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Caroline Pierosan

30/06/2020

Uniforme Sucesso

“Quem você é, de onde veio, e o que você quer da vida?”

"Nós não precisamos querer o que os outros querem que queiramos. É importante refletir sobre padrões fantasiosos, inventados para forçar-nos a comprar coisas. Serão essas coisas que mostrarão se temos ou não o tal sucesso? Hoje, sinto que mais importante do que construir cercas físicas, é a construção de fortalezas mentais"

Em quais situações você se sente mais alegre? É quando compra algo, ou quando interage de forma significativa com quem você gosta? Ok! Então por que, tantas vezes, sacrificamos relacionamentos para preservar “ganhos”? O que tanto vamos comprar, se, mesmo tendo tudo, não estaremos assim, tão alegres, sós? “Sei quem sou, de onde vim, e o que quero da vida”, enfatizou um de nossos entrevistados dessa edição. Aí é que está (pensei)! Aí está o raciocínio que pode gerar uma definição equilibrada (e por que não dizer: sábia) de sucesso. Quem você é, de onde veio, e o que quer da vida? 

Nós não precisamos querer o que os outros querem que queiramos. É importante refletir sobre padrões fantasiosos, inventados para forçar-nos a comprar coisas. Serão essas coisas que mostrarão se temos ou não o tal sucesso? Hoje, sinto que mais importante do que construir cercas físicas, é a construção de fortalezas mentais. É cada vez mais importante escolher, com muito critério, a quem seguir na vida e, como parte do que significa vida, hoje, nas redes sociais. Sem cuidado, pouco a pouco, no “passo a passo” cotidiano da tal influência nociva, corremos o risco de absorvermos as falácias alheias, iniciando uma transformação para algo que nunca quisermos ser. A quem estamos seguindo? O que tal pessoa fala, faz e cobra de nós?

Tememos tanto as fake news, e baixamos a guarda para as fake people. É muito fácil construir um “castelo de cartas” no ambiente virtual. Entretanto, como é a vida offline das pessoas que seguimos online? Por que é que são elas que estão nos ditando o que significa sucesso? Por que, ao ouví-las, muitas vezes, nos entristecemos por coisas que não fazem o menor sentido? Fortaleza Mental! Essa é a maior conquista. O ápice da autonomia é poder conseguir definir o próprio sucesso. Ter autonomia cognitiva, física, espiritual e emocional nos permitirá definir o que ele significa para cada um. Isso é o mais importante, pois é o que norteará todas as nossas decisões na vida: quanto e o que comeremos, onde investiremos tempo (em quais relacionamentos e atividades) com quem faremos negócios, e quais situações desgastastes enfrentaremos (ou não). 

Outro dia alguém iniciou uma reunião perguntando “quem aqui está faturando um milhão?”. Quase me retirei da sala. Não é a primeira vez que uma figura triste, notavelmente abatida, com a saúde visivelmente comprometida, e com uma energia pesada se posiciona diante de mim cantando os milhões e zilhões conquistados... Além de não me impressionar, me parece triste. 

Sendo justa: diante dessa crítica feroz, devo compartilhar o que eu considero sucesso. Sim! Sem qualquer temor. Para mim sucesso é saúde mental e física. Em seguida sucesso significa ter bons relacionamentos e amigos verdadeiros (e creio que serão sempre poucos porque os de verdade requerem tempo e empenho – o que não é possível de realizar com “as milhares” de pessoas da rede social). Creio no sucesso intelectual, ou seja, na experiência constante de aprender coisas novas (me faz muito feliz). Creio no sucesso financeiro, porém sem angústia. É claro que é importante melhorar a própria condição, na medida do possível (desenvolvendo todos os potenciais), mas: sem angústia. Na medida em que isso se torna uma obsessão, uma dor, uma razão para sentimentos de inferioridade, torna-se errado, perdendo todo o sentido. Além disso, creio em negociações sustentáveis, a partir das quais ambos os lados saem felizes e justamente compensados do processo. 

Dos muitos e grandes aprendizados da pandemia, saliento esse questionamento: o que é sucesso? O meu sucesso, é o seu sucesso? O sucesso humano, é algo que possa ou deva ser padronizado? Além de ser uma publicação linda, original e conceitual, que valoriza as personalidades formadoras de opinião da Serra Gaúcha, cada edição dessa revista representa, também, um imenso aprendizado para quem dela participa. Aprendemos sobre como transformar uma boa ideia num projeto estruturado e qualificado, sobre como ter paciência com os membros da equipe durante a longa jornada de produção e revisão de conteúdos (textos, fotos e vídeos), recebemos uma lição de coragem e humildade diante da expectativa do feedback pós-publicação... enfim. São infinitos sentimentos (das mais diferentes pessoas) convergidos nesse “objeto” virtual e físico, chamado revista. 

Em meio a todos, como uma grande mediadora, considero que sou eu quem mais aprende. Eu que conheço as expectativas e angústias de cada nome que assina essas páginas. Eu que sei qual foi o empenho dos fotógrafos lutando com suas luzes e focos para nos entregar registros espontâneos cheios de arte. Sei como sentem os profissionais responsáveis por nossos posts, captações de vídeos e marcações no meio virtual. Labuto incontáveis horas “ombro a ombro” ou melhor, “tela a tela” com o designer que dedicadamente pensa em cada ícone (letra, cor, traço, ponto, caixa ou ilustração) dessas páginas. Eu que me desculpo com a gráfica porque o arquivo para prova normalmente chega atrasado. Eu que recebo as cobranças quando, diante de 100 páginas 99% perfeitas, encontramos, depois de impressa e distribuída, alguma vírgula de equívoco em algum dos nossos muitos textos – e nossa competência é posta a prova. 

Então essa nova edição assim, entregue, também é pleno sucesso: imprecificável!

O novo sucesso - do novo normal (tão debatido hoje) - não se relaciona apenas a ganhar um milhão (ou não). O novo sucesso é um conceito bem mais profundo e muito particular. Remete àquilo que cada um quer para viver bem. Dos que valorizam primeiro e /ou / apenas dinheiro, tenho querido cada vez mais distância! Dos conteúdos da NOI sugiro proximidade e aprendizado (esse que gera alegria) desejando que tais obras conectem pessoas que buscam relacionamentos para compartilhar o verdadeiro sucesso (respeitando o que ele significa para cada um), principalmente, em paz. Essas ao invés de lhe perguntarem “quanto você fatura?”, ou se você já conquistou seu primeiro (segundo, terceiro, etc) milhão, lhe perguntarão, talvez: “você vive bem”?