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Caroline Pierosan

09/05/2019

Respeito ao Prazo e ao Próximo

“É a marca dos bons profissionais e das empresas sérias de verdade”

O respeito ao prazo é a marca dos bons profissionais e das empresas sérias de verdade

Nunca me esquecerei da cena. O ônibus partindo. Eu gesticulando, implorando para o motorista esperar. Ele, muito sério, me ignorando. Fiquei pasma. Indignada. Ofendida. Estava numa parada de ônibus, em Gibraltar, aguardando o amigo australiano que tinha ido ao banheiro. Partimos para Tanger, Marrocos, e o ônibus nos levaria até o porto para pegarmos o barco que atravessaria o Estreio de Gibraltar conduzindo-nos até o continente africano. Eu nunca tinha estado na África! Estava ansiosa, atenta ao passo a passo. Tínhamos chegado cedo ao ponto de ônibus e, meu amigo, com vontade de ir ao banheiro. “Vai! Eu ‘seguro’ o ônibus!”, lhe dissera, muito tranquila com a minha certeza brasileira de que, fazendo ‘aquele drama’, é possível convencer as pessoas. Não dessa vez! Não embarquei e fiquei olhando o ônibus partir, conduzido pelo motorista indiferente aos meus apelos de ‘ele já está vindo; moço, você não está entendendo, ele vai chegar a qualquer momento; só foi ao banheiro’. Senhorita, ele não está aqui. Ponto. Resultado, esperamos outra meia hora pelo próximo ônibus. Esse é apenas um dos muitos episódios em que ‘dei com a cara na porta’, nas minhas andanças pela Europa. São diversos os choques culturais experimentados por quem tem a oportunidade de morar ou viajar pelo velho continente. Uma das coisas mais comentadas, sem dúvida, é a pontualidade (de pessoas e serviços). Ingleses, franceses, alemães, italianos – são apegados a isso. Não chegou? Perdeu! Fechou. Acabou. E nós, brasileiros?

Vivemos ‘correndo atrás’. Do tempo perdido, do projeto mal feito, da catástrofe (que aconteceu porque o projeto foi mal feito), da oportunidade que se foi - ‘ah, se eu tivesse me organizado!’ - e assim vai. Claro, aqui na Serra Gaúcha, com toda a nossa descendência italiana, somos diferentes né? Mesmo? Quantas vezes nesse ano você já pediu prorrogação de prazo no trabalho, na vida acadêmica, nos tratos que fez com a família e amigos? Quantas vezes a tal prorrogação também já lhe foi pedida? Nossa cultura privilegia os atrasados. Não? Pensemos! De quantas reuniões participamos ao logo da semana que não começam na hora marcada porque ‘estamos esperando fulano que não chegou’? Quantas agendas precisamos remarcar com clientes porque, fornecedores, por sua vez, não cumprem prazo de entrega? E vice-versa? Assim a roda gira, sempre atrasada, dando margem para erros. Chega o momento em que prazo já não é mais prazo, que ‘sim’ já não é sim, que ‘amanhã’ significa daqui a uma semana e ‘tá chegando’, 10 dias. Como evoluir?

Um dos ensinamentos do meu pai (ou da mãe – já não lembro exatamente quem disse – só sei que nunca esqueci) é o seguinte, existem duas formas de fazer as coisas (porque se quiser chegar a algum lugar você vai ter que fazê-las), ou você faz as coisas de ontem, ou faz as coisas de amanhã. Se viver fazendo hoje as coisas que deveriam ter sido feitas ontem, você viverá angustiado, estressado, preocupado. Se você fizer hoje, as coisas que precisaria entregar só amanhã (depois de amanhã, ou na próxima semana), viverá tranquilo e terá tempo, até, (veja só!), para revisar e mudar de ideia, ou aperfeiçoar a entrega. Mas a gente gosta mesmo é de ‘tirar o pai da forca’ (ou de meter todos que estão ao nosso redor na forca).

Quanto sofrimento a nossa falta de organização, comprometimento e seriedade causa ao nosso redor? O quanto nós deixamos as pessoas que trabalham e convivem conosco tristes e preocupadas porque..., por que mesmo? Não temos capacidade de nos organizarmos, ou não damos importância ao que combinamos? O Brasil nunca, veja bem, nunca, será um país de primeiro mundo enquanto nós, dia a dia, não aprendermos a trabalhar com prazo. A planejar, a prometer e a cumprir o que foi prometido. Gosto de citar Cristo (independentemente de qualquer coisa, muito sábio pensador). No Sermão do Monte Ele diz o seguinte “Seja o seu ‘sim’, ‘sim’, e o seu ‘não’, ‘não’; o que passar disso vem do Maligno" (Mateus 5:37). Forte! Mas é isso! Vamos abrir os olhos para o mal que a nossa falta de responsabilidade gera nas nossas amizades, família, comunidade, país? Será que o motorista de Gibraltar me desrespeitou ao ir embora com o ônibus enquanto eu implorava para ele esperar meu amigo atrasado? Ou será que ele respeitou as outras cerca de 30 pessoas que estavam já embarcadas, prontas para partir? Uma das formas mais bonitas de amor manifesta-se por meio do respeito ao próximo. No mundo profissional / empresarial, um dos âmbitos do respeito ao próximo envolve o respeito ao prazo. O respeito ao prazo é a marca dos bons profissionais e das empresas sérias de verdade. Além disso, um sinal de classe, cortesia e amor. Que comece em nós!