O Limbo
“Aquilo que nos faz rir, fala muito sobre quem somos nós!”
Foi-se a nossa máscara de bem – educados, cultos e respeitosos. Eis o WhatsApp! Diante dele não há nada nem ninguém, não há hora, não há bom senso. Todos parecem sucumbir! Outro dia recebi uma foto de um casal de porcos (isso mesmo, de porcos, animais) copulado. Não bastasse isso, a imagem mostrava-os copulando sobre a carroceria de um caminhão, confinados debaixo de uma rede presa por cordas, a caminho do matadouro. O que a frase “engraçada” da figura dizia? “Aproveite até o último momento!”. Não consegui rir. Achei triste. Em meio à latente pauta dos Direitos dos Animais, que eclode em todos os cantos do mundo, aliada aos debates sobre veganismo e crueldade (o tema do confinamento, do abatedouro, a questão da cópula naquela situação tão deprimente)... enfim. Péssimo gosto! Achei aquela foto algo praticamente medieval, e, incompreensível, o fato de ela me ter sido enviada assim, pelo WhatsApp, por um amigo. Além de tudo, me chocou ainda mais o fato de ter sido enviada por um dos meus amigos “mais interessantes”, inteligente e com uma larga experiência de vida em viagens pelo mundo. “Você leva tudo muito sério, era só uma piada!”... será? Em seguida ele escreveu “Desculpe, mandei para a pessoa errada”, o que me deixou indagando... para quem ele estaria enviando aquilo? Que tipo de pessoa acharia graça daquela “arte”? Em outra ocasião, em um dos grupos relacionados ao mundo do vinho, formado apenas por sommeliers internacionais, recebemos (todos) um vídeo pornográfico explícito (o mais explícito que você puder imaginar). Em seguida o típico “Desculpe! Grupo errado!” Ao que alguns responderam – “não se preocupe, já aconteceu comigo!”... Mesmo? Já aconteceu com você? Mesma situação com o grupo do “pessoal do vôlei”, ali também piadas com todo o tipo de conotação que a criatividade humana (voltada para o mal) é capaz de imaginar: racistas, contra pessoas com sobrepeso, contra idosos, contra nordestinos, contra homossexuais, muitas e muitas mulheres nuas em situações degradantes, etc. O pior de tudo é que se você se atreve a perguntar “esse grupo não era para falar dos horários dos jogos?”, é capaz de desencadear a terceira guerra mundial, porque, ao que parece, certo é enviar esse tipo de coisa. Certo é falar qualquer tipo de bobagem que nada tenha a ver com o título/tema/propósito do grupo. O que é que estamos fazendo com o bendito WhatsApp? Extrapolando tudo aquilo que não podemos ser face a face?
Pulando o tema do conteúdo; E quanto ao horário? Seja às 23h, seja 5h30min, sábado, domingo ou feriados, o WhatsApp apita! Nós perdemos totalmente a medida. Pare e pense – qual é a quantidade de besteiras pelas quais você tem que “passar” o dedo (e a mente) todos os dias? E, o pior, quantas horas por dia? Não há mais regra, boa conduta ou etiqueta. Não há mais bom gosto, reflexão, não há nada. O WhatsApp é o nosso campo sem lei, nossa carta de alforria para ir à forra como bem entendermos. Eu particularmente, estou exausta. Quando recebo um convite para participar de um grupo, logo vem o temor – quantas coisas inúteis terei que apagar do meu celular nos próximos dias – ou horas? Será que estamos assim mesmo tão ansiosos e desesperados por atenção? Será que precisamos falar sobre qualquer coisa, com todo mundo, o tempo todo? Além disso, podemos nos orgulhar das coisas que mandamos para “todo o mundo” no mundo mágico do WhatsApp? Seria importante ter respeito pelos presentes em nossos grupos, usar bem o nosso tempo e o tempo dos demais com conteúdos realmente importantes ou interessantes. Que tal pensarmos duas vezes antes de enviar tantas e tantas piadas, a respeito das quais não riríamos nem um pouquinho, se fôssemos nós o personagem da chacota? Que tal um ambiente de WhatsApp mais saudável? Fica a minha sugestão, que, ao mesmo tempo, é um desafio pessoal. Na contrapartida disso tudo, temos mais uma edição da NOI, linda, elegante, criteriosamente pensada, plena de conteúdos preciosos com potencial de impactar nossa vida profissional e pessoal! Tire uns minutos do seu WhatsApp, aproveite nossa mais recente publicação! Para concluir, lembremo-nos que, aquilo que nos faz rir, fala muito sobre quem somos nós!
