mais conexões, com menos rupturas e com bastante inspiração (que as vezes nasce naqueles raros momentos de lazer), com mais tempo para comer com calma, para degustar um bom vinho (ou cerveja, ou cachaça, ou café, ou o que você quiser), para conversar sem pressa, para ler o que realmente queremos, enfim, para vivermos de fato.